Entrei numas de perfume

Começou com os lápis.
Lápis é a coisa mais legal. Quando era pequeno não soube valorizar o lápis o tanto quanto ele merecia: queria usar caneta, que era coisa de adulto. Hoje o lápis é tudo: me permite apagar o que escrevi, e o melhor, me dá uma noção do quanto escrevi, guarda em si uma noção de espaço e tempo. Você aponta o lápis a medida que precisa, ele vai diminuindo. Até que termina.

Mas na verdade começou antes, com sabonete. Sabonete também tem essa coisa de "gastar". Você vai tomando banho, vai usando, e ele vai acabando. Quando chega ao fim, começa outro - o sabonete é ainda melhor porque com lápis posso usar (e uso) vários ao mesmo tempo. Sabonete geralmente é um só, e um por vez. Sabonete líquido é até legal, mas para tomar banho gosto de barra. Gosto de vê-lo acabando.

Portanto quando percebi que ao viajar eu podia trazer sabonete e lápis diferentes das viagens, me encantei com essa possibilidade. Uma lembrança barata que vai me fazer lembrar da viagem por mais tempo. Portanto compro - muito, de ambos - quando viajo. Não guardo: uso mesmo. Portanto não sou necessariamente um colecionador: sou um amante dessas duas coisas. Não economizo usando.
E adoro quando me dão sabonete e lápis, mas não é a mesma coisa de comprá-los eu mesmo: quando isso acontece, lembro dos lugares por onde passei ao usá-los.
E pode até ser uma papelaria de SP, uma vendinha que descobri num bairro, um posto de beira de estrada. Não precisa ser o lápis do Louvre!

(Ah, e o melhor lápis do mundo de acordo com a minha pesquisa empírica é o branquinho do Belmond Copacabana Palace. Que delícia - macio, gostosérrimo de apontar e lindo, todo branco com o logo em laranja e a grafite preta.)

Depois vieram os desodorantes sem alumínio, cuja saga já contei em duas partes aqui nesse blog: parte 1 e parte 2.
O que não falei é que sou de fases: a fase do desodorante preferido ser o Love Beauty and Planet passou. Ele deixou a minha axila seca demais uma época, então tenho evitado, uso bem de vez em quando. O da Jasön de pêssego continua sendo um queridinho, mas não uso muito porque vende no exterior. Cheguei a comprar outros mas adivinha: achei um novo preferido. E o mais instigante é que ele é nacionalíssimo, amém, vamos estimular o mercado local! O da Jaci Natural com bicarbonato é tudo. Uso todo dia. Compre no site deles!

Se você ainda não conseguiu se adaptar ao desodorante sem alumínio, saiba: é difícil mesmo para a maioria das pessoas. E existe um período para o seu corpo entender a falta de alumínio ali. Então, sim, acontece de ter um cecezinho. Risos. Depois passa - pelo menos comigo passou. Hoje só dá cecê quando realmente daria mesmo com desodorante cheio de química; um dia inteiro debaixo do sol. Ah, e eu tomo dois banhos por dia quase sempre, um de manhã e outro quando chego em casa. Quando eu chego em casa costumo usar outro desodorante para variar ou um hidratante se eu acho que tá meio seco (fiquei traumatizado kkkkk).

Bom, você pode imaginar que desodorante sem alumínio é mais caro que sabonete de barra, então quando essa minha mania começou a invadir minhas viagens, o cenário ficou um pouco preocupante.

Mas agora, meu bem, o negócio está sério. Porque estou viciado em perfumes.

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Sempre fui alérgico, cheio de rinite. Quando adotei os gatos isso piorou. Mas de uns dois, três anos para cá, essas crises viraram mais que esporádicas, quase sumiram. Acho que ajudou o fato de que estou bebendo muito menos do que costumava, talvez meu sistema imunológico tenha ficado mais feliz.
Ao mesmo tempo sempre gostei de perfumes - CK One foi um dos meus amores de adolescência. Tommy Boy também - uma amiga usava e eu idolatrava esse cheiro, hoje ele infelizmente não é mais produzido.

É interessante porque acho que esses dois perfumes "formaram” o gosto que tenho para perfume até hoje, ao lado da colônia de lavanda, que sempre amei, e do cheiro de eucalipto, bem Pinho Sol mesmo.

