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Pierre Cardin & Jeanne Moreau

December 24, 2020 by Jorge Wakabara in cinema, moda, música

A dupla mais conhecida de atriz e estilista que se tem notícia é Audrey Hepburn e Hubert de Givenchy – juntos, eles criaram um estilo, dentro e fora das telonas. Menos famoso mas com imagens icônicas, temos o duo Catherine Deneuve e Yves Saint Laurent: quem já assistiu A Bela da Tarde e Fome de Viver sabe. Só que Deneuve era bem menos fiel a YSL, apesar de adorá-lo, tanto que virou o rosto da campanha do perfume Chanel No. 5 e, assim, também ajudou a fragrância a virar um ícone eterno.

Mas existem outras duplas formidáveis por aí. Talvez a menos, digamos, heterodoxa e burguesa seja a formada por Pierre Cardin e Jeanne Moreau. Não digo isso na questão de imagens de moda criadas por eles (Moreau, assim como Deneuve, usava outros estilistas). Mas sim na relação entre eles: Cardin, homossexual que nunca esteve no armário, teve um relacionamento amoroso com Moreau. De fato. Ele já disse publicamente que eles transaram – um desses momentos, aliás, hilário, está no documentário O Império de Pierre Cardin, que abriu a edição desse ano da mostra de documentários fashion Feed Dog. A mostra já acabou, e de qualquer forma o filme só passou na abertura.

Já uma estrela de considerável fama, pós-Jules e Jim, Moreau encontrou Cardin enquanto experimentava uma de suas criações. Eles passaram cerca de cinco anos juntos e permaneceram amigos após o término. Dizem que Moreau, uma mulher que gostava de sexo e não escondia de ninguém (imagina isso nos anos 1960), devia ter ficado atraída pelo desafio de conquistar um homem gay. Acho que, na verdade, nenhum dos dois restringia suas possibilidades tampouco ligava para regras sociais, e assim se permitiram viver uma história juntos. Tem coisa mais chique que ser livre de amarras? Moreau, acima disso, já era (ao meu ver) uma atriz completa que não se contentava com o posto de musa que tantas outras se encaixaram na nouvelle vague. Nada contra musas, pelo contrário, amo todas. Mas Moreau tinha mais dimensões e imprimia profundidade.
Enquanto isso, Cardin não era um neófito no cinema. No começo de sua carreira, ele fez o figurino de nada menos que… A Bela e a Fera de Jean Cocteau, de 1946!

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Era natural que Cardin se envolvesse com figurino de cinema, porém sua verdadeira adoração é o teatro. Ele chegou a ser dono de um. E fez inúmeros figurinos para o palco.

A duplinha Moreau-Cardin aparece nas telonas pela primeira vez em A Baía dos Anjos (1963), de Jacques Demy, então um diretor ainda desconhecido, no qual a atriz interpreta Jackie, uma jogadora compulsiva.

O figurino não é estonteante mas é bonito. O look total loira é mara!

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Depois, viria Peau de Banane no mesmo ano de 1963, direção de Marcel Ophüls. Ela contracena com Jean Paul Belmondo.

A comédia traz Moreau como Cathy, que quer vingança dos sócios de seu pai que o roubaram. Ela se associa com três malandros, sendo um deles seu ex-marido, Michel, interpretado por Belmondo.

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Em 1964, Moreau encarnaria um mito histórico que já havia sido interpretado por outras – inclusive por outro mito, Greta Garbo. Era Mata Hari, agora vestida em looks Pierre Cardin. A direção era de Jean-Louis Richard.

Os looks de festa e de show (afinal, Mata Hari era uma espiã dançarina) são bem mais arrojados do que ele inventou anteriormente para Moreau. Gosto particularmente da transparência, o peitinho pra jogo e tals!

Captura de Tela 2020-12-20 às 13.31.17.png

Em 1965, saía Viva Maria!, a comédia de Louis Malle que juntava Moreau com Brigitte Bardot nos papéis principais.

A história é bem doida: em 1907, no México (?!), uma Maria (Moreau) é filha de um terrorista irlandês que morre. Aí ela encontra outra Maria (Bardot), uma cantora de um circo. Elas acabam formando uma dupla, inventam o strip-tease (?!?) e de repente se vêem no centro de uma revolução socialista (????) contra um ditador e a igreja.
Mais ou menos nessa época, o México realmente passou por uma revolução que o tirou de um regime ditatorial. E mais ou menos na época do lançamento do filme, países da América Latina viraram ditaduras militares (o México não). Ou seja, o filme era tanto uma paródia solta com certa referência leve à história quanto um comentário a respeito do que estava acontecendo no mundo naquele momento.

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O figurino de Cardin, claro, é de época. E uma curiosidade: Moreau ganhou o BAFTA de Melhor Atriz Internacional com Viva Maria!

