O lugar que a gente queria estar lá por volta de 1967 se fôssemos nascidos

Ah, e me desculpa se você já era nascido em 1967: xennial tem mania de achar que tudo gira em torno dele e que todo mundo é da mesma geração que ele.

ENFIM.
Sabe Pinheiros?
Aqui o post que fiz sobre 4 lugares não-hipsters de Pinheiros.
Aqui outro post sobre 3 lojas na Cônego Eugênio Leite em Pinheiros que são hipsters sim - e são legais.
Aqui o post sobre as sorveterias em Pinheiros.

Mas Pinheiros, meu bem, é pouco perto do que era aquilo.

Sabe Harajuku?
Aqui o post sobre Harajuku, o bairro de Tóquio que ficou superfamoso.

Já leu todos esses posts? Pela atenção obrigado, sua audiência é muito importante para nós.

Mas agora eu queria falar de uma rua chamada King's Road lá em Chelsea, Londres, antes de Chelsea virar o bairro de riquinho de hoje, o local onde fica a Saatchi Gallery.
Foi na King's Road, em 1955, que Mary Quant começou a sua aventura. Você sabe, eu já falei de Quant aqui uma ou duas vezes. Na King's Road que Quant abriu sua mítica Bazaar, uma aventura de jovens com vitrines superinovadoras para a época que se transformou num belo negócio.

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A Bazaar era um babado

Moderna, ela antevia a nova atitude da década que chegava: os libertários e tumultuados anos 1960

Tudo começou, na verdade, com um… café. Em 1955, antes da Bazaar, surgia o Fantasie no número 128 da King's Road. Um dos primeiros cafés que serviam espresso em Londres (o pioneiro foi o Moka, de Gina Lollobrigida, na Frith Street), o Fantasie era o lugar para se estar se você era jovem e moderno naquela época. Foi ali que Quant e Alexander Plunkett-Greene, seu futuro marido, decidiram abrir uma boutique na mesma rua. Aberta em novembro, ela gerou um sucesso instantâneo: não tinha mais mercadoria para vender depois de 10 dias! O jeito foi fazer "pão quentinho a toda hora"; Quant criava e vendia, criava e vendia, uma ciranda louca (mais ou menos o que se repetiria em Kensington na Biba de Barbara Hulanicki e Stephen Fitz-Simon 9 anos depois, ali perto).

Não sei se já existia o termo gentrificação, mas os artistas pobrinhos que davam o charme para região tiveram que se mudar para mais longe - mais especificamente para a mesma rua só que mais para frente, em… World's End. Quem sacou, sacou; quem não sacou guarda esse "fim de mundo” que a gente retoma daqui a pouco.

Twiggy na King's Road

Twiggy na King's Road

Chelsea se transformou no lugar mais legal que tinha. Ou já estava destinada a isso? O Royal Court Theatre existia (e existe) ali perto, no Sloane Square. Era um lugar artístico e boêmio. Mas a Bazaar trouxe outra coisa: o fashion.

Ah, e o Chelsea Palace, ali perto, foi vendido mais ou menos nessa época para a Granada Television. Um dos programas gravados ali, o Chelsea at Nine, tem importância histórica. Várias apresentações incríveis, incluindo uma das últimas de Billie Holiday em 1959, antes da cantora morrer de cirrose.

Ao redor da Bazaar surgiram outras lojas. Nenhuma com a mesma projeção internacional de Quant, mas importantes porque fomentaram uma cena dividida com outra ruazinha de Londres que também é o máximo: a Carnaby Street (na época a Carnaby era bem localizada mas com um aluguel mais em conta).

O movimento ia crescendo na King's Road: Kiki Byrne, ex-funcionária de Quant que se transformou em concorrente, abriu loja colada na Bazaar, no número 136. A moda masculina de John Michael apareceu no 170. E a dupla lotada da pequenina Top Gear e a vizinha Countdown pintaram nos números 135a e 137, já em 1964.

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Se você queria comprar uma roupa mara e tinha dinheiro para isso

Era lá que você ia!

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Swinging London

ia chegando ao seu auge!

