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O russo amarelo que virou popstar: Viktor Tsoi

October 15, 2020 by Jorge Wakabara in música, cinema, política, arte

Desde que vi uma imagem de Viktor Tsoi pela primeira vez, pensei: ele é russo mas é amarelo. Ao mesmo tempo não tinha certeza, porque tem algo nele que estranhamente me lembra o meu amigo Ricardo Domeneck. ??? Então também achava que era algo que eu tinha inventado na minha imaginação fértil.

Mas surpresa, não era: Viktor Tsoi tinha ascendência coreana sim! E ele foi um dos responsáveis pela “trilha sonora da perestroika”. Como se não bastasse, teve um fim trágico, o que o transformou num daqueles ícones que morrem jovens (escapou da sina dos 27 anos: morreu com 28). É estranho que a gente saiba tão pouco dele, mas ao mesmo tempo… O que a gente sabe de cultura pop russa, né?

Pra escrever esse post, decidi assistir ao filme Verão (em russo, Leto), lançado em 2018. Ele não traz exatamente a história inteira de Tsoi mas sim um recorte específico, baseado nas memórias de Natalya Naumenko.

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Natalya, que era casada com Mike Naumenko, da banda russa Zoopark, e tinha um filho dele, observou a aproximação de Tsoi, ainda músico iniciante, na turma do rock de Leningrado (na época, São Peterburgo era Leningrado). Viktor e Mike, que era considerado um veterano, com mais experiência e conhecimento sobre o rock, se aproximaram. E Natalya, cujo apelido era Natasha, se apaixonou por Viktor. Acabou falando dessa paixonite pra Mike e chegou a beijar Viktor, mas tudo não passou de uma tensão sexual mal-resolvida, no fim das contas.

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

Ou seja, o recorte do filme está bem no começo da carreira de Viktor Tsoi. Eles retratam como era a cena rock da União Soviética na época – eu sei porque já vi em documentários. Tinha todo um esquemão controlado pelo governo de shows nos quais o povo tinha que ficar sentado paradinho assistindo, aplaudindo só no final das músicas (no longa, as apresentações acontecem no Leningrad Rock Club que abriu em 1981). As letras passavam por censuras prévias. Ao mesmo tempo que os roqueiros eram vistos com maus olhos (afinal, estavam se rendendo à música corrupta do inimigo capitalista), essas manifestações eram quase uma válvula de escape permitida pelas instâncias superiores – meio que um mal necessário, que acabaria existindo mesmo que fosse proibido. E de fato também existia de maneira ilegal, em festas particulares. Aos roqueiros não era permitido ganhar dinheiro com shows, então eles ganhavam em apresentações ilegais e alguns tinham empregos fixos – caso de Mike. Viviam bem pobres no geral e por isso eram quase que forçosamente punks.

Um clique de Viktor fazendo um clique

Um clique de Viktor fazendo um clique

Bom, chegou a hora da surpresa: como eu estava dizendo, meu intuito ao assistir ao filme era saber mais da história de Viktor Tsoi. Simples assim, sem grandes expectativas.
Caros leitores… Que filme.
Verão chegou a entrar em circuito nacional, distribuído pela Imovision, e está disponível pra aluguel via Google Play. O diretor Kirill Serebrinnikov foi condenado à prisão domiciliar em agosto de 2017, no meio da produção. Dizem que a motivação dessa prisão foi política. Ele não estava presente nas últimas filmagens e coordenou a edição do longa da sua casa.
Verão tem vários trechos musicais. E é musical mesmo, não estou falando só de ator interpretando músico cantando uma canção. Estou falando de pedestre e usuário de transporte público cantando. Estou falando de uma quase coreografia (quase porque na verdade é mais posicionamento e partitura de gestos do que danças). Quem me conhece sabe que não gosto de musicais, mas a partir de agora, quando me questionarem, vou dizer que não gosto de quase todos. Mas Verão, por exemplo, é exceção.
Fica fácil quando as músicas que pintam, fora as de Tsoi e Naumenko, são Psycho Killer (do Talking Heads), The Passenger (do Iggy Pop), Perfect Day (do Lou Reed) e citações declamadas de Call Me (do Blondie). E na verdade perdi tudo mesmo nesse trecho maravilhoso:

(Sim, isso é um trecho do filme)

Uma direção delicada e cheia de energia, umas horas Jules et Jim, outras clipe Bang da Anitta, consegue trazer essa energia da época, essa vontade de pop (e de americanização, vamos falar claro, né) que existia nos últimos anos de poder soviético. Irina Starshenbaum no papel de Natalya está um desbunde, Anna Karina atualizada (ou meio não-atualizada, já que o filme se passa nos anos 1980).

O longa também mostra o encontro de Tsoi com a sua primeira mulher, Marianna Tsoi. Na história do filme, Natalya, cujo apelido era Natasha, dá um empurrãozinho na relação.