O próximo filme com a dupla Moreau-Cardin é Le Plus Vieux Métier du Monde (1967), que na verdade é um conjunto de curtas que trazem histórias de prostitutas (na tradução, o título é “a profissão mais antiga do mundo”). A com Moreau (que é a única a usar looks Cardin no longa) é Mademoiselle Mimi, dirigida por Philippe de Broca. Conta com outras atrizes nos outros segmentos como Elsa Martinelli e Rachel Welsh.

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A colaboração derradeira para o cinema entre Cardin e Moreau é um filme brasileiro. Joanna Francesa, de 1973, é de Cacá Diegues, se passa nos anos 1930 e traz Moreau como a Joanna do título. Dona de uma casa de prostituição em SP, ela aceita ir com Coronel Aureliano (Carlos Kroeber) para o engenho dele no interior de Alagoas e lá conhece outra realidade.

Duas curiosidades:
. Cardin também participou do filme como ator. Ele é Pierre, o cônsul francês de São Paulo e ex-amante de Joana, de terninho branco.
. Moreau foi dublada para Joanna Francesa. A responsável por sua voz é ninguém menos que… Fernanda Montenegro!

Acho interessante o figurino de Joanna e do universo ao seu redor, bem setentista no começo, cheio de cores no bordel, e depois mais areia, mais terroso, tanto nela quanto nos alagoanos.

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Jeanne Moreau fez muitos outros filmes depois de Joanna Francesa, mas, ao que consta, nunca mais usou um look Cardin na telona. Eles seguiram amigos até o fim da vida dela, de qualquer forma. Moreau morreu em 2017.

Chico Buarque que fez a música tema do longa, como se sabe. Aqui, um vídeo dele falando sobre a composição:

Será que a voz do Cardin mesmo, nesse trecho??

Cardin segue vivo. Ele está com 98 anos.
Por que a dupla Cardin+Moreau não é tão reconhecida quanto Hepburn+Givenchy ou mesmo Deneuve+Saint-Laurent? Eu respondo: porque não é tão impactante visualmente falando. A história é melhor que as imagens. Eis, então, a história!

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December 24, 2020 /Jorge Wakabara
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cinema, moda, música

Como apreciar os fashion films do SPFW?

November 08, 2020 by Jorge Wakabara in moda

Tenho dois TCC na vida – uma vez que fui maluco o bastante para encarar duas graduações, ambas até o fim. Na segunda, em jornalismo na PUC, fiz um livrinho que tentava responder como fazer resenhas críticas de figurinos cinematográficos. A gente tinha modelos de críticas de cinema. De crítica de moda. Mas de figurino, eram poucos (pra não dizer quase nenhum, salvo a pesquisa das mostras Filme Fashion da Alexandra Farah, onde fui assistente de curadoria em algumas edições).

Voltei a pensar nisso durante essa SPFW, a qual pude acompanhar bastante mesmo trabalhando porque 1. home office 2. ela foi toda online, com o formato do que se convencionou chamar de fashion films (prefiro filmes fashion, curtas, sei lá, mas fazer o quê, quase todo mundo já chama de outro jeito).
Esse formato é inédito na história dos 25 anos do evento. Havia transmissão online ao vivo dos desfiles que aconteciam nas locações, mas não assim – eram desfiles que estavam acontecendo em uma sala, com convidados, tudo e tal.
Ao mesmo tempo, os fashion films já são uma realidade de antes da pandemia. Algumas marcas já os usavam como uma das principais ferramentas de divulgação de suas novas coleções. Mas nunca chegaram a ser tão populares no imaginário de geral como os desfiles, que todo mundo sabe mais ou menos como funciona: geralmente é uma passarela reta, bem iluminada, quem foi ver sentado dos lados, os modelos caminhando no meio dela vestindo as roupas.
Esse formato de desfile já foi subvertido várias vezes durante esses 25 anos de SPFW. Às vezes bastante, às vezes um pouco. O formato arena que a Neon usou tão bem. A relação de quarta parede tipo palco (muito com Gloria Coelho, e um dos meus preferidos, o do Marcelo Sommer inspirado na Islândia no começo de 2005). Também no começo de 2005 teve desfile na plateia do Theatro Municipal com os convidados sentados no palco (era a Raia de Goeye). Depois a Paula Raia, já assinando a marca própria homônima sozinha, chamou o povo para ir na casa dela e ainda nos levou para umas experiências mais sensoriais cheias de cristal à Marina Abramovic em 2017. Teve música ao vivo tantas vezes (até com o próprio estilista cantando, como o Fause Haten, mas lembra também da Fabia Bercsek em 2008?). Teve uma coisa meio vitrine viva com a Sissa (em 2017) e Reserva (também em 2017). Teve a sessão de fotos ao vivo do Lino Villaventura em 2016 com Miro. Teve o Ronaldo Fraga – preciso dizer mais?
Etc etc etc. Mas o importante é a gente ter em mente que, a partir do momento que se domina um formato, a subversão dele é mais amparada. Se você sabe o que está fazendo na teoria, geralmente a prática sai de maneira assertiva, com noção de timing e espetáculo (desfile precisa de noções de timing e espetáculo para não cair no entediante).