Em 1967, outra revolução estava chegando. Desde 1965, a Hung on You do aristocrata Michael Rainey chamava atenção no número 22 da Cale Street. Depois, em 1967, a butique de moda masculina mudou para a o número 430 da King's Road, já para os lados do World's End (ou seja, relativamente distante do quadrilátero quente da Bazaar e outras). Ela também desvirtuava o conceito do varejo de mostrar os itens na vitrine para estimular a venda: a Hung on You escondia tudo. Pintava sua vitrine bem colorida. Era o conceito da exclusividade: só quem entrasse saberia (e seria surpreendido) pelo que veria por lá.

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Misteriosa

A Hung on You exigia um conhecimento prévio: de fora nem dava para saber o que era aquilo

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Apontam a mudança da loja, da Cale Street para King's Road, como o começo do fim

A partir do endereço mais "famoso", a Hung on You ia perdendo seu status de exclusividade

O World's End se chama assim e não era à toa. Não existia (e não existe até hoje) metrô na região. Ou você vai de busão, ou você desce numa estação de metrô "meio perto” e anda um tanto para chegar. A Hung on You, ao lado de outras que a gente vai ver a seguir, trouxe a figura do dândi repaginada para os anos 1960: veludo, contas, vintage, motivos étnicos, pelúcia. Tudo entrava na salada. Era o look dos artistas do rock na época (pense nos Beatles na época do Magical Mistery Tour, que não por acaso foi lançado em 1967). Era inventivo, era doido e era o máximo. Mas mais doida ainda era a Granny Takes a Trip!

COLOSSALMENTE COOL: Salman Rushdie, sim, o escritor, sim, ele mesmo, morava em cima da Granny Takes a Trip e é assim que ele descreve a loja no vídeo acima. A psicodelia nas mãos do alfaiate-lenda John Pearse, que usava tecido William Morris de decoração para fazer os paletós e misturava vitoriano e contemporâneo, garantia o ar arrojado. Granny Takes a Trip também ficava em World's End, no número 488 da King's Road, e também fazia da sua vitrine uma tela para artistas. Antes ou depois de Hung on You? Ah, o zeitgeist

Granny Takes a Trip em 1967: a cara de Jean Harlow estilizada & vetorizada

Granny Takes a Trip em 1967: a cara de Jean Harlow estilizada & vetorizada

Portanto a gente fala da nossa mania atual de recorrer ao vintage, dos estilistas voltando nas décadas para criar as modas de hoje, mas na década de 1960 já se fazia isso, e muito. A Biba tinha especial fascinação pelos anos 1920 e 1930. Granny Takes a Trip e Hung on You eram o puro creme do dandismo da virada do século 18 para o 19 - extravagantes, esnobes, mas agora com toques árabes e indianos. Na onda dessas duas, Dandie Fashions era a alternativa mais acessível, tanto em preço quanto em local - King's Road número 161, mais para a Top Gear do que para o World's End.

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Se você quisesse se vestir tal qual Mick Jagger em Their Satanic Majesties Request (1967)

Dandie Fashions era um dos lugares para ir!

Ah, e ali perto ainda rolaria uma outra revoluçãozinha em uma década cheia de revoluções. Ninguém menos que a dupla Ossie Clark & Celia Birtwell na Quorum, que em 1966 mudou para a Radnor Walk número 52, pertinho do fervo da King's Road.

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Look Ossie Clark com estampa Celia Birtwell

Ele era tão ligado à rua que até hoje é chamado de The King of King's Road! A mulher fazia os desenhos da estampa, em uma das parcerias mais prolíficas e famosas da moda britânica

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Ossie Clark em si

na Quorum da sua chefe Alice Pollock

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Twiggy de Ossie Clark

Por que se fala tão pouco de Ossie Clark hoje em dia? É um mistério. O cara foi genial!

Depois da injeção de capital de Al Radley na Quorum, a loja-marca conseguiu ficar mais lucrativa. Eles mudaram para a King's Road em si no seu auge, no número 113, em 1969. Em 1972, com Clark se envolvendo cada vez mais com a marca própria e homônima, a loja fecharia e tudo seria absorvido pela marca Radley (não confundir com a Radley London, de acessórios). Al Radley, aliás, morreu recentemente, em abril de 2019.

Ali por perto, no mesmo bairro de Chelsea, a The Fulham Road Clothes Shop abria no número 160 da, adivinha, Fulham Road. Era a loja de Sylvia Ayton com Zandra Rhodes. Lembra que eu falei da Rhodes aqui? Durou pouco, só até 1969. Mas foi a semente de, adivinha, outra revoluçãozinha - dessa vez de Rhodes em si. Falo mais sobre isso nesse post!

