Dois podcasts que eu curti - e olha que tá difícil eu curtir um podcast

Tenho dito para as pessoas que a overdose de podcasts tem me deixado um pouco de saco cheio deles.
Se eu quero conversar, 1. eu quero participar da conversa; 2. eu prefiro fazer isso com os meus amigos.

Então na verdade, e na minha humildíssima opinião, o problema está no produtor de conteúdo que acha que fazer uma pautinha bem qualquer coisa e sentar com um bando de gente para ficar falando já é o bastante. Isso também vale para o youtuber e etc.
Sou do tipo de público talvez (e provavelmente) mais fora de moda, que gosta de aprender coisas novas e não simplesmente de um ruído branco, e se sente desrespeitado quando alguém se propõe a falar de algo sem ter a mínima noção sobre o que está falando. E me refiro a extremos, mesmo: pessoa que fala de diretor de cinema sem ter uma filmografia básica do diretor em mãos, coisas assim. Não dá, né? Mas parece que dá: tem youtuber por aí que faz exatamente isso. Podcaster também.

Mas o meu bode também passa pelo ponto que o meu tempo precisa ser bem distribuído, e tenho preferido ler do que ouvir podcast - a qualidade da leitura é mais controlável por mim do que a qualidade dos podcasts, talvez? kkkkkk

Isso tudo posto, recebi duas indicações mara de dois amigos mara, meus companheiros de Baiacu Mariana Tavares e Raul Andreucci.
(Para quem não sabe, eu tinha um projeto chamado Baiacu - antes da revista da Laerte, tá? - que trazia um monte de conteúdo com temáticas mensais e entrevistas gigantescas. Ainda está no ar: confira!)

A dica da Mari foi um podcast que combina com esse post de músicas em diversas línguas que publiquei recentemente. Babel é um podcast sobre diversidade linguística: a cada edição eles abordam uma língua diferente. Adorei! É muito diverso mesmo, abre a nossa cabeça a respeito de como a Terra é vasta e de como a língua é importante, um reflexo da sociedade, uma forma de se colocar no mundo.

O Raul indicou o Encruzilhadas: uma espécie de mergulho em brasilidades, cada episódio também com um tema. Já teve fé, festas, boteco, rádio, jogo do bicho e samba.

Os dois podcasts fazem o mínimo: pautas muito bem feitas. Você vê (ou melhor, ouve) que os podcasters realmente têm informações interessantes para passar. Descobre coisas. Ufa. Achei que era esse o propósito de todos.

Dá uma chance e uma ouvida aí, enquanto vai para o trabalho!

Uma editora especializada em futebol

Um dos meus melhores amigos está com a empreitada mais maravilhosa e corajosa. É uma editora de livros - sim, livros! - especializada em futebol. A No Barbante do Raul Andreucci já chega com um livro incrível, o A Selva do Futebol, do Raul e de Tulio Kruse, que fala sobre a realidade dos clubes de futebol amazonenses e a construção da Arena da Amazônia, um dos estádios usados na Copa de 2014, e o quanto de extração ilegal de madeira aconteceu para que esse estádio fosse construído.
Sou obviamente suspeito para falar sobre assunto mas o livro está com uma diagramação linda e ainda tem o desgraçamento de optar por não incluir o título na capa, bem atrevido, para valorizar a arte de André Bonani. Adoro coisas desse tipo, que vão contra o que todo mundo acredita, quebrando regras - especialmente quando essas regras são de mercado. Mas, bem, não sou amigo do Raul à toa, né?
E já que sou suspeito, conversei com alguém mais suspeito ainda para falar sobre a editora. O Raul em si! Confira a entrevista!

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Arte de André Bonani

para o livro A Selva do Futebol

Wakabara: O que é a No Barbante?
Andreucci: É uma editora dedicada ao futebol e só futebol, nenhum outro esporte e nenhum outro assunto. Mas não é um futebol relacionado ao sucesso, à fama. É um futebol lado B, alternativo, e sobre 3 pilares: jornalismo, pesquisa acadêmica e literatura. Queremos trazer histórias e discussões que ficam marginalizadas ou pela grande imprensa ou pelas grandes editoras. Vamos espalhar essas histórias para quem curte esse tipo de futebol, para além do clube e do estrelato.