Agora entramos em um terreno menos explorado e menos analisado: esse do vídeo. O que muda? Bom, tudo. Vou dividir com vocês algumas reflexões que fiz sobre como encará-los. Apreciá-los. Resenhá-los.

Lenny Niemeyer fez um dos fashion films mais lindos da temporada. Não acha?

Antes de começar, é bom explicar: baixaram uma regra, finalmente, com uma porcentagem minimamente decente de casting com negros e/ou indígenas nas apresentações. 50%. Metade. Isso mesmo. Acho é pouco. E só assim a gente realmente conseguiu ver todas as marcas colocando diversidade racial em suas produções. Quase nenhuma aproveitou para colocar diversidade de corpos – uma pena. Lembrando assim de cabeça, parabéns pra João Pimenta, Amapô, Aluf e Isaac Silva.

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A post shared by ALUF (@aluf_____) on Nov 8, 2020 at 3:54am PST

E agora… da capa.
Desfile online? Apresentação? Vídeo? Logo de cara a proposta ficou confusa, o que era isso? Qual era a chamada, qual era a ideia? Teve gente que foi ver o primeiro da temporada (o da Fernanda Yamamoto) esperando um desfile filmado. E o que Fernanda apresentou definitivamente não era isso.

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#SPFW25anos #FernandaYamamoto Confira na íntegra a apresentação "SOMOS", vídeo de abertura para a primeira edição digital da São Paulo Fashion Week. FICHA TÉCNICA VÍDEO Direção: @italo.massaru Captação e edição: @vdaguano Colaboração @clarisseromeiro COMPOSIÇÃO MUSICAL COLETIVA Marília Vargas (Concepção musical) SOPRANOS Aline Souza, Ananda Gusmão, Bárbara Blasques*, Jaíne Azevedo e Joyce Bastos CONTRALTOS Alexia Cardoso, Cássio Pereira e Irina Alfonso TENORES Ricardo Cerqueira, Thomas Bentancour, Vinicius Thomazinho e Wilian Manoel *apoio em edição de efeitos sonoros eletrônicos PRODUÇÃO DE ÁUDIO Paulo Galvão Filho/ PGMUSIC Produções COLEÇÃO MÃOS SOAM Palíndromos e estampas criados por Clarisse Romeiro do Veredas Atelier ATELIÊ FY Cleide Lopes, Euler Sampaio, Fernanda Yamamoto, Fernando Jeon, Giulia Wenzel, Ionildes Castro, Luciana Bortowski, Luciana Salazar, Marina Zomignan, Oseias Araujo, Rosali Araujo, Salmir Alves, Silvia Batista, Sueli Freitas e Valeria da Cunha COMUNICAÇÃO Anne Fernandes e Marcia Fonseca

A post shared by Fernanda Yamamoto (@fernandayamamoto_loja) on Nov 4, 2020 at 9:15am PST

Os vídeos primeiro passaram ao vivo no YouTube do SPFW. Depois vão para Instagram. O de Fernanda, com direção do Ítalo Massaru, é bem legal. Mas é bem conceitual também.
Até aí, sem problemas: já vimos desfiles conceituais. Inclusive da própria Fernanda.
Acontece que, como eu disse, os vídeos passam ao vivo no YouTube, e agora esse é meio principal de visualização deles.
Com CHAT ABERTO.
Pois é, você já imaginou, né?

Teve comentário dizendo que não entendeu nada (o que significa exatamente “entender”?). Teve comentário dizendo “cadê a roupa?” e achando que o desfile em si vinha em seguida. Teve de tudo.
(Ao mesmo tempo, podia ter mais ainda: a audiência do ao vivo no geral foi baixíssima. Acho que não dá nem o número de estudantes de moda da Santa Marcelina! Faltou divulgação, faltou interesse, faltou mobilização? Tudo junto?)

Quando você fecha uma sala só para convidados, você seleciona quem vai. Não sou contra a democratização, mas acho que a partir do momento em que você abre as portas do resultado final, ao meu ver você ganha mais ou menos a mesma função do museu, numa comparação bem ruim: não basta mostrar, mas é necessário assumir um lugar mais didático, fomentando discussões. Sem paternalismo, sem ser de cima para baixo: um lugar de troca. Mostrar o quadro dando possibilidades de leitura. “Achei feio! achei bonito! achei chato! achei histórico!” Bom, de achismos o inferno está cheio – o problema nem é a crítica, mas é a falta de diálogo, fica só um monte de gente falando sozinha e desse jeito não se chega a novos lugares, os discursos não se aprofundam.

