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Um curta muito bonito

August 18, 2021 by Jorge Wakabara in cinema

Não sei se vocês tão sabendo, mas nesse exato momento (e até 29/08) está rolando a Mostra Internacional Curta o Gênero, bem bacana, recheada de coisa boa para ver (curtas, como o próprio nome do evento já diz, que falam principalmente sobre gênero e sexualidade). É bom para a gente sair da nossa bolha e ver outras realidades e também para deixar descansar um pouco o catálogo de streaming (aliás, eu tô sentindo que estou pagando cada vez mais e me interessando cada vez menos pelos lançamentos, isso também está acontecendo com vocês?). Você acessa a mostra, que também inclui exibição de fotos, ilustrações, músicas, seminários e até programação infantil, nesse link.

Mas na verdade eu queria falar sobre um dos curtas que estão em exibição. Na verdade foi uma sugestão de pauta, coisa que é rara para esse site que vos fala (sem dramas, eu não tenho expectativas das assessorias incluírem meu blog nos seus mailings, está tudo bem kkkkkk). Mas o que foi muito instigante foi que eu recebi a sugestão de pauta, achei legal, fui me informando ali e… percebi só depois que conhecia aquele menino que aparece nas filmagens do documentário!

Esse é o Vicente bem novinho no doc

Esse é o Vicente bem novinho no doc

Não me lembro de ter conversado mais que cinco minutos com o Vicente, mas tem todo um círculo de amigos dele do qual eu sou bem próximo. Então esse curta, para mim, também teve esse lado interessante, meio BBB meio stalker, de conhecê-lo um pouco melhor.
Mas vamos ao curta porque esse texto não é sobre mim e sim sobre o curta: O Amigo do Meu Tio é uma narrativa construída com imagens caseiras da câmera filmadora do pai do Vicente Concilio, dirigida por Renato Turnes e narrada pelo próprio Vicente. É um documentário porque retrata a infância dele, a homossexualidade já presente ali, indisfarçável, e a paixonite no amigo do tio, o Chulé.
Eu não vou entregar tudo, mas é difícil porque o curta só tem oito minutinhos. Dá para assistir na hora do almoço, ou enquanto espera a roupa bater na máquina, ou enquanto o jantar do delivery não chega. Mas são oito minutos que ficam ecoando, principalmente para quem também foi uma criança viada. E especialmente para quem, como o Vicente, cresceu nos anos 1980 e 1990. Quando foi que você percebeu que se sentia atraído pelo mesmo sexo? Você sentia as expectativas da sua família para uma heteronormatividade? Você acha que crescer entre os anos 1980 e 1990 fez a sua vivência ser diferente da de outros LGBTQIA+ em que sentidos?

O Amigo do Meu Tio faz parte da sessão Muitas Outras Masculinidades da mostra. Já deixo o link aqui na mão para quem quer ir direto.
Bom filme! ;)

August 18, 2021 /Jorge Wakabara
Mostra Internacional Curta o Gênero, gênero, sexualidade, curta metragem, Vicente Concilio, O Amigo do Meu Tio, Renato Turnes, documentário, homossexualidade, anos 1980, anos 1990
cinema
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Punky Brewster: a nova série e o documentário

March 15, 2021 by Jorge Wakabara in TV

Estou escrevendo esse post com muito cuidado porque não quero soar como homens nerds heterossexuais que se revoltam com Ghostbusters reimaginado como um grupo de mulheres.
Isso posto, vou contar uma história.

Não tenho quase nenhuma lembrança da minha infância. É esquisitíssimo. Não lembro direito de como era na escola, de viagens inteiras, de coisas que eu falava e gostava. Minha irmã Ana Flavia acha que é bloqueio, porque sofri muito bullying quando era pequeno.
Meu pai guardava muita coisa, e minha mãe e minha irmã, remexendo nas coisas, recentemente me mostraram uns desenhos, umas cartas. Não lembrava de como eles foram feitos, apesar de reconhecê-los como meus.

Mas lembro de uma das minhas primeiras aflições.
Todos os dias, religiosamente, eu assistia aos episódios do Sítio do Picapau Amarelo e de Punky, a Levada da Breca. Eles passavam num certo momento do dia, então eu sabia que deveria estar em casa nesse horário para não perder.
Aí, acho que um dia a minha Tia Yoko estava comigo em algum lugar e deixou passar a hora, apesar de eu ter avisado para ela. O programa dela comigo, para piorar, era alguma coisa chata do tipo “comprar roupa”.
Pense numa criança brava e triste.