Não posso esquecer de algo que fez a cabeça das mulheres em Chelsea… o salão de Vidal Sassoon, no número 44 da Sloane Street!

Sassoon e Quant <3 A influência no cabelo e a influência na roupa

Sassoon e Quant <3 A influência no cabelo e a influência na roupa

Seguindo em frente…

Em 1968, no mesmo mítico endereço da Hung on You da King's Road (o número 430), abria a Mr Freedom.

Mais doido ainda: Mr Freedom

Mais doido ainda: Mr Freedom

Parecia que aquele endereço da King's Road em World's End estava destinado a ser sempre território da vanguarda da moda. Pop art, glam rock, pastiche da cultura norte-americana, mod. Essa mistura de autoria de Tommy Roberts e Trevor Myles era explosiva e dramática, a Mr Freedom parecia mais um cenário que uma loja. Aos moldes da Biba, eles decidiram sair de lá em 1971 para um endereço maior na Kensington Church Street em 1971.

A Mr Freedom fazia um bom par com a Cobblers to the World, loja de sapatos de Terry de Havilland no número 323 da King's Road, com botas, plataformas, brilhos e píton aberta logo depois, em 1972. O gênio dos calçados malucos fez coisas para pessoas tão diferentes quanto David Bowie, Jackie Kennedy, Rudolf Nureyev e… o personagem de Tim Curry, Dr. Frank-n-Furter, em The Rocky Horror Picture Show (1975)!

Terry de Havilland e suas criações na Cobblers to the World em 1974 - ele morreu no último dia 27/11

Terry de Havilland e suas criações na Cobblers to the World em 1974 - ele morreu no último dia 27/11

I designed most of my shoes on acid, and the opening party for my shop in the King’s Road was famous for the three Cs — champagne, cocaine and caviar. God knows who was there — everybody.
— Terry de Havilland para o The Guardian em 2006
Tim Curry e os sapatos da Cobblers to the World em The Rocky Horror Picture Show

Tim Curry e os sapatos da Cobblers to the World em The Rocky Horror Picture Show

Falando em filme: o Chelsea Girls (1966), longa de Andy Warhol e Paul Morrissey, não tem nada a ver com Chelsea, tá? Ele se liga ao Chelsea Hotel de NY, do outro lado do Atlântico. Na mesma pegada, o álbum Chelsea Girls (1967) de Nico se refere ao filme, no qual ela aparece.

Esclarecimentos feitos, voltemos para ele, sempre ele, esse número 430 da King's Road no World's End.
Trevor Myles, após a aventura da Mr Freedom num lugar maior, retomou esse ponto de origem com a Paradise Garage, loja que seguia mais ou menos a mesma ideia do seu maior sucesso: um cenário divertido, dessa vez bem centrado nos EUA dos anos 1950, muito jeans, meio bar de Louisiana.

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Um paraíso de garagem

Trevor Myles na frente da loja - que realmente tinha uma bomba de gasolina antiga na porta (sem funcionar) e um carro com estampa de tigre estacionado na frente!

Não demorou muito para entrar em cena um dos maiores doidos que o marketing de moda mundial já viu. Malcolm McLaren pegou um pedaço na parte de trás da Paradise Garage com o amigo Patrick Casey e pediu para a mulher, uma tal de Vivienne, fazer umas roupinhas para vender ali.

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Malcolm na frente da Let it Rock, a reencarnação seguinte do local, já sob sua batuta

O endereço do número 430 assumiu um lado sasonal: mudava de tempos em tempos. A Let it Rock já abriu no mesmo ano de 1971, vendendo roupas vintage e novas para Teddy Boys, bem anos 1950

E sim, você entendeu certo: a tal Vivienne era a Vivienne Westwood, que é dona do endereço até hoje!

Seguindo uma linha cada vez mais agressiva, a reencarnação Too Fast to Live Too Young to Die, cada vez mais à moda Westwood, trazia essas misturas doidas em 1972 de colegial com um tema de caveira remetendo à bandeira de pirata. Piratas seriam o tem…

Seguindo uma linha cada vez mais agressiva, a reencarnação Too Fast to Live Too Young to Die, cada vez mais à moda Westwood, trazia essas misturas doidas em 1972 de colegial com um tema de caveira remetendo à bandeira de pirata. Piratas seriam o tema do primeiro desfile de Vivienne em Paris, em 1981!