Uma coisa que acho muito legal de Verão, uma vez que ele é baseado nas memórias de uma participante dos acontecimentos, é que eles propositalmente misturam realidade e fantasia. Um dos personagens, o Cético (Aleksandr Kuznetsov), faz questão de falar com todas as letras em diversos momentos: “Mas isso não aconteceu". Como nunca fica claro o que realmente rolou, é como se você estivesse acompanhando uma história oral, na qual foi acrescentada uma pimentinha aqui e ali… Do jeito que sempre acontece quando falamos de lendas musicais e turmas de amigos, né?

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Mas OK, voltando ao Tsoi: o filme termina no que parece ser a primeira apresentação oficial da banda que ficou mais conhecida de Tsoi, a Kino (em português, cinema).

A música Когда-то ты был битником ou Uma vez você foi um beatnik, que está no filme, faz parte do primeiro álbum do Kino, de 1982.

Uma espécie de new wave ainda sem elementos eletrônicos, ela é tosca, meio lou-reediana. Pós-punk raiz.

Tsoi não apenas compunha como chegou a participar de filmes. Em um deles, Assa, de 1987, que virou cult por trazer o rock russo que já pulsava no underground para o mainstream (ou seja, pra telona), Tsoi faz uma versão dele mesmo. Na cena abaixo, ele tenta um emprego como cantor num restaurante. Ao ouvir a lista de exigências da empregadora, ele se enche e literalmente sai andando até encontrar com a sua banda, Kino, e cantar Хочу перемен!
O significado do título da música? “Quero mudanças!” – ela virou uma espécie de hino jovem em meio da perestroika e glasnost.

Foi nas filmagens de Assa que Tsoi conheceu a assistente de direção Natalia Razlogova e se apaixonou. Ele acabou se separando de Marianna, mas eles não chegaram a se divorciar.

Outro filme, dessa vez com Tsoi interpretando o personagem principal, é Igla (1988), considerado o primeiro representante da new wave cazaque (ou seja, do Cazaquistão). Curioso? Segue no link. De nada!

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Em 1990, na Letônia, Tsoi morreu num acidente de carro. A investigação chegou à conclusão de que Tsoi dormiu no volante enquanto dirigia numa velocidade de 130 km/h. Não foram encontrados álcool ou drogas no organismo dele. Dizem que teve fã que chegou a se suicidar.
Tsoi já era cultuado – após a morte virou uma lenda. É relembrado nos países ex-soviéticos até hoje.

Encontrei pouca coisa a respeito da identificação de Tsoi enquanto amarelo. Sei que ele gostava de artes marciais e que se espelhava em Bruce Lee – devia ser uma identificação que passava pelo biótipo, claro. Tsoi chegava a ficar imitando movimentos do ator nos filmes pirateados. Em Verão, o personagem faz isso em uma cena.

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Tsoi também se arriscava nas artes plásticas. Gosto bastante das coisas que já vi.

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Essa moça que está aparecendo nessa penúltima obra é a Joanna Stingray, que foi mulher de Yuri Kasparyan, colega de Tsoi no Kino na guitarra. Stingray é californiana e foi uma das responsáveis pela divulgação do rock soviético fora da URSS na época.

É isso. Ouça Kino.

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October 15, 2020 /Jorge Wakabara
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música, cinema, política, arte
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O incrível Pater Sato (e o também incrível Syd Brak)

September 26, 2020 by Jorge Wakabara in arte, música, moda

Lembrava vagamente de ter dois quadros com imagens muito parecidas com essa no quarto das minhas irmãs quando eu era pequeno. Confirmei com a minha irmã e sim, dessa vez minha memória não falhou.

Essa imagem de cima é criação de Pater Sato, um artista japonês que na verdade se chamava Yoshinori Sato e mudou de nome depois de fazer o papel de Peter Van Pels numa peça baseada no Diário de Anne Frank. Peter, para quem não se lembra ou nunca leu o livro, era o filho da outra família judia que viveu no anexo secreto junto com os Frank e, com a convivência no esconderijo, Peter acabou virando interesse amoroso de Anne.

Sato era um dos artistas dos anos 1980 que criava imagens de mulheres combinando-as com técnicas de airbrush. Tem essa coisa de quase sempre ter um fundo branco, muita mulher de perfil, maquiagens fortes com direito à boca bem marcada e um ar sci-fi. Eu a-do-ro.

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Sato morreu em 1994, bem novo (com 49 anos), mas sua loja-museu em Tóquio, no bairro de Harajuku, segue aberta. Essa técnica de aerógrafo com imagens muito características é apenas uma fração do seu trabalho, mas é a que ficou mais conhecida mesmo. Me lembra isso aqui, ó:

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Essas fotos incríveis são de Klaus Mitteldorf e a modelo é ninguém menos que Ana Paula Arósio.