Ou seja, Punky Brewster era parte muito importante da minha infância. Ela era o que eu queria ser (não órfão, calma: ela era esperta, engraçada e estilosa, assim como a boneca Emília do Sítio). Eu adorava muito.
Então vocês podem imaginar a minha empolgação quando eu soube que Punky Brewster ia voltar! (Caso você não consiga imaginar, tenho um post da época do anúncio)

Para quem está boiando: Punky, a Levada da Breca, era uma série que passava no SBT nos anos 1980 sobre uma garotinha que era abandonada pela mãe no estacionamento de um supermercado e ia parar num abrigo. Ela ficava fugindo do abrigo, ora para procurar a mãe, ora porque não gostava de lá. Num dia, ela acabava encontrando o Artur (George Gaynes), um fotógrafo mais velho, sozinho e sem filhos, meio rabugento.
Já sacou, né? Punky conquistava o coração do Artur e ele acabava virando seu pai adotivo.

Ela também era conhecida por… usar um tênis de cada cor.

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Aí, em 2021, eis que Soleil Moon Frye, a Punky original, voltou ao papel, agora como uma mulher de 40 anos divorciada e cheia de filhos. A temporada de dez episódios foi ao ar pelo Peacock, o streaming da NBC e CBS que não existe no Brasil. Mas eu fiz o sacrifício de assistir para dizer para vocês se essa pirataria vale a pena ou não.

Minha conclusão? Não sei. Depende do quanto que você gosta de sitcoms bobas e do quanto você gostava de Punky. Obviamente é um roteiro bem autorreferente, feito para quem sentia saudades, e tenho as minhas dúvidas sobre ele funcionar para quem não conhece a série original. As partes que eu mais gostei são as que de alguma maneira conversavam com a trama dos anos 1980.

Isso dito, cuidado, SPOILERS. Se não quiser saber, pule pare /SPOILER TERMINA/. Quem desistiu de assistir pode ler de boa.

/SPOILER COMEÇA/

Dois personagens antigos aparecem: Cherie (no Brasil, Cátia, a BFF da Punky interpretada por Cherie Johnson) e nada menos que… Margot (Ami Foster), a menina loira que era um entojo, metida que só ela.
Cherie é personagem fixo, acho que aparece em todos os episódios. E, segura essa… é lésbica.
Margot só faz uma participação especial (que, aliás, não faz jus a uma personagem tão icônica).
O ex-marido de Punky, que também é um personagem fixo, é interpretado por Freddie Prinze Junior. A sacada é legal, pegar um outro ator icônico para isso. Porém um pouco decepcionado que o Allen, outro amiguinho da Punky, não voltou – ele era interpretado por Casey Ellison, que, pelo que entendi, deixou de ser ator depois que cresceu.
O cachorro original, Brandon, foi substituído por uma cachorra, Brandy.
Os filhos de Punky são legais. E um deles brinca com estereótipos de gênero. É uma criança transicionando? Não, pelo menos por enquanto. Passa uma impressão de estar brincando, mesmo.
Pareceu muito moderno para você?
Bom, que bom, né? Estamos em 2021.

/SPOILER TERMINA/

BOM. Isso posto, preciso dizer que Frye também estreou um documentário sobre sua vida.
Kid 90, lançado no Hulu, parte de uma premissa interessante: mostrar a infância e adolescência de Frye nos anos 1990, pós-Punky, aproveitando o fato de que ela era muito fissurada em registrar tudo com uma câmera de vídeo e diários.

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Pensei comigo: “Que legal! Tudo a ver! A minha infância e adolescência também foram nos anos 1990, vai ser muito legal assistir! Ainda mais com a atriz de uma das minhas séries da infância!"

Doce ingenuidade. Não é bem assim.

A sinopse que eu vi de Kid 90 esqueceu de explicar que:
. O documentário é cheio de gatilhos. REPLETO.
. O documentário é muito centrado em Frye e nas experiências dela como criança prodígio em Hollywood. Não funciona como retrato de uma geração inteira e sim como o retrato de uma geração de artistas mirins, com experiências muito específicas.
. Achei que Frye fica procurando um significado muito espiritualizado nas coisas, talvez por causa da quantidade imensa de gatilhos, o que leva o documentário para uma onda de "lições de vida". Acho meio sacal, ficou melodramático. Já é cheio de histórias tristes, não precisava carregar as tintas.

MAS, dito isso… me entreteve. E me entreteve mais pela pororoca absurda que foi a vida de Frye nos anos 1990. Vou fazer um name dropping e você também vai ficar meio abalado:
. Charlie Sheen
. House of Pain (aquela do Jump Around, a música de festa mais hétero que existe)
. Perry Farrell (que eu tenho a impressão que adora aparecer; ele não tinha muito motivo para dar depoimento aqui)
. Kids, o filme

Que tal? Resumindo, Frye foi meio um Forrest Gump dos anos 1990.

Bom, é isso. Nada imperdível por aqui. Circulando.

Quem gostou desse post também vai gostar de:
. O bizarro reboot de Barrados no Baile
. Heathers: o filme que inspirou Ryan Murphy e virou série muito inspirada em Ryan Murphy
. Mal Posso Esperar (1998): lembra?

