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A voz delas – na música: Veneno, Close, Rogéria, Valéria

January 17, 2021 by Jorge Wakabara in TV, música, cinema

Você já viu a série que todo mundo comenta mas que a HBO está bobeando em não trazer logo para o Brasil? Estou falando de Veneno, que conta a história real de Cristina Ortiz Rodríguez, mulher trans que virou uma celebridade pop na Espanha ao ganhar destaque na TV no programa Esta Noche Cruzamos el Mississipi.

Não é à toa que quem viu não para de falar dela. Mesmo quem não conhecia La Veneno fica vidrado – meu caso. A série acerta ao misturar a linha do tempo entre infância, adolescência e os picos da carreira dela com os anos 2000 e seu encontro com Valeria Vegas, uma jovem jornalista que começa a transicionar depois de conhecê-la ao vivo e que acabou escrevendo a biografia dela, ¡Digo! Ni puta ni santa. Las memorias de La Veneno, o livro que se transformou na série.

Outro acerto: todas as personagens trans são interpretadas por mulheres trans. Inclusive Cristina em si, que fora sua fase criança e adolescente, é encarnada por Jedet, Daniela Santiago e Isabel Torres. E uma curiosidade: a grande amiga de Veneno, Paca La Piraña, é interpretada pela própria!

Cristina infelizmente morreu em 2016, pouco tempo depois do livro de Valeria ser lançado.

Valeria Vegas e Cristina Ortiz Rodríguez no lançamento do livro

Valeria Vegas e Cristina Ortiz Rodríguez no lançamento do livro

Para quem gostou da série, a boa notícia que li por aí é que vai existir uma segunda temporada da série – isso se o meu espanhol funcionou e leu direito… Risos. E para quem gosta de música: assim como muitas pessoas que ficavam famosas na época, La Veneno acabou se aventurando como cantora. Gravou umas coisinhas.

Veneno pa tu Piel é o grande hit – um poperô malandro. Eu gosto. Também tem El Rap de la Veneno, com uma base bem chupada de Robin S., no Spotify:

É um pouco inevitável para o brasileiro fazer um paralelo entre Veneno e Roberta Close, apesar das mil diferenças: um pouco de época, muito de país e de discurso. Close era maliciosa mas não tão desbocada, que eu me lembre nunca falou de prostituição como a espanhola. Em torno de Roberta, a curiosidade girava no fato dela ser uma mulher belíssima – a fetichizaram, tornaram-na exótica. Saiu em fotos eróticas, virou mito sexual.

E virou música.

Aiai. Por onde começo?

Bom, era 1984. Foi boa a intenção, Erasmo Carlos, mas a música insiste em afirmar que tem algo “errado” com Roberta, que “não fosse o gogó e os pés, a minha lente tava na dela". Apesar de exaltar a beleza, bem… tudo errado.
Uns anos mais tarde, na mesma década, a própria Roberta Close gravou uma música de A. Lemos, Gabriel O’Meara (que já tinha feito coisas gravadas pelo próprio Erasmo e por Sandra de Sá, na época só Sandra Sá) e o Sergio Motta (que, apesar de estar nos créditos, imagino que só tenha produzido, pois era mais especialista nisso). Sou Assim é bem menos cancelável que a homenagem de Erasmo, além de ser charmosa, didática e muito pop:

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Adoro esse monólogo no meio de Sou Assim: “É isso aí, esse é o meu recado. Eu sou assim, é, gatinho, vamos nessa, tá? Vem, vem chorar na rampa [raba? ramba? sei lá], eu e você! E eu amei, é, eu sou a gatinha, eu sou a gata, miau, miau, tá? Miau pra todos! Kisses, kisses, bye bye!"

Perfeita. Miau pra todos!

Mas que tal voltar ainda mais pra trás? Ou, se preferirem, vamos pra frente, para 2016, quando foi lançado o Divinas Divas.

Esse documentário dirigido pela Leandra Leal é estonteante e necessário. Ao contrário de outras diretoras que se inserem no contexto do seu doc de uma maneira um tantinho forçada (ops, falei), Leandra herdou o Teatro Rival e parte desse fio de narrativa. O Rival foi palco de teatro de revista com as artistas trans daquela época, em que ninguém chamava de trans e todo mundo chamava de travesti ou transformista. Esse local de alguma maneira se atreveu a ser um oásis de liberdade mesmo durante a ditadura militar. O filme então une esse grupo formado por essas artistas que fizeram parte daquele momento: Rogéria, Divina Valéria, Jane di Castro, Eloína dos Leopardos, Fujika de Halliday, Brigitte de Búzios, Marquesa e Kamille K.