Comecei a voltar a usar algum cheiro graças a Granado e Phebo. Elas são marcas realmente incríveis que a gente devia valorizar muito no Brasil - o fixador deixa um pouco a desejar na maioria das vezes (a linha de perfumes mesmo, mais cara, também é mais poderosa nesse sentido). Aí fiquei vidrado naqueles vidrões de 300 ml que a Granado vende de colônia. Comprei a de Flor de Laranjeira.

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Fora que as embalagens são lindas

Meio Alphonse Mucha, né? Aliás, não perca a exposição do Alphonse Mucha que ainda está em cartaz na Fiesp, acho que até 26/01/20, corre que é mara!

Aí fiquei bem na onda dela. Antes disso, eu achava, na minha ingenuidade misturada com doses fartas de deslumbre britânico, que só os perfumes da Jo Malone não me davam alergia porque tinham mais qualidade.
Pasmem: os perfumes no geral não me davam mais alergia. E abria-se uma nova janela para eu gastar muito mais dinheiro (o da Jo Malone, de manjericão e flor de laranjeira, segue sendo um dos meus preferidos até hoje).

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Sigo te amando

Beijos!

Mas aí, de uns meses para cá, a coisa começou a aumentar. Da Phebo, hoje, eu possuo o de Limão Siciliano (daquela coleção que vende no supermercado e parece bem mequetrefe mas é maravilhosa e mudou de embalagem faz pouco tempo), um trio de vidrinhos de uma linha especial que tem Basílico Roxo, Tomilho Silvestre e Hortelã Verde (os 3 são meio exóticos e eu adoro o de tomilho, sei lá porquê), o perfume lançado em parceria com a Isolda de caju (delícia e a embalagem é estampada pela marca de roupa, toda linda) e às vezes roubo o Lavanda Folha do meu marido, de uma coleção que são vários "tipos de lavanda".
E da Granado também tenho o de Eucalipto (que é puro eucalipto e só).

O trio que eu tenho da Phebo - recomendadíssimo

O trio que eu tenho da Phebo - recomendadíssimo

Mas a coisa começou a desandar quando descobri que o Cedro di Taormina da Acqua di Parma era um dos melhores cheiros que eu já tinha sentido na vida. E que o Arancia di Capri, da mesma linha, não ficava atrás.

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O nome da linha, Blu Mediterraneo, já diz a que veio

São cheiros da região mediterrânea. Chique, né?

Aí você vai dizer “Ufa, Wakabara! E aí chega, né?"
Meu bem, não subestime a minha capacidade de obcecar.
Como você já deve ter percebido, adoro cheiros cítricos. Então não me passa um cheiro cítrico perto que já quero comprar. Foi o caso de um dos perfumes da coleção especial do chef de macaron Pierre Herme para L’Occitane

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Tem outro da mesma coleção que também é bom, mas prefiro esse. Meu marido diz que parece que espremeram uma toranja na minha cara. E eu amo! Tanto que também comprei o creme de mão de Pamplemousse et Rhubarbe. A embalagem é um escândalo, né? En 2018 Herme também lançou uma outra coleção com uns 5 perfumes. Se pudesse, teria todos. São maravilhosos. Mas essa embalagem do que eu comprei é mais bela, sem dúvida.
(Não vem me falar que eu posso comprar os outros, não me provoca, me segura, hein)

Da L’Occitane au Brésil, gosto de alguns mas o meu amorzinho real atual é o da linha Capim Limão de tangerina. Também tive o Araucária verde, que acabou.

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Acho que as embalagens da L’Occitane Au Brésil podiam ser mais bonitas

Mas o produto é bom, mesmo!

Aí veio uma bomba, e a culpa é das minhas irmãs.
Elas me viciaram num perfume caríssimo, da tradicional Penhaligon's que existe desde 1870 em Londres. É o Juniper Sling.

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Primeiro que a embalagem já é maravilhosa.
Segundo que, caralho, Penhaligon's, a cada gota que você passa disso parece que você já tem R$ 200 a mais na conta (e na verdade você tem R$ 200 a menos, já que cada gota disso custa mais ou menos R$ 200).
O Juniper Sling, especificamente, foi lançado em 2011. As minhas irmãs têm um amigo que usa e elas amaram e quiseram igual. Fui sentir o cheiro dessa coisa caríssima e que gera tantas emoções fortes e… sim. O cheiro é de gin.
Gin. Isso mesmo. Juniper quer dizer zimbro. Zimbro é o nome da frutinha que é o ingrediente principal do gin. Na fórmula também entram vários outros ingredientes: laranja, angélica, canela, cardamomo, cereja, vetiver. É um perfume complexo. E é talvez o perfume mais complexo que eu goste.

