Sigo obcecado por António Variações e ainda não vi o filme

Você viu o meu post anterior? Falei sobre a cinebiografia inspirada na vida de António Variações, músico português incrível que morreu muito cedo.
Uma das coisas mais legais na obra de Variações, na minha opinião, são as letras. Acho interessantes, bem sacadas. E pelo visto não sou só eu - uma coisa que não contei no post anterior foi sobre um projeto que pintou em 2005 e gravou músicas dele que foram encontradas em fita cassete em uma caixa de sapatos encostada na gravadora. Acredita?!
A banda Humanos, formada especialmente para gravar essas músicas pela primeira vez, traz integrantes do grupo Clã (Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves) mais o fadista Camané, João Cardoso da banda de rock Bunnyranch e David Fonseca, ex-Silence 4, hoje também superconhecido pelo seu trabalho solo em inglês em Portugal.

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Além de um clipe de Maria Albertina (nesse link, mas aviso logo que ele é bem bobinho, só vale pelo Camané ser gato), Humanos fez shows bem sucedidos e acabou lançando um disco ao vivo na sequência que traz mais ou menos o mesmo repertório do álbum anterior e alguns hits de Variações que o pessoal conhecia na voz dele.

A música Muda de Vida, abaixo, é uma das minhas preferidas, cantada por Manuela.
“Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se a vida em ti a latejar”

E sabia que essa não foi a primeira homenagem grande a Variações? Em 1994 foi lançado o álbum Variações - As Canções de António, com regravações feitas por gente famosa da música portuguesa tipo Madredeus (sim, Madredeus cantando António Variações!), Sergio Godinho (que eu descobri que adoro tipo ontem) e Delfins (uma das bandas de pop rock portuguesas mais conhecidas até hoje, mesmo que não esteja mais em atividade).

Bom, tudo isso para dizer: ouça Variações! O que você está esperando, mesmo?

Qui êtes-vous, Celine Dion?

Você viu a capa da Harper's Bazaar US de setembro com Celine Dion?

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A cantora está bela, fotografada por Mario Sorrenti com styling da diretora global Carine Roitfeld. A capa faz parte da edição Icons, que se espalha pelo mundo - todas as Bazaar, inclusive a do Brasil, usam da temática nesse mês. Tem Alek Wek, Kate Moss, Awkwafina, Alicia Keys… Mas achei essa a mais bonita mesmo, não só pelo clique como pela referência. Você conhece o filme Qui êtes-vous, Polly Maggoo?

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Eu simplesmente AMO esse filme. Ele foca na modelo Polly Maggoo (Dorothy McGowan) e faz uma sátira ácida ao mundo da moda. Após apenas dois anos do lançamento de Courrèges de primavera-verão 1964, que fez com que o estilista ficasse conhecido como o criador da era espacial, o diretor William Klein armou essa comédia que chega a ter ares existenciais. E um desfile feito com… peças de alumínio?!

Acho Qui êtes-vous, Polly Maggoo? sensacional, com uma pegada narrativa diferentona e um atrevimento. Tem participação das modelos Peggy Moffitt e Donyale Luna, duas das musas da época.

Peggy & Donyale

Peggy & Donyale

E acima de tudo o longa tem um bom humor perante a moda que às vezes acho que nos falta - a gente se leva muito à sério, a leveza às vezes faz parte. Celine Dion também sabe disso - seu jeito de encarar a moda, faz um tempo, é com humor. Relembre então o vídeo que ela fez com a Vogue América, bem nessa pegada:

Adidas com Fiorucci, um sonho

Eu sei, sou incoerente, num post anterior digo que comprar é cafona e agora me mordo todo por uma coleção.

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Mas quem não se morderia

por esse amor em forma de meia?

A verdade é que me empolgo cada vez menos com lançamentos, mas quando me empolgo… é de coração. kkkkk
Essa coleção da Adidas com a Fiorucci já foi lançada e está à venda, até onde eu sei, pela internet. Existe uma loja Fiorucci em Londres mas não sei se ela recebeu essas peças. E o que também sei é que essa preciosidade em forma de pochete já está esgotada:

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(rezando para aparecer de volta no boxing day, alokaaaa kkkk)

A Fiorucci é uma marca de origem italiana criada por Elio Fiorucci.