March 15, 2021 /Jorge Wakabara
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TV
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Saudades de chorar com Pose? Assista a It's a Sin

February 17, 2021 by Jorge Wakabara in TV

A epidemia da AIDS começou a fazer notícia e ganhou volume de doentes e mortos primeiramente nos EUA. E, claro, a série Pose também tem o pano de fundo do ballroom e o voguing. Sendo assim, a comparação entre ela e a nova It's a Sin segue mais por duas semelhanças: o tema da AIDS em uma época em que se sabia muito pouco sobre ela e a maior representatividade na telinha. No caso de Pose, predominantemente de mulheres trans; no caso de It's a Sin, predominantemente de homens gays.

O protagonista Ritchie Tozer (Olly Alexander) no meio com Jill Baxter (Lydia West) do seu lado, sentada e boquiaberta

O protagonista Ritchie Tozer (Olly Alexander) no meio com Jill Baxter (Lydia West) do seu lado, sentada e boquiaberta

Só minorias sabem a importância da representatividade na ficção. A gente vibra com qualquer migalha. Eu vibrei com Queer As Folk, com O Segredo de Brokeback Mountain, com Sandrinho e Jefferson em A Próxima Vítima. Ainda assim, todos esses exemplos estavam longe do meu dia-a-dia (talvez Sandrinho surpreendentemente seja o mais próximo?!).

Aí tiveram duas séries que, apesar de um pouquinho atrasadas, bateram forte em mim: a britânica My Mad Fat Diary, com o amigo gay Archie (Dan Cohen), e a australiana Please Like Me, com o protagonista mais idiota-chato-burro e mesmo assim queríamos continuar assistindo Josh (Josh Thomas).

Coincidência que as duas falem de saúde mental de maneira bem gatilhada? Talvez não.

Enfim: ambas trazem gays que não são bombados nem maravilhosos como artistas de cinema. Já é um grande avanço. E dá para identificar também… a minha turma. Sabe? Aquela nossa turma. Aquela que ia nas festas indie e dançava ao som de britpop (no caso de My Mad Fat Diary, cuja história se passa nos anos 1990). Aquela que combinava que o café do Espaço Unibanco de Cinema seria o ponto de encontro daquela tarde (no caso de Please Like Me). Se você é/era dessa turma, você entendeu. Se você não é/era, fica difícil explicar… kkkkkkk

Enfim, tudo isso para dizer que cheguei a ler por aí nas internets que It's a Sin era bobo, reforçava estereótipos.
Jura?
Eu achei EXTREMAMENTE MINHA TURMA. Sem gordos, sem ursos, é uma pena, mas bem minha turma MESMO.

Colegas de quarto: Colin Morris-Jones (Callum Scott Howells) e Roscoe Babatunde (Omari Douglas)

Colegas de quarto: Colin Morris-Jones (Callum Scott Howells) e Roscoe Babatunde (Omari Douglas)

O protagonista Ritchie (interpretado pelo vocalista do Years & Years Olly Alexander) não me parece exatamente um padrão, apesar de ser branco. E o personagem passa longe de ser virtuoso – talvez seja o que possui mais dimensões. Homossexual no armário para a família, conservador e promíscuo ao mesmo tempo, humanamente egoísta, despertando julgamentos e compaixão.

Os outros, bem… Roscoe é de família nigeriana e literalmente dorme com o inimigo – nesse caso, um ministro do partido conservador que o banca. O pobre galês Colin é de uma timidez e de um provincianismo quase paralisantes, apesar de muito simpático (e de ser um dos mais empáticos, o "menino bom”). Ash (Nathaniel Curtis) é indiano e possui a história menos desenvolvida de todas.

E finalmente tem a Jill interpretada por Lydia West, que na minha cabeça é uma das atrizes mais legais da atualidade (assisti quase tudo que ela fez até agora: Years and Years, o novo Drácula da Netflix e agora It's a Sin; se ela estivesse em I May Destroy You era jackpot).
Eles dão um pouquinho mais de dimensão para Jill, mas infelizmente ela não consegue superar aquele velho papel: o da amiga do gay. É quase subversivo, porque na ficção geralmente quem existe é o melhor amigo gay da protagonista, e aqui, veja só, tchanan! Preciso dizer que isso acontece na vida real. Tanto quanto o amigo gay, há a figura da amiga hétero.
O fato: West é tão boa que você simpatiza com ela, mesmo que a maior característica da personagem seja a empatia gratuita. Ou sou eu que já a vi em outras séries e simpatizo de graça? Não sei.
Tentei refletir se ela não era a versão "mulher hétero para gays" do white savior. Straight savior, anyone? Olha, enquanto eu assistia à série, quis mais é que ela salvasse todos. Acho que faz parte da narrativa. Acho provável muitos gays terem negado a realidade na época, e talvez amigas tenham tentado abrir os olhos deles. Não os culpo, mas como culpá-las? Não dá, né?