A falta de dinâmica ficou clara – normal, tá todo mundo aprendendo, mas dava para ter contornado no calor do momento, checado a necessidade de mais papo e menos drone, de mais jogo de cintura, de questões menos "para iniciados” e mais “para iniciantes". Um roteiro mais pá-pum e mais variado. Interessa muito pouco se o estilista sentiu o mesmo frio na barriga do backstage pré-desfile. Interessa muito mais de onde veio a matéria-prima dele, o que ele quis dizer com aquela cor, aquela modelagem, aquele cenário e principalmente…
Para quem foram esses vídeos?

O jornalista de moda precisa conversar com o estilista no backstage para saber mais sobre a coleção e também para saber as intenções dele antes de reportar as coisas para os leitores. Ele quer aumentar a faixa etária do seu público? Focar num público só? Continuar com a sua cliente, de boa?
Esses vídeos, imagino, são pensados principalmente para os clientes que a marca já tem ou que ela quer ter. Isso é um ponto de partida muito melhor para você analisar o resultado do que o seu gosto pessoal. O importante não é se você usaria. Mas aquele povo ali, o tal público-alvo, usaria? Gostaria desse vídeo? É entrópico demais, simples demais, bobo demais, feliz demais, cult demais para eles? Ou de menos?

É por essas e outras que o vídeo da Fernanda Yamamoto é bom sim.
Aliás, praticamente todos desse SPFW são bons. Tem detalhes, eu acho: falta edição para vários, sobra edição para alguns, outros podiam ser mais caprichados, tem quem apostou numa coisa e não deu muito certo (mas valeu o esforço), por aí vai. A média é boa. Ouso dizer que boa para cima.
Volto a reforçar que não temos muito parâmetro. Ele só vai começar a se formar com volume de produção. Quanto mais existirem fashion films, mais surgem referências, modelos a serem seguidos ou superados.

Tem tendência de moda nesse SPFW diferentão? Tem alguns caminhos sim.
. Alfaiataria máxi.
. Conjunto com a parte de cima e de baixo da mesma cor ou estampa.
. Um conforto que ultrapassa o moletom do #fiqueemcasa e agora é chique no tecido plano em peças amplas & malharia com cara de mais arrumada.
. Vestido paraquedas, um trapeziozão.
. Evolução da manga presunto: agora o volume desceu pra perto do punho.
. Cores mais neutras (tem um movimento de corzonas na paralela, mas o que chama a atenção é o branco, o areia, o preto).
. Ainda os listrados (os melhores são da ÀLG, da Juliana Jabour e da Martins, essa última com fileiras de botão verticais que abrem e fazem fendas).
. Ainda os maxibabados.

Achou que ia ter muita máscara? Infelizmente não. Obrigado para Apartamento 03, Cacete e Ângela Brito. A gente usa e vai continuar usando. Não é nem tendência, é uma peça que agora TODO MUNDO DEVE USAR. Por que não teve nas outras marcas? Vontade de tirar? Meu bem, vontade todo mundo tem…

Em João Pimenta a máscara é de rosto inteiro – tem uma versão só para nariz e boca, João? Pois amei o xadrez roxo!

Em João Pimenta a máscara é de rosto inteiro – tem uma versão só para nariz e boca, João? Pois amei o xadrez roxo!

MAS tem outras tendências… dos vídeos em si.
Vem comigo.

Roupa, eu te amo

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 4, 2020 at 12:01pm PST

Abrace a sua roupa. Já dizia Marie Kondo: sente a energia dela. Se possível, dance com ela! Ponto Firme e Irrita (acima) são algumas que apostaram nessa. A apresentação da Irrita, particularmente, é divertida porque, de maneira leve, mostra essa coisa de ficar pirando em casa durante a quarentena. Da faxina ao subir na mesa!

Fala que eu te escuto

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 4, 2020 at 11:44am PST

Várias marcas optaram pelo spoken word como trilha. Caso do Victor Hugo Mattos (acima, com voz da Letrux), da Misci (voz da Josyara), da Cacete (voz da rainha do spoken word fashion Liana Padilha em trilha com música do No Porn). Na Renata Buzzo foi quase: apareceu legenda, sem fala.
Minha teoria? A gente ficou muito tempo sem conversar na pandemia. Queremos falar e queremos ouvir. Faz falta.

