Wakabara

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Sempre teremos Paris: o doc e +

Antes de trabalhar no site da Lilian Pacce, passei anos no Chic, da Gloria Kalil. Não sei as datas exatas (o que faz com que o desafio de preencher meu currículo fique um pouco mais difícil): foi por volta de 2003 e 2008. Nesse tempo, fiz várias reportagens das quais me orgulho muito: teve a vez que o desfile do Fashion Rio com a Gisele Bündchen ia cair no mesmo dia do primeiro desfile da Daspu e eu… cobri o desfile da Daspu. Lembro que a capa do site naquele dia foi uma foto da Daspu e uma foto da Gisele com um X no meio kkkkkkkkkkkk!

E também teve a vez que eu fui no Café de la Musique pra coletiva de imprensa de ninguém menos que… Paris Hilton. Em pleno 2005. Ela veio lançar o seu perfume (não lembro se era o primeiro) com festa da Daslu e era O AUGE de Paris. Pense que ainda passava The Simple Life e aquela famosa foto de Paris com Lindsay Lohan e Britney Spears no carro só rolaria em 2006!

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Essa foto.

Infelizmente o arquivo do Chic não está mais online, mas me lembro de chegar da coletiva dizendo: “Gente, foi absurdo, foi bizarro. Não sei o que escrever". E foi decidido que eu ia escrever uma crônica sobre todo aquele circo. Então vou tentar lembrar de tudo o que aconteceu (atentem ao fato de que minha memória é horrenda) e refazer pedaços da crônica, com aquele tempero extra que só a idade nos dá. Vamos?

O Café de la Musique era cafonérrimo. Não sei se ele continua no mesmo lugar onde era porque nunca mais voltei. Um dos sócios era o Rico Mansur, que na época era "o namorado de Luana Piovani"… ou o ex-namorado? Nem lembro, sei que ele era uma figura ali, naquele mundo glamurete. E era uma figura que eu, do alto da minha formação jornalística na PUC (estava no segundo ano e já era formado em publicidade na ESPM), achava bem desinteressante. Então, imagine, já fui com o maior bode só pela "locação”. Ao mesmo tempo, estava curioso. Quem viveu os anos 2000 sabe como a figura de Paris era emblemática.

Que eu me lembre, Paris deu pouquíssimas entrevistas exclusivas, o que fez com que a coletiva fosse um sucesso: tinha um monte de jornalista de veículo graúdo, tipo Folha, Veja e o escambau. Acomodaram a gente nas mesas do salão para esperá-la e tinha um palco armado, literalmente, de cima do qual Paris responderia as perguntas. Os fotógrafos ficaram atrás, um tanto perdidos porque a gente não sabia direito de onde Paris viria.

Aí começou uma certa, er… palhaçada. Fomos orientados a não fazer perguntas sobre a sex tape 1 Night in Paris, do boy lixo e ex dela Rick Salomon, pois se ela se incomodasse com alguma pergunta o combinado era que ela simplesmente levantaria e iria embora. Até aí, enfim, tem muita entrevista com celebridade onde o assessor pede esse tipo de coisa, então OK. Mas que eu me lembre o pedido vinha por escrito. E de uma coisa eu tenho certeza: junto com o release eles entregaram uma lista com IDEIAS DE PERGUNTAS. Juro. Eram PÁGINAS DE PERGUNTAS. Ou seja: ninguém podia dizer que não sabia o que perguntar pra ela… Só não entendi porque já não vinha com as respostas, né, assim facilitaria o trabalho de todos. Risos.

Os jornalistas já estavam trocando olhares nervosos, do tipo “que roubada". E aí, fashionably late, veio Paris descendo as escadas num vestido Carlos Miele.