Mais uma vez, quem tiver esse torrent, tô querendo!
Elio foi o herdeiro direto do Swinging London, da Biba, daquele fervo todo. Morreu em 2015, mas já tinha vendido a marca na época. Um casal inglês, Janie e Stephen Schaffer, é o dono atual. Acho legal porque eles seguem com a marca mas ao mesmo tempo triste, porque tinha um charme italiano nela que agora se foi, né?

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No Brasil, entre 1979 e os anos 1990, o nome Fiorucci era de Gloria Kalil. Ela conta com muito orgulho que as variações dos populares anjinhos (de asas de morcego, caubói, de viseira…) eram brasileiríssimas!

6,190 Likes, 214 Comments - Gloria Kalil (@gloriakalil) on Instagram: "Tem alguma camiseta da Fiorucci em casa? Estou em busca das estampas dos anjinhos para o meu..."

No primeiro destaque dos stories no Insta da Gloria (@gloriakalil) ela conta melhor essa história.
Bom, é isso. Queremos Adidas loves Fiorucci. Pra ontem. E camisetas vintage com esses anjinhos alternativos da Fiorucci também.

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Quem tatuou o dragão do Menino do Rio?

Para quem não sabe, o Menino do Rio realmente existiu.
Petit, o apelido de José Artur Machado, era um surfista boa pinta e boa praça que ficava ali por Ipanema e fez amizade com Caetano Veloso e Baby Consuelo, que ainda não era Baby do Brasil.

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A música foi gravada por Baby no disco Pra Enlouquecer (1979) e virou o tema da novela Água Viva de 1980. A história conta que Petit e Caetano se conheceram em Ipanema, na praia mesmo (talvez no píer?), e ficaram amigos - o surfista passou a frequentar a casa do músico. Aí, quando Baby estava gravando o Pra Enlouquecer, pediu uma música pra Caetano pra ela cantar. Segundo a própria, na noite seguinte, se encontraram todos na casa de Caetano: Petit, Baby, Dedé (a mulher de Caetano na época). Pra bater papo mesmo. E ele se inspirou.

Tanto Baby e Petit se conheciam que existem fotos dos dois:

O nome da música inspirou um filme homônimo em 1982, dirigido por Antonio Calmon e protagonizado por André de Biase.
Aliás, pra quem não sabe: André de Biase é cunhado de Jacqueline de Biase, a estilista da Salinas. Ela saiu da marca de moda praia recentemente, em julho - ela seguia assinando a direção criativa mas já tinha vendido a marca pra InBrands em 2011. Jacqueline é mulher de Tunico, o sócio dela na empreitada que começou justamente em 1982, mesmo ano do filme com o irmão dele. Ah, e Tunico é roteirista do filme Menino do Rio com André, o diretor Calmon e ainda Bruno Barreto, que também assina a produção!

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A história do longa não é a história de Petit. E a história de Petit ficou triste em 1987, quando ele sofreu um acidente e acabou ficando com o lado direito inteiro imobilizado. O surfista que era cheio de vida (corpo aberto no espaço) infelizmente não deu conta dessa onda e se enforcou com a faixa do quimono de jiu-jitsu, tirando a própria vida em 1989.

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Petit

Antes do dragão tatuado no braço

Hoje em dia, quando Baby canta essa música, ela muda a letra e diz "Jesus Cristo tatuado no braço". Uma boa atualização, mas a história verdadeira é que Petit realmente tinha um dragão tatuado no braço na década de 1970, quando ainda era tabu a classe média aderir à tatuagem. Era coisa de malandro, de criminoso, de presidiário, de marinheiro… e de rebelde. Petit não deu o braço pra qualquer um tatuar. O traço é do considerado primeiro tatuador profissional do Brasil. Nada menos que a lenda Tattoo Lucky.

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O dinamarquês Knud Gregersen dizia que tinha rodado o mundo antes de vir atracar por aqui. Ele abriu seu estúdio em Santos, litoral paulista, na década de 1960. Virou uma lenda. Morreu em 1983, pouquinho depois de um do seus trabalhos ficarem imortalizados na MPB.
Petit teria ido no estúdio santista em 1974. Esse movimento dos cariocas descendo para Santos para se tatuar com Lucky acabou popularizando mais a tatuagem no Brasil, ajudando a tirar o estigma dela. Até os anos 1980, para algo virar moda a nível nacional, precisava virar moda no Rio antes. A Cidade Maravilhosa comandava as tendências de roupa, consumo e comportamento do país.

Petit abraça o amigo Rico, também surfista

Petit abraça o amigo Rico, também surfista

Não publiquei nada sobre Euphoria ainda mas meus amigos fizeram isso por mim