Tenha pelo menos uma história para contar, pelamor!

9 entre 10 releases de marcas de moda que eu recebo tem fotos que, se eu perder, se eu renomear, se eu esquecer… eu nunca vou saber qual foto é de qual marca.
Sinto muito, essa é a verdade: acho que de cada 10 marcas de moda por aí, 9 são:
. sem personalidade
. sem identidade
. sem história
. sem sal
. cópias de outras cópias
EM SUMA: são uma bobagem quer só está gastando recurso do planeta.

camiseta-branca.jpg

Sei muito bem que é difícil ter uma marca mais autêntica, diferente de tudo o que você vê. É difícil financeiramente, é difícil criativamente. Não basta você ser bom: tem que ter dinheiro para investir, tempo para criar, energia para não perder o fôlego e se render, estar no lugar certo e na hora certa. E às vezes, mesmo assim, não rola.
Mas então para quê? Para que essas 9 marcas seguem lançando coleções e gastando recursos do planeta? Qual é o propósito? Se você faz algo que não se diferencia do seu vizinho, por que raios você continua ralando e se ferrando?
Não entendo. Para mim, você precisa ter uma mínima história para contar, senão de que adianta?

Na moda brasileira tem cada vez menos marcas com personalidade e história para contar (ou se você quer uma palavra em inglês que diz exatamente a mesma coisa mas deixa tudo mais chique: storytelling). As jaquetas são iguais àquelas que você vê no fast-fashion; a única diferença é a etiqueta (que tem pouquíssimo valor, as outras peças também são iguais às do fast-fashion, ninguém se importa com essa etiqueta) e a experiência de compra (que no Brasil vai de mal a pior; poucas lojas empolgam e a maioria que empolga é multimarca, portanto o valor da etiqueta é menor que o valor da sacola). Então, quando uma marca brasileira tem história e personalidade, a gente chega a soltar fogos, comemore, “a minha moda não morreu", etc!

A MINHA MODA TÁ VIVA!

Entre exemplos bons, está o da The Paradise de Thomaz Azulay e Patrick Doering. Primeiramente baseada em bela estamparia, ela agora faz uma jogada de mestre: traz para si a história da mítica marca do pai do Thomaz, Yes Brazil!
Criada em 1979 por Simão Azulay, a Yes Brazil atualizou a estética do tropicalismo para os anos 1980, se transformando numa das coisas mais divertidas e revigorantes que a moda brasileira já assistiu. Thomaz homenageia esses 40 anos de lançamento com Patrick na coleção de primavera-verão 2019/20 que conta com nada menos que Xuxa na campanha clicada por Miro!

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Na esquerda, clique da campanha nova da The Paradise; na direita, montagem com imagens da Yes Brazil incluindo Simão Azulay, Gilberto Gil e Xuxa com look da chamada de estreia do Xou da Xuxa de 1986

No próximo dia 12/09, no Rio, deve rolar um desfile mara no Hotel Fairmont, em Copacabana, com Xuxa e Monique Evans (outra musa da marca) na passarela. Que tal? Confesso que estou de olho nessa camiseta aqui:

camiseta-xuxa.jpg

Ela traz imagens de uma campanha com a Xuxa nos anos 1980 com o modelo Firmino… e um filhote de leão da montanha! TUDO!

Clique de Frederico Mendes da mesma leva

Clique de Frederico Mendes da mesma leva

Não é a primeira vez que Xuxa relembra seus tempos de modelo para a Yes Brazil. No (finado?) Rio Moda Rio, os desfiles de abertura contaram com esse tom de nostalgia - entre eles, Yes Brazil e Xuxa com um look inspirado nesse mesmo ensaio acima:

Finalmente um desfile que a gente quer ver, né?
(mas não vou, não fui convidado e tenho que estar na firma todos os dias em SP… kkkkkk)

Bom desfile, Xu!

Bom desfile, Xu!

Qui êtes-vous, Celine Dion?

Você viu a capa da Harper's Bazaar US de setembro com Celine Dion?

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A cantora está bela, fotografada por Mario Sorrenti com styling da diretora global Carine Roitfeld. A capa faz parte da edição Icons, que se espalha pelo mundo - todas as Bazaar, inclusive a do Brasil, usam da temática nesse mês. Tem Alek Wek, Kate Moss, Awkwafina, Alicia Keys… Mas achei essa a mais bonita mesmo, não só pelo clique como pela referência. Você conhece o filme Qui êtes-vous, Polly Maggoo?

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Eu simplesmente AMO esse filme. Ele foca na modelo Polly Maggoo (Dorothy McGowan) e faz uma sátira ácida ao mundo da moda. Após apenas dois anos do lançamento de Courrèges de primavera-verão 1964, que fez com que o estilista ficasse conhecido como o criador da era espacial, o diretor William Klein armou essa comédia que chega a ter ares existenciais. E um desfile feito com… peças de alumínio?!

Acho Qui êtes-vous, Polly Maggoo? sensacional, com uma pegada narrativa diferentona e um atrevimento. Tem participação das modelos Peggy Moffitt e Donyale Luna, duas das musas da época.

Peggy & Donyale

Peggy & Donyale

E acima de tudo o longa tem um bom humor perante a moda que às vezes acho que nos falta - a gente se leva muito à sério, a leveza às vezes faz parte. Celine Dion também sabe disso - seu jeito de encarar a moda, faz um tempo, é com humor. Relembre então o vídeo que ela fez com a Vogue América, bem nessa pegada:

Adidas com Fiorucci, um sonho

Eu sei, sou incoerente, num post anterior digo que comprar é cafona e agora me mordo todo por uma coleção.

