O que significa o fim da era Demna Gvasalia na Vetements?

Spoiler: a princípio, na minha opinião, nada.
Mas você, caro leitor, sabe o que é Vetements para começo de conversa?

Há 5 anos a moda tomava um susto: era a Vetements de dois irmãos da Geórgia (o país do leste europeu, não o estado dos EUA) que virava o hype da vez. Demna Gvasalia era o estilista e Guram Gvasalia segue atendendo como CEO da marca que usa a ironia e o streetwear jovem como principal apelo no seu caldeirão, pelo menos até agora. E é importante citar também a Lotta Volkova, stylist importante no desenvolvimento da estética deles durante esse tempo.

Nesse meio tempo Demna foi chamado para substituir Alexander Wang na Balenciaga para espanto de todos - e, espantosamente, se deu bem, injetando essa sua verve irônica na marca que já tinha história e técnica de modelagem na sua origem, virou o maior hype em seu renascimento pelas mãos de Nicolas Ghesquière na virada dos anos 1990 para 2000 adentro (ai, Gabi, só quem viveu sabe…) e na versão de Wang ficou muito autorreverente (a melhor coleção de Wang foi a última, um boudoir chic que deixou a gente com um gosto de quero mais na boca - por que só ficou bom no fim?). Demna fez coisas como a bota-meia com estampa de notas de dinheiro, a sacola da Ikea (lembra??), o crocs plataforma, o brinco-alfinete de segurança…

Agora Demna deve seguir na Balenciaga mas anunciou sua saída da Vetements. A marca atualmente tem sua base em Zurique (?! que imposto menor é esse, minha gente? Será que Zurique é o futuro?) e Guram anunciou em comunicado oficial reproduzido pelo WWD que eles sempre foram “um coletivo de mentes criativas. Vamos continuar a ampliar os limites para ainda mais longe, respeitando os códigos e os valores autênticos da marca, e seguir apoiando criatividade honesta e talento genuíno".

Mas quais são os códigos & valores da Vetements?
Ela sempre assumiu um papel provocativo nesses cinco anos, quase sádico: fez o pessoal da moda ir em apresentações em lugares como McDonald's ou no darkroom de um clube de sexo gay; fez o pessoal da moda ter que comentar (e usar!) looks com logos da transportadora DHL ou do videogame Playstation. Exagerou o oversize, a ombreira; adiantou a volta da estética anos 1990. Não é que a Vetements (e consequentemente Demna) vê a poesia do cotidiano e a romantiza, nem que ele transforma o que seria de "mal gosto” em desejável como é o caso de Miuccia Prada. Ele simplesmente recontextualiza o comum; dá status fashion ao que não tinha esse status. É um jogo de copy-paste e ganha quem fizer o copy-paste mais absurdo e impensável.
É a cara da ironia hipster dos anos 2000.
Mas será que em apenas 5 anos essa ironia vetemânica que abalou Paris… cansou Paris?
Meu palpite é que ainda não.

Primeiro que Demna deve seguir com esse caminho na Balenciaga, onde ele possui o back up de um ateliê minucioso que dá as suas loucurinhas o acabamento exato para elas se transformarem em loucurinhas de luxo, carérrimas.
Segundo que a Gucci também faz quase isso com mais poesia e romantismo (e sucesso); e a Moschino também faz quase isso com menos finesse (e mais referências pop e espetacularização, portanto com resultado mais popular).
Porém, e a Vetements, vai continuar nessa sem Gvasalia?
É uma situação complicada: se não tiver um sucessor para dar cara a tapa (e à marca), assinando como coletivo, a Vetements pode parecer mais diluída, uma versão menor da era Demna. Se tiver um sucessor e ele seguir na mesma ironia, pode parecer reducionismo. E existe uma forma diferente de ironia? Ou a pessoa que assumir esse cargo pode ter um trabalho que ironiza a ironia anterior - coisa que seria bem hipster.
Ou a Vetements vai deixar de ser irônica. O que seria bem irônico.

It's like raaaaaaaaaainnnnn

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