O que aconteceu com Lady Zu, Miss Lene e Sarah Regina, o trio das rainhas disco?

Bom, sempre existiu a Gretchen (eu amo dizer começar um post com uma frase mentirosa, porque na verdade Maria Odete nasceu em 1959 e Gretchen lançou seu primeiro grande hit, Freak Le Boom Boom, lá por 1979 – e sempre é tempo demais, né?).
Estou falando disso para, antes de mais nada, justificar o título desse post. Hoje acho que a gente considera a Gretchen algo que não é exatamente uma rainha de disco music brasileira: primeiro porque acho que os maiores hits dela não são exatamente disco music, é música pop dançante que mistura alguns poucos elementos de disco com outras coisas. E segundo porque sinceramente tenho a impressão que a maioria das pessoas que compartilha memes da Gretchen a conhece mais como personagem de meme do que exatamente pelos hits. Mesmo que a garotada de 20 anos conheça o Melô do Piripipi ou Conga Conga Conga, é em outra pegada. Não é a música que se espalha pela internet, é o rosto carismático daquela que, sim, já foi uma das maiores vendedoras de disco do país.

Então, quem são as rainhas da disco music brasileira? Pode ter gente que ache ruim eu ter deixado de fora Elizângela ou mesmo a intérprete de uma das minhas músicas preferidas da disco music brasileira, a Brenda. O fato é que ambas só tiveram um hit de disco music: Elizângela com Pertinho de Você e Brenda com Sábado que Vem. Então escolhi outras três por um conjunto de competência, alcance e, er… élan?
Se não concorda, tudo bem, pode discordar aí na sua casa. Paciência.
Para mim as rainhas da disco music brasileira são: Lady Zu, Miss Lene e Sarah Regina.
Obs.: Sidney Magal é o rei (Ronaldo Corrêa, um dos Golden Boys, deveria dividir essa coroa se o mundo fosse justo, mas não é e ele nunca chegou a fazer tanto sucesso em carreira solo).

Depois dessa longuíssima introdução de claramente alguém que ficou muito tempo sem escrever no próprio blog e esqueceu como é bom ser objetivo, vamos à pergunta: afinal, o que aconteceu com Zuleide, Frankislene e Sarah? Olha… leia até o final porque eu prometo, a última história é surpreendente e me deixou DE CARA.

Eu olhei para Lady Zu e disse: artista

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Vamos falar bem claro: Lady Zu é uma baita cantora. Tem voz, tem técnica, é impressionante. E no começo também tinha repertório.
O que pouca gente sabe: Zuleide Santos Silva era artista mirim. Chegou a participar ativamente de programas de talentos infantis que aconteciam em SP e fez aulas de canto. Aí cansou. Na adolescência, começou a se encantar pelo mundo das artes e entretenimento de novo. Batalhou por um espaço com a cara e com a coragem, batendo na porta de gente importante até conseguir uma chance na Phonogram com Marcos Maynard, o cara que depois ainda estaria por trás dos sucessos do RPM e Ritchie, para citar apenas dois estouros de vendas.
Maynard pediu música no estilo disco para Paulinho Camargo e para Totó Mugabe. São elas que formam o primeiro compacto da rebatizada Lady Zu – por Roberto Menescal, dizem, que fazia parte do time da Phonogram.
Paulinho faria outras músicas disco depois: para Cornélius, por exemplo, e Dudu França. Mas foi essa primeira que realmente explodiu. A Noite Vai Chegar entrou na trilha sonora da novela Sem Lenço Sem Documento e vendeu que nem água.
E qual era a de Totó? Eu Prefiro Dançar é muito boa, mais black ("pega-se um livro bom / ou se toma alguma coisa para adormecer / eu prefiro dançar, yeah!" - como resistir?) e acabou de fora do primeiro disco de Lady Zu (e não devia!). Totó é um dos tantos elos perdidos da black music brasileira – se a gente já não valorizava direito Cassiano, Tim Maia, Gerson King Combo, Wilson Simonal, o que diríamos de Totó… Mas o cara era BOM. BOM DEMAIS.

Totó já estava por aí fazia tempo naquele fim dos anos 1970. Em 1972, já tinha rolado uma tentativa de carreira enquanto cantor no Totó & Cia Ltda. com Mãe Preta:

Mesmo antes disso, Totó já era compositor gravado. Talvez a principal música nessa época composta por Totó era Não Creio em Mais Nada, gravada por Paulo Sérgio em 1970 e que lembra a fase soul de Roberto Carlos. É muito boa, de verdade. Play:

Mas sinceramente, me parece que Lady Zu foi a maior intérprete de Totó.
E Totó e Paulinho foram os principais compositores de Lady Zu nessa fase áurea dos dois primeiros álbuns dela. O primeiro, lançado ainda em 1978 para aproveitar o embalo do sucesso do compacto, é um clássico imperdível.

E o segundo, de 1979 e batizado de Fêmea Brasileira (a música homônima é de ninguém menos que Marku Ribas), ainda conta com composições de Paulinho e Totó. Totó também participou cantando do primeiro single, um delicioso samba soul chamado Hora da União.

Que mais? Chegou Luis Vagner para fazer outro dueto (em Boneca de Pixe de Ary Barroso e Luís Iglésias, outrora do repertório de Carmen Miranda e de repente atualizada com tons jazzísticos). Vagner já tinha composto uma do álbum anterior, Eu Queria Falar Com Você, em parceria com Tom Gomes. E o álbum fecha com… A Banda, de Chico Buarque! Em ritmo de disco music, isso mesmo!

Lady Zu diz que continuou fazendo shows, que a coisa para ela nunca ficou necessariamente ruim no âmbito profissional. Mas o fato é que a disco music acabou, escurraçada. Acho que já falei por aqui sobre isso, né? Tinha um fundo (para não dizer uma frente) homofóbico e racista nessa rejeição absoluta ao estilo musical, para além da exaustão dessa dominação nas rádios. (O sertanejo domina, continua dominando, até se renova mas… nunca cansa, mesmo superexposto, né? Então tem caroço nesse angu.)
Nos anos 1980, chegou o BRock de classe média branca para balançar todas as estruturas, mas quem continuou reinando de fato foi Roberto Carlos, cada vez mais romântico.

Em 1988, o disco-projeto Alma Negra resgatou uma turma da soul music brasileira, com artistas incríveis reponsáveis por uma ou mais faixas. Lady Zu, que nunca foi estranha ao soul (Só Você, por exemplo, por mais que tenha um instrumental superdisco, tinha uma estrutura melódica bem soul), participou com Junto a Mim e Vou Vivendo, ambas de Frankye Arduini (da dupla com Tony Bizarro, Tony & Frankye, considerados percussores do soul no Brasil). Com Zu, estavam no projeto o próprio Tony Bizarro, Tony Tornado, Carlinhos Trompete e aquele mesmo Luis Vagner que participou de Boneca de Pixe.

Nem preciso dizer que Alma Negra é raríssimo, né?

Lady Zu só lançou um novo disco solo em 1989. É o Louco Amor, e ela deve ter gostado do romantismo soul que experimentou em Alma Negra porque esse álbum todo também namora esse estilo. De Totó, nem sombra (tentei achar a data em que ele morreu e não consegui, mas é provável que ele já tivesse morrido na época, porque a gente só identifica composições novas dele gravadas até o começo dos anos 1980). De Paulinho, Louco Amor tem apenas uma regravação de A Noite Vai Chegar.
Esse trabalho, com seus arranjos sintetizados e suas baladas, está bem de acordo com um estilo radiofônico popular de sua época. Junto a Mim, do Alma Negra, também estava aqui, assim como Contrato Assinado de Chico Roque e Paulo Sérgio Valle, que é tão a cara de Sandra de Sá que… acabou regravada por Sandra de Sá em 1991, no disco Lucky!.

Louco Amor é o único disco solo de Lady Zu que não está no Spotify.

Mais uma década passou. Em 2001, os dois primeiros álbuns da Lady Zu finalmente receberam reedição em CD e ela começou a ser redescoberta por um novo público. A cantora voltou para os braços da música dançante em 2002 com Number One. Entre regravações e novidades, ela também não esqueceu do soul dos anos 1980 (o que faz sentido tanto na sua carreira quanto para a época, que tinha bastante R&B nas paradas).

Aí você pergunta: certo. Mas e hoje? Como está a Lady Zu hoje?

Eu te digo: está ótima. Se quiser, dê um play aí e comprove por si mesmo:

Sim, como eu disse ela sempre teve uma voz incrível. É surreal que ela não seja celebrada como merece. Na segunda parte dessa entrevista do vídeo, ela faz uma reflexão bem contundente e pede para que não digam, quando ela morrer, que ela "vai fazer falta" – porque ela acha que as pessoas precisam perceber o valor dos artistas em vida e não adianta tentar valorizá-lo quando ele não puder mais colher os louros.

Justiça para Miss Lene

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Uma das coisas que eu mais tenho curiosidade de escutar na vida é da Lena e da Leda. Nunca achei nada. Elas chegaram a se apresentar na Tupi, extinta rede de TV, no programa Show do Mercantil que era gravado (ou era ao vivo, não sei) em Fortaleza.
E o motivo de eu ter tanta curiosidade é que as irmãs Lena e Leda eram na verdade Frankislene e… putz, não sei o nome real dela, mas o artístico foi Mary Jô.
Essa Mary Jô:

Frankislene, que depois virou Miss Lene, e Mary Jô eram irmãs de verdade. Mary só lançou um compacto, com Tempo de Sorrir e a ótima Dance Livre, em 1978. "Hoje a noite vou sair para dançar / e quem sabe eu possa encontrar / o carinha que um dia me falou / que dançando eu posso encontrar o amor / por isso danço livre!” Quem resiste a essa letra?

Mary Jô virou advogada.

Já Miss Lene fez muito sucesso também em 1978 com Quem é Ele e Deixa a Música Tocar.

Na ficha técnica do primeiro disco de Miss Lene, homônimo e lançado em 1978 mesmo, consta Fernando Adour na direção de produção com William Luna – ele também compôs duas músicas do lado B, É Só Você com Simonelli e Agora Eu Sei sozinho.
Adour depois produziu o começo da fase pop de Guilherme Arantes tipo Planeta Água e eu juro que isso é relevante mais para frente, segura essa informação. Entre outras coisas, ele também é quem assina a produção de nada mais, nada menos que o CD ao vivo da Banda Eva, aquele clássico de 1997. Eu sei que você lembra.

Mas outro nome que me chama a atenção é o do compositor Fernando Santos, que assina Não Vou Me Grilar (sozinho), É Só Mexer (com Carlos André) e Quem É Ele (com Betto Douglas).
Você sabe quem é Fernando Santos?
Deveria… Prepare-se para mais uma digressão desse seu querido blog:

Santos é daqueles capítulos da música pop brasileira que seguem perdidos. Como cantor, lançou dois discos, ambos em 1978. O primeiro é inteiro em ritmo de disco music e com temática umbandista.
É isso mesmo. Disco music umbandista. É uma das coisas mais maravilhosas.

A notícia boa é que ele até está presente no Spotify, mas a ruim é que o disco que está disponível não é o de disco music e sim o outro de 1978 (creditado erroneamente como se fosse de 2005). Não me entenda mal, ele não é ruim. Mas claro, o que a gente queria ouvir sempre é essa, digamos, fusion.
Me parece que a ideia de misturar disco music com umbanda foi de, adivinha, Carlos Imperial. É a cara dele. E quando ele apresenta Fernando no seu programa, ali no vídeo de Omulu, dá a entender que está bem envolvido.
Então, já sabe: se ver essa capa por aí, é para comprar e me dar porque sou um cara muito legal >>

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(Eu disse que esse post ia ficando cada vez melhor)

OK, voltando a Miss Lene. O segundo álbum dela, de 1980, é uma tentativa de se desvencilhar da disco music que já estava ficando saturadíssima.
E é outra preciosidade que, se você ver dando sopa, também serve de presente para esse humilde escrivão que vos fala.

Então vamos lá: Fernando Adour seguia ali e fez algumas versões para esse repertório como A Carta (de The Letter, lançada originalmente pelo The Box Top em 1967 e depois regravada por Joe Cocker em 1970) e O Homem (uma versão absolutamente incrível de The Man With The Child in His Eyes de Kate Bush!) e também assina as originais O Tempo Chegou (com Aloysio Reis) e O Princípio e Fim (sozinho).
O outro Fernando sumiu.
Outros compositores destaque do disco são Márcio Greyck, que também era próximo de Adour pelo que entendi, com Chega Mais (que não chega a ser disco music mas é meio samba funk); Tim Maia com Sinal de Desejo, música que era inédita e nunca mais foi gravada (é ÓTIMA); e… Guilherme Arantes. Eu disse que era para lembrar dele. Ele deu a também inédita na época Vivendo Com Medo, que já teve duas regravações obscuras, uma com Marya Bravo e outra com Netinho (não o do pagode, outro).
Vivendo Com Medo é surrealmente incrível principalmente porque foi lançada em pleno comecinho de abertura, né? Você pode imaginar o teor da letra, quase político e superpop.

Miss Lene ainda chegou a gravar alguns compactos depois dessa maravilha que flopou. Em 1983, rolou seu último single, dançante, funkeadíssimo, chamado… Dance!

Bom. Aí Miss Lene casou com um empresário suíço que ela conheceu em um show e foi morar na Europa. Depois, conheceu um outro amor por lá e teve uma filha.
A história acabou?
Não.
Ela se separou.
Por volta de 2012, isso apareceu:

Isso mesmo.
Volta a fita.
Láááá no começo da carreira de Miss Lene, ela era chamada de Tina Charles brasileira (assim como Lady Zu era chamada de Donna Summer brasileira). Só que Lene realmente tinha autorização registrada para cantar as músicas de Tina no Brasil. Tipo "cover oficial". Ou seja, é incrível que ela tenha gravado uma versão forró (Frankislene é cearense) de I Love To Love (talvez o maior sucesso da carreira de Tina).

Agora, Miss Lene está no Brasil ou na Suíça? Não faço ideia. A gente encontra vídeos recentes dela tanto aqui quanto lá. O que eu acho é que ela está na Europa e uma Michelle, que é parente dela e tem um canal de YouTube, subiu faz alguns meses esse vídeo aqui:

Michelle é sobrinha na fala de Miss Lene nesse vídeo. Mas também é o nome da filha dela! Que confusão, né? Risos! Não dá para saber qual é a dona do canal do YouTube.
(E se você achou a Miss Lene muito nova no vídeo, é porque ela começou muito nova mesmo!)

Sarah Regina, a voz que você continua ouvindo

Consta que, segundo Mister Sam (o produtor dos primeiros anos de ouro da Gretchen), ele namorava Sarah Regina antes de ter começado a trabalhar com a Gretchen, ela cantava bem e tal, então rolaram essas primeiras gravações em 1978. Entre elas, a de Amor Bandido. Adivinha quem é o compositor? Paulinho Camargo, em parceria com Max Jr! Que tal?

No começo, ela assinava apenas Sarah. Saiu um EP nessa mesma época que se chamava A Última Dança (também título de uma versão bacanuda, linda, de Last Dance do repertório de Donna Summer) e contava com outro hit, Deixe Todo Esse Amor Pra Depois:

(Sabe quem regravou Deixe Todo Esse Amor Pra Depois em 2004? Pois é, coleguinha… Simone e Simaria!)

Bom, todas essas coisas produzidas pelo Mister Sam ficaram no passado quando ele encontrou o sucesso gigantesco com a Gretchen e Sarah, por sua vez, seguiu em frente com o LP Felina de 1982. Ela mesma diz que não queria cantar disco music e seu sonho era ser uma cantora de MPBdá uma olhada nessa entrevista.

Felina continha Sombras, da trilha sonora de Os Ricos Também Choram do SBT. E já não tinha nada a ver com disco music.

Acho que o nome-chave que aparece entre os compositores aqui é Mário Lúcio de Freitas. Ele é o autor de 6 das 12 músicas e ainda fez a versão de duas (People, do musical Funny Girl, virou A Versão Que Ficou; Sweet France, do flautista Zamfir, ganhou letra e virou ).
Mário foi casado com Sarah (não sei em que ano eles se casaram, exatamente). Ele virou um importante produtor de áudio, músicas de abertura de programas, jingles, dublagem – é o dono do Gota Mágica. Os brasileiros fãs de Chaves sabem: ele é a voz do Godinez! Então, tanto Mário quanto a própria Sarah começaram a enveredar cada vez mais para esse mundo da música da TV.

Ainda na carreira de cantora, Sarah lançaria, por exemplo, um compacto com A Turminha Levada da Breca que era da trilha sonora da novela infantil Chispita e incluía Anjo Bom e A Família.

"Um anjo boooooom / faz falta"
(Ferrou, vai ficar na minha cabeça por uma semana)

A verdade é que a voz de Sarah acabou emprestada para mil coisas. Mil coisas mesmo. Tipo… a Jem. Da Jem e as Hologramas.
Sim, a voz na música em português de Jem é de Sarah Regina.

Eu sei, você já foi fã da Sarah Regina e nem sabia, né?
Uma curiosidade: nesse vídeo aqui de Um Animal Selvagem, das Desajustadas, a banda rival das Hologramas, dizem que a gente escuta a voz de… Lady Zu! Em teoria, ela era a "voz de cantora”de Urânia. E Sarah fazia os backing vocals das Desajustadas também, então talvez esse seja o único registro do encontro entre duas rainhas da disco music brasileira!!!
Só que eu não acho a voz da Urânia muito parecida com a da Lady Zu, a menos que ela tenha caprichado na interpretação com uma dicção diferentona. Parece alguém forçando a voz para ficar mais grossa.
O Miguel Andrade já falou no La Dolce Vita que é isso mesmo, Lady Zu é Urânia. Eu sei lá. É que consigo identificar muito mais a voz da Sarah, gente, desculpa.

Sobre Sarah: não acabou aí. Abertura clássica de Cavaleiros do Zodíaco? Sarah Regina estava lá com Mário, Sueli Gondin e Rubinho Ribeiro. A Lenda da Luz da Lua, CRÁSSICASSO de Sailor Moon? Sarah. Mas essa daqui eu cheguei a lacrimejar quando descobri que era ela – e o melhor, parece mesmo a Sarah, dá super para reconhecer:

Ah, gente! Se mexe com Sakura Card Captors, mexe também com o nosso coração <3

Esse post foi uma homenagem a essas maravilhosas cantoras que ainda não possuem o reconhecimento que merecem.
Quem gostou desse, pode também curtir esses outros:
. Outra cantora de disco music brasileira (e que na verdade é gringa!): Brenda
. Um monte de disco music brasileira
. O gênio do pop Mister Sam

Completamente arrependidah de não ter ido na Casa de Criadores nesse 3º dia

Meu Deus. Como pude faltar. Fernando Cozendey fez uma coleção em minha homenagem e não me avisou (#ALOKA).

Sério, olha isso:

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A maravilhosa Sailor Moon <3 <3 <3

Sim, a gente quer para PENDURAR NA SALA

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Todos sabemos

que provavelmente vou querer essa blusa

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OU ESSA

O Bulbassauro arrasa <3

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Justiça para Shun de Andrômeda

A bi mais linda de todos os animes produzidos no universo

Resumindo, Cozendey buscou no Japão as suas referências para a nova coleção. Essa pode ser considerada uma volta ao figurativo pop em lycra (é tudo recorte de tecido!), mas também tinham outras coisas bacanas: referência a origami, à caligrafia, ao butô, carpa, sakura, videogame e mais um monte de outras coisas que obviamente eu saberia dizer se tivesse tido vergonha na cara e ido conversar com ele no backstage. No rosto, as máscaras remetem às que os japoneses usam em época de alergia, ou quando não querem ficar doentes, ou quando estão doentes e não querem passar doença para os outros.

Devolvam o meu cavaleiro queer de Andrômeda!

Você gosta de Cavaleiros do Zodíaco? A 2nd Floor, que lançou uma coleção licenciada em 2015, chega com a segunda leva de camisetas agora, provavelmente na onda do remake da Netflix que estreou no serviço de streaming em julho.

Que amor! &lt;3

Que amor! <3

Os desenhos são da versão original

Os desenhos são da versão original

São 12 camisetas e 5 moletons que chegam nas lojas a partir de 2/09. As camisetas vão custar de R$ 139 a R$ 189. Os moletons saem por R$ 479.

Aí a gente aproveita para falar dessa nova versão de Cavaleiros, em CGI. O problema não é ser CGI - mas é um CGI meio tosco, tipo de Playstation 2 (nem sei do que estou falando, parei de jogar videogame no Supernintendo, então leia essa fase do tipo "CGI tosco como o de um videogame antigo"). Se é para ser meio tosquinho assim, melhor continuar no desenho manual mesmo, né? Mas a verdade é que o CGI deve agilizar a produção, provavelmente.
Você assistiu? Eu só vi o primeiro e o segundo episódios. Achei qualquer coisa, mas acho que de uma amostra tão pequena não dá para chegar em muitas conclusões.
Só que, você já deve saber, o cavaleiro de Andrômeda Shun virou Shaun, uma mulher.

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Na época (dezembro de 2018 para ser mais exato), o roteirista Eugene Son mandou o maior textão para explicar porque Andrômeda agora era uma mulher. Usou a carta da representatividade para dizer que eles precisavam incluir uma personagem feminina forte na turma dos cavaleiros de bronze.
A Toei, na figura do produtor Yoshi Ikezawa, fez a mesma coisa.
Só que eles falharam em responder um pequeno detalhe: por que o cavaleiro de Andrômeda, exatamente, e não outro?
Escolhendo Shun e transformando-o em Shaun, eles falham ao estragar a questão da representatividade queer, já que era um tanto óbvio que Shun era diferente dos outros cavaleiros, e a sua relação com Hyoga de Cisne reforçava ainda mais esse ponto.

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Lembro-me de entender que Shun era gay, simples assim. Quero deixar claro que acho a questão da representatividade feminina importante, mas por que não transformar Shiryu? Ou criar uma nova personagem? Ao transformar Shun em Shaun usando o discurso de “estamos sendo politicamente corretos", a produção é ainda mais perversa - o que ocorre nessa nova versão é o apagamento de um elemento queer que poderia incomodar os pais mais conservadores de 2019 com uma desculpa que poderia pegar bem entre os mais liberais.
Para mim não colou. Fiquei com raiva mesmo. Sem comparação com os tontos que reclamaram da Pequena Sereia negra, do Batman Pattinson, do Ghostbusters das mulheres - acredito que colocar a turma queer contra uma reivindicação feminista é coisa de vilão de ficção mesmo. Que nojentos FDP!

Então pinta aquele agradecimento público para a 2nd Floor - como dá para ver na primeira imagem, eles continuam usando a imagem de Shun. <3 #shunforever

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Na dúvida, aposte na memória afetiva

Existiram vários posts hits durante os meus 10 anos no site da Lilian Pacce. Comumente eles envolveram Gisele Bündchen, mortes como a do Karl Lagerfeld, famosas que estavam no auge tipo Anitta… Mas um desses posts vai te surpreender. O que bombou demais há quase 10 anos foram… os talheres Comer Brincando.

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Sim, estou ouvindo seu suspiro

ao ver essa foto

Os talheres Comer Brincando foram desenhados por José Carlos Bornancini (falecido em 2008) e Nelson Petzold em 1975 e eram produzidos no sul, pela Hércules, entre os anos 70 e 80. Cerca de 2,5 milhões de unidades foram vendidas do Príncipe Garfo, Cão Faquinha e Princesa Colher, marcando toda uma geração de crianças. O trabalho dos designers costumava envolver emoção com o comportamento das pessoas – por isso a foto dos Comer Brincando sensibilizou tanta gente no post da exposição! A notícia triste que temos é eles que não são mais comercializados nem produzidos – mas talvez possam ser encontrados em brechós e antiquários, quem sabe?
Eu tinha, e você?

Eu tinha, e você?

Existe um fascínio sobre a memória afetiva - se você mexe do jeito certo com ela, a coisa vira um sucesso. O Alexandre Herchcovitch tem feito uma venda tipo desapego de peças pessoais via Instagram: o HerchcovitchCloset. Entre as peças já teve algumas daquelas famosas camisetas que traziam imagens da Disney: Branca de Neve, Bambi… Você lembra?

Eu amava mas nunca tive; quis ter mas, quando vi, todo mundo tinha - e aí não quis ter o que todo mundo tinha, claro. Risos!

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A coleção inteira era muito boa!

Outono-inverno 2003!

Ícones de infância funcionam demais - especialmente entre xennials e millennials, acho que é a nossa saudade da inocência. E acho que também é nesse público que Laços, o filme live-action da Turma da Mônica que deve estrear em 27/07, também aposta, além do infantil.

(Sim, estou muito empolgado para assistir!)

Falando em Turma da Mônica, já teve estilista que surfou lindamente nessa onda. Era o Thiago Marcon na época que se apresentava solo na Casa de Criadores (faz mais de 10 anos, abafa o caso) e que hoje é estilista da 2nd Floor da Ellus.

De Cranicola da turma do Penadinho ao Astronauta! Thiago já fazia lá no começo o que é sua especialidade até hoje: uma roupa para uma menina descolada e bonitinha. Ele também pratica essa brincadeira da memória afetiva na 2nd Floor: já teve Cavaleiros do Zodíaco, Mulher-Maravilha

O que será que novas coleções poderiam explorar como licenciamento para mexer com essa nossa memória afetiva e, para falar um termo usado entre os jovens, hitar? Pensei em três coisinhas:

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Monteiro Lobato tem mil problemas

a começar pelo racismo. Mas acho que o Sítio do Picapau Amarelo continua como referência de infância pra muita gente!

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Pisa menos!!

A Turma do Arrepio era chique demais pra ser esquecida

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Amava a Get Along Gang

Era um dos meus desenhos preferidos!

Falei bastante de desenho de infância, né? Mas deixei de fora um ícone reverenciado por muitos, que inclusive Alexandre Herchcovitch também já usou. Mas isso é um tema para um próximo post porque, hello, ela merece…

E você, que memória afetiva gostaria de ver em uma roupa?