Aí você me diz: que legal! Então os quadros do quarto das suas irmãs eram do Pater Sato?
Não. Eram do Syd Brak.

Brak é um artista sul-africano. Assim como Sato, ou talvez até mais, ele criou imagens icônicas de mulheres oitentistas, também com muito airbrush, também com muita maquiagem, muito perfil, muito fundo branco. Olha aí:

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Parecidíssimo, né? Jurava que era Sato na parede das minhas irmãs, era Brak. Os dois quadros que povoaram minha infância eram esses aqui:

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Icônicos. Completamente icônicos. Depois me pergunto como cresci gay e fã de Jem e as Hologramas?

Talvez você ache todas essas imagens muito familiares. Um dos motivos é porque elas são, mesmo. Brak, por exemplo, fez esses trabalhos para a Athena, que é uma empresa que basicamente faz pôsteres e tem um time de artistas e fotógrafos para criarem imagens para esses pôsteres. Ela já lançou várias imagens icônicas fora as de Brak – tem, por exemplo, o L’Enfant, com um cara musculozão olhando pra um bebê nos seus braços. Essa aqui:

Eu não lembro, mas dizem que era sucesso

Eu não lembro, mas dizem que era sucesso

O Sato que eu saiba era um, er, artista indie? Ele comercializava os próprios pôsteres e cartões.

Mas talvez existam outros motivos pelos quais você está familiarizado com essas imagens. Esses daqui:

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Stella McCartney spring 2018

Ela estampou peças com essa imagem de Pater Sato

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Imagem da turnê da Katy Perry da era Witness

Era da turnê, né? Eu acho que sim. O importante é ver que é claramente inspirada nessas imagens oitentistas

Ah, e também tem o Patrick Nagel, né? Não o inclui como um terceiro exemplo porque, apesar da gente identificar bastante semelhança na temática, Nagel não usava airbrush e suas mulheres eram menos realistas, mais desenhadas.

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(A primeira imagem é a que aparece no álbum Rio, de 1982, do Duran Duran)`

Falando em capa de disco, uma coisa que eu adoro é isso aqui:

Aesthetic of the day: 1970s city pop album covers illustrated by Kenkichi (Pater) Sato
-- Tatsuro Yamashita: Spacy (1977)
-- Yumi Arai: Cobalt Hour (1975)
-- Minako Yoshida: Minako (1975)
-- Tatsuro Yamashita: Go Ahead! (1978)

#佐藤憲吉 #山下達郎 #吉田美奈子 #荒井由実 #citypop pic.twitter.com/UEzZKmsIqx

— This Boy Right Here! #BlackLivesMatter (@mitchell_n_hang) March 17, 2020

Essas quatro capas foram ilustradas por Pater Sato antes dele cair nos anos 1980 de vez. São quatro discos superimportantes da música pop japonesa – isso que eu chamo de pé quente. A capa de Spacy é simplesmente ótima, moderna até hoje. A de Cobalt Hour é clássica, com o apelido da Yumi Arai já aparecendo num detalhe (Yumin, ou Yuming). O de Minako Yoshida prenunciava essa estética oitentista. Tudo maravilhoso.

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September 26, 2020 /Jorge Wakabara
Pater Sato, Peter Van Pels, Diário de Anne Frank, Anne Frank, anos 1980, airbrush, ficção científica, Tóquio, Japão, Harajuku, Klaus Mitteldorf, Ana Paula Arósio, Syd Brak, Athena, L'Enfant, Spencer Rowell, Stella McCartney, Katy Perry, Patrick Nagel, Duran Duran, Yumi Arai, Yuming, Minako Yoshida
arte, música, moda
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Cicciolina e coisas que vão te surpreender agora (você era muito novo pra entender!)

July 27, 2020 by Jorge Wakabara in TV, arte, política

Não gostava da figura da Cicciolina quando era pequeno. Não sei se por moralismo – acho que não, eu era pequeno demais para entender e tinha coisas que eu gostava e eram bem, er, liberadas. Mas eu tinha uma aversão inexplicável. Tipo não ia com a cara, mesmo. Também não acho que era minha homossexualidade de criança viada escolhendo um lado… talvez. Será que a minha homossexualidade se sentia ameaçada? Risos!

Para resumir a questão, fui assistir ao documentário Os Escândalos de Cicciolina, disponível no GNT Play e no Now (para quem é assinante dos canais da Globosat). E descobri que na verdade eu sabia pouquíssimo sobre a Cicciolina, e que hoje eu acho a Cicciolina o máximo!
Claro que, influenciado pelo doc, me deixei levar por uma obra que é claramente favorável a ela. Pouca gente problematiza o alter-ego de Ilona Staller no programa (que tem menos de uma hora), e quem o faz tem a sua capacidade analítica discretamente colocada em xeque (leia-se: uma francesa que faz parte do Femen e paga de doida etc.).

