Wakabara

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Os mascotes do Japão

Oh, não, chegou o momento de falar dele.

Bicho horroroso, idiota, desgraçado; se os tempos áureos do Orkut ainda existissem, sem dúvida eu faria uma comunidade chamada ATROPELE UM FUNASSYI

A cultura de mascotes japoneses - que na verdade nem se chamam assim - está intimamente ligada a outros posts aqui do site, então, se você quiser ficar bem por dentro, recomendo lê-los antes. São eles:

. O que é kawaii?
. A rainha do kawaii: Hello Kitty
. O lado dark do kawaii

E se você quiser continuar:
. O mistério do zíper nas costas de Rilakkuma

Pronto? Então VAMOS.

Eu teria medo se eles viessem assim na minha direção

Yuru-kyara é um pouco mais do que um simples mascote. E também é um pouco mais que um simples desenho que acompanha a marca, porque ele de fato é um ser, uma pessoa de roupinha, fantasia, tipo um... Teletubbie. Eu sei, temos exemplos no Brasil tipo isso:

Turma da Mônica derretida de Minas Gerais

Ou isso:

Pqp, não estou acreditando que acabei de colocar uma imagem do JACARITO da ESPM no meu blog…

Ou isso também:

Carreta Furacão <3

E isso…

Ah, é, também teve isso aqui…

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(isso, em minha defesa, foi antes de eu saber que o Hirota é TFP… risos)

Mas você não está entendendo. O fenômeno dos yuru-kyara (ou yuru-chara, a grafia varia) não é irônico. Geral GOSTA deles lá no Japão.
”Ah, Wakabara, mas mascote de faculdade todo mundo gosta”
Todo mundo da faculdade, né? E todo mundo da faculdade NÃO É TODO MUNDO.
Outra coisa bem babadeira dos yuru-kyara é que os mais tchananans são os ligados a cidades. Sim, as cidades têm mascotes. Apesar de um supermercado poder ter um. Um… canal de TV. Um… castelo. E por aí vai… Porém os que bombam são de cidade - recentemente quem virou uma febre foi o Kumamon.

"Tô bunita?"

Kumamon foi criado pela prefeitura de Kumamoto para estimular o turismo da região, principalmente depois da abertura de uma linha de shinkansen (trem-bala) que passa por lá, entre Fukuoka e Kagoshima.

Aí galera trata yuru-kyara que nem Hello Kitty. Vira chaveiro, caderninho, tapetinho de porta, lenço umedecido, lápis, caneca, boné, estampa de camiseta. Aparece até na TV. Aqui abro um parêntese porque acho muito legal uma coisa que rola no Japão e quem não foi para lá não sabe.

O turismo dentro do próprio país é extremamente valorizado. Como existe o shinkansen, as distâncias e a praticidade para você viajar de um lugar para o outro diminuem imensamente. Em duas horas e 30 minutos, por exemplo, você sai do centro de Tóquio e vai para pertíssimo do centro de Osaka. Sem precisar de burocracias tipo passar por um raio-x de segurança: é duas horas e 30 minutos de verdade, e nesse tempo, caso você tenha internet no celular, dá para ir trabalhando, assistindo Netflix
Mas além de todo esse lado prático, o japonês sabe fazer um marketing turístico. Todo lugar tem sua história e suas qualidades, e elas são valorizadíssimas. Por exemplo: Okayama é uma das cidades apontadas como a original de Momotarô, o menino-herói que surgiu de um pêssego. Isso quer dizer muito doce de pêssego, muito souvenir temático, estátua do Momotarô, festival (os matsuri) para o Momotarô. Melhor ainda: esses doces todos estão à venda na estação de trem, então você os compra um pouco antes de ir embora, como uma lembrança, para dar de presente para os amigos.
Fora os obentôs de cada estação de trem - os ekibens. Eles são diferentes em cada estação: alguns fazem fama pelo sabor, outros pela embalagem, outros pelo conjunto da obra. Tanto que a página oficial de venda do Japan Rail Pass traz um post só sobre ekibens!!! E tem quem COLECIONE EKIBENS!

Só de lembrar uma lágrima cai. Alguém me dá R$ 15.000 para eu resolver um negócio rapidinho do outro lado do mundo?

Voltando aos mascotes que, claro, você já percebeu que é um negócio sério e gera dinheiro. A coisa desenvolveu tanto que existe um concurso anual de mascotes. Sim, é isso mesmo que você leu. O Yuru-Kyara Grand Prix (olha-esse-nomeeeee) acontece em novembro, e o de 2018 ficou manchado pelo fato de ter rolado um pequeno escândalo - na proporção japonesa de escândalos, ou seja, aqui seria considerado dibowas. É que a cidade de Yokkaichi teria pedido para seus funcionários municipais votarem em Konyudo-kun, o mascote da cidade. E eles teriam feito mais cédulas, fraudando a votação.

Achei o Konyudo-kun feiozinho e mal-educado

Outro que angariou votos de maneira suspeita foi o Ja-Bo da cidade de Omuta.

Mais interessante que o Konyudo-kun, disse eu, o sommelier de mascotes

Mas então quem ganhou? Konyudo-kun ou Ja-Bo?
Nenhum dos dois. A organização parece que descobriu o esquema a tempo e tentou eliminar os votos suspeitos. O ganhador foi Kaparu, que prefiro chamar de "cara de tonto e olhar dos perturbados", da cidade de Saitama.

Ganhei de vocês, seus trouxas! Konyudo-kun ficou em segundo lugar e Ja-Bo em terceiro

Foram 909 candidatos nessa edição de 2018. Isso mesmo: 909 yuru-kyara!
E quais foram os ganhadores das edições passadas? Eu te digo:

"Mas Wakabara, e aí, qual é o seu preferido?"
No fundo não sou um profundo conhecedor de muitos, são vários. Mas OK, dos de cima gosto do Hikonyan, Kumamon e Sanomaru. Que mais? Aqui:

E eu ADORO, claro

Para quem gostou desse post, recomendo que siga a conta do Twitter Mondo Mascots. É mara!

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(não falei do horroroso Funassyi, né? eu sei. FOI DE PROPÓSITO. EU NÃO ME CONFORMO DESSE BICHO FEIO FAZER SUCESSO. AAAAAAAAAAAAAH)

Esse post foi especial para a Bia Bonduki, que falou “eu ia te pedir um post sobre os mascotes e você disse que ia fazer, viva!"
Não foi exatamente isso que ela disse, mas acho que ela vai gostar desse post!
A Bia tem um podcast sobre sonhos chamado Eu Tive Um Sonho. Ouça!

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