O que aconteceu em seguida foi um tanto assustador, até pros nossos padrões acostumados com a bagunça de Gisele no backdrop, global em fila A de desfile e por aí vai. Os fotógrafos ENLOUQUECERAM. AVANÇARAM. SUBIAM EM CIMA DAS MESAS E TUDO pra garantir o clique. Sendo que, relaxa, ela não ia sair correndo. Paris estava lá pra isso. Ela desceu a escadaria com o rosto levemente virado pra um dos lados, provavelmente no que ela acreditava que era seu melhor ângulo. E parecia mesmo uma boneca artificial, com movimentos estudados. Lembro que não a achei exatamente bonita – ela tem (tinha?) um dos olhos mais caído, à Lampião (ou Lirinha? Ou Thom Yorke?), uma proporção bem artificial, corpo de modelete (ou seja, bem magra).

Depois que os fotógrafos se acalmaram, a coletiva começou. Os jornalistas estavam bem irritados com a famigerada lista de perguntas, então foram bem ariscos. Teve uma hora que ela falou que tinha perguntado do cheiro do perfume pra fulana e sicrana, aí falaram meio que alto: “Você não perguntou pra sua irmã?” e ela deu uma risadinha meio sem graça. Não lembro se ela estava brigada com a Nicky ou algo assim.

Paris Hilton e Nicky Hilton, hoje Nicky Hilton Rothschild - ela casou com um membro de uma das famílias mais famosas e poderosas do mundo!

Sei que saí do evento sem entender direito o que havia acontecido. Foi uma amostra do fenômeno Paris, pra qual eu não estava preparado. O que ela tinha feito pra ser famosa? Que comoção era aquela? A gente falava mal mas estava ali, cobrindo tudo. Então quem estava fazendo papel de bobo? Lembre-se que Keeping Up With the Kardashians ainda nem tinha estreado – o primeiro episódio do reality iria ao ar em 2007.

E digo mais: também vi Kim Kardashian West de perto, em outra ocasião. Foi no lançamento da colaboração dela com a C&A em 2015 – fui na festa, que tinha um palquinho e as pessoas que queriam tirar uma selfie com ela subiam no palquinho pra isso.
Achei meio humilhante e não fui kkkkkk Mas falei tudo isso pra dizer que: achei Kim Kardashian muito mais normalzona que Paris Hilton. Ser humana. Produzida, mas não tão fake.

Bem, eu não sabia de toda a história que saiu no documentário recém-lançado This is Paris do YouTube Originals.

Ainda sobre aquele dia de 2005: de noite, Paris ia pra festa do perfume organizada pela Daslu. A outra estagiária foi (quem ligar os pontos vai saber quem é, mas não vou dizer o nome porque não sou mais íntimo e não quero comprometê-la, né, sei lá).
Ela estava empolgadíssima, normal. E aí aconteceu a história mais estapafúrdia kkkkkkkk

Certo rapaz, instrumentista relativamente famoso de uma família relativamente famosa, estava na festa. Na época ele era namorado de uma cantora bem famosa de certa dupla pop, filha de um certo cantor de outra dupla famosérrima… Você entendeu. Depois o rapaz e a cantora viriam a se casar.
A cantora não foi na festa, mas ele estava lá – e parecia bastante fã da Paris Hilton. Hihihihihihi! Só que a bateria do celular dele acabou. Aí ele pediu pra estagiária pra ela tirar uma foto dele com a Paris e mandar pra ele por email.

Portanto, em algum lugar, a estagiária (que hoje é muito muito muito mais que uma estagiária) talvez tenha uma foto desse rapaz posando feliz com Paris Hilton em algum HD externo perdido.
Eu teria guardado. Você não??
That's hot!

Em 2006, além daquela foto com Lindsay e Britney, Paris lançou um disco. Amo muito essa canção.

Reggae pop fuleiro dos melhores.

Paris voltou pro Brasil em desfiles da Triton – dois! No primeiro deles, eu já estava no site da Lilian mas não a entrevistei. Quem fez esse serviço sujo, que eu me lembre, foi a Antonia Petta, e Aurea Calcavecchia fotografou. Olha aqui!
E também tem esse maravilhoso vídeo da Alexandra Farah entrevistando Paris para o que na época se chamava RG Vogue:

A minha história com Paris não acabou por aí. Em 2012, teve o Pop Music Festival em SP. Fui por causa da Jennifer Lopez, mas quem fechava a noite era o DJ set da Paris Hilton – a primeira vez que ela ia discotecar!
Na época falaram muito mal. Mas sabe que eu até me surpreendi e me diverti com as escolhas dela?

