Mas afinal, o que é moda?

Em 2014 trabalhei como professor em uma pós da PUC-SP voltada ao jornalismo cultural. A cadeira era, adivinha, jornalismo de moda, o pobrezinho. E a classe era formada por jornalistas, portanto o que eu precisava explicar pra eles, basicamente, e incluir um mínimo de repertório, era sobre moda. O que me levou a ter que estudar sobre o que entende-se por moda.

Quando a gente fala de moda, podemos estar falando de várias coisas: de roupa, de indústria. Vem aquela imagem da vendedora da loja tentando te empurrar uma coisa estapafúrdia: “Olha, legging amarelo neon tá supersaindo, você já tem uma? Tá usando muito!”

Pois é. No fundo, a moda, essa filha preferida do sistema capitalista, é o que “está saindo”, é o que “estão usando”, é o que “estão curtindo”. Esse ciclo do novo - não necessariamente novo no sentido de recém-fabricado, mas de diferente do que veio imediatamente antes. Coisas voltam à moda, mas elas precisam ter deixado de ser moda antes de voltarem.

Uma coisa que todo mundo a princípio pensa mas que particularmente tenho visto cada vez menos assim: moda é roupa? Não, não é. Moda é o ciclo, é a novidade empolgante, é a mania. É um movimento de um grupo social. A paleta mexicana, que não é roupa e sim um picolé que tomou esteróides, esteve na moda e saiu. Gosto também do exemplo do mamão papaia com cassis: se você tem a minha faixa de idade já comeu essa sobremesa fingindo que estava amando porque era chique, mas no fundo queria mesmo era morango com chantilly. E o lamen ainda está na moda? Pra mim é difícil dizer, tenho um envolvimento emocional com o assunto… Tem aquele bar da moda, o restaurante da moda (paulistano adora, parece que não pode ver uma fila que corre pra entrar), o parque da moda, a exposição da moda (é aquela que não sai do feed recheado de selfies do seu Instagram).

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Lamen do Porque Sim

Isso não é moda, isso é um clássico, quem concorda respira

A gente, que é interessada em refletir, fica atraída por esse tipo de coisa porque existe a possibilidade da moda guardar algum significado oculto. “Esse filme está na moda porque traz uma metáfora xis ípsilon”; “o marrom é a cor da vez porque as pessoas querem parecer mais sérias e/ou com os pés mais fincados na terra e/ou o marrom é a cor dos capuchinhos”. Vale viajar, quem já teve aula de semiótica sabe muito bem do que estou falando. Só que nem tudo dá pra ler desse jeito: o que escondia a moda da calça da zebra louca? Mistério…

Bota mistério nisso… A calça da zebra louca era babadooooo!

Bota mistério nisso… A calça da zebra louca era babadooooo!

E finalmente, já que um assunto em moda é a bolha na qual a gente vive: a moda não é planetária, raras são as excessões. Algo pode estar na moda no seu grupo, no seu bairro, na sua cidade - não necessariamente isso se repete em outro lugar. Existe a moda de quem está no Ensino Médio, bem diferente de quem está na faculdade, bem diferente de quem trabalha na Berrini, bem diferente de quem é frila de agência de publicidade etc etc etc. Quando eu estava no Ensino Fundamental, sabe-se lá o porquê, virou moda colecionar minichupetinhas de plástico. De variados tamanhos, cores, transparente ou opaca, com brilho, um formato ligeiramente outro… Era baratinho, tinha gente (como o meu melhor amigo de infância, o Henrique) que colecionava muitas mesmo, era chupeta a dar com o pau (sem trocadilhos). Parece bola de gude, mas bola de gude você consegue jogar, existe uma coisa de competição; com a chupetinha não tinha, era pura contemplação. Acho que foi uma moda de um verão apenas, não faço a menor ideia de onde foram parar minhas chupetas. Também não consigo explicar porque isso virou moda e porque era status você ter uma bela coleção de chupetinhas, pois vendo com distância, reconheço o grau de não-cabimento. Mas a moda das chupetinhas foi algo do bairro? Da minha escola? Da cidade? Do Brasil inteiro? Não sei!

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Qual é pior: a moda da minichupeta ou a do chá de revelação?

Outra coisa sobre a qual queria falar é da moda retroativa - as coisas que voltam. Na passarela isso é claro: os anos 1970 voltaram, o ano 2000 voltou, pipipipopopó. Mas esse texto já está bem gigantinho, então vamos deixar para outro dia.

Mas antes, um lembrete sobre as bolhas: já que cada uma pode ter suas próprias modas, que tal estourar um pouco a sua e passear por outras? Pode ser estimulante e surpreendente.