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Enquanto o mainstream saboreava o Tutti Frutti: uma loucura chamada Persona

July 21, 2020 by Jorge Wakabara in música, arte, livro

Fico apavorado só de ver a imagem!

Em junho de 1975, acontecia uma marco na história da música pop nacional: chegava às lojas o álbum Fruto Proibido, o clássico de Rita Lee & Tutti Frutti. Estavam lá Ovelha Negra, Agora Só Falta Você, Dançar pra não Dançar e outros hits do repertório de Rita.

O embrião da Tutti Frutti foi o Coqueiro Verde, uma banda da Pompéia dessas que tocavam em pequenas casas noturnas, e que mudou seu nome para Lisergia já em 1972. Faziam parte o guitarrista Luis Carlini, o baixista Lee Marcucci e o baterista Emilson Colantonio. O power trio cruzou o caminho de Rita Lee, que precisava de uma banda depois da sua dupla acústica Cilibrinas do Éden com Lucia Turnbull ter flopado. Eles todos "juntaram os trapinhos” e formaram a Tutti Frutti.

A banda passou por várias formações. A de Fruto Proibido já não tinha mais Colantonio nem Turnbull: trazia Franklin Paolilo na bateria, Guilherme Bueno no piano e Rubens e Gilberto Nardo no backing vocal.
No meio do ano seguinte, 1976, apareceria um novo álbum de Rita com a banda: Entradas e Bandeiras. Mas nesse intervalo… algo aconteceu. Em dezembro de 1975, Carlini gravava com Marcucci e Paolilo uma coisa um tanto, er, esquisita. Era Som.

Você já foi nesses troços barangos de fotografia com um jogo de espelho em que eles fundem sua imagem com a de um coleguinha mexendo na iluminação? Pois é: o princípio de Persona é esse (e desculpa, entendo como deve ter sido incrível nos anos 1970 mas eu acho barango). Persona é muito mais que uma banda: ele é um jogo desenvolvido por um artista plástico, Roberto Campadello, do qual Som é a trilha sonora.

O italiano Campadello mostrou uma semente disso pela primeira vez na Bienal Internacional de Artes de São Paulo de 1973 – era a Casa Dourada, um octógono desses espelhos especiais onde os visitantes se veriam fundidos uns nos outros com o artista distribuindo velas e convidando as pessoas a experimentarem coisas com suas imagens. O princípio não era exatamente novo – a Monga, por exemplo, se transforma em macaco assim – mas acho que o inovador eram as propostas e reflexões mais profundas de Campadello, uma coisa bem hippie de "você se fundindo nos outros” e por aí vai. Foi na Casa Dourada que o artista conheceu Carmem Flores: se apaixonam, se casam (dentro da Casa Dourada!!) e é a voz dela que canta no disco Som que acompanha o Persona.

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Na Bienal seguinte, Campadello já apresenta o jogo Persona em si, que foi lançado pela Grow junto com a trilha sonora. Também abre o bar Persona no Bixiga, com um porão onde as pessoas podiam experimentar o espelho especial. Por algum motivo, não existem muitas unidades do jogo por aí (era caro? pouca gente quis comprar? o próprio Campadello não gostou do resultado ou queria ganhar mais?). Tem quem defenda que o Som do Persona é um dos discos mais raros DO MUNDO!

E o que era esse jogo? Bom, você pode tentar ler as instruções, que incluem propostas de uso do espelho especial: tem desde copiar um desenho em uma folha em branco até brincadeiras eróticas com um parceiro (!) e o uso profissional em sessão de psicodrama! Vixe!!!

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Para me deixar ainda mais doido e obcecado: acho que já tive um livro do Roberto Campadello. É que ele entrou numas de I Ching e lançou isso aqui:

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Se não me falha a memória, na minha fase CRIANÇA ESOTÉRICA eu jogava I Ching e um dos livros que eu tinha era esse, com outro de capa preta.

Quanto ao Carlini: ele abandonaria o barco de Rita depois que Roberto de Carvalho entrou e começou a sedimentar uma parceria com a cantora que renderia uma sequência eletrizante de hits. Só que Carlini registrou o nome da Tutti Frutti, então levou o nome com ele! Chegaria a lançar um disco da Tutti Frutti sem Rita, só que o lançamento demorou, perdeu o timing e acabou flopando. Era o Você Sabe Qual é o Melhor Remédio de 1980. Da formação original, só Carlini continuava.

Antes disso, Tutti Frutti ainda cometeria uma pérola com Rita – na minha humilde opinião, um disco tão bom quanto Fruto Proibido apesar de menos celebrado. Era Babilônia, de 1978, que já trazia Carvalho com teclados e guitarra e assinando arranjos. Uma das músicas era composição da dupla Rita & Roberto: Disco Voador.

Babilônia é a ponte entre Rita roqueira e Rita pop: tem Que Loucura, rockão assinado só por Carlini (que, aliás, também está no álbum do Tutti Frutti de 1980), tem a parceria entre Rita e Carlini Sem Cerimônia (que eu AMO, rock-melô das atrevidas), tem três parcerias de Rita e Marcucci (Miss Brasil 2000 e Jardins da Babilônia, rocks da melhor qualidade, e Agora É Moda, pop dançante chique demais) e músicas compostas apenas por Rita (O Futuro me Absolve, baita pop brasileirérrimo; Eu e Meu Gato, baladão de duplo sentido brincando com gato-bicho e gato-boy; e Modinha, filosófica, muito simpática e bem Rita Lee).

É isso. Ouçam e celebrem Babilônia.
E Tutti Frutti também – é legal, sim!

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July 21, 2020 /Jorge Wakabara
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