(Escrevi tudo isso deduzindo que ela é hétero, porém não me lembro de isso ter ficado exatamente claro na série. Acho que a sexualidade dela nem chega a ser debatida ou mencionada, e se foi, parece-me que foi bem de passagem, tanto que nem me recordo. Perdoem-me.)

"Adoro ser sua amiga!"

“Adoro ser sua amiga!"

O que mais ver em It's a Sin?

. Participações especiais: Neil Patrick Harris e Stephen Fry. Mara!
. Sexo. Não chega a ser um +18, mas é NSFW…
. Trilha sonora: virada dos anos 1980 para 1990 em Londres. Quer mais? Além da música dos Pet Shop Boys que dá título à série, tem Kate Bush, Orchestral Manoeuvres in the Dark, Eurythmics, Bronski Beat… Quero tudo.
. Russell T. Davies, o criador. Ele também é o nome por trás de Years and Years. É o Ryan Murphy do Reino Unido? Eu gosto!
Ah: Queer as Folk, a primeira versão, inglesa… é de Davies.

It's a Sin é da BBC e HBO Max, portanto infelizmente ainda não está disponível no Brasil em streaming.
Se vira.

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February 17, 2021 /Jorge Wakabara
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Quem é que NÃO estava no elenco de Mal Posso Esperar (1998)?

February 15, 2021 by Jorge Wakabara in cinema, música

Às vezes, tudo que você quer é um filme que vai te passar aquela sensação de derretimento de cérebro (isso também acontece com algumas séries e com Keeping Up With the Kardashians). Se o entretenimento contar com Jennifer Love Hewitt no papel principal, bem… por que não? Parece irresistível.
Mal Posso Esperar às vezes passa na TV a cabo (meu marido adora TV a cabo, então sim, somos os únicos millennials que seguem assinando TV a cabo apesar do advento do streaming). Ele foi escrito e dirigido por uma dupla: Harry Elfont e Deborah Kaplan, que além disso nos deram outro filme derretedor de cérebro fantástico, a inebriante live action de Josie and the Pussycats de 2001. Muito que bem.

A história de Mal Posso Esperar é bem idiota, não vou nem tentar disfarçar. Tudo se passa na noite da formatura do Ensino Médio de uma turma e eles encontram uma festa numa casa que se transforma em, bem, um campo de guerra bem festivo. Aí você começa a acompanhar paralelamente tramas de personagens específicos: o menino esquisito que quer perder a virgindade, os nerds que querem vingança, o menino que é apaixonado por uma garota popular que nunca deu bola para ele… Os clichês vão se amontoando. Portanto, um filme perfeito para o cérebro derreter: não requer esforço. Mas existe um charme aqui:
1. Os looks, que GRITAM anos 1990. Blazer de veludo? Gargantilha? Birotinho no cabelo? Babylook? Tie-dye? Tudo isso está lá. Como os anos 1990 foram os anos da minha adolescência e eu provavelmente era o público-alvo desse filme (me formei no Ensino Médio exatamente em 1998 e entrei para a primeira faculdade em 1999), o gosto familiar fica ainda mais forte para mim.
2. O elenco. Gente. O filme vai avançando e você vai dizendo a todo momento: "Nossa. Olha esse cara… Lembra?!” Ajuda o fato de que o elenco é enorme, cheio de participações.

Então decidi enumerar esse povo aqui. Vamos lá?

A musa: Jennifer Love Hewitt

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Qual é a graça de Jennifer Love Hewitt? Não me pergunte, eu não saberia explicar. Ela é a sem sal mais salgada que existe. Quando Mal Posso Esperar saiu, ela tinha acabado de estourar como a protagonista de Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado um ano antes e já tinha um papel recorrente na série O Quinteto.
As quase camp Ghost Whisperer e The Client List viriam só em meados dos anos 2000 (e na minha cabeça são tão ruinzinhas que uma é sequência da outra, apesar das histórias não terem nada a ver – em comum, possuem protagonistas tão pouco expressivas que são engraçadas, encarnadas por Hewitt kkkkkkk).
Para quem não sabe, além de Mal Posso Esperar, Eu Sei o que Vocês Fizeram e O Quinteto, Hewitt conquistou seu lugar como namoradinha da América com uma carreira… na música. TRÊS discos gravados! Ficou chocada, more? Eu fico toda vez que lembro.

KKKK WTF
Hewitt ficou tão marcada e encantada por seu papel como Amanda Beckett em Mal Posso Esperar que anunciou, em 2019, que queria fazer um filme que funcionaria como sequência com o mesmo elenco, que ela mesma dirigiria (!!!). Saiu até no Page Six. Mas a história nunca mais voltou a ser citada, então é provável que tenha sido abortada.