Antes de terminar, queria falar que na minha recente ida para a Itália descobri mais uma perfumaria para amar. A L’Erbolario! Ela existe desde 1978 e comprei dois perfumes que amei lá: Tea & Citron e Accordo Arancio.

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A embalagem podia ser mais bonitinha

Mas MEU DEUS, que perfume bom!!!

“Wakabara, você é mongol? Você compra perfume tudo com o mesmo cheiro!"
Não mesmo. Existem mil cítricos. Esse Accordo Arancio, por exemplo, tem notas de ameixa e baunilha que fazem toda a diferença. O Arancia di Capri é bem mais fresco, esse é mais aconchegante. E o Pamplemousse et Rhubarbe é mais doce.

"Wakabara, colônia é uma coisa e perfume é outra, você misturou tudo. E eau de toilette é ainda outra coisa."
Bicha, se manca. Tô falando de cheiro. Me deixa em paz.

"Wakabara, e dos perfumes de marca de roupa? Você não gosta?"
Geralmente não. Fora o CK One que já citei, é difícil algum me conquistar. Mas… estou de olho em uns sim. Se você quiser me presentar…

Prefiro o Mimosa e o Mandarine, mas qualquer outro também vale…

Prefiro o Mimosa e o Mandarine, mas qualquer outro também vale…

Não é que o tapete vermelho do AMAs foi tudo?

American Music Awards, quem se importa - ainda se fosse de música inglesa - mas eu adorei alguns momentos do red carpet. Outros, que eu achei qualquer coisa, eu vou ignorar pois não sou obrigadah. E só estou fazendo esse post porque genuinamente achei esse tapete vermelho divertido! Quem diria?

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Será que eu vou admitir que a Billie Eilish é um ícone de estilo?

Temo que sim. A malha de metal é meio Rihanna de Gucci, mas o oversize da Burberry com chinela faz toda a diferença. Achei moderno sim, quem vou enganar?

Neon, zebra, luva (ou é um macacão inteiro que inclui as mãos?), spencer. Obrigado, Lil Nas X, a gente precisava desse look do Christopher John Rogers e nem sabia!

Neon, zebra, luva (ou é um macacão inteiro que inclui as mãos?), spencer. Obrigado, Lil Nas X, a gente precisava desse look do Christopher John Rogers e nem sabia!

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Eu digo sim

para essa bolsinha Valentino da Lizzo

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A Arianagrandização de Dua Lipa

Tá bonita. Mas eu prefiro a Dua Lipa de cabelo Dua Lipa (ou de cabelo Bruna Marquezine, ou de cabelo Manu Gavassi, você escolhe). O vestido é Miu Miu

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É um choque para mim

Mas eu realmente adorei esse look meio Tony Manero do Shawn Mendes! É Paul Smith

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Nunca escondi que amo a Maya Hawke

Mas ela conseguiu me convencer num Dior de princesa. Eita. Só que espero vê-la em algo um pouco mais, er, contemporâneo da próxima vez…

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Góticaaaa

Aí sim! Katherine Langford arrasou. O vestido, meio qualquer coisa, é Rodarte. Mas que make, hein?

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Sem cintura

Tipo uma atualização dos anos 1920, curto, com cabelo de Mickey. Tudo para dar errado mas Constance Wu é mara, meu bem. O vestido é Prada!

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Yas, queen

Christina Aguilera, minha cafona preferida (mentira, gosto mais ainda de outras ainda mais cafonas). O look é Jean Paul Gaultier

Leia no palco: Taylor Swift estampou os nomes de seus discos na camisa (são as obras sobre as quais está rolando treta nos direitos de gravação, que ela ainda não possui); Billie Eilish mandou um "não tem música em um planeta morto” provavelmente em…

Leia no palco: Taylor Swift estampou os nomes de seus discos na camisa (são as obras sobre as quais está rolando treta nos direitos de gravação, que ela ainda não possui); Billie Eilish mandou um "não tem música em um planeta morto” provavelmente em referência às queimadas na Amazônia, aquecimento global etc. e tal

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Caubói trabalhado no monograma da MCM

Não achei tão bom, achei mais pro exótico. Mas parabéns pela coragem, Diplo

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Garantindo que ninguém rouba o microfone

O de Toni Braxton leva a assinatura dela. Chique! O vestido é Yousef Al Jasmi

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A gente não resiste

a uma bitch de Versace! Kesha, você arrasa na ostentação

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Too much?