Dançar pra não dançar

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 7, 2020 at 2:31pm PST

Quer ser modelo nesse novo tempo? Recomendo que você aprenda a dançar, faça umas aulinhas de jazz contemporâneo, de expressão corporal… Muitos fashion films fizeram da dança uma alternativa para o catwalk, mostrando a roupa em movimento de outra forma. Caso da Amapô (acima), que ainda jogou os holofotes para a sua matéria-prima principal, o jeans. Numa pegada mais cult: Neriage, Lino Villaventura, Apartamento 03. Teve pole dance na Another Place! Teve twerking na Cacete! E na Led pintou um híbrido de catwalk e dança com trilha fervida de Max Blum. Eu balancei o ombrinho, e você?

E vai rolar a festa

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 6, 2020 at 3:05pm PST

Bem ligado à dança: teve um clima festivo, daqueles que a gente sente saudade. Festa da roupa na Isabela Capeto, festa com balões para os 30 anos de carreira de Walério Araújo (acima), balões também em Ponto Firme.

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Abrace a causa

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 8, 2020 at 10:31am PST

E essa falta de abraço da pandemia, faz como? Abraço virou artigo de luxo. Ele aparece em alguns fashion films, como o do Apartamento 03 (acima) e o da Aluf.

Nos mínimos detalhes

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 5, 2020 at 9:18am PST

Muita marca aproveitou um recurso de vídeo que não existe em desfile… O close! Dá para ver os detalhes das roupas de maneira mais aproximada – e em movimento. Modem, Martins, Isaac Silva, Gloria Coelho, Walério Araújo… Os closes são inúmeros! Quem aproveitou muito disso foi a Korshi (acima), que possui roupas multifuncionais. Elas "funcionam” melhor nesse formato, no sentido que dá para ver as maneiras de vesti-las de maneira mais clara e didática.

Falando em didatismo

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 5, 2020 at 2:32pm PST

Alguns dos melhores momentos do SPFW foram as explicações inseridas em alguns vídeos, em especial o do Alexandre Herchcovitch, um minidocumentário inserido no meio da programação mostrando seis looks que ele criou ao longo da carreira e com ele mesmo falando a respeito, quase uma narração. Por que isso? Porque no ano que vem Herchcovitch faz 50 anos.
Não é uma nova coleção mas prendeu mais a atenção que muita coisa. E não é uma poesia, uma explicação subjetiva. É uma fala sobre roupa, sobre o fazer roupa, sobre o que tem nessa roupa que não tem nas outras.
Destaque também para Ponto Firme, também em formato quase minidocumentário (falei mais sobre nesse outro post), Ângela Brito explicando o uso do pano de tera típico de Cabo Verde, Handred com André Namitala falando de Copacabana, Isaac Silva falando de Iemanjá, Ronaldo Fraga falando de Zuzu Angel e da sua volta para o tema.

Deu a maior bandeira

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A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 6, 2020 at 10:59am PST

A bandeira brasileira simboliza o país. Na Misci (acima) ela está no meio de ruínas. Na Led, relida em P&B, traz uma carinha triste.
E muita marca aproveitou para ir ao ar livre ou pelo menos trazer elementos da natureza para dentro de um ambiente fechado. Areia, muita areia (que tem esse simbolismo de clima árido, seca). Mar. Vegetação. Isso tudo também faz parte dos nossos desejos quarentenados, e acho que tem a ver com essa busca do Brasil de exuberância tropical (infelizmente ameaçada no atual governo).

Agora no gosto pessoal: quais eu gostei mais?
Depende.
Um lado de mim adora a coisa chiquérrima do Lino Villaventura (em vídeo do Miro), do Apartamento 03, da Lenny Niemeyer.
O outro adora a diversão da Led, a beleza da Ângela Brito, a poesia da Misci.
E esses dois lados querem uns looks João Pimenta, Martins e Freiheit.

Quem gostou desse post podia ver esses outros, que não são de moda. Tenho falado tão pouco de moda, mas juro que você vai gostar de ler sobre outros assuntos ;)
. As muitas versões da maravilhosa cantora Diana
. O extraterrestre soviético de um filme sci-fi russo
. Você chegou a assistir à temporada de Barrados no Baile de 2019, com os atores originais? Pois é…

November 08, 2020 /Jorge Wakabara
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A post shared by O Ponto Firme Doc (@opontofirmedocumentario) on Nov 5, 2020 at 7:56am PST

O Ponto Firme deve ser a melhor coisa do SPFW (mas tem outras coisas boas)

November 05, 2020 by Jorge Wakabara in moda

Tá rolando o SPFW N… Número qual? Ele está sendo chamado de SPFW 25 anos (sim, o evento faz 25 anos, que loucura!) e vai até esse domingo, 8/11/20. É uma edição bem, digamos, instigante, pois é totalmente virtual. Mas eu vou falar mais disso em um post mais pra frente: o que me interessa agora é falar do Ponto Firme, esse projeto lindo que já me emocionou muito em 2018 (aqui está o texto que escrevi na época, no site da Lilian Pacce) e volta a me emocionar agora.