O boy: Ethan Embry

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Aquele rostinho que você pensa CARACA, EU CONHEÇO, DE ONDE MESMO? Pois é, você conhece! Embry diz que não lembra de nada das filmagens de Mal Posso Esperar nem do filme em si, porque na época que encarnou Preston Meyers ele era um baita maconheiro. Antes desse longa, ele apareceu em Empire Records (1995) e The Wonders: O Sonho Não Acabou (1996). Mas provavelmente você está se lembrando desse rostinho da TV: de Once Upon a Time ou Grace and Frankie. Ele é o Coyote, filho da Frankie (Lily Tomlin).

Também existe a história de que, para a cena do beijo, Hewitt teria discretamente dado umas balinhas de menta para Embry, porque o hálito dele era meio, hum, comprometido pelo alto uso de marijuana.

O nerd: Charlie Korsmo

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Esse é um dos casos mais instigantes do elenco do filme. Korsmo foi um ator mirim que prometia: participou, por exemplo, de Dick Tracy (1990) e Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991). Aí sumiu. Aí apareceu de novo em Mal Posso Esperar no papel do nerd que fica bêbado. Aí sumiu de novo!

Ele é um megaprofessor de direito. Tem quem diga que grande parte dos seus papéis que rejeitou quando parou de atuar em 1991 foram para Elijah Wood, então é provável que, se ele continuasse, a carreira de Wood fosse um pouco menos estrelada!

Charlie, que hoje prefere ser chamado de Charles, voltou uma vez apenas para o set de filmagens até hoje. Foi para participar de Chained for Life (2018), um filme que eu sou super a fim de ver e não vi até agora. Parece bem bom! Olha o trailer:

A moderna: Lauren Ambrose

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A verdadeira “garota do lado” não era Hewitt e sim Ambrose: cativante, acessível, divertida. Quem não tinha uma amiga que nem ela, a melhor amiga que, surpresa, tem uma história ainda mais interessante que o tal “casal principal"?

Esse foi o primeiro grande papel da atriz, que depois chegou a ter um personagem fixo em O Quinteto. E você deve se lembrar dela de Six Feet Under, né? Ela é boa, devia ser melhor aproveitada por Hollywood.

Mas se as telonas não querem… ela arrasa nos palcos. Ambrose já foi indicada a um Tony por sua performance em My Fair Lady na Broadway em 2018.

O babaca: Peter Facinelli

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GIFs que dizem tudo: exala energia cretina, né?
Que personagem ODIOSO!

Rapidamente Facinelli foi perdendo o brilho de protagonista e escorregando para o coadjuvante. Também esteve em Six Feet Under, num papel menor que o de Ambrose. É o Dr. Carlisle Cullen, pai adotivo de Edward Cullen (Robert Pattinson) em Crepúsculo (2008) e as sequências da franquia. É Rupert Campion, o diretor da nova versão de Funny Girl de Glee. É o Dr. Fitch Cooper em Nurse Jackie. É o vilão Maxwell Lord na série Supergirl (sim, o mesmo personagem depois encarnado por Pedro Pascal no Mulher-Maravilha 1984, mas numa pegada bem diferente).

Curiosidade: ele fez o papel do odioso Keith Raniere numa adaptação para a TV da história da seita NXIVM.

Ah, e ele também é diretor. Já fez dois longas.

O esquisitão: Seth Green

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Poucas pessoas podem dizer que estiveram em filmes clássicos adolescentes dos anos 1980 e dos anos 1990: Green pode. Ele era o irmão do protagonista Ronald Miller (Patrick Dempsey) em Namorada de Aluguel (1987) e, claro, é o Kenny Fisher de Mal Posso Esperar. O currículo, hum, invejável ainda incluiu um personagem fixo na trilogia Austin Powers (ele é o filho do Dr. Evil), o personagem Oz da série Buffy, a Caça-Vampiros (aliás, ele é BFF da Sarah Michelle Gellar, a protagonista), o personagem recorrente Mitch Miller em That 70's Show… Isso sem contar os mil jobs dele como dublador, principalmente em Family Guy como Chris Griffin, o filho do meio, de bonezinho.

Uma das namoradas: Jaime Pressly

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Você olha e pensa: "Será que eu tô confundindo com a Margot Robbie ou eu realmente a conheço?"
Resposta: ambas as alternativas.

Pressly participou de outras coisas grandes. Ela é a Jill na série Mom. Ela é Joy Turner, a ex-mulher de Earl em Meu Nome é Earl. E, bem, ela participa de Não é Mais um Besteirol Americano (2001)… assim como Chris Evans, antes que você fale qualquer coisa.

O cara da melancia: Jason Segel

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Uma das melhores coisas de Mal Posso Esperar é pescar as participações especiais. Entre elas, aqui está Jason Segel num papel que é literalmente esse: ele é o cara da melancia.

Caso você tenha virado um eremita durante os anos 1990, te falo tudo: ele faz parte daquela turminha hype de Hollywood que fez Freaks and Geeks em 1999 e daí para frente, sempre esteve mais ou menos envolvido com eles. As pessoas costumam lembrar bastante dele por How I Met Your Mother. Ou por Sex Tape – Perdido na Nuvem (2014)? Risos. Tem quem ame Ressaca de Amor (2008). O novo Adam Sandler? Acho que não é para tanto, e confesso que o papel que mais me marcou dele é o de… Gary, em The Muppets (2011).