Talvez, mas Billy Porter sabe se divertir no tapete vermelho. O look é Thom Browne e o chapéu (que eu dispensaria mas you better do what you want) é Stephen Jones

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Diva dark

Regina King incrível de Ashi Studio

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Mas que colarzão…

O look da Ciara é Balmain

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Eu gosto da Sofia Carson de graça

E de prata também: vestido Francesco Scognamiglio

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Patrick Schwarzenegger

fino no seu look Sies Marjan e no seu sobrenome herdado do pai que exige um Google SEMPRE!

Misty Copeland: a bailarina é moderna, tá, meu bem?

Misty Copeland: a bailarina é moderna, tá, meu bem?

Uai, mas não era Fenty?

Não entendi.

Você entende por esse post que só os óculos são Fenty?
Pois é.
A camisa com estampa de Frankenstein é da Prada.

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E sinceramente? A camisa é mais legal que os óculos.

Apesar disso, tenho pensado muito numa frase de Joel Schumacher. Ele disse que fez Os Garotos Perdidos (1987) com vampiros porque vampiros são mais sensuais. E que ele achava o Frankenstein bem pouco sensual.
Acho que foi um shade para o John Hughes e sua Mulher Nota 1000 (1985), que foi claramente inspirado em Frankenstein - os meninos protagonistas estão assistindo um filme sobre o monstro na TV quando pinta a ideia de fazer uma mulher só para eles.
Uma visão um pouco simplista? Talvez. Mas tendo a concordar.
Schumacher também já chegou a dizer que Os Garotos é sobre o medo do outro, do diferente. E tem quem defenda que exista um subtexto homoerótico na trama. Ui!

Você fica sabendo mais sobre o longa Os Garotos Perdidos nesse link.

Meio que levamos um pito da Miuccia Prada

Lembra que eu falei no post sobre a temporada de Londres que não sabia se ia comentar Milão porque a Prada tinha sido muito chata ao meu ver?
Pois é. Ainda não tinha lido o que Miuccia Prada em si tinha a dizer sobre essa coleção. Está no WWD.

It’s a total contradiction. We need to consume less, but they want newness — clients want it, journalists want it, press want it, people want it. So probably, it’s a contradictory subject. The real truth is that everybody wants more and wants newness.
— Miuccia Prada para o WWD
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A icônica Freja Beha abre o desfile da Prada de spring-summer 2020

Uma brusinha canelada pólo, uma saia branca mídi, um sapato um tanto horroroso

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Horroroso, sim

Mas é Prada, então tudo bem: a Prada faz coisas horrorosas que a gente acaba curtindo

Miuccia reconhece que o papel dela, assim como a atitude dos jornalistas e compradores, é contraditório no momento. Ela comenta como os nossos tempos estão over, cheios de tudo, e ao mesmo tempo existe um chamado para a interrupção do consumo e da produção. Falei um pouco disso no começo do meu texto sobre a Semana de Moda de NY. Mas e como fica o estilista? Como agir e como criar nesse cenário?
Ela tentou fazer "menos", no que diz respeito à estética. A Prada começou a desfilar suas coleções na era do minimalismo, os anos 1990, com um charme no resgate do retrô e no desafio de transformar o que teoricamente não é de bom gosto em algo fashionista, quase sempre por vias intelectuais. Uma marca para inteligentes, iniciados; até um pouco esnobe nesse sentido de mais informação e contextualização que as outras. Desfiles misteriosos que podem ser lidos-decifrados de diversas maneiras.

Então essa é uma resposta interessante em forma de desfile para os dias de hoje?
Hum, é sim.
Me convenceu?
Sim.
Gostei mais do desfile?
Não. Nem um pouco.

Esses lookinhos acima fazem parte da galeria “até gostei mas esperava mais".
É isso, vida que segue.

Aqui está a Miuccia, demonstrando-se preocupadíssima com a minha opinião kkkkkkkkkkk

Aqui está a Miuccia, demonstrando-se preocupadíssima com a minha opinião kkkkkkkkkkk

Mas que terror: a moda ainda não alcançou o cinema

A última coleção da Moschino, de resort 2020, foi desfilada em Hollywood e apostou no terror como inspiração.

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Oh, dear

Is my make-up that bad?

É uma coisa bem caricata, bem engraçada, com momentos, adivinha… guro kawaii (saiba o que falei sobre o guro kawaii nesse link). Tem mais fotos aqui nesse link do Fashionista e também divido com vocês o vídeo abaixo.

