Wakabara

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A fama de Pinheiros não está legal - mas tem coisa que é legal aqui, eu juro

Antes que me chamem de hipster (eu sou, mas não por isso): Pinheiros é minha casa. Nunca deixou de ser. Nasci e já vim para cá em 1981; sempre morei na mesma rua (só mudei de prédio, questão de alguns quarteirões, mas minha mãe e minha irmã continuam morando no mesmo apartamento); estudei até o fim do Ensino Médio em Pinheiros; fiz Cultura Inglesa em Pinheiros; fiz aula de japonês em Pinheiros (só um ano, continuo sem saber falar); meus melhores amigos todos moravam em Pinheiros na minha infância e adolescência, íamos para a casa do amigo a pé, andávamos muito na rua e ir até o Hospital das Clínicas ou o Largo da Batata configurava aventura.

Então quando eu vejo tuítes assim eu fico títi:

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Mas do que adianta eu ficar triste? O Sylvain está certo! Risos.

Pinheiros é simplesmente enorme: ele inclui parte do que se convencionou chamar de Vila Madalena, o Pirajá lá pro lado, uma parte da Oscar Freire. O bairro faz divisa com um monte de estação de metrô e trem (você sabia que a estação Hebraica-Rebouças é em Pinheiros?). E a estação Pinheiros, para o choque de quem não conhece, fica numa ponta de Pinheiros e não no meio.

Breve parênteses: coisas que não fazem parte de Pinheiros. A praça Por do Sol (podia, né? Não faz); a rua Groenlândia; o cemitério do Araçá. Já a rua Butantã… faz parte de Pinheiros, e não do Butantã.

A minha história está intimamente ligada a Pinheiros. Meu avô, bem antes de nascer (aliás ele morreu no mesmo ano em que nasci ou um pouco antes, se não me engano), tinha uma funilaria perto do Largo da Batata. O local variava, de acordo com o que apontava meu pai - uma hora era naquela rua; outra hora a rua não existia mais porque foi derrubada no projeto de expansão da Faria Lima. Na verdade acho que papai também não lembrava bem da funilaria porque fazia muito tempo.
Meu outro avô morou por anos e anos perto do apartamento onde eu morava; a casa dele era uma festa porque minha tia, tios e primos também moravam lá. Mesa grande de almoço, brincadeira na sala e no quintal, cachorros. Ele também já morreu, mas minha tia e a família seguem na mesma casa e ir visitá-los é visitar minha infância.

Tudo isso pra dizer que eu conheço Pinheiros tão bem que sinto que sou o único hipster que faz algumas coisas nesse bairro (contém ironia!). Vou dizer quais são:

. Acender vela na igreja de Pinheiros.
Não, não me considero católico praticante. Mas muito de vez em quando, escondido de todo mundo, vou na igreja de Pinheiros e acendo uma vela ou simplesmente fico ali sentadinho por um tempo. A igreja do Largo de Pinheiros é um lugar mais neutro pra mim porque o Perpétuo Socorro é a paróquia que a minha mãe e a família frequentam (e que, aliás, não fica em Pinheiros porque é do outro lado da Rebouças; e que, aliás, tem a imagem de três dos meus tios no afresco do lado esquerdo, no começo da fila de figuras pintadas. Eles são as três crianças).
Aí dá pra aproveitar e ir no bar atrás da igreja, conhecido pelo nome infame de Cu do Padre, para tomar um rabo de galo, dependendo da situação que te levou a querer refletir na igreja. Mas no Cu do Padre os hipsters vão, tá? (Que frase maravilhosa)
A igreja e o largo de Pinheiros ficam pertinho do Largo da Batata, na parte de trás, e dá pra ir a pé da estação Faria Lima.

. Comer uma esfiha no Nilo Esfihas que é quase do tamanho do bairro.
Ele não é gourmetizado, ele não é frequentado por modernos (mesmo porque geralmente se pede delivery), ele é quase escondido, perto do Meats. Mas o Nilo Esfihas tem esfihas enormes com recheios variados, todas deliciosas - peça as abertas. Quem é árabe vai ficar doido de eu chamar aquelas esfihas de esfihas porque mais parece uma minipizza, mas é assim que está no cardápio. E a coxinha (que devia ser chamada de coxona), o kibe (mais pra kibão) e os beirutes também são mara.
Nilo Esfihas fica na rua Cônego Eugênio Leite, 450.

. Comer um coelho.
Sei lá, tem quem goste. Comi uma vez, não gostei. A Toca do Coelho, que fica na Teodoro Sampaio, número 507 perto das Clínicas, também tem um monte de rótulo de cerveja - já tinha, bem antes da modinha das cervejas artesanais. E mesmo com tudo isso, não é hipster - um choque!

Essa foto é desse blog - e ele concorda comigo sobre a melhor coxinha de São Paulo

. Ir na Fradique Coutinho.
Pra baixo tem Endossa, Tan Tan, a pizzaria romana Da Mooca - so hipster. Pra cima tem Livraria da Vila, Maha Mantra, Coffee Lab - hipster indeed. Mas tem um quarteirãozinho que vive no meu coração, que sempre foi um local que, sabe-se lá porque, é um dos meus locais preferidos. Fradique entre Teodoro Sampaio e Cardel Arcoverde: minhas primeiras memórias são da papelaria onde mamãe comprava o material escolar; do que a gente chama de Babicho (vendas de “balas, biscoitos e chocolates”). Depois era ali que uma das minhas melhores amigas, a Danieli, morava com as tias. E depois era ali que o meu amigo Ricardo Domeneck morava quando o conheci. Tem uma banca ótima, para quem ainda compra revista; tem a melhor coxinha de SP (OK, isso é questionável, mas para mim é a coxinha da Doce & Cia); tem a ótica do amigo do meu pai, a Ótica Sálvia; tem um sebo que é uma portinha praticamente; tem um mercadinho que vende um monte de coisa por uns preços inacreditavelmente baixos. Sigo hipnotizado por esse pedaço do bairro, e ele segue, surpresa, livre dos hipsters e quase que intocado, como era nos anos 1990!

Tem outros lugares que eu gosto de Pinheiros, milhares, mas são quase todos hipsters. E você, qual é o seu lugar preferido de Pinheiros?