Mesmo assim, decidi revisar minha opinião sobre Cicciolina com profundidade. Reduzida à atriz pornô, ela é certamente muito mais do que isso. Um ícone. Um mito vivo. Provocante e inocentemente dionisíaca com seu ursinho de pelúcia. Ela sabia tudo o que estava fazendo e promovendo? Era manipulada? Era dona de sua própria sexualidade ou reforçava a objetificação da mulher? Era vanguardista? Era feminista, apesar de ser odiada pelas feministas? Era uma vigarista?
Acho que ela era (e é, ainda está viva aos 68 anos) uma personalidade complexa, que a gente não consegue definir com poucos adjetivos.
Por exemplo: ela afirma que perdeu a virgindade aos 18 anos. Tá boa?

Segue aqui o meu quinhão.

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Pra começo de conversa

Amo os looks. Amo a era do make rosa na sobrancelha. Amo o eterno sorriso. Amo o loiro ultrablondor. Amo o eterno rosa millennial. Todo ícone precisa de simbologias: ela tinha as dela!

Cicciolina não é italiana

Pois bem. Ela é húngara. Nasceu em Budapeste numa Hungria dominada pelos soviéticos e portanto em regime comunista. Foi Miss Hungria. Casou (com um italiano). E isso tudo antes de virar a Cicciolina. Mais chocante ainda: Cicciolina foi espiã!!!

Cicciolina: a Mata Hari húngara

A própria Ilona conta em biografia que ajudou o governo da Hungria com informações sobre diplomatas americanos que se hospedavam no hotel de luxo onde ela trabalhava do meio para o fim dos anos 1960!

E não é só: ela também diz que fez o mesmo tipo de serviço, já na Itália, mas que tem medo de falar sobre o assunto e acabar assassinada ou com algum parente prejudicado.

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Marca registrada

Antes de Lana del Rey e todas as frequentadoras do Coachella: Cicciolina já usava coroa de flores. Era um símbolo do seu personagem!

Na Itália: um programa erótico… de rádio!

Ao se separar do marido mas já morando na Itália, Cicciolina encontrou com Riccardo Schicchi, o pornógrafo que a ajudou a construir sua imagem. E foi em 1973, já em Roma, que ela começou a fazer o programa de rádio Voulez-vous Coucher Avec Moi?, no qual ela dava dicas de sexo e falava de sexo, mas para ela, estava falando de amor. Assumiu o nome Cicciolina na rádio e posou em fotos hoje clássicas de Schicchi.

Cicciolina com Schicchi: eles chegaram a ser um par também amoroso

Cicciolina com Schicchi: eles chegaram a ser um par também amoroso

Uma influência para… Xuxa?

Olha, eu não sei, mas tem algo aí, viu.
Cicciolina, que é um nome inventado, se despedia dos ouvintes com "bacini bacini bacini", que é "beijinho beijinho beijinho” em italiano. Ela também batizou seus fãs de cicciolini, mais ou menos do mesmo jeito que a Xuxa falava dos seus baixinhos.
A beleza loira magnética, pouca roupa, esse ar de lolita.
Não tenho provas, mas tenho indícios…

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Cafona ou cult?

Cicciolina já foi musa de muita gente. Em 1976, um filme italo-iugoslavo de Miklós Jancsó chegava no Festival de Cannes e causava escândalo: era Vizi Privati, Pubbliche Virtù. Supererótico, ele trazia as aventuras de um herdeiro de um trono na virada do século 19 para o 20 e era bem visual, com orgias e nudez frontal. Cicciolina estava ali mas num papel secundário: era uma participante da orgia. Nudez nunca foi problema para Ilona Staller: tal qual Dercy Gonçalves, bobeou ela tava colocando a teta pra jogo – na rua, na TV, no restaurante…

A coisa já seria diferente em 1989, elevada de maneira polêmica ao status de arte. Casada com o artista Jeff Koons, Ilona participou da série Made in Heaven, na qual Koons investigava a estética pornô e tudo que a atriz construiu com Schicchi.

Esculturas, fotos: tudo bem gráfico em Made in Heaven

Esculturas, fotos: tudo bem gráfico em Made in Heaven

Desde 1983 Cicciolina tinha ido além de ficar pelada e insinuante em qualquer lugar que lhe desse na telha e começou a atuar em filmes pornô hardcore. Então Koons sabia bem o que estava fazendo. Quando se separaram, a briga foi feia e bem litigiosa – tanto que, dizem, Koons destruiu quase todas as obras que compunham Made in Heaven num acesso de raiva.

Imagina ser filho da Cicciolina com o Jeff Koons?

Ele existe. Ah, sim. E seu nome é Ludwig Koons.

