Wakabara

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Já existiu um outro Pablo que talvez tenha ido longe demais

Qual é a Música, o programa do Silvio Santos, era um marco pop nos anos 1980, de proporções que a geração Netflix de hoje não conseguiria entender. "SBT e era tão famoso assim?” Ôh, se era. Todo mundo assistia. Especialmente antes do Faustão ocupar os domingos da Globo, era no SBT que a gente ligava, sim.

E bem, o nome já diz tudo: Qual é a Música consistia em uma competição entre famosos com vários quadros, mas na grande maioria deles a resposta que precisava ser dada era pra pergunta… "Qual é a música?”, claro. Ou, na língua do Seu Silvio, “qual é a musicammmmm?". Num desses quadros, pra pergunta ser respondida, a música de fato tocava. E quem aparecia?
Ele. Pablo.
Não o Pabllo Vittar, que nem era nascido. Esse Pablo:

Pablo, cujo nome verdadeiro é Augusto José Rodriguez Carrascal, dublava as músicas na resposta. Antes, ele tinha uma parceira, Virgínia, que pintava a cara igual – ele dublava as vozes masculinas e ela as femininas.

Depois, quando Virgínia saiu e Pablo ficou, a androginia das apresentações dele ficaram ainda mais aceleradas: Pablo dublava e gesticulava as vozes de ambos os sexos e chacoalhava seus cabelos. Tinha quem achasse que era peruca, mas ele jura que sempre foi cabelo dele.

Pablo é da Espanha. Ele já contou em entrevista que, no começo da carreira, trabalhava num banco de dia e fazia shows de dublagem e dança à noite em boates da Boca do Lixo paulistana. Ou seja… Ele era drag queen? Ou o que se chamava na época de transformista? Não sei, mas acho que não. Acho que fazia esses shows sem se vestir de mulher, até onde entendi.

Pablo também diz que a inspiração das pinturas de rosto vieram do Kiss. Não entendo, já que Secos & Molhados por aqui foi um supersucesso – tem essa briga pra saber de quem foi a ideia da pintura do rosto primeiro, né? Enfim.
Mas no lugar do preto e branco, que acharam pesado demais, queriam algo mais festivo. Pablo tacou glitter e disse que Silvio Santos adorou – aliás, comentou que o patrão adora tudo que brilha. Uma lantejoula, uma purpurina… SBT AESTHETICS, eu diria!

Esse Pablo ia longe demais na época? Para os héteros de masculinidade frágil, me parece que sim: Pablo virou apelido pejorativo para gay. Uma bobagem.

Mas o que pouca gente sabe – o motivo para eu querer fazer esse post, inclusive – é que Pablo… cantava. Ele não dublava, apenas.

Primeiro choque: cadê o rosto pintado na capa do compacto de 1979?!
Segundo choque: as músicas (ambas!) são puro Sidney Magal. Regrava, Magaaaal!

Ufa, nessa versão de capa tem pintura facial

Esse Pablo canta bem? Não. É bem qualquer coisa. O sotaque dá um charminho, mas o timbre é meio fuén. Tanto que é o coro que segura os refrões. Mas as músicas são boas, vai. Dança comigo! Disco music em português IS MY LIFE.
Em ambas as canções desse disquinho, Eu te Amo e Onde Vai, a gente vê Valentino Guzzo entre os compositores. O intérprete da Vovó Mafalda foi quem descobriu Pablo e o levou pro SBT.

Tem mais? Tem mais.

Instrumental bem Gretchen, delícia. Nessa ele até arrisca falar umas frases em espanhol. Acho que a ideia era ficar meio sexy. Hum… OK.
Sinceramente prefiro o primeiro compacto.
De qualquer forma não achei Alegria na Milonga, o lado A do segundo compacto! Alguém tem? Me passa? Fiquei curiosíssimo!

Pra terminar: em 2019 Pablo estava morando em Londres.
Não acho a Europa tão longe. ;)

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