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Mas quem não se morderia

por esse amor em forma de meia?

A verdade é que me empolgo cada vez menos com lançamentos, mas quando me empolgo… é de coração. kkkkk
Essa coleção da Adidas com a Fiorucci já foi lançada e está à venda, até onde eu sei, pela internet. Existe uma loja Fiorucci em Londres mas não sei se ela recebeu essas peças. E o que também sei é que essa preciosidade em forma de pochete já está esgotada:

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(rezando para aparecer de volta no boxing day, alokaaaa kkkk)

A Fiorucci é uma marca de origem italiana criada por Elio Fiorucci.

Mais uma vez, quem tiver esse torrent, tô querendo!
Elio foi o herdeiro direto do Swinging London, da Biba, daquele fervo todo. Morreu em 2015, mas já tinha vendido a marca na época. Um casal inglês, Janie e Stephen Schaffer, é o dono atual. Acho legal porque eles seguem com a marca mas ao mesmo tempo triste, porque tinha um charme italiano nela que agora se foi, né?

fiorucci.jpg

No Brasil, entre 1979 e os anos 1990, o nome Fiorucci era de Gloria Kalil. Ela conta com muito orgulho que as variações dos populares anjinhos (de asas de morcego, caubói, de viseira…) eram brasileiríssimas!

6,190 Likes, 214 Comments - Gloria Kalil (@gloriakalil) on Instagram: "Tem alguma camiseta da Fiorucci em casa? Estou em busca das estampas dos anjinhos para o meu..."

No primeiro destaque dos stories no Insta da Gloria (@gloriakalil) ela conta melhor essa história.
Bom, é isso. Queremos Adidas loves Fiorucci. Pra ontem. E camisetas vintage com esses anjinhos alternativos da Fiorucci também.

fiorucci-adidas.jpg

Devolvam o meu cavaleiro queer de Andrômeda!

Você gosta de Cavaleiros do Zodíaco? A 2nd Floor, que lançou uma coleção licenciada em 2015, chega com a segunda leva de camisetas agora, provavelmente na onda do remake da Netflix que estreou no serviço de streaming em julho.

Que amor! <3

Que amor! <3

Os desenhos são da versão original

Os desenhos são da versão original

São 12 camisetas e 5 moletons que chegam nas lojas a partir de 2/09. As camisetas vão custar de R$ 139 a R$ 189. Os moletons saem por R$ 479.

Aí a gente aproveita para falar dessa nova versão de Cavaleiros, em CGI. O problema não é ser CGI - mas é um CGI meio tosco, tipo de Playstation 2 (nem sei do que estou falando, parei de jogar videogame no Supernintendo, então leia essa fase do tipo "CGI tosco como o de um videogame antigo"). Se é para ser meio tosquinho assim, melhor continuar no desenho manual mesmo, né? Mas a verdade é que o CGI deve agilizar a produção, provavelmente.
Você assistiu? Eu só vi o primeiro e o segundo episódios. Achei qualquer coisa, mas acho que de uma amostra tão pequena não dá para chegar em muitas conclusões.
Só que, você já deve saber, o cavaleiro de Andrômeda Shun virou Shaun, uma mulher.

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Na época (dezembro de 2018 para ser mais exato), o roteirista Eugene Son mandou o maior textão para explicar porque Andrômeda agora era uma mulher. Usou a carta da representatividade para dizer que eles precisavam incluir uma personagem feminina forte na turma dos cavaleiros de bronze.
A Toei, na figura do produtor Yoshi Ikezawa, fez a mesma coisa.
Só que eles falharam em responder um pequeno detalhe: por que o cavaleiro de Andrômeda, exatamente, e não outro?
Escolhendo Shun e transformando-o em Shaun, eles falham ao estragar a questão da representatividade queer, já que era um tanto óbvio que Shun era diferente dos outros cavaleiros, e a sua relação com Hyoga de Cisne reforçava ainda mais esse ponto.

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Lembro-me de entender que Shun era gay, simples assim. Quero deixar claro que acho a questão da representatividade feminina importante, mas por que não transformar Shiryu? Ou criar uma nova personagem? Ao transformar Shun em Shaun usando o discurso de “estamos sendo politicamente corretos", a produção é ainda mais perversa - o que ocorre nessa nova versão é o apagamento de um elemento queer que poderia incomodar os pais mais conservadores de 2019 com uma desculpa que poderia pegar bem entre os mais liberais.
Para mim não colou. Fiquei com raiva mesmo. Sem comparação com os tontos que reclamaram da Pequena Sereia negra, do Batman Pattinson, do Ghostbusters das mulheres - acredito que colocar a turma queer contra uma reivindicação feminista é coisa de vilão de ficção mesmo. Que nojentos FDP!

Então pinta aquele agradecimento público para a 2nd Floor - como dá para ver na primeira imagem, eles continuam usando a imagem de Shun. <3 #shunforever

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A Calvin Klein continua fingindo que gosta de diversidade, mas é tão fake que a gente devia dar risada

Lembra que eu falei da Fluvia Lacerda? Então.
Lembra também que eu falei da Calvin Klein também?

A Calvin Klein acabou de lançar sua nova campanha de underwear com esse conceito #IRL (In real life, kkkkk). Entre os convidados magros e/ou sarados tipo Diplo, Naomi Campbell e Bella Hadid figura a querida Beth Ditto, cantora e vocalista do The Gossip.
Pensei: oba, que legal!
Aí vi a foto.

E é a única das fotos da campanha na qual não aparece a barriga!

E é a única das fotos da campanha na qual não aparece a barriga!

Parabéns, Calvin Klein!
Um beijo e que a gordofobia um dia acabe!