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Sex, 1974

O rompimento total com os anos 1960: agora a onda era punk. Na nova reencarnação da loja, Westwood misturava sadomasoquismo, fetiche, couro e borracha, correntes. Isso era uma provocação total em pleno Chelsea, imagina?!

Vivienne Westwood na Seditionaires - Clothes for Heroes, mais uma encarnação de loja no mesmo endereço, aberta em 1976: com os Sex Pistols crescendo e virando vitrines ambulantes do estilo punk, cada vez mais gente se atraía. Agora a pegada era mais…

Vivienne Westwood na Seditionaires - Clothes for Heroes, mais uma encarnação de loja no mesmo endereço, aberta em 1976: com os Sex Pistols crescendo e virando vitrines ambulantes do estilo punk, cada vez mais gente se atraía. Agora a pegada era mais política, provocava com slogans e a clássica imagem dos caubóis com os paus encostando: provocativa na representação de nudez, homossexualidade, dando um tapa na cara da burguesia

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Essa aqui

no corpinho de Sid Vicious, do Sex Pistols

Finalmente a última reencarnação, que continua assim de 1980 até hoje: Vivienne Westwood World's End é onde você encontra as peças mais clássicas da estilista, que já foi caminhando para um estilo New Romantic quando percebeu que o punk tinha dado o…

Finalmente a última reencarnação, que continua assim de 1980 até hoje: Vivienne Westwood World's End é onde você encontra as peças mais clássicas da estilista, que já foi caminhando para um estilo New Romantic quando percebeu que o punk tinha dado o que havia de dar

Posso falar só de mais uma?

A BOY!

A BOY!

A BOY ficava no número 153 da King's Road. Stephane Raynor, o fundador, trabalhava na Let it Rock. Abriu a BOY em 1976, que se transformou em point tanto quanto as lojas da dupla McLaren e Westwood. Assim como Chrissie Hynde trabalhou na Sex antes da fama, na BOY você encontrava Billy Idol no caixa!

A BOY conseguiu acompanhar a moda: do punk para o New Romantic (como Westwood), do New Romantic para o clubbing dos anos 1980. A marca voltou em 2007 - você curte? Tenho um certo preconceito bobo, acho que tem cara de marca de skinhead, mas acho que é só comigo, né? Um monte de bilu usa o boné. Enfim! kkkkkk

A King's Road e Chelsea em si continuam sendo tudo isso hoje? Não. Com as consequências da gentrificação (leia-se o aumento do aluguel), o povo mais inventivo vazou. A loja da Vivienne é meio isolada, não tem nada muito interessante ali perto. Acontece. Já a Carnaby Street é um fervo, pertinho da Liberty London. Eu adoro.

Hum, então parece que querem nos vender uma sobrevida da temporada de moda

Acabou a NYFW (acabou? Na verdade não sei, mas quando acontece o desfile de Marc Jacobs eu fico achando que acabou) e ao que tudo indica a crítica especializada quer que a gente acredite que rolou uma "reenergização” com a nova diretoria encabeçada por Tom Ford e a redução de 7 para 5 dias de evento.

Não vou me estender aqui nas problemáticas dessa NYFW porque dois colegas já o fizeram muy bien: vai no Instagram da Giu Mesquita no primeiro destaque de stories e também no Twitter do Luigi Torre para saber. Spoiler: envolve apoiador de Trump, foco de crise de opioides… O babado é certo, amore, a gente fica até ansiosa pelos próximos capítulos!

Eu acredito na "nova fase da NYFW"? Não. Sabe por quê? Vamos ser bem honestos aqui: para ter propósito real-oficial, as marcas primeiro precisam pensar no que significa ainda produzir. Esse artigo aqui da i-D exemplifica bem o que eu quero dizer, mas vou tentar resumir em bom português: simplesmente não dá para falar que você é uma marca sustentável porque sustentável mesmo é PARAR de produzir. É se transformar de uma marca de bens de consumo para uma marca de serviço. O artigo dá alguns exemplos bem simples que a gente consegue pensar logo de cara: customização no lugar de roupa nova. Também acho legal produzir a partir de banco de tecido - ou seja, você utiliza só matéria-prima que já foi produzida e é considerada refugo hoje. Ou marcas que buscam lona usada (lembra da Será o Benedito?), tecido de guarda-chuva quebrado e pneu usado (caso da Revoada). Isso quer dizer que não, amore, usar algodão sustentável ou malha de pet não te faz sustentável, você continua produzindo mais roupa num mundo cheio de roupa. Você é, no máximo, uma marca mais sustentável que algumas outras marcas.