Parece que ele fez harmonização facial mas ele é assim mesmo

Parece que ele fez harmonização facial mas ele é assim mesmo

Centro de uma disputa de guarda na separação, Ludwig acabou ficando com a mãe. Hoje, tem quase 30 anos, sonha com uma carreira por trás das câmeras de cinema e declarou em 2019 que, se fosse cidadão norte-americano, votaria no Donald Trump.
Putz…
E a mãe dele, hein? Bom…

O primeiro partido de Cicciolina era… ANARQUISTA

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Nem sei o que dizer! A fama pop de Cicciolina se deve muito a ela não ter se conformado só em ser uma celebridade da mídia, uma mistura de artista e pornógrafa. Ela entrou para a política e acabou eleita, ocupando uma cadeira no parlamento italiano entre 1987 e 1991. Muita gente acha tudo isso uma grande palhaçada, mas o mais, digamos, original é que esse partido com o qual Cicciolina conseguiu ser uma das mais votadas era o Partito Radicale, de raízes anarquistas!

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Faz sentido!

Entre os feitos de Ilona como deputada, o mais importante talvez seja o direito à visita íntima para a população carcerária. Depois, ela fundou o Partito dell’Amore. E uma das suas declarações políticas mais famosas foi se oferecer a transar com Saddam Hussein e Osama Bin Laden pela paz mundial!

Antes disso, Cicciolina diz que já se envolvia com política antes, inclusive com uma tentativa de fundação de um partido verde que não deu certo. Ela já afirmou, em entrevistas, que é de esquerda.

Cicciolina piu pop

Cicciolina já inspirou tantas que fica difícil enumerar. Miranda Kerr já posou como ela para a V Magazine em 2013. Fausto Fawcett compôs a música Cicciolina (O Cio Eterno), lançada no álbum dele de 1989. Em 1990, o grupo eletrônico Pop Will Eat Itself lançou a música Touched by the Hand of Cicciolina. E adivinha só onde uma música inspirada nela quase foi parar…

Erika Vikman concorreu com essa música à vaga finlandesa do Eurovision 2020. Tem coisa mais perfeita? Quase ganhou – ficou em segundo lugar. De qualquer forma, o Eurovision acabou não acontecendo nesse ano.

A própria Cicciolina já lançou discos

Não que isso seja estranho, né? Era comum que artistas que não cantavam nada gravassem discos mesmo assim para tentar capitalizar ainda mais em cima de sua fama (leia-se Xuxa… risos).
No primeiro disco que gravou, chamado Ilona Staller e lançado em 1979, tem uma faixa deveras interessante. Cavallina Cavallo foi composta por Ennio Morricone, ele mesmo, para o filme Dedicato al Mare Egeo (que pelo que entendi foi lançado apenas no mercado japonês). A versão que aparece no longa, que traz Cicciolina como uma de suas estrelas, não é essa e sim a com a voz da cantora Edda dell’Orso.

Olha outra faixa desse mesmo disco:

Existe um álbum lançado somente no Brasil, o Sonhos Eróticos (1988), que tem duas músicas de Cicciolina, Muscolo Rosso e Avec Toi, com outras interpretadas pela Erotic Dreams Band (provavelmente uma banda de estúdio assumindo esse nome) e La Prima Volta contendo trechos de falas de Cicciolina.
Muscolo Rosso se refere a ele mesmo. O pinto.

“Cicciolina è un sogno della società italiana. Dico “sogno” non nel senso di una realtà desiderata, ma nel senso di qualcosa di profondo che affiora involontariamente e con cui si devono fare i conti. Di questo tipo di sogno, che può essere terrificante, l’apparizione di Cicciolina ha l’aspetto trasgressivo, sacrilego.”
— Federico Fellini sobre Cicciolina

Cicciolina na TV brasileira

É! Cicciolina já participou de uma novela! Você não lembra?!

O babado era certo. Xica da Silva, que passou na Rede Manchete entre 1996-97, teve Cicciolina no papel de uma princesa de Gênova. Para quem não lembra, Xica da Silva tinha um certo ar de pornochanchada. Nada explícito, mas tudo muito… sugestivo!

Teve outro momentinho de Cicciolina na TV nacional. Esse aqui:

QUEM AMA UMA ENTREVISTADORA??? EU!

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Sexo ou arte? Por que a nudez de Cicciolina seria menos artística do que a das estátuas da Grécia e de Roma?

Sexo ou arte? Por que a nudez de Cicciolina seria menos artística do que a das estátuas da Grécia e de Roma?

July 27, 2020 /Jorge Wakabara
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Enquanto o mainstream saboreava o Tutti Frutti: uma loucura chamada Persona

July 21, 2020 by Jorge Wakabara in música, arte, livro

Fico apavorado só de ver a imagem!

Em junho de 1975, acontecia uma marco na história da música pop nacional: chegava às lojas o álbum Fruto Proibido, o clássico de Rita Lee & Tutti Frutti. Estavam lá Ovelha Negra, Agora Só Falta Você, Dançar pra não Dançar e outros hits do repertório de Rita.