Desculpa por ser assim.

A que dá um fora: Clea DuVall

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No mesmo ano de Mal Posso Esperar, DuVall nos encantaria para sempre como Stokes em Prova Final. ou pelo menos encantou a mim. Em 1999, participou de outro clássico, Ela é Demais, e de uma dobradinha que eu amo: But I'm a Cheerleader e Garota, Interrompida. Acho que foi nessa dobradinha que ela conquistou o coração da nação sapatã e nem precisou sair do armário, né?
Os mais novinhos talvez se recordem mais do papel de DuVall em The Handmaid's Tale - ela é Sylvia. E DuVall é a roteirista e diretora de Alguém Avisa?, a comédia romântica de 2020 protagonizada por um casal lésbico interpretado por Kristen Stweart e Mackenzie Davis.

O babaca do passado: Jerry O’Connell

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É engraçado pensar que O’Connell é o cara que chega para avisar o personagem de Facinelli que a faculdade não vai ser tão legal quanto ele imagina. Um ano antes, ele estava em Pânico 2, lembra? Justamente na faculdade.
E bem, antes disso O’Connell é simplesmente um dos garotos do quarteto de Conta Comigo (1986), uma das maiores adaptações de Stephen King para o cinema. Só de lembrar eu dou uma lacrimejadinha.

Ah, e ele faz parte do elenco de Missão: Marte (2000), de Brian de Palma – ter feito parte de um filme do De Palma, para mim, é babado…

Curiosidade: O’Connell interpreta o namorado no clipe de Heartbreaker de Mariah Carey.
Curiosidade 2: O’Connell é casado com Rebecca Romijn, a primeira Mística daquela primeira trilogia X-Men.

A outra menina: Selma Blair

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Amo a Selma Blair demais, mas principalmente pelo que ela faz agora. Quem interpretou Kris Jenner além dela? E a stripper madrasta de uma das Heathers na série Heathers, uma das melhores coisas ali? OK, não é tão difícil, a série é ruinzinha, mas o que importa é que ela realmente está incrível no papel.

Um pouco depois dessa ponta em Mal Posso Esperar, Segundas Intenções (1999) e aquele beijo (você lembra, não adianta disfarçar) chegariam ao cinema. E depois ainda ia ter Legalmente Loira (2001) – Blair é uma das únicas pessoas que consegue usar uma boina e me fazer rir. Em geral, tenho vontade de chorar (odeio boinas, então imagina como está sendo para mim assistir as bichas tentando fazer essas coisas horrorosas voltarem em RuPaul's Drag Race e RuPaul's Drag Race UK).

Ah, e teve o Hellboy do Guillermo del Toro, né? Hehehehe

(E eu adoro que ela é a irmã da Dra. Smith Parker Posey no novo Perdidos no Espaço, é muito perfeito as duas serem irmãs <3)

A garota do livro do ano: Melissa Joan Hart

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A Sabrina Spellman mais legal (a Sabrina da Netflix é muito chata) arrumou um tempinho entre as gravações da série para fazer essa ponta.

Não tenho muito o que falar dela, e não é shade: ela realmente não fez nada tão bem sucedido quanto a série da Sabrina. Mas o papel dela em Mal Posso Esperar é concretamente memorável, apesar de aparecer relativamente pouco: a menina que fica atrás do povo para eles assinarem o livro do ano dela é engraçada demais. O filme acaba e ela é uma das coisas que permanecem na sua cabeça.

O cleptomaníaco: Chris Owen

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O briefing do seu papel é: você vai aparecer roubando coisas.
Simples assim.
Chris Owen já tinha uma cara de menino endemoniado. Depois, seria o Sherman em American Pie (1999). Então, se você é o Guga Chacra, você o reconheceu.

Estou vendo pela milésima vez a cena do Finch c/ a mãe do Stifler no American Pie. Sério que acho uma das mais cômicas da história do cinema. Mas talvez a melhor do filme seja a do Jim fazendo striptease para a Nadia. Enfim, filme anos 1990. Quem foi adolescente na época entende

— Guga Chacra (@gugachacra) July 11, 2020

O vocalista da banda: Breckin Meyer

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Você não lembrava do nome dele, mas da cara… É que Meyer domina os castings de filme adolescente da época, desde A Hora do Pesadelo 6 (1991) até As Patricinhas de Beverly Hills (1995). Esse agente trabalhou, viu? Mas talvez, no fundo, eu lembre dele das propagandas da série Franklin & Bash, na qual ele era um dos protagonistas. Passavam toda hora.
Nunca vi a série.