Rogéria, a gente sabe, tem esse disco aqui:

Mas é tipo podcast kkkk Uma peça gravada. Não era música. Saiu em 1980.

De qualquer forma, Rogéria foi a mais pop de todas. Participou de novela da Globo, de filmes, se apresentou no Rival. Ela mesma dizia que era a travesti da família brasileira.

Mas hoje eu queria terminar falando de Divina Valéria.

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Divina Valéria segue firme e forte, amém, e sempre gostou de cantar, não tinha isso de dublar. Ela começou sua carreira em 1964 em boates do Rio. Em 1966 (ou 1964? ou talvez 1967? as datas variam), seria criado o espetáculo Les Girls, dirigido por Mário Meira Guimarães e com músicas e letras de João Roberto Kelly. Encenado na boate Sótão na Galeria Alaska (a Galeria do Amor da música do Agnaldo Timóteo, e sim, significa…), Les Girls trazia não só Divina Valéria como Rogéria, Marquesa… Foi um estouro. Todo mundo queria ver as travestis do espetáculo.
O que pouca gente sabe é que Les Girls também rendeu um compacto para Divina Valéria com as músicas que ela cantava no show. Já encontrei o compacto inteiro no YouTube mas ele sumiu – sobrou essa faixa com um medley de sambas, e só por ela, meu bem… Você vai entender porque eu quis falar disso:

Bom, pula o fato do artigo estar errado no título – é sempre A travesti, tá, amizades?
Mas veja bem. A sequência é de:
Ataulfo Alves com Paulo Gesta, Zé Keti, Newton Chaves, Vinícius de Moraes com Tom Jobim, Zé Keti de novo, Cartola, Monsueto, Luiz Reis com Heraldo Barbosa.
Chora no bom gosto, chora no talento.

Falando nele: Newton Chaves morreu de covid-19 faz algumas semanas. Uma tristeza.

Queria tanto esse disco.
Viva a Divina Valéria!

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E claro, viva Veneno, Roberta, Rogéria!

Bônus: Amanda Lepore também tem toda uma discografia, viu?

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January 17, 2021 /Jorge Wakabara
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TV, música, cinema
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Como seria um especial de Natal da Ivete Sangalo?

December 19, 2020 by Jorge Wakabara in TV, música

É uma tradição natalina da TV… estadunidense. Estrelas da música, de Judy Garland a Mariah Carey passando por Miley Cyrus, Lady Gaga e Kacey Musgraves, já fizeram especiais de Natal. Geralmente eles trazem canções temáticas, convidados especiais e uma história boba para costurar os números musicais: exatamente o que você precisa para fingir que está prestando atenção enquanto aquele parente chato tenta puxar papo, mas não tão profundo assim para você realmente precisar prestar atenção.

No Brasil a gente tinha o especial do Roberto Carlos na Globo, que não era exatamente assim: com convidados mas geralmente sem muita história, e principalmente com o cancioneiro dele e não canções temáticas. Excepcionalmente, o especial do Rei não vai acontecer em 2020. No seu lugar, vem uma reprise de um show em Jersualém exibido em 2011 para o dia 22/12.
Não quero de maneira alguma ser agourento mas também temos que aceitar que Robertão chega aos 80 anos em 2021 e não poderemos contar com ele para sempre.

Fiquei brisando e as vozes da minha cabeça começaram a imaginar um especial de fim de ano com outra pessoa. Uma rainha. E se Ivete Sangalo fizesse um programa? E se as músicas de fato fossem natalinas?
Melhor: e se as músicas fossem natalinas… e brasileiras? Tipo um songbook de Natal legitimamente nacional?
”Isso poderia existir?” Bem… Poderia.

Tão Bom que Foi o Natal, de Chico Buarque

Essa música foi protagonista de um imbróglio. A única vez que ela foi “lançada"foi num cartão de Natal da imobiliária Clineu Rocha enviado para clientes da empresa, sem a autorização de Chico Buarque, no fim do ano de 1967. Ele processou a imobiliária e ganhou. Virou uma música bem rara, e é uma graça!

Boas Festas, de Assis Valente (aqui com os Novos Baianos)

Sou fissurado por Boas Festas, música de 1933 de Assis Valente depois lançada por muita gente – essa gravação dos Novos Baianos é um exemplo.
Boas Festas é ótima porque, como vários sambas, ela é animada mas sua letra é totalmente triste, como se o ritmo exorcizasse a melancolia. Dizem que o compositor fez a música inspirado na gravura de uma menina com os sapatinhos sobre a cama, esperando seu presente, que ele viu ao passar o Natal de 1932 sozinho.
Assis viria a cometer suicídio em 1958. Deviam fazer uma cinebiografia dele.

Canção de Esperança, de Zeca Pagodinho

Essa música é MUITO BONITA. Fico passado de não ser um hit. Para Ivete cantar no especial, sozinha ou com Zeca Pagodinho em si. Melhor ainda: com Zeca e Emicida. Chique, hein? Um dos pontos altos do especial HAHAHAHAHA

Véspera de Natal, de Adoniran Barbosa

Também é triste, mas tem um toque de humor daquele tipo que Adoniran Barbosa adorava incluir em suas canções. O Papai Noel, segundo a letra, fica entalado na chaminé. Tem até um toque malicioso: “o orifício da chaminé era pequeno"… Hahahahahahaha! A música lançada pelo próprio Adoniran em 1974.

Mais um Natal, de Daniel Falli (aqui com Mônica Salmaso)

Uma música realista, que já começa falando que por aqui o Natal é quente – literalmente. Acho muita fofa. Pode ser a música do começo do especial, para já dar o tom de Natal brasileiro, com Ivete sofrendo para chegar para a gravação, presa no trânsito, vendo as decorações estranhíssimas da cidade cheias de neve…

Presente de Natal, de Nelcy Noronha (aqui com João Gilberto)

Um pouco sexista? Sim. Mas ao mesmo tempo, acho chique se a gente tira esse trecho do contexto: “quem ganha boneca é menina, eu sei, mas eu sou menino e também ganhei”. HAHAHAHA OK, a “boneca” é uma mulher, mas alguém precisa saber? No especial da Ivete, ela pode cantar essa música com a Pabllo Vittar… Vai ser tudo! (Querer é poder!)
E não deixaria de ser uma regravação de algo do repertório do João Gilberto com Pabllo. Tudo, né???

Recadinho de Papai Noel, de Assis Valente (aqui com Carmen Miranda)

Sim, Valente tem mais uma música de Natal! Ela não virou um hit mesmo na voz de Carmen Miranda. É mais feliz, apesar do plot twist com o o homem tropeçando e se quebrando pelo chão! Acho uma graça, devia ser hit, alto potencial de single, sabe… kkkkkkk A nossa All I Want for Christmas!

Natal das Crianças, de Blecaute (aqui com a própria Ivete!)

Já tá pronta, minha gente! Blecaute, ou o General da Banda, lançou Natal das Crianças em 1955. É singela, simples, bonita. Para aquele momento do especial com um monte de criança ao redor, sabe?

Depois do Natal, de João Donato (aqui com Nana Caymmi)

Música tipo “abandonada por você", momento fossa total do Natal. Com a voz de Nana Caymmi, então, o negócio fica de se arrastar. Sou da opinião que com Ivete, também ficaria bom.

E Nasceu Jesus, de Orlandivo (ou Orlann Divo?)

Meio americanizada, animadinha, acho ótima. Criada por Orlandivo com Roberto Jorge e lançada em 1962, é Jovem Guarda mas, ao contrário de vários hits da Jovem Guarda, é uma composição original e não uma versão!

O Velhinho, de Otávio Babo Filho (aqui com Fernanda Takai)

Essa é do primo de Lamartine Babo, Otávio Babo Filho, e também é clássico brasileiro. Uma das minhas preferidas! Pode ser a da Ivete com a Anitta, né? Foi lançada na década de 1950, mas depois foi regravada até a exaustão. Otávio a compôs para um concurso de músicas natalinas e, veja que irônico, ela ficou em terceiro lugar. O primeiro? Hum, ninguém lembra HAHAHAHA! Tem quem problematize essa música, dizendo que ela não é verdadeira: Papai Noel não vem para todo mundo, não.
Mas, pensando bem, talvez a música seja um apelo para um Papai Noel mais… comunista?
Sabia que esse vermelho do look não vinha assim, do nada.

Doralinda, de Cazuza e João Donato

Outra de João Donato, essa uma parceria inusitada com Cazuza. É fofa, uma música romântica sobre dar mil presentes para a tal Doralinda. Foi lançada depois da morte do cantor, em 1991 – sabe-se que, antes de morrer, ele ficou numa fissura de compor e gravar o máximo que podia.

Natal Todo Dia, de Maurício Gaetani (aqui com Roupa Nova)

Acho meio xarope mas é a cara do Natal kkkkkkkk Estou colocando esse compromisso de imaginar um especial de Natal de Ivete Sangalo acima do meu gosto pessoal, entende?
E viva Paulinho! RIP <3 (Não é dele a voz solo dessa, e sim de Serginho)

Noel e Natalina, de Nei Lopes

OK, Deus é brasileiro, mas e se Papai Noel fosse brasileiro? Eis aí, na imaginação de um belo samba de Nei Lopes. Spoiler: Noel seria salgueirense!

Feliz Natal, Papai Noel, de Martinho da Vila

Acho chique porque Martinho da Vila, nessa música lançada em 1997, tira o foco do presente material e da falta de presentes para quem não tem dinheiro. O saco do Papai Noel, aqui, é de emoções. <3

Listinha de Natal, de Índia e Jorge Henrique (aqui com Virgínia Lane)

O que é essa versão de Virgínia Lane, né? Lançada em 1956, maravilhosa, tipo nossa Marilyn Monroe! Difícil superá-la. Sugestão de convidada para cantar uma versão dessa pérola nesse especial da Ivete: Claudia Raia.

Cartão de Natal, de Luiz Gonzaga

Que lindeza, que delicadeza, original de 1954. Ótima para Ivete. Maria Bethânia entra falando o texto do meio da música. Formou?

Natal Brasileiro (Que Natal é Esse?), de Jorge Ben

MARAVILHOSA, INDISPENSÁVEL, JORGE BEN É UM GÊNIO (não que a gente não soubesse). Se a Ivete não quiser colocar essa eu saio do projeto, sabe?

Quando o Natal Caiu numa Sexta, de Luiz Carlos da Vila

Natal é tempo de perdão <3 Muito boa! Grande Luiz Carlos da Vila!

Meu Natal, de Lupicínio Rodrigues (aqui com Jamelão)

Lançada por Jamelão em 1961, é um clássico esquecido de Natal brasileiro, talvez porque a melodia pareça bastante com a Canção do Amor Demais na minha modesta opinião. Isso não tira a sua beleza.

Meu Natal, de Ary Barroso (aqui com Francisco Alves)

Mesmo nome, outra música. Já que estamos incluindo tantos compositores clássicos de samba, acho que Ary Barroso também não pode faltar!

Papai Noel de Camiseta, de Celso Viáfora

Gravada originalmente por Ivan Lins, essa música de Celso Viáfora é bem linda e esperta, naquela mesma pegada do Papai Noel made in Brasil.

Amargo Presente, de Cartola (aqui com Beth Carvalho)

Quer falar de fossa? Taí. Nossa, Cartola… Que pesado. A Bethânia também ia gostar de participar dessa, se der tempo dela aparecer em duas…

Um Novo Tempo, de Marcos Valle

Já que estamos na Globo, né? Sim: Um Novo Tempo é de Marcos Valle com Nelson Motta e Paulo Sérgio Valle. Talvez, se a Ivete achar muito barango cantar, pode ser assim, Marcos Valle e banda tocando, bem finos, uma versão instrumental. Mas sinceramente acho um clássico: devia ser cantada, sim.

Para Não Ser Triste, de Passarinho e Lula Vieira (aqui com Rodriguinho)

Outro caso de jingle que virou clássico. Para Não Ser Triste foi feita para o Banco Nacional em 1971 e acabou sendo um hit que estava na propaganda do banco todo fim de ano. Ganhou, maldosamente, o apelido de Melô do Sexo Anal. Ouve prestando atenção na letra que você vai entender o porquê…
Acho que daria um bom encerramento de especial, de qualquer forma. Risos!

Recomendo também a inclusão da Turma da Mônica e da Estrelinha Mágica. Garantia de choro no especial da Ivete!

Recomendo também a inclusão da Turma da Mônica e da Estrelinha Mágica. Garantia de choro no especial da Ivete!

Bom, desconsiderei músicas que não falam de Natal, necessariamente, mas que poderiam se encaixar porque falam do, digamos, aniversariante. O Homem de Nazareth, de Claudio Fontana, ou Jesus Cristo, de Roberto e Erasmo Carlos, cairiam bem num especial mais cristão. Hehehehe!

Bom, ficam aí todas essas dicas gratuitas, mas por favor, Ivete, se for produzir isso: me chama, né? Me paga um salpicão, sei lá…

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December 19, 2020 /Jorge Wakabara
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A setlist do primeiro show solo de Maria Bethânia

September 19, 2020 by Jorge Wakabara in música

A história é a seguinte: nos primórdios, mais especificamente em 1964, o Teatro Vila Velha de Salvador tinha acabado de ser reformado. Eles precisavam estrear algo mas o dinheiro minguou, e a ideia de montar a peça Eles Não Usam Black-Tie precisou ser adiada momentaneamente. Mas o show tem que continuar - e aí? Alguém lembrou de uma turma que se reunia na varanda da Maria Moniz, onde rolava uma sopa pros famintos artistas aos sábados.

Chamaram esse povo e foi montado o espetáculo Nós, Por Exemplo… com bossa nova, músicas antigas, músicas novas (de Caetano Veloso e Gilberto Gil) e a turma que incluía o quarteto que depois seria conhecido como os Doces Bárbaros: Caetano, Gil, Maria Bethânia e Maria da Graça, ainda apelidada Gau e só entre o povo mais íntimo.

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Ainda teve um parte-2-o-retorno de Nós, Por Exemplo… e depois finalmente montaram Eles Não Usam Black-Tie. E aí o que aconteceu é que, aproveitando o cenário da peça, criado por Calazans Neto e que simulava uma favela carioca, também foi montado o primeiro show solo de Bethânia. Mora na Filosofia, que entrou em cartaz ainda em 1964, trazia Bethânia cantando, dirigida pelo irmão Caetano, à noite – a peça era apresentada no período vespertino!

Existe, em teoria, um registro do que foi a setlist de Mora na Filosofia. É nele que me baseio pra fazer esse post: o recorte do Jornal do Commercio publicado no Rio de Janeiro em 31/03/1965.

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Quem é Hineni Gomes? Não faço a menor ideia. Mas é na palavra dele que a gente vai confiar. Vem comigo.

Pra Seu Governo de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira

O show, em teoria, abria com Pra Seu Governo de Haroldo Lobo com Milton de Oliveira. Onde ela ouviu essa pela primeira vez? Pode ter sido na rua, mesmo. A gravação mais antiga, que eu saiba, é de Gilberto Milfond, de 1950. Essa de cima é talvez a mais conhecida hoje, de Beth Carvalho, numa interpretação mais suave. É do disco homônimo Pra Seu Governo, de 1974 – ou seja, lançada 10 anos depois do show de Bethânia em Salvador.

Canção Espontânea de Caetano Veloso

Começa o mistério: não existe gravação de Canção Espontânea. Não há rastros. Provavelmente essa foi a única vez que essa música foi apresentada, se é que ela existe (ou não passou de uma invenção da cabeça de Hineni Gomes?). A única música composta por Caetano que leva "Canção” no título e que foi gravada, aliás, é Canção de Protesto – o registro é de Zizi Possi no disco Amor & Música, de 1987:

De Manhã de Caetano Veloso

Dessa temos registro com Bethânia em si! A gravação saiu em um compacto em 1965, aproveitando o hype do show Opinião no qual ela cantava Carcará (João do Vale e José Cândido). Lado A era Carcará e lado B, De Manhã. Depois, Bethânia revisitaria De Manhã e lançaria versão ao vivo em 2012: o disco era Noite Luzidia e a música virou um dueto entre ela e o compositor, o mano Caetano.

Favela de Hekel Tavares e Joracy Camargo

Arrisco dizer que a inspiração de Bethânia para cantar Favela foi essa gravação de Maysa de 1962. Mas talvez não: existem gravações anteriores, tipo a de Silvio Caldas de 1952, a de Raul Roulien de 1933, a de Vanja Orico de 1955… Gravação de Bethânia que é bom, nada.

Meu Barracão de Noel Rosa

Mais uma que tem registro! Meu Barracão é composição de Noel de 1933 e essa gravação saiu em um EP de Bethânia de 1965 só com obras do sambista – Meu Barracão e outras cinco. Muita gente gravou antes, claro. Mario Reis em 1934, por exemplo. Aracy de Almeida, uma das maiores intérpretes de Noel, em 1955. E por aí vai.

A Felicidade de Tom Jobim e Vinícius de Moraes

Esse registro é mais atual, gravado em 2004 e lançado em 2005, efeméride de 40 anos de carreira de Vinícius. Então qual foi a matriz de Bethânia em 1964? A composição foi feita pra trilha do filme Orfeu Negro do diretor francês Marcel Camus, de 1959. Saiu esse compacto abaixo, na época:

Os Doces Bárbaros já tinham todos sido atingidos pela brisa João Gilberto, que era tranquila, mas com os seus efeitos mais parecia um furacão revolucionário. Só que muita gente fala dos efeitos de João em Gal, Caetano e até em Gil. Na Bethânia, voz de raio e trovão, como pode? Uma prova que quem ainda não ouviu vai se surpreender: a gravação de No Tabuleiro da Baiana de 1981 do disco Brasil, de João com participações de Caetano, Gil… e Bethânia. Talvez a voz de Bethânia nunca tenha sido tão mais suave quanto ali, com João junto. É um assombro de linda.
Será que em 1964, cantando A Felicidade, Bethânia já se suavizava?

Chão de Estrelas de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa

Bethânia só iria registrar Chão de Estrelas em 1996 no álbum Âmbar. Por que demorou tanto? Gravada pelo próprio Silvio Caldas em 1953, regravada por grandes vozes como Elizeth Cardoso (em 1957), Maysa (em 1961), Roberto Silva (em 1960), com o tropicalismo Chão de Estrelas virou um exemplo de velha guarda estagnada. Tanto que ela aparece no disco A Divina Comédia dos Mutantes, de 1970, em versão irônica. Caetano nega, daquele jeito dele: não tem essa de velho e novo, pipipipopopó. Sei.
Mas no fundo Bethânia nunca se abalaria por causa disso. Ela, que não quis entrar na dos tropicalistas porque já tinha sido rotulada como cantora de protesto no comecinho da carreira e viu que rótulo era roubada, na verdade já tinha incluído Chão de Estrelas no show A Cena Muda, que foi registrado em disco de 1974. Está ali, no medley entre Maria Maria de Caetano e Sinal Fechado de Paulinho da Viola. Então o lançamento de Âmbar é pioneiro em trazer essa música separada, fora de um medley e em estúdio. Depois, Chão de Estrelas ainda surgia no disco De Santo Amaro a Xerém de 2018, outro registro ao vivo dessa vez ao lado de Zeca Pagodinho.

O Morro (Feio não é Bonito) de Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri

Carlos Lyra era bossa-novista. Mas depois, em 1961, começou a se envolver com o CPC (Centro Popular da Cultura) ao lado de Vianninha (Oduvaldo Vianna Filho, do Teatro de Arena e um dos dramaturgos do show Opinião) e outros. Foi o CPC que mostrou Zé Keti, Cartola, Nelson Cavaquinho, todos esses sambistas do morro pra jovem classe média intelectualizada que já gostava de bossa nova. Isso se refletiu no primeiro disco de Nara Leão, lançado em 1964 pela Elenco, que tinha mais samba que bossa nova.
E Lyra começou a compôr outras coisas, pra além de Maria Ninguém e Se É Tarde Me Perdoa. O Morro (Feio não é Bonito) é um exemplo. Como era uma parceria com Gianfrancesco Guarnieri, o artista por trás de Eles Não Usam Black-Tie, tinha tudo a ver Bethânia cantá-la no cenário da peça.
Mas quem ensinou a música pra Bethânia, antes mesmo dela chegar no Rio pra despontar em Opinião substituindo Nara? Ela mesma: Nara. Ou deduzo que sim: Nara Leão foi pra Salvador e viu Nós, Por Exemplo…, e ao que consta ensinou algumas músicas pro pessoal. Ficou tão impactada com Bethânia que sugeriu o nome da iniciante pra substituí-la, quando precisou sair do Opinião. Portanto… faz sentido, não?

Ave Maria do Morro (Barracão de Zinco) de Herivelto Martins

A gravação de 1942 do Trio de Ouro, formado pelo casal Herivelto Martins e Dalva de Oliveira mais Nilton Chagas, virou um clássico. Claro, pintaram outras: a própria Dalva regravaria, além de gente como Nelson Gonçalves (em 1950) e Ângela Maria (em 1955).

Não existe gravação na voz de Bethânia. Nem no Cânticos, Preces, Súplicas de 2004, dedicado à Nossa Senhora, ela incluiu a faixa. Já Gal Costa gravou: a música fez parte de muitos dos seus shows e, finalmente, em 2003, no disco Todas as Coisas e Eu. Talvez por isso que no ano seguinte Bethânia evitou incluí-la no seu lançamento com músicas pra Mãe de Jesus. Gal ainda lançaria uma versão ao vivo no disco Live At The Blue Note, gravado em 2006.

Acender as Velas de Zé Keti

Coisas assim me fazem pensar o que aconteceu na real.
A história oficial diz que Nara conheceu Bethânia em Nós, Por Exemplo…, gostou da turma, ensinou umas músicas e foi embora pra fazer o Opinião.
Mas então ela já teria ensinado pra Bethânia uma música que faria parte do repertório do Opinião… antes de tudo?
Acho tão esquisito. Mais do que destino, me cheira a "tava tudo combinado".

Quem lançou essa música de Zé Keti primeiro na verdade nem foi Nara, no disco Opinião que também era de 1964, e sim Neyde Fraga com Walter Wanderley. Numa pegada bem… bossa nova, diga-se de passagem. Zé Keti foi um dos artistas do morro que viraram "moda” via CPC, como eu disse mais acima. Acontece – até hoje, aliás…

Enquanto a Tristeza Não Vem de Sérgio Ricardo

Outra que deve ter sido ensinada por Nara, ou que era fresquinha, recém-lançada em álbum. O disco Um Sr. Talento de Sérgio Ricardo sairia em 1964 mesmo. As baianas do Quarteto em Cy gravariam a versão delas no mesmo ano, pro disco homônimo Quarteto em Cy. Sérgio também era bossanovista, também se envolveu com o CPC. Nos anos 1970, virou maldito (vira-se maldito? Nem sei!).
Sérgio foi infectado com COVID-19, se curou mas seguiu internado e acabou morrendo no hospital em julho de 2020 de insuficiência cardíaca.

Bethânia nunca gravou a música.

Ao Voltar do Samba de Synval Silva

Do repertório clássico de Carmen Miranda, de 1934, foi uma das canções da safra de Synval Silva que a cantora gravou (também tem Adeus Batucada, um dos maiores hits). Bethânia não gravou, e a interpretação dela deve ser ótima! Queria ter ouvido!

Onde Estão os Tamborins de Pedro Caetano

O meu palpite é que Bethânia ouviu essa música no rádio ou num samba de roda na rua. A música que fez muito sucesso no Carnaval de 1947 é de Pedro Caetano, o mesmo de É Com Esse Que Eu Vou, que em 1973 apareceu no repertório de Elis Regina. E é boa mesmo, mas não tem gravação de Behânia. Tem uma de Célia, de 1975!

Foi Ela de Ary Barroso

A música lançada por Francisco Alves no Carnaval de 1935 é de Ary Barroso. Não existe gravação com Bethânia conhecida – porém, mais uma vez, existe… com Gal. Ela gravou pro songbook que foi lançado em 1994, com o violão de Luiz Brasil.

Lata d'Água de Luiz Antônio e Candeias Jota Júnior

Marlene soltou sua versão de Lata d’Água de Luiz Antônio e Candeias Jota Júnior em 1952. Com toda a temática de morro e favela do show de Bethânia, tinha tudo a ver. Depois, a interpretação de Elza Soares viraria um clássico contemporâneo. Saiu no Beba-me Ao Vivo de 2007 da cantora.

Mora na Filosofia de Monsueto e Arnaldo Passos

Finalmente a canção que dava nome ao espetáculo. Amo esse samba! A gravação de Bethânia saiu em seguida, em 1965, no seu primeiro álbum. É mais uma música lançada por Marlene, essa em 1954. Eu adoro! Quem a retomaria? Caetano, no disco Transa de 1972. A pegada dele ficou mais dark, como o resto do álbum, feito no contexto do exílio londrino. Acho que a escolha de Caetano também deve ter tido a ver com a saudade de Bethânia.
Depois, Bethânia a lançaria no meio de um pout-pourri desses que ela curte no disco Nossos Momentos de 1982 – esse acima.
Monsueto é incrivel. Ouçam mais Monsueto.

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September 19, 2020 /Jorge Wakabara
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