O embrião da Tutti Frutti foi o Coqueiro Verde, uma banda da Pompéia dessas que tocavam em pequenas casas noturnas, e que mudou seu nome para Lisergia já em 1972. Faziam parte o guitarrista Luis Carlini, o baixista Lee Marcucci e o baterista Emilson Colantonio. O power trio cruzou o caminho de Rita Lee, que precisava de uma banda depois da sua dupla acústica Cilibrinas do Éden com Lucia Turnbull ter flopado. Eles todos "juntaram os trapinhos” e formaram a Tutti Frutti.

A banda passou por várias formações. A de Fruto Proibido já não tinha mais Colantonio nem Turnbull: trazia Franklin Paolilo na bateria, Guilherme Bueno no piano e Rubens e Gilberto Nardo no backing vocal.
No meio do ano seguinte, 1976, apareceria um novo álbum de Rita com a banda: Entradas e Bandeiras. Mas nesse intervalo… algo aconteceu. Em dezembro de 1975, Carlini gravava com Marcucci e Paolilo uma coisa um tanto, er, esquisita. Era Som.

Você já foi nesses troços barangos de fotografia com um jogo de espelho em que eles fundem sua imagem com a de um coleguinha mexendo na iluminação? Pois é: o princípio de Persona é esse (e desculpa, entendo como deve ter sido incrível nos anos 1970 mas eu acho barango). Persona é muito mais que uma banda: ele é um jogo desenvolvido por um artista plástico, Roberto Campadello, do qual Som é a trilha sonora.

O italiano Campadello mostrou uma semente disso pela primeira vez na Bienal Internacional de Artes de São Paulo de 1973 – era a Casa Dourada, um octógono desses espelhos especiais onde os visitantes se veriam fundidos uns nos outros com o artista distribuindo velas e convidando as pessoas a experimentarem coisas com suas imagens. O princípio não era exatamente novo – a Monga, por exemplo, se transforma em macaco assim – mas acho que o inovador eram as propostas e reflexões mais profundas de Campadello, uma coisa bem hippie de "você se fundindo nos outros” e por aí vai. Foi na Casa Dourada que o artista conheceu Carmem Flores: se apaixonam, se casam (dentro da Casa Dourada!!) e é a voz dela que canta no disco Som que acompanha o Persona.

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Na Bienal seguinte, Campadello já apresenta o jogo Persona em si, que foi lançado pela Grow junto com a trilha sonora. Também abre o bar Persona no Bixiga, com um porão onde as pessoas podiam experimentar o espelho especial. Por algum motivo, não existem muitas unidades do jogo por aí (era caro? pouca gente quis comprar? o próprio Campadello não gostou do resultado ou queria ganhar mais?). Tem quem defenda que o Som do Persona é um dos discos mais raros DO MUNDO!

E o que era esse jogo? Bom, você pode tentar ler as instruções, que incluem propostas de uso do espelho especial: tem desde copiar um desenho em uma folha em branco até brincadeiras eróticas com um parceiro (!) e o uso profissional em sessão de psicodrama! Vixe!!!

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Para me deixar ainda mais doido e obcecado: acho que já tive um livro do Roberto Campadello. É que ele entrou numas de I Ching e lançou isso aqui:

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Se não me falha a memória, na minha fase CRIANÇA ESOTÉRICA eu jogava I Ching e um dos livros que eu tinha era esse, com outro de capa preta.

Quanto ao Carlini: ele abandonaria o barco de Rita depois que Roberto de Carvalho entrou e começou a sedimentar uma parceria com a cantora que renderia uma sequência eletrizante de hits. Só que Carlini registrou o nome da Tutti Frutti, então levou o nome com ele! Chegaria a lançar um disco da Tutti Frutti sem Rita, só que o lançamento demorou, perdeu o timing e acabou flopando. Era o Você Sabe Qual é o Melhor Remédio de 1980. Da formação original, só Carlini continuava.

Antes disso, Tutti Frutti ainda cometeria uma pérola com Rita – na minha humilde opinião, um disco tão bom quanto Fruto Proibido apesar de menos celebrado. Era Babilônia, de 1978, que já trazia Carvalho com teclados e guitarra e assinando arranjos. Uma das músicas era composição da dupla Rita & Roberto: Disco Voador.

Babilônia é a ponte entre Rita roqueira e Rita pop: tem Que Loucura, rockão assinado só por Carlini (que, aliás, também está no álbum do Tutti Frutti de 1980), tem a parceria entre Rita e Carlini Sem Cerimônia (que eu AMO, rock-melô das atrevidas), tem três parcerias de Rita e Marcucci (Miss Brasil 2000 e Jardins da Babilônia, rocks da melhor qualidade, e Agora É Moda, pop dançante chique demais) e músicas compostas apenas por Rita (O Futuro me Absolve, baita pop brasileirérrimo; Eu e Meu Gato, baladão de duplo sentido brincando com gato-bicho e gato-boy; e Modinha, filosófica, muito simpática e bem Rita Lee).