O baterista de chapéu de caubói: Donald Faison

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Outro que veio do elenco de Patricinhas de Beverly Hills, Faison também fez fama no elenco fixo da série Scrubs. Simpatizo com ele.

Bom, eu poderia falar de TODO O ELENCO de Mal Posso Esperar, mas ainda falta muita gente. Chega, né?

Deixei alguém que você ama de fora? Reclame no SAC.

E reassista Mal Posso Esperar. Não vai ser tão ruim assim, garanto.

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. Para entrar em Pânico

February 15, 2021 /Jorge Wakabara
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cinema, música
(Eu acho que é isso): Lolita Renaux, Alice Pink Pank, Julio Barroso, May East e Luiza Maria, as absurdettes originais com “o” cara no meio

(Eu acho que é isso): Lolita Renaux, Alice Pink Pank, Julio Barroso, May East e Luiza Maria, as absurdettes originais com “o” cara no meio

Quem são essas tais absurdettes?

November 13, 2020 by Jorge Wakabara in música, livro, TV

Essa história tem várias versões. As que sei vieram de:
. O livro Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes, de Jorn Konijn
. O livro Dias de Luta: O rock e o Brasil dos anos 80, de Ricardo Alexandre
. O documentário Julio Barroso: Marginal Conservador que passou no canal BIS
. Vídeos do canal de YouTube Vitrola Verde de Cesar Gavin
. O livro 50 Anos a Mil, autobiografia do Lobão
. O livro BRock: o rock brasileiro dos anos 80, de Arthur Dapieve (esse eu considerei bem naquelas, uma vez que ele comete pelo menos duas gafes: coloca Taciana Barros e Alice Pink Pank na mesma formação, coisa que nunca aconteceu; e identifica Taciana como Alice na legenda de uma foto da Gang 90)

A Gang 90 apareceu um pouco antes da Blitz, foi lançada em disco um pouco depois, mas não conseguiu virar a potência que a Blitz virou porque tinha na sua essência uma natureza caótica, personificada por Júlio Barroso. As pessoas dizem que o Júlio possuía esse tipo de loucura que só os geniais têm. Acontece que as absurdettes (figuras-chave nesse grupo maleável no qual mudavam-se os músicos e mantinha-se, naquelas, uma comissão de frente com Júlio e elas) também eram caóticas, loucas e geniais.
Como Júlio se inspirou, entre outras referências, em Kid Creole and the Coconuts pra criar a sua própria banda, ele queria um nome que tivesse esse &. E gostava das Coconuts em si: curtia mulheres bonitas e achava que elas davam uma energia ainda mais anárquica no palco.

Assim como Kid Creole & the Coconuts, a Gang 90 tinha essa coisa artsy, bagunçada, um coletivo no qual qualquer um podia chegar… Uma gangue. Uma gangue onde cabiam 90 integrantes, ou mais. Uma gangue que olhava pro futuro, pra década seguinte, os anos 1990. E finalmente uma gangue que adorava a figura do velho guerreiro, o Chacrinha, e as suas chacretes. Absurdo?
Absurdettes, portanto.

Recorte da revista Manchete de 1983

Recorte da revista Manchete de 1983

Então vamos começar pela que ficou menos tempo na banda… Luiza Maria.

Luiza Maria, a que não mudou de nome

Diz a lenda, ou melhor, o livro de Jorn Konijin, que Júlio Barreto conheceu Luiza Maria como secretária de Nelson Motta. Luiza era a namorada de Guilherme Arantes (já separado da primeira mulher, Márcia) e eles tiveram um filho mais ou menos nessa época, o Gabriel. Depois eles ainda teriam mais dois, Pedro e Tiago.

Guilherme é o parceiro de Barroso na composição Perdidos na Selva, a primeira original a ser gravada pela Gang 90.
Sabendo dessa informação, a gente ouve Perdidos na Selva e fica chocado em perceber como a música é a cara do pop de Arantes, principalmente no refrão, né? Ou será que foi o pop de Arantes que virou isso a partir de Perdidos na Selva?

Nesse vídeo dá pra ver Luiza Maria no canto esquerdo, a quarta absurdette.
Na gravação de Perdidos, a Gang 90 ainda estava tão, er, perdida no quesito musicalidade que Arantes deu uma enorme mão pra deixar tudo minimalmente gravável. Inclusive ele canta junto com Barroso no refrão.
E por que o artista não foi creditado oficialmente como um dos compositores? Porque a música ia concorrer no Festival MPB Shell de 1981. E Planeta Água, de Arantes, também! O regulamento do festival só permitia a inscrição de uma música por compositor, então Arantes abriu mão de assinar Perdidos na Selva. Resultado: Planeta Água em segundo lugar (a ganhadora foi Purpurina com Lucinha Lins, vaiadíssima, um horror). Perdidos ficou pelo caminho, não chegou entre as primeiras posições.