Desculpa ser o mensageiro dessa notícia.

Isso posto: sim, gostei de algumas imagens & desfiles de NY. Surpresa, a maricona mal humorada que vos fala não está tão chatona assim! A gente continua tendo uma alma fashionista, continua querendo novas imagens de moda incríveis, e sim, somos contraditórios porque ainda assim queremos o fim do aquecimento global e sabemos que a economia baseada em fabricação de novos produtos, no ritmo que segue, vai esgotar os recursos do planeta e poluí-lo ainda mais, a níveis ainda piores do que já estão.
MAS… fazer o quê. Vamos às imagens.

Marc Jacobs

Respect: se Alessandro Michele é o atual rei, Marc Jacobs é imperador. Veio antes. E arrasa. O seu desfile foi bem Gucci: uma ode à individualidade & diversidade. E um convite à moda como ferramenta para se divertir, com chapéus de Stephen Jones, make e cabelo da dupla imbatível Pat McGrath e Guido Palau, nail art de Mei Kawajiri. As modelos desfilaram com personalidade, não apenas como um cabide de roupa, algumas sorrindo, outras gesticulando… Gostei do desfile como um todo, mas acho que esses looks são meus preferidos do momento, especialmente o primeiro, meio andrógino, meio Jarvis Cocker.

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Tom Ford

Ele já foi o rei da cintura baixa mas na primavera-verão 2020, mesmo com a barriga de fora, a cintura encosta no umbigo sim! Amo o top estruturadão e a fluidez da calça

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Chromat

O sample size é tipo a peça piloto, geralmente produzida num tamanho pequeno. O vestido usado por Tess Holliday, que é atriz, modelo e ativista do body positive, é irônico, uma crítica bem humorada à indústria que ainda discrimina o corpo gordo

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Pyer Moss

Parte final da trilogia American, Also da marca de Kerby Jean-Raymond sobre participações da comunidade afro-americana para a cultura estaduniense que foram apagadas pelo preconceito racial, a primavera-verão 2020 da Pyer Moss homenageia Sister Rosetta Tharpe, capítulo importante da história do rock 'n’ roll. Mulher queer negra, ela ainda não é reconhecida como deveria: o verdadeiro rei do rock. E aqui é um fã de Elvis Presley quem fala, OK? Mas não dá para negar: o pioneirismo e o poder da musicalidade de Sister Rosetta Tharpe são imbatíveis.

O look específico que mostrei acima é bem icônico, não só porque retrata Tharpe em cores vivas, mas porque é o trabalho de Richard Phillips. Ele ficou 45 anos na cadeia por um crime que não cometeu e foi recentemente solto, aos 73 anos de idade. Durante o período de encarceramento, Phillips começou a pintar. Ou seja: são várias camadas de significado em um vestido.

Mais um desfile que eu gostei por inteiro - eu e a torcida do Corinthians.

Releituras do trench coat

Gostei delas. É isso, apenas.

Coach + Richard Bernstein

Sou muito fissurado nas capas da Interview que traziam desenhos de Richard Bernstein - como você pode ver nessa galeria que montei para o site Lilian Pacce, que infelizmente ficou distorcida no novo layout (para ver melhor em laptop ou desktop, clica com o botão direito em cima de cada foto, vai em copiar link da imagem e cola em uma nova aba do browser). Então adorei as estampas da Coach com as ilustras de Richard Bernstein de Michael J. Fox, Rob Lowe e Barbra Streisand. São ícones em imagens icônicas, olha a metalinguagem!

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DSquared2

Não costumo gostar da marca, mas menção honrosa à homenagem ao Bruce Lee que permeia toda a coleção inspirada na China, principalmente logo após o retrato babaca que Quentin Tarantino fez dele no seu filme novo

Savage x Fenty: o desfile que a gente ainda vai gostar

A partir de 20/09/2019, o supershow que as pessoas tem considerado um "Victoria's Secret para os novos tempos” estreia no Amazon Prime Video. A marca de lingerie de Rihanna chamou uma cambada de pessoas famosas (de Normani a Paris Hilton!) e encantou quem viu ao vivo. A gente fica no aguardo, roendo as unhas!