É isso. Ouçam e celebrem Babilônia.
E Tutti Frutti também – é legal, sim!

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July 21, 2020 /Jorge Wakabara
Tutti Frutti, Rita Lee, Luis Carlini, Lee Marcucci, Emilson Colantonio, Lucia Turnbull, Cilibrinas do Éden, Franklin Paolilo, Guilherme Bueno, espelho, Persona, Roberto Campadello, Casa Dourada, Bienal Internacional de Artes de São Paulo, Monga, Carmem Flores, Grow, Bixiga, I Ching, Roberto de Carvalho
música, arte, livro
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Kyiv: um roteiro

December 11, 2019 by Jorge Wakabara in viagem, comida, beleza, arte

Você viu? Kiev não chama mais Kiev. Pelo menos segundo o New York Times: eles mudaram a grafia oficial em seu manual de redação de Kiev, que era a romanização do russo Киев, para Kyiv, que é a romanização do ucraniano Київ. Para quem não sabe, a União Soviética já não existe mais. kkkkkkkk Além disso, Kyiv está no olho do furacão na discussão sobre o processo de impeachment que corre nos EUA contra o presidente Donald Trump.

Bom, acontece que eu fui para Kyiv na época que a gente ainda falava Kiev, no começo do ano. Cheguei a falar sobre isso aqui em um post sobre Chernobil - para quem não sabe, Chernobil é uma cidade ucraniana; o reator nuclear que explodiu era de responsabilidade da Rússia porque na época a União Soviética ainda existia e a Ucrânia era território soviético. Hoje Ucrânia e sua capital Kyiv são territórios independentes, uma República constitucional semipresidencialista (ou seja, conta com presidente e primeiro-ministro dividindo poderes).
Mas me toquei que não falei sobre Kyiv e sim sobre Chernobil. Então, vou dar umas dicas de Kyiv! Chega mais!

Vá com internet

É uma mão na roda você ter um plano que aceite roaming de internet por lá. Uber é bem barato (bom, na verdade tudo é barato) e, como tudo é em cirílico, você vai ter certa dificuldade e o Google Maps superajuda.

Ninguém fala inglês

"Ninguém" talvez seja muita gente, mas sinceramente a minha sensação era essa. Quem já foi para o Japão sabe que é difícil achar um japonês que fale inglês fora dos grandes centros urbanos, e me senti mais ou menos assim em Kyiv - só que, ao contrário dos japoneses, eles parecem menos acostumados com o turismo, então tivemos (eu e a Helô Dela Rosa, que foi comigo) mais dificuldade em nos comunicar. Alguns são grossos mesmo, acho que não gostam de estrangeiros - para você ter uma noção, a caixa de um museu não queria nos atender! Em restaurantes, pelo contrário, eles normalmente falam ou são esforçados para te atender da melhor maneira. E no Uber, silêncio: às vezes eles perguntavam se a gente falava árabe. Aliás, as pessoas achavam que eu era árabe! Achei chique porque acho os árabes lindos, mas, more, que miopia doida é essa, né?

Para comer

Você consegue achar a comida típica da Criméia com relativa facilidade. Fui num restaurante chamado Krim (ou Qirim) que é bem central e tomei um borsch, aquela sopa de beterraba, e amei. E eu odeio beterraba, é uma das comidas que mais odeio no mundo! Então, fica a dica: mesmo que você odeie beterraba, não deixe de experimentar kkkkk

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Outro lugar supertípico e bastante recomendado por todos os guias que a gente foi é o restaurante de comida típica ucraniana Yaroslava. Adivinha o que tem lá? Frango à Kiev! É tudo bem bom e bem barato - aliás, a comida por lá em geral é baratíssima.

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A entrada do Yaroslava é bem, hum, exótica

E o interior não é exatamente moderno. Mas a comida é boa, eu juro! kkkkk

Tem vários outros lugares para comer, incluindo os instagramáveis Dogs & Tails (que se trata disso mesmo, cachorros-quentes e coquetéis) e o Milk Bar (bom de doces, mas que também vende salgados). Outro restaurante que é uma rede e a gente foi bastante é o Eurasia, que tem pizza, sushi, salada… A ideia do próprio nome é ter um cardápio que contempla Europa e Ásia. Ele é meio esquema Outback, um cardapiozão, pratos padronizados.

