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Resgate de uma musa brasileira: Vanja Orico

December 17, 2019 by Jorge Wakabara in cinema, música, livro, moda, política

Acho esse papo de que o Brasil não tem memória um pouco generalista e exagerado, mas em alguns pontos ele é bem certeiro.

Um exemplo é Vanja Orico. Importantíssima, musa do Ciclo do Cangaço no nosso cinema nacional, depois cantora, depois cineasta - agora pergunta para sua mãe se ela sabe quem é? Provavelmente não lembra. Pois.

Vanja morreu em 2015 por causa de um câncer no intestino. Seu filho Adolfo Rosethal, que é diretor e produtor, está fazendo um docudrama sobre Vanja, Vanja Orico - Ao Arrepio do Tempo. A previsão de estreia é no fim de 2020, mas enquanto isso a gente relembra de Vanja por aqui.

E sabe como foi a estreia de Vanja no cinema? Meu bem… segura essa:

Nada mais nada menos que Mulheres e Luzes, o primeiro longa de Federico Fellini, no qual ele dividiu a direção com o mais experiente Alberto Lattuada. Em 1950, Vanja ganhou uma bolsa em um concurso de música para estudar na Itália. Aí ela viu uma filmagem acontecendo na rua e ficou lá, embasbacada. A irmã de Lattuada a observou, chegou nela, e acabou levando-a para Fellini. Aí ela disse para ele que não queria só ser figurante, que queria cantar. E surgia a cigana Moema que você vê no vídeo acima, cantando Meu Limão Meu Limoeiro!

Mas estouro mesmo foi a participação dela em O Cangaceiro (1952), o filme de Lima Barreto que ganhou uma superprojeção internacional quando chegou em Cannes em 1953. Dizem que o longa disparou uma febre europeia na moda: chique era usar uma roupa com referência ao cangaço, imagina?

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Vanja como Maria Clódia

Dá para entender a febre da estética do cangaço: acho maravilhosa a estilização, os símbolos e enfeites que os cangaceiros usavam. Inclusive tenho um livro só disso, que é lindo!

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Esse aqui!

Recomendadíssimo como fonte de referência

Vanja faria outras personagens baseadas no universo do cangaço. Inclusive Maria Bonita! Foi em Lampião, o Rei do Cangaço (1964).

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Aliás, também recomendo esse livro mais recente

Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço de Adriana Negreiros traz a história sob a ótica das mulheres

Depois de Lampião, Vanja virou meio da turma do diretor Carlos Coimbra, que fez uma sequência de filmes que são parte desse Ciclo do Cangaço e que vão desembocar, misturados com outras referências mil, no superhit de 2019 Bacurau. Ela participou, em seguida, de O Santo Milagroso e Cangaceiros de Lampião, do mesmo Coimbra.

Abaixo você ouve o terceiro disco dela, de 1964 - tem composições de Jorge Ben (com a música de abertura Dandara), Zé Keti (no mesmo ano em que Nara Leão também o gravava), Roberto Menescal (a linda A Morte do Deus do Sal, que também adoro na versão da Flora Purim lançada no mesmo ano no clássico indispensável Flora é M.P.M.), Lyra e Vinícius (Maria Moita) e do mestre Catulo de Paula (as duas últimas).

Em 1968, um episódio marcaria a vida de Vanja para sempre. No momento chave do enterro do estudante Édson Luiz, morto pela ditadura militar, ela se colocou na frente do exército, levantou um lencinho branco e gritou "Não atirem, somos todos brasileiros".

Vanja ficou presa por 3 dias. Não foi torturada, mas levou “umas pancadas na cabeça".

Vanja no momento do grito em 1968

Vanja no momento do grito em 1968

Além de atriz e cantora, Vanja também se aventurou pela direção com o filme O Segredo da Rosa (1973) e pelo roteiro com Ele, o Boto (1987, dirigido por Walter Lima Jr). Uma mulher com uma história espetacular. Enquanto o longa não sai, Rosenthal colocou esse vídeo no YouTube, confira:

December 17, 2019 /Jorge Wakabara
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