Um ano depois, em 2013, estreou o filme Bling Ring: A Gangue de Hollywood no cinema, dirigido por Sofia Coppola. Era o ápice do olhar irônico sobre essa cultura das celebridades, com direito a cenas na casa da própria Paris (Bling Ring é inspirado em uma reportagem sobre uma gangue de jovens que roubava a casa de celebridades, o podcast Os Últimos dos Millennials tem um episódio que explica tudo).

A fofoca continua pegando via Instagram, via Twitter, via Whats. Porém, depois dessa era de ouro das "garotas problema" Paris, Lindsay e Britney, a energia voraz de paparazzi, notas maldosas e muito bafafá nunca mais foi a mesma coisa, na minha modesta opinião. Tudo ficou tão tóxico que finalmente passou a ser encarado como uma coisa negativa. A cultura do cancelamento cresceu e apareceu. Esse interesse obsessivo sobre a vida alheia ganhou tintas mórbidas, com razão. Agora não é mais cool ficar falando que alguém foi preso por dirigir bêbado – pega mal, é coisa de gentinha. O bom mocismo cresceu, a vilania virou um gosto adquirido novamente.

(Sobre tudo isso, particularmente acho todo exagero um porre.)

E claro, o foco mudou pras Kardashian-Jenner, que parecem ter maior controle sobre a narrativa, salvo casos específicos como o assalto em Paris (sem intenção de trocadilho).

Sobre o documentário

Essa narrativa de que Paris na verdade não é a pessoa que aparenta, que ela é um personagem… Isso é no mínimo exagerado. Bom, de fato acredito que ela não seja apenas a caricatura que promove em vídeos como esse:

E inclusive esse é um dos lados mais interessantes de Paris – a capacidade de rir da própria cara. Ela aprendeu com o tempo – lembra quando deu ruim e ela chorou no David Letterman?

Chola mais

Não sejamos ingênuos: no caso de tantos licenciamentos e negócios, a coisa não é feita por acaso. Não duvido de forma alguma dos traumas que ela apresenta no doc – acho, aliás, que eles explicam a fuga da realidade, o mundo de mentira, a personagem que ela decidiu assumir.

Só que é isso: quando você não é exatamente uma atriz e interpreta algo, esse algo precisa estar próximo de você pras pessoas acreditarem. Pode ser uma versão exagerada. Um histrionismo. Mas não é apenas invenção. Não dá pra dizer: "Paris não era nada fútil esse tempo todo, ela estava fingindo, na verdade ela é superculta e odeia frivolidades". Me poupe, né? A fofa é a mais consumista que tem. E diz que só vai parar quando tiver um bilhão de dólares. Kylie: beware.

Com as revelações no filme, Paris consegue dar profundidade à sua persona pública. Fica mais vulnerável, mais humana, e talvez mais pessoas consigam se identificar com ela. Isso pode ser bom pra sua marca. Paris é um mês mais nova que eu. A sua personagem precisava amadurecer – Nicky, a irmã mais nova, desde muito cedo parecia mais velha!
Se as blogueiras daqui precisaram descer do pedestal e se humanizar, imagina a Paris?

O doc é OK. Muito relevante na denúncia sobre esses colégios, sobre como os pais lidam com filhos rebeldes. É uma pena porque não chega a aprofundar o debate – e poderia. Bom, o show é da Paris, é sobre ela, sobre como isso a afetou. Nem é tão chapa branca quanto você espera, mas sim, é uma chapa… creme. Areia. Bege clara.

Vale seu tempo? Bom, se você estiver entre ele e o livro da Xuxa… Assista ao documentário. O livro da Xuxa é bem fraco.

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