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Ulla Johnson

Gosto do climão folk dela, meio Zandra Rhodes, meio Florence Welch fazendo feitiçaria em sua casa de campo…

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Longchamp

A proporção do volume, o material (nylon), a camisa por baixo, a botinha meio boxer meio motocross… OK, acho que gostei desse look porque é tipo Prada

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Jonathan Cohen

Esse look que remete à bandeira norte-americana (com arco-íris, é bom salientar) é bordado por mulheres da Cidade do México, de onde a família de Cohen vem. E a modelo é mexicana. Também gostei da papete que ela usa, com umas florzinhas naïf aplicadas

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Gypsy Sport

Gosto do look, gosto mais ainda da pele azul - vide esse post!

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Vera Wang

Essa coisa boudoir chic com toques dark da estilista que é tão conhecida pelas suas noivas é instigante - e bonita!

Sandy Liang

É o desfile de estreia dela e achei fofo, bem humorado, refrescante. A citação à Mary Quant no padrão de flores, as transparências encapando looks, o very acid jeans, o Bob Esponja e Lula Molusco estampados na camiseta e a referência à cinta liga, o que a conecta à Vera Wang que eu mostrei logo acima. Tudo muito bem feitinho - não é um desfile perfeito, mas é um desfile legal!

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Vaquera

Gosto do bom humor, apesar de achar a Vaquera superestimada

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Khaite

Parece que a Khaite é um dos segredos bem guardados prontos para estourar da NYFW. Gosto do vermelhão e das franjas da jaqueta, do tom de marrom da camisa e o caimento, a combinação de cores e a calça floral - mesmo sabendo que se calça floral virar moda, isso vai ser TENEBROSO

Essa shoulder bag da Rag & Bone

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Não que eu goste de shoulder bag. Mas talvez eu goste. Dessa eu gosto. Ai! <3

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Pois baby

Esse look da Carolina Herrera é um exemplo da tendência que pinta nas passarelas: bolinhas!

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Tie dye, I die

O do Prabal Gurung, em um desfile bem bonito, é um dos mais legais. Tie dye é uma tendência que o povo tá insistindo, né? Não sou muito fã, não, gosto quando é mais trasheira para usar de um jeito irônico kkkkk #hipster

Mansur Gavriel

Uma homenagem ao tempo de São Paulo na coleção nova da Mansur Gavriel - a bolsa azul, aliás, achei ótima.

Uma citação a Flashdance

Direto da passarela da Ralph Lauren - foi a Ale Farah quem lembrou!

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E Tomo Koizumi

que foi tão mara que ganhou um post só dele!

Minissaia: quem inventou? No fundo... ninguém

Além de ter me apaixonado em definitivo por Mary Quant por causa da exposição que está em cartaz no Victoria & Albert Museum, estou muito-muito-muito envolvido com o tema (leia-se: comprei livros e não paro de pensar na trajetória dessa estilista-empresária incrível). Já estava lendo a biografia dela, Quant by Quant, antes de ir. Aliás já estava lendo essa biografia faz tempo. Acho que cabe uma breve explicação:

Geralmente quando estudo algo muito a fundo, acontece alguma coisa com esse algo. Ele de alguma maneira vira notícia. Tipo: começo a ler muito sobre o estilista dos anos 1920 Paul Poiret e, batata, a marca volta (sabe-se lá o porquê, veja aí se não estou mentido). Aí vou procurar saber mais sobre um artista japonês e ele inaugura exposição no MoMA. Coisas assim - talvez o que chamam de instinto jornalístico, mas para mim é algo muito misterioso. Não quero me vangloriar e sim, acredito que sejam apenas coincidências. Só que a partir do momento que percebi isso, fico morrendo de medo de ler uma biografia de quem ainda está vivo, acabar a biografia e… a pessoa morrer. É por isso que não terminei de ler Quant by Quant até hoje - Mary Quant está vivíssima, com 85 anos.

Mary na década de 1960, cabelo assinado por Vidal Sassoon - tá, querida?

Mary na década de 1960, cabelo assinado por Vidal Sassoon - tá, querida?

Um dos temas que me instigam a respeito de Mary Quant é a autoria da minissaia. Tem gente que defende que foi ela. Só que tem quem ache que foi a francesa Courrèges de André Courrèges.