E Luiza no grupo? É o famoso “tava ali dando sopa". Como Barreto amava arrebatar todo mundo para o palco para fazer aquela zona, deve ter sido levada pelo turbilhão. Mas também foi uma das primeiras a sair: antes mesmo da gravação do primeiro álbum, ela já estava fora (de acordo com o livro de Konijn).

Com a morte trágica e misteriosa de Júlio em 1984 (ele caiu ou se matou?) e o consequente baixo astral que eles acabaram conectando com São Paulo, Arantes e Luiza mudaram para o Rio. O casal se separou na primeira metade dos anos 1990.

Por onde anda Luiza Maria? Alguém sabe? Ela fez alguma coisa depois da Gang tipo canto ou composição? Pelo que entendi, nem chegou a ser entrevistada para o livro do Konijn.

Existe uma homônima, maravilhosa, a Luiza Maria que gravou Eu Queria ser um Anjo em 1975 e Tarântula em 1993. A voz certamente não corresponde à ex de Arantes, as histórias também não. Se for a mesma pessoa, por favor me avisem pra eu ficar chocadíssimo.

Lonita (ou Lolita) Renaux, a irmã

Ela era a irmã de Barroso, muito próxima dele. A mais fiel escudeira. Denise Barroso estava lá desde sempre.

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O primeiro compacto da Gang 90, o com Perdidos na Selva, tinha outra música do lado B. Lilik Lamê, a versão de Christine do Siouxsie and the Banshees por Júlio, Antonio Carlos Miguel e Katy, é cantada por Lonita Renaux. A música acabou não entrando no primeiro álbum.

Depois do irmão morrer, em 1984, Denise chegou a compor música. Ela é co-autora de duas faixas do álbum Declare Guerra do Barão Vermelho lançado em 1986, o primeiro sem o Cazuza na formação da banda. As músicas são Não Quero Seu Perdão com co-autoria de Júlio e Roberto Frejat e Maioridade com Frejat, Cazuza e Guto Goffi.

Imagino que ela tenha continuado fazendo parte dessa turma Baixo Gávea mesmo depois da partida de Júlio. Trabalhava para o onipresente Nelson Motta no Noites Cariocas, o projeto que rolava no Morro da Urca.

Em 1991, ainda como grande bastiã da memória do irmão, Denise organizou o livro A Vida Sexual do Selvagem, com textos, manuscritos, fotos e desenhos dele mais depoimentos de amigos. Está obviamente esgotado e os que você encontra por aí de segunda mão custam aquela nota.

Se você encontrar um por um preço OK, compre: é praticamente um investimento!

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Denise também já morreu em 1993, oficialmente de insuficiência renal. Em 2019, a irmã caçula deles, Andrea Barroso, falou abertamente ao jornal O Globo que Denise foi vítima da Aids. Quem soube, depois dela fazer exame, foi ela e o outro irmão, David, que é infectologista. Mas na época preferiram não divulgar essa causa mortis.

Denise tinha um marido, o jornalista Okky de Souza. Okky trabalhou nas revistas nacionais Pop e SomTrês. Segue como fonte de matérias sobre Júlio e a Gang 90, já que acompanhou tudo muito de perto. Não entendi se Okky foi com Denise para o Rio depois que Júlio morreu, porque ele sempre foi muito ligado à cidade (inclusive é coautor do livro São Paulo 450 Anos Luz: A Redescoberta de uma Cidade com Gilberto Dimenstein). Mas que eu saiba eles não se separaram, então não sei.

Menina morango, banana split lady, menina sorvete <3 Viva Denise!

May East, a loira

Maria Elisa Caparelli Neto era a videoartista do coletivo TVDO que namorava Nelson Motta e acabou entrando na Gang 90. A origem desse seu codinome May East tem versões: no livro de Konijn, fala-se da referência mais óbvia, May West, a atriz de Hollywood que era bem modernex nos anos 1930. Mas a própria May puxa para o fato de que ela ficava no East Side em NY aqui nesse vídeo do Vitrola Verde. Júlio ficava no West Side e achava muito cool ela morar no East Side, e a chamava de May East Side no começo, segundo ela mesma. Com o tempo, abreviou-se: apenas May East.

A ideia de cantar Lili Marleen no começo dos shows da Gang era na verdade de May, apesar das pessoas ligarem isso à Alice – as duas dividiam o número.

A versão aqui, com Marlene Dietrich, é em inglês – mas May diz que elas cantavam em alemão.

May decidiu sair da banda depois de uma viagem antológica que eles fizeram pelo nordeste do Brasil com shows, mais especificamente em Alagoas. Essa viagem ficou antológica porque, entre outras coisas, eles entalaram a kombi que levava banda e equipamentos no mar. Há controvérsias do que aconteceu a partir daí: May lembra deles fugirem porque a empresa de aluguel de veículos queria a kombi (ou o dinheiro). Outros dizem que conseguiram tirar a kombi de lá e devolvê-la. De qualquer forma, May saiu da Gang nessa bateria de shows pós-primeiro álbