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A quadrilogia jovem de Marcos Rey – e por que eles ainda não ganharam uma adaptação audiovisual?

Você lembra? Lembra sim, né? Marcos Rey, que na verdade era um pseudônimo de Edmundo Nonato, assinou vários livros da coleção Vagalume da Ática. Entre eles, quatro na verdade faziam parte de uma sequência: O Mistério do Cinco Estrelas (1981), O Rapto do Garoto de Ouro (1982), Um Cadáver Ouve Rádio (1983) e Um Rosto no Computador (1994). Muita gente só leu os três primeiros porque o quarto saiu onze anos depois. Eu não me lembro quais li e quais não li na época, mas durante a pandemia, como vocês podem reparar nos posts anteriores, a nostalgia está batendo forte por aqui. Portanto: decidi revisitá-los. Li na sequência e várias perguntas começaram a surgir, sendo a primeira…

Por que eles não ganharam uma adaptação audiovisual até hoje?

A coisa fica ainda mais complexa quando a gente descobre que, mesmo antes de Rey começar a contar as aventuras da turma do Léo, ele já trabalhava como roteirista. A novela A Moreninha da Globo, de 1975, é um exemplo: roteiro dele. A modernosa Super Plá, da Tupi de 1969, também tinha texto dele com Bráulio Pedroso.
E mesmo depois, em 1986, o livro de Rey Memórias de um Gigolô foi adaptado por ele mesmo e Walter Dust para uma minissérie da Globo com direção de Walter Avancini estrelada por Lauro Corona, Bruna Lombardi e Ney Latorraca. Sem esquecer de Elke Maravilha, que ARRASA como madame Yara!

Antes, em 1970, Memórias de um Gigolô foi filme de Alberto Pieralisi sem participação de Rey no roteiro.

Mas se Rey tinha tanta entrada na Globo assim, sendo nome conhecido, por que os seus best seller juvenis nunca emplacaram em filme ou série?
A verdade é que em 2012 tudo indicava que eles iam virar sim, uma série de três filmes (a princípio ignorando o quarto). Saiu notícia e tudo. A RT Features de Rodrigo Teixeira, que estava por trás do projeto, é bacana e já produziu coisas incríveis como O Cheiro do Ralo (2006), Quando Eu Era Vivo (2014), O Abismo Prateado (2011), Tim Maia (2014), A Vida Invisível (2019) e também filmes internacionais como Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e A Bruxa (2015). Ou seja: não é brincadeira. O projeto continua em destaque no site da produtora, mas não existe diretor, elenco, nada. Desde 2012!

O pior é que há precedentes: O Escaravelho do Diabo, outro livro-hit da Vagalume, esse escrito por Lúcia Machado de Almeida, virou filme em 2016. Dirigido por Carlo Milani, é meio OK. Mais para OK do que para bom. Mas eu sempre achei O Escaravelho mais mediano que as tramas do Marcos Rey, confesso…

Os livros são bons?

Para quem não leu ou leu faz muito tempo: os livros sempre se passam em São Paulo, mais especificamente no bairro do Bixiga, e trazem como personagens Leo, o bell-boy do hotel cinco estrelas Emperor Park Hotel, o seu primo cadeirante e jogador de xadrez Gino e a sua quase-namorada patricinha Ângela. São histórias de thriller policial, nas quais os três, às vezes com a ajuda do porteiro do hotel Guima, desvendam o culpado.

Gosto muito do Rapto, no qual um rapaz amigo deles que começou a fazer bastante sucesso como músico é raptado. O primeiro, Mistério, é um clássico, muito bom também. O terceiro, Cadáver, é legal mas acho que perde um pouco para o segundo – a gente já conhece a dinâmica e fica mais fácil descobrir as pistas. E em Cadáver as situações mais violentas às quais tanto Leo quanto Gino se expõe tem o objetivo de talvez trazer mais adrenalina. Isso acontece mesmo, mas ao mesmo tempo fica difícil acreditar que eles seguiriam bancando os detetives com um perigo tão concreto de violar suas integridades físicas. Então Cadáver é o mais descolado da realidade, com um nome (maravilhoso, por sinal) digno de imprensa marrom.

E o quarto é bem fraco perto dos outros. Cheio de pontas soltas, ele sugere várias coisas que não são desenvolvidas direito – a sequestrada Lia gosta ou não do Leo? E essa tensão sexual entre Gino e Ângela, aparece de onde e pra quê? Uma falha que considero enorme é que no meio do livro a gente já sabe quem é o culpado, o que acaba com esse suspense – só ficamos tensos para saber como eles vão desvendar o mistério, e o modo que eles conseguem fazê-lo também é meio besta. Entendo que Rey provavelmente não quisesse repetir a mesma fórmula, mas do jeito que ele fez… também não ficou bom. Até o título é meio esquisito: o paralelo entre o computador e o culpado é muito pouco explorado para ganhar tanta importância. Talvez em 1994 a palavra "computador” fosse mais forte, mas hoje é meio qualquer coisa, então ele também envelheceu mal.

De qualquer forma, se você se empolgar e chegar no fim do terceiro, vai acabar lendo o quarto também… Risos!

Quanto aos livros serem materiais bons para um roteiro: SUPER. Acho que pelo próprio Marcos Rey ser roteirista, as histórias que ele criou são bem dinâmicas, facilmente adaptáveis.
Agora, eu preferia uma série do que filmes, e se possível que se passasse nos mesmos anos que os livros, entre 1981 e 1983 (repare que estou ignorando total o Rosto kkkkkkk). Pode ser, Netflix? Amazon Prime? Globoplay?? Alguém???

Eu amava essa capa original! Sucesso! Você já viu as novas versões? Tão fraquinhas perto das antigas…

Para quem ficou curioso: o ilustrador das capas originais dos livros do Marcos Rey é Jayme Leão – inclusive do quarto.
Rey morreu em 1999. Jayme Leão, em 2014.

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