Olha a drag Violet Chachki dando um susto na Aquaria e na Pabllo Vittar! Risos!

Mas tanto a Moschino quanto outras marcas, tipo a Prada, estão apostando no terror antigo, o vintage, o do que os críticos especializados chamam de jump scare.

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Prada fall 2019

Com toque de noiva de Frankenstein

Aproveite para ver mais dessa coleção da Prada com texto da super Suzy Menkes aqui. Aproveito para deixar uma citação da própria Miuccia Prada tirada desse texto:

I would say that it reflects the current world, where there is a lot of danger, a lot of fear, a lot of war around us. Romance is an idea of opportunism, of good will, and of good sentiment – the opposite of fear. This is about love stories and introducing something positive. Romance means ideas.
— Miuccia Prada para Suzy Menkes

Medo. Pulo de susto. Já temos tudo isso na vida real atual. Mas poucos desfiles dessa onda fashion de terror acompanharam o chamado pós-terror, tendência atual dos cinemas. Escrevi sobre o terror da moda no site da Lilian Pacce em abril, mas antes de ter feito essa reflexão. Agora, penso que quatro dos poucos que já deram esse clima pós-terror, mais para o arrepio surreal do que para o grito primal, são…

Marc Jacobs spring 2014, precursor total. Uma trilha densa e uma sensação de que algo está para acontecer - mas não acontece!

A Calvin Klein de Raf Simons e seu “estado de emergência” com roupas para o apocalipse (faixa refletiva, balaclava, remendos) do fall 2018 (veja aqui), culminando na coleção de spring 2019 que homenageava um clássico do cinema, Tubarão, mas o juntava com outras coisas, como A Primeira Noite de um Homem, e suspendia o susto, transformando o clima de terror no desfile em algo mais psicológico, uma permanente sensação da eminência da tragédia, as águas da parede à espreita.
E no fim deu-se a tragédia fashion: essa foi a última coleção de Simons para a CK, e a marca anunciou que não vai mais fazer desfile.

Rick Owens fall 2019: o bizarro sempre esteve no terreno de Owens, circundando seu universo criativo. Pós-terror na veia.

Gucci fall 2018, que ficou famoso por causa da cabeça-acessório - risos risos risos. O estilista Alessandro Michele, que me parece um freak nerd que adora ficção-científica e filme B, depois também fez um desfile em Arles de cruise 2019 num cemitério, que também tem a ver com esse clima mas puxa mais para o assustador-padrão. Vale a menção de qualquer forma e o desfile é bem bom - assista no link.

Bom, você está viajando nesse papo de pós-terror? Eu também estava, e aí ouvi esse podcast:

Agora chegamos na pergunta de ouro: por que a moda ainda não engatou nesse pós-terror? As possibilidades são várias, mas eu tendo a ficar em duas:
. A moda de luxo, essa que vai para a passarela, ainda não conseguiu no geral processar essa ideia do pós-terror que está intimamente atrelada a soluções inventivas de trama e efeitos especiais em baixo orçamento. Eles não trabalham com baixo orçamento, e nem precisam. Um pode (e talvez deva) apresentar opulência. Outro tem que quebrar a cabeça para fazer um roteiro ótimo que caiba numa quantidade de dinheiro diminuta. Universos bem díspares.
. O pós-terror discute questões da sociedade que a moda no geral não quer discutir ou, quando discute, prefere usar de outros tipos de metáforas; acha que não precisa recorrer às ferramentas do terror para falar dessas questões.

Pensando bem a moda e o terror são vistos de maneira muito parecida. Ambos são considerados escapistas. Ambos são, no fundo, retratos da realidade e usam artifícios para representá-la de maneira mais criativa.

Minha lista pessoal para você que quer saber mais do pós-terror do que do terror fashion…

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Suspiria

A nova versão é tão fashion (de um jeito diferente) quanto a primeira

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Nós

Ao lado de Wild Wild Country, esse longa nos diz que usar vermelho é bizarro - e a gente quer usar mais ainda!

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Hereditário

Toni Colette: melhor que Olivia Colman, que Glenn Close e todo o mais. Se liga, Academia!

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Boa noite, mamãe

O futuro está nas mãos da nova geração…

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Corrente do Mal

Um nome horroroso para um filme incrível: uma atualização dos filmes adolescentes de terror dos anos 1980

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The Babadook

Não faça como eu, não demore tanto tempo para assistir Babadook caso ainda não tenha assistido. Não é o que você está pensando, garanto!