Primeiro de tudo, o projeto ter continuado já é uma vitória por si só. Desde o começo, ele é mais que apenas criação de roupa em crochê: a partir de aulas realizadas em uma penitenciária com presos, o Ponto Firme dá a oportunidade de um novo começo para essa população que sofre preconceito. Não me cabe aqui fazer uma crítica superaprofundada sobre o sistema carcerário, que no lugar de privilegiar a reinserção parece ter fins apenas punitivos que acabam servindo de mecanismo para uma indesejada reincidência no crime. O fato é que o aprendizado do crochê dá diversas coisas para quem faz parte das aulas:

. Uma possibilidade de renda;
. Uma nova perspectiva não só do ponto de vista financeiro mas de criação (no trabalho da subjetividade e na autoestima em se ver como agente criador);
. Uma atividade terapêutica.
E provavelmente tantas outras que não identifiquei de pronto.

A turma que criou o primeiro desfile do SPFW, apresentado em 2018

A turma que criou o primeiro desfile do SPFW, apresentado em 2018

Estou escrevendo esse texto por dois motivos. O primeiro:

O documentário O Ponto Firme, sobre a criação da coleção de 2018, a primeira apresentada no SPFW, está disponível pra você assistir DE GRAÇA mas é por pouco tempo – então corre nesse link e arrasa!
É um filme dirigido pela Laura Artigas. Sou suspeitíssimo porque sou amigo da Laura, mas ao mesmo tempo pode confiar porque não tenho pudor nenhum com meus amigos – quando não gosto de algo que eles fazem eu simplesmente ME CALO (pode perguntar pra eles kkkkkk).
Emocionei tudo de novo vendo esse doc (só vi ontem, por isso estou no calor do momento). Poderia ficar aqui gastando o meu latim, mas ele em si é muito mais poético que qualquer coisa que eu escreva. Só vou deixar umas frases que pincei dele e que me tocam demais:

A língua é diferenciada mas o ponto é universal.

Por mais que o corpo esteja aprisionado, a minha mente é livre pra ir nos mais diversos lugares, onde eu permita que ela vá.

A moda precisa ser usada pra comunicar coisas importantes.


Obrigado a todos os envolvidos por me devolver aquela emoção de falar de moda. Ver a expressão de alguém que não é ouvido, que a sociedade preferiria ignorar preso numa cela, e ver isso através da roupa… é muito impactante. É muito transformador.

E a apresentação da terceira coleção do Ponto Firme, que rolou hoje no SPFW?

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Completando 5 anos, o @projetopontofirme de @silvestregustavo traz um novo jeito de enxergar o crochê nessa estação. Com apoio da @nkstore, que fez uma campanha e comprou de volta itens de coleções antigas para servirem como base para o upcycling do projeto, o estilista continua trabalhando com os detentos da Penitenciária Adriano Marrey e levando autonomia para detrás das grades através do crochê. No mini documentário que mostra a nova coleção, Silvestre apresenta os três ex-detentos que hoje trabalham ao seu lado. "As pessoas têm preconceito com quem tem passagem. Elas não acreditam que dentro de um lugar onde as pessoas só veem lixo, tem um ser humano com futuro", comenta Anderson Joaquim, dono de um dos pares de mãos que ajudaram na construção das peças de renda, com modelagem vitoriana e, em sua maioria, em uma paleta de tons crus. Nessa coleção, o crochê deixa de ser o protagonista solo e vira ferramenta de customização, elevando essa roupa para um novo nível. Assista ao vídeo completo no nosso IGTV. #spfw25anos #spfw #bancodamoda #santanderbrasil #soudealgodao #ChilliFashionWeek #IguatemiDaily #MelissaSPFW #MelissaSustentabilidade #inmod

A post shared by São Paulo Fashion Week (@spfw) on Nov 5, 2020 at 11:28am PST

Em 2020, as aulas do projeto foram interrompidas por causa da pandemia (aliás, a situação da população carcerária não está fácil – leia mais nesse artigo aqui).
A suspensão das aulas foi ruim por um lado, óbvio, mas por outro trouxe um plot twist: alunos que cumpriram a pena e foram soltos (a saber: Anderson Figueiredo, Anderson Joaquim e Thiago Araújo) participaram ativamente da construção da coleção com Gustavo Silvestre, o professor, e essas peças agora poderão ser vendidas! Antes, por questões de trâmites legais complicados, o desfile era só pra apresentar o trabalho deles nas aulas e não tinha como ser comercializado. Agora, como não envolveu a população carcerária, ele chega nas araras da NK Store de SP.