Por que falar de futebol?
Primeiro porque amo futebol, muito mais do que o clube que eu torço, que é o São Paulo. Sempre gostei de discutir, de escrever, de ler a respeito. Sempre trabalhei com isso no jornalismo esportivo, fiquei no Lance por aproximadamente 6 anos, em todas as outras publicações jornalísticas que trabalhei também produzi algo relacionado a futebol, a minha pesquisa acadêmica de mestrado foi sobre futebol. Também sempre foi um futebol com um pouco mais de estudo, pesquisa, discussão; um envolvimento mais afetivo, lúdico, que não fosse só ficar brigando para saber qual time é melhor, uma paixão radical que só quer a vitória. Quero encontrar outras pessoas que gostam de futebol dessa outra maneira e compartilhar com elas. Acho que existem muitas pessoas assim, e que vão ter esse espaço para sugerir livros, para comprar livros que possam expandir essas ideias.

Sobre o que você pode discutir quando você discute futebol?
Tudo. Futebol é uma representação da vida. Você pode, por exemplo, discutir moda pela roupa que eles usam, pelas tendências que existem ali; você pode discutir comportamento, política. Apesar de existirem pessoas na grande imprensa hoje achando que não se mistura esporte com política, tudo é um ato político. Essa coisa de lançar um livro com esforço pessoal, levantando uma grana para fazer a primeira tiragem, tudo isso de maneira independente e na marra: é um ato político. Ainda mais nesse momento de governantes fascistas usando o futebol para criar uma nuvem em torno de atos sinistros e comportamentos escrotos que adotam. Estamos fazendo política do jeito que podemos, contribuindo para que o lado humano, solidário, coletivo floresça mais do que a marginalização e exclusão de pessoas, coisas que esse governo e outros governos pelo mundo querem promover.

Fala um pouco sobre o livro em si, o A Selva do Futebol.
A ideia é que a gente seja cobaia, testando formato, levando tempo para maturar esse conteúdo; e ele representa esse pé do jornalismo. Começou como uma reportagem que a gente publicou pelo BRIO [plataforma online que não existe mais dedicada a um jornalismo mais aprofundado], a quem agradecemos muito e que fez a ponte entre eu e Tulio há uns 4, 5 anos. Fala sobre a minha vivência como repórter no meio dos clubes amazonenses em uma realidade pobre, bem mambembe, e justamente dois, 3 meses antes deles receberem, entre muitas aspas, o estádio novo construído para a Copa de 2014, a Arena da Amazônia. Isso é intercalado com a história do Tulio, que é uma investigação do caminho da extração ilegal de madeira; ela acaba saindo da própria floresta amazônica, roda o Brasil inteiro, passa por carvoarias e aciarias e volta em forma de aço para a construção da Arena da Amazônia. Ah, e é legal que a gente fez uma coisa chamada costura aparente, o livro não traz os cadernos colados. Você vê a costura, é uma brincadeira com o nome da editora. E traz essa ideia do artesanal.

Por que chama No Barbante?
É uma expressão antiga, para remeter ao lúdico e ao afetivo. Significa que foi gol, a bola no barbante é a bola no gol, na rede.

Quais são os próximos livros?
O segundo livro vai ser sobre a Coligay, a primeira torcida organizada LGBTQ+ do Brasil, que é do Grêmio. Sai no segundo semestre de 2020. E todo ano vamos ter um livro coletânea de artigos e contos meio… prafrentex, meio pra esquerda? [Risos] É um jeito da gente ver que futebol não é só futebol, tem muito mais coisa envolvida.

Quer um exemplar de A Selva do Futebol? Você pode participar do crowdfunding que já está no ar - confira! E no Medium da No Barbante você confere trechos do livro, para decidir se quer mesmo - mas eu já estou lendo e recomendo, viu? Eu sei, sou suspeito… Mas vai por mim, bebê!