Já o Aroma Kava, outra rede só que de café, é bem mais ou menos. Parece Starbucks mas está mais para Fran's Café…

E não deixe de passar em uma chocolateria de lá que chama Roshen. Antes ela chamava - segura essa -Karl Marx Kiev Confectionery Factory! TUDO! Mudou de nome depois da independência e do fim da URSS e é tipo uma Kopenhagen de lá, com bombons muito gostosos e baratos, vale a pena. Se você for no fim do ano, como a gente, vai poder comprar um típico Kyiv Cake! Não é exatamente bom, é uma torta com merengue e creme, mas para experimentar tudo bem!

Se você, como eu, só de ver uma embalagem em cirílico já se anima todo, a boa notícia é que é bem baratinho!

Se você, como eu, só de ver uma embalagem em cirílico já se anima todo, a boa notícia é que é bem baratinho!

Igreja

Não sei se você sabe mas na Ucrânia a religião oficial é o catolicismo ortodoxo. Acho bem instigante e recomendo conhecer mais, visitar igrejas etc. Elas são lindas. Não cometa o meu erro, entrei de gorro e recebi uma bronca. Vá de cabeça descoberta. O Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas, por exemplo, para São Miguel Arcanjo, é bem belo. Tem todo uns complexos de igrejas por lá.

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Verão ou inverno?

Vantagens e desvantagens: se você for no verão, vai poder ir para a Odessa, a cidade mais litorânea que todo mundo fala bem. Não fui porque fui no inverno: época em que rolam as feiras de Natal, as músicas de Natal (eles amam Last Christmas, do Wham!, e eu amei porque eu também amo)… Lá o Natal é comemorado dia 7/01, segundo o calendário ortodoxo. E neva, viu? Prepare-se. Neva para um caraio.

Apothecary Skin Desserts: MUITO PINK!

Apothecary Skin Desserts: MUITO PINK!

Outros passeios

Amei o funicular, que custa baratinho, é tipo uma mistura de bondinho e teleférico (quem conhece o que é funicular obviamente vai saber) e é superbarato. Pelo que entendi, realmente é utilizado pelo povo que mora na cidade - como existe uma parte bem alta e uma parte bem baixa, é um jeito prático e barato de descer ou subir.

Quem curte produtos de beleza pode procurar a Apothecary Skin Desserts, a loja é uma graça, toda rosa, parece loja da Barbie (fui em uma dentro de um shopping, não sei se existe outra).

Visite também a Tsum, loja de departamento chique que também existe na Rússia. Só por curiosidade: é o único lugar caro de Kyiv. kkkkkkk

Apesar de recomendar o Uber, use o metrô só uma vez para descer na estação Arsenalna e subir as escadas rolantes. É tipo 10 minutos de escada rolante. Sei lá se é 10 mesmo, mas é bastante.

E eu adoro um mercado central: o de Kyiv é charmoso mas falta mais lugar para comer e achei meio pequeno. Vale a visita sim, só que sem expectativa.

O funicular: a estação é bem bela, né?

O funicular: a estação é bem bela, né?

Museus

Adoro museus de arte moderna e contemporânea. Se eu te disser que Kyiv tem dois dos meus museus preferidos da vida, você acredita? Juro. O PinchukArtCentre (eu sei, o nome soa meio engraçado) é um prédio recheado de coisas interessantes com artistas renomados (tipo Takashi Murakami) e outros que talvez não estejam no seu radar (como os próprios ucranianos, claro).

O quadro do Murakami no Pinchuk Art Centre

O quadro do Murakami no Pinchuk Art Centre

Já o Mystetskyi Arsenal é um centro cultural e quando a gente foi tinha uma exposição muito boa sobre as manifestações entre 2013 e 2014. Muito interessante. Ele é gigantão: era um arsenal de armas, mesmo.

O poperô

Nas lojas. No Uber. Nos restaurantes. O poperô está espalhado por todo lugar e me parece a música oficial de Kyiv. É um horror - se fosse de vez em quando a gente até achava engraçado, mas tem uma hora que cansa.

Nessa mesma onda, o gosto para roupas da população de Kyiv parece um pouco, hum, defasado. A gente até que tentou gastar dinheiro em lojas. E compramos… uma camiseta de turista com Ucrânia escrito em cirílico bem grande. Então não espere por marcas novas locais inesquecíveis, compras mil… não vai rolar, a menos que você se esforce e nivele o seu bom gosto para baixo. #prontofalei

Mas eu vou como?

Sei lá! A gente foi de Londres com Ryanair: a vantagem é que foi muito barato, a desvantagem é que você só pode levar uma malinha de mão. Então exerça o poder de síntese e vai dar tudo certo - para a gente superdeu, nos viramos. Os hotéis são baratos em comparação com o resto da Europa (a gente até acabou pegando um quarto incrível porque era barato demais) e o dinheiro de lá é um dinheiro específico de lá e não o euro: a grívnia. Não entendi a grívnia até agora, me pediam eu dava. kkkkkkkk

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December 11, 2019 /Jorge Wakabara
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