Outra novidade é a introdução do upcycling: peças antigas da marca própria da NK receberam intervenções em crochê. Isso já dá outra cara para o trabalho do Ponto Firme em si, que antes partia das sugestões dos presos. Ao meu ver, as anteriores eram mais interessantes no sentido de ser uma expressão de um grupo que não estava sendo ouvido e que servia de contraponto para as roupas feitas pela elite e para a elite nos desfiles. Ao mesmo tempo, com essa possibilidade de venda na NK, o resultado, que é lindíssimo, me parece mais adequado numa lógica de "ofereça o que elas vão querer vestir".

E é lindíssimo de verdade, vestidos etéreos, de sonho. A direção artística de Karlla Girotto ainda faz um fan service: coloca as peças penduradas em balões. Quem acompanha o trabalho da Karlla e é das antigas lembra daquela imagem poética no Ibirapuera das roupas penduradas em balões em um SPFW de 2006.

Belo demais.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
. A história da Gucci – que vai virar filme com Lady Gaga
. O gênio do pop brasileiro… é argentino
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November 05, 2020 /Jorge Wakabara
SPFW, desfile, Ponto Firme, crochê, penitenciária, subjetividade, documentário, Laura Artigas, pandemia, Anderson Figueiredo, Anderson Joaquim, Thiago Araújo, Gustavo Silvestre, NK Store, upcycling, Karlla Girotto, Ibirapuera
moda
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O incrível Pater Sato (e o também incrível Syd Brak)

September 26, 2020 by Jorge Wakabara in arte, música, moda

Lembrava vagamente de ter dois quadros com imagens muito parecidas com essa no quarto das minhas irmãs quando eu era pequeno. Confirmei com a minha irmã e sim, dessa vez minha memória não falhou.

Essa imagem de cima é criação de Pater Sato, um artista japonês que na verdade se chamava Yoshinori Sato e mudou de nome depois de fazer o papel de Peter Van Pels numa peça baseada no Diário de Anne Frank. Peter, para quem não se lembra ou nunca leu o livro, era o filho da outra família judia que viveu no anexo secreto junto com os Frank e, com a convivência no esconderijo, Peter acabou virando interesse amoroso de Anne.

Sato era um dos artistas dos anos 1980 que criava imagens de mulheres combinando-as com técnicas de airbrush. Tem essa coisa de quase sempre ter um fundo branco, muita mulher de perfil, maquiagens fortes com direito à boca bem marcada e um ar sci-fi. Eu a-do-ro.

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Sato morreu em 1994, bem novo (com 49 anos), mas sua loja-museu em Tóquio, no bairro de Harajuku, segue aberta. Essa técnica de aerógrafo com imagens muito características é apenas uma fração do seu trabalho, mas é a que ficou mais conhecida mesmo. Me lembra isso aqui, ó:

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Essas fotos incríveis são de Klaus Mitteldorf e a modelo é ninguém menos que Ana Paula Arósio.

Aí você me diz: que legal! Então os quadros do quarto das suas irmãs eram do Pater Sato?
Não. Eram do Syd Brak.

Brak é um artista sul-africano. Assim como Sato, ou talvez até mais, ele criou imagens icônicas de mulheres oitentistas, também com muito airbrush, também com muita maquiagem, muito perfil, muito fundo branco. Olha aí:

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Parecidíssimo, né? Jurava que era Sato na parede das minhas irmãs, era Brak. Os dois quadros que povoaram minha infância eram esses aqui:

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Icônicos. Completamente icônicos. Depois me pergunto como cresci gay e fã de Jem e as Hologramas?

Talvez você ache todas essas imagens muito familiares. Um dos motivos é porque elas são, mesmo. Brak, por exemplo, fez esses trabalhos para a Athena, que é uma empresa que basicamente faz pôsteres e tem um time de artistas e fotógrafos para criarem imagens para esses pôsteres. Ela já lançou várias imagens icônicas fora as de Brak – tem, por exemplo, o L’Enfant, com um cara musculozão olhando pra um bebê nos seus braços. Essa aqui:

Eu não lembro, mas dizem que era sucesso

Eu não lembro, mas dizem que era sucesso

O Sato que eu saiba era um, er, artista indie? Ele comercializava os próprios pôsteres e cartões.

Mas talvez existam outros motivos pelos quais você está familiarizado com essas imagens. Esses daqui:

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Stella McCartney spring 2018

Ela estampou peças com essa imagem de Pater Sato

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Imagem da turnê da Katy Perry da era Witness

Era da turnê, né? Eu acho que sim. O importante é ver que é claramente inspirada nessas imagens oitentistas

Ah, e também tem o Patrick Nagel, né? Não o inclui como um terceiro exemplo porque, apesar da gente identificar bastante semelhança na temática, Nagel não usava airbrush e suas mulheres eram menos realistas, mais desenhadas.