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Courrèges

Clique de Willy Rizzo de 1966

E aí? A autoria é britânica ou francesa? As datas são praticamente iguais. Uma diferença de meses - isso se a gente levar em consideração a barra acima do joelho. Courrèges desfilou "saias curtas" em 1964. No Ginger Group de Quant, de peças mais baratas, existem registros de vestidos bem sessentinhas, acima do joelho, da mesma época. E é difícil, historicamente, encontrar peças da primeira metade da década de 1960 que não tenham sido alteradas (ou seja, encurtadas) pelas próprias donas posteriormente, para se adequarem à moda subsequente!

Só que não sejamos ingênuos. Imagine você, vivendo nos anos 1960. Surge a minissaia na vitrine da Bazaar de Quant ou no desfile de Courrèges. Você acha mesmo que isso foi uma invenção chocante; que as saias eram compridérrimas e de repente estavam curtas? Claro que existem registros anteriores a isso. A saia foi encurtando. Foi um processo!

Vamos para Yves Saint Laurent na Dior:

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O look da extrema direita…

Oi, joelhinho! Coleção Trapeze, fim de 1958

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Mais de Saint Laurent para Dior

Inverno 1960 - curtinho, hein?

E que tal Cristóbal Balenciaga?

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O vestido-saco

De 1950!

Mas se você não se impressionou tanto com a quantidade de perninha de fora dos looks de alta-costura, bem… eu tenho outro look para te mostrar. Algo que poderia ter inspirado Courrèges, Paco Rabanne, Pierre Cardin - essa turma do futurismo dos anos 1960. E, quem diria, o look vem pelas mãos da autora de um dos vestidos de noiva mais famosos do mundo, o de Grace Kelly. A figurinista Helen Rose!

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Olha a ousadia!

A vida é curta, mas esse vestidinho…

Rose criou esse look para a personagem de Anne Francis em Planeta Proibido, filme de 1956. Acontece que ele nunca foi visto na telona - a MGM vetou, porque o achou muito revelador! A própria Helen fala a respeito:

With exercise, dieting, health and beauty consciousness, the human body, especially the female body was getting more and more beautiful... I had been nurturing a costume idea for over twenty years, ever since I did the special show for (ballroom dancers) Fanchon and Marco when I painted the performers with gold paint. I thought this would be a good idea for the film Forbidden Planet, as I could easily imagine ‘sprayed -on-clothes’ in the year 2000, but no one wanted to go along with me. We settled for a very short, stylish dress that was to become the first ‘mini-skirt.’ My most favorite outfit was never seen.
— Helen Rose

Mas, Helen, outro look bem curto (se bem que não tão justo) aparece no trailer…

Não entendi!

E, na verdade, tem um outro filme anterior a esse, mais obscuro, com look curtérrimo:

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Vôo para Marte (1951)

A personagem Alita, de Marguerite Chapman, e sua minissaia azul

Não existe registro sobre quem seria o visionário que fez esse look de Alita. Na verdade, dizem que esse longa foi filmado a toque de caixa, em questão de dias.

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Adoraria saber quem fez esse lookinho

Modernosaaaa! Se o Elon Musk me chamar para um rolê, já sei onde vou me inspirar (mentira, imagina eu de minissaia, que horror???)

Agora, atenção - menção honrosa para uma visionária:

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Josephine Baker!

É mais um adereço que uma saia, mas meu bem, eram os anos 1920! Imagina?!

Resumindo, gosto em particular da frase de Mary Quant, mais uma vez ela:

It wasn’t me or Courrèges who invented the miniskirt anyway—it was the girls in the street who did it.
— Mary Quant

Foram as próprias mulheres que encurtaram seus looks. Não foi um estilista, um figurinista, um criador que inventou isso. A moda é viva, ela não acontece só da indústria para o pessoal. Nesse link você fica sabendo mais sobre o que acho desse movimento mais "para todos os lados” da moda.

Para terminar: a que rua Mary se refere? Do que é que ela está falando?
Hummmmm… Are you ready, steady, go?
Enquanto eu preparo esse novo post, vai fazendo o esquenta com um outro que fala muito sobre a moda que nasce na rua: o de Harajuku! <3 Stay tuned!

Onde está o gengibre, Ginger Spice?

O gengibre, ah, esse maravilhoso… fruto? Raiz?

O gengibre é a planta inteira, essa da foto:

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O que conhecemos comumente por gengibre - e usamos bastante na culinária - é a raiz. Eu adoro: em bebidas, em conserva, na comida. Fico passado do ginger ale, geralmente feito de água com gás e xarope de gengibre com suco de limão, não é tão popular no Brasil. Mas tenho sentido de levinha, como uma brisa, uma moda de drinques de gengibre em SP. Torcendo para que pegue!

E gengibre, portanto, é uma especiaria. É ligado à cor de cabelo dos ruivos. As pessoas dizem ginger hair e a cor para mim não é muito parecida mas entendo: aquele marrom puxado levemente para algo entre dourado e vermelho.

No girl group Spice Girls as integrantes eram (e são) nomeadas por características da personalidade delas: Sporty e Posh as mais óbvias, esportiva e chiquezinha; mais Scary, a doidona extravagante de animal print, e Baby, a meiguinha mais nova. E tem, claro, a Ginger Spice Geri Halliwell, que se chamou assim por causa do seu… cabelo. E, em teoria, também por causa da sua atitude, como se o nome Ginger Spice garantisse que ela era ainda mais temperada que as outras meninas.

Posh, Ginger, Sporty; embaixo, Baby e Scary

Posh, Ginger, Sporty; embaixo, Baby e Scary

Ah, mas os tempos mudaram. Estou aqui em Londres, entre outros motivos, para o show da volta das Spice Girls. Fui no dia 14/06 - não teve Vic Beck mesmo, que está posher than ever casada com jogador de futebol riquérrimo, uma família linda e uma carreira prolífica na moda como estilista. Mas teve Ginger… ou não teve?

Breve parênteses para falar de outra coisa que vim fazer em Londres: a exposição de Mary Quant. Depois posso falar mais dela - Quant foi simplesmente incrível, uma grande criativa da moda, um nome superimportante na popularização do Swinging London do fim dos anos 1960. Mas por que estou falando dela agora? Quant era muito ligadona e sabia que na sua Bazar as coisas eram caras demais para o pessoal realmente bacana que ela também queria vestir. Era o começo dessa velha história complicada da moda jovem: moderno que é realmente moderno geralmente não tem dinheiro… Mas Quant deu um jeitinho de capitalizar em cima do hype do seu nome na hora certa: ela começou a fazer uma linha mais barata, produzida por uma fabricante de porte que conseguia escalar e assim o preço baixava.
O nome da linha? Adivinha…
Ginger!

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Ginger também era o nome com o qual Quant batizava uma de suas cores preferidas.

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É esse bege

Meio caramelo, meio palha, meio sei lá o quê. Naquela época era moderno. E sabe que estou achando moderno de novo, viu?

Fecha parênteses!

O que aconteceu com Geri, que agora, senhora casada, assina Geri Horner? Ginger Spice?
Não é uma questão de estar mais velha - todas estão na mesma faixa de idade e Scary, por exemplo, está escandalosa como sempre; Sporty mantém a forma de boa; Baby agora tem cabelo rosa clarinho, mais fofa que nunca; Posh ficou tão chique que dispensou essa volta. Já Geri usa os piores figurinos da turnê, aparece de rainha no começo (o vestido curto com a bandeira Union Jack que a marcou, atrevidíssimo, virou um vestido longo rodado tipo princesa; do autêntico para o tradicional, que decepção!). O charme, o riso frouxo, o clima de flerte? Sumiu. Praticamente loira (antes eram só duas mechas, lembra?), ela parece quase robótica, presa a convenções.
Geri Halliwell virou Kate Middleton. Até a maquiagem é igual.
Meio empalhada. Supercareta.

Enquanto isso, Madonna, quase 15 anos mais velha, lançou um disco que está sendo elogiadíssimo pela crítica. Consegui ouvir um pouco. Acho que curti! E vocês?

O que quero dizer é que não é uma questão de idade. Juventude é atitude, não está na data de nascimento. She’s lacking wit, if you know what I mean.

Então a lição do He-man de hoje é: pode envelhecer à vontade. Mas não envelhece na cabeça, não; depois o Brexit vem e aí você não pode reclamar dos conservadores, tá?

Obs.: Geri, a gente sabe do seu passado, garota, até seu marido sabe, saiu no tablóide. Aceita que o B de LGBTQ é de Mel B e não encareta, não…