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(A primeira imagem é a que aparece no álbum Rio, de 1982, do Duran Duran)`

Falando em capa de disco, uma coisa que eu adoro é isso aqui:

Aesthetic of the day: 1970s city pop album covers illustrated by Kenkichi (Pater) Sato
-- Tatsuro Yamashita: Spacy (1977)
-- Yumi Arai: Cobalt Hour (1975)
-- Minako Yoshida: Minako (1975)
-- Tatsuro Yamashita: Go Ahead! (1978)

#佐藤憲吉 #山下達郎 #吉田美奈子 #荒井由実 #citypop pic.twitter.com/UEzZKmsIqx

— This Boy Right Here! #BlackLivesMatter (@mitchell_n_hang) March 17, 2020

Essas quatro capas foram ilustradas por Pater Sato antes dele cair nos anos 1980 de vez. São quatro discos superimportantes da música pop japonesa – isso que eu chamo de pé quente. A capa de Spacy é simplesmente ótima, moderna até hoje. A de Cobalt Hour é clássica, com o apelido da Yumi Arai já aparecendo num detalhe (Yumin, ou Yuming). O de Minako Yoshida prenunciava essa estética oitentista. Tudo maravilhoso.

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September 26, 2020 /Jorge Wakabara
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arte, música, moda
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Thina Rodrigues, presente: o desfile 2020 de Lindebergue Fernandes

July 29, 2020 by Jorge Wakabara in moda

Tá, eu vou falar de moda, mas depois vocês me prometem que lêem os outros posts que não são sobre moda aqui nesse blog, tá? É só apertar no logo acima e navegar.

O Dragão Fashion, semana de moda que acontece anualmente em Fortaleza (e que agora chama DFB Festival abrangendo shows e outras atrações), foi outro evento atingido pela pandemia que acabou não acontecendo em sua data prevista e precisou se adaptar para uma versão digital. Ele está rolando agora sob o codinome DFB DigiFest.

Frequentei o Dragão faz tempo, e faz tempo que não vou. Na época em que eu ia, me empolgava bastante com o que via: desfilavam por lá coisas que ainda estavam fora do radar do eixo Rio-SP mas que eram muito bacanas, como Mark Greiner, Vitorino Campos, Helen Rödel.

E também tinha Lindebergue Fernandes, um criador com um universo muito próprio que misturava referências superpopulares camp com streetwear e possuía um senso de ironia próprio do Ceará, que no lugar de diminuir meio que exalta seu alvo. Para isso, há que se ter sensibilidade – poucos conseguem.

Lili seguiu participando do Dragão e, nessas suas referências todas, acrescentou a política. É sempre um discurso sem firula, colocando-se pró minorias. Nesse DFB DigiFest, sua apresentação que foi ao ar pelo YouTube ontem homenageou Thina Rodrigues, fundadora da Associação das Travestis do Ceará (ATRAC). Thina morreu faz um mês, um dia depois do Dia do Orgulho LGBTQ+, vítima da COVID-19.

Quem abre o desfile é o incrível Silvero Pereira, que ficou nacionalmente conhecido com Bacurau mas que já era figura celebrada no Ceará. O vestido que Silvero usou no Festival de Cannes em 2019 era assinado por Lindebergue.

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Esse aqui!

Pá!!!!

Thina é a parte que simboliza o todo: presa por ser travesti nos anos 1980, símbolo de poesia e resistência, ela não morreu como parte das estatísticas de ataques transfóbicos, mas em decorrência do coronavírus que, está provado estatisticamente, é ainda mais avassalador entre comunidades marginais.

O vestido que Silvero usa, em tecido cru e de mangas bufantes, é aberto atrás, atrevido e ao mesmo tempo remetendo a camisola hospitalar. O texto que a gente ouve no começo da trilha é da Inês Brasil – ela já tinha virado notícia durante uma live, quando fez um desabafo. Um grito de uma mulher preta que não aguenta mais a situação chocante do país e a nossa falta de reação.

Inês Brasil dando o papo! pic.twitter.com/pRRGqkhNLn

— Rene Silva (@eurenesilva) July 12, 2020

A estampa criada por Maurício Alexandre, essa dos sertanejos de mãos dadas, traz a mensagem "ninguém solta a mão de ninguém" – ela aparece em diversas peças, inclusive na manga nuvem que é uma das marcas de Lindebergue.

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Teve o talento de @silveropereira no desfile-manifesto de @lindebergue 📸 @igorcavalcantem #dfbdigifest #livemoda

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Quem fecha o desfile é Yara Canta, artista trans, usando uma cabeça-turbante-black-power-arco-íris-pantera-floral criada pelo artista plástico Ciro Alencar mais um vestido balonê com cores veladas pela transparência branca que envelopa e protege. Simbologias para refletir e apreciar.

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Desfile para @lindebergue no @dfbfestival. 📸: @igorcavalcantem @estudioigorcavalcante

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O DFB DigiFest continua. Confira a programação de desfiles no site deles.

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July 29, 2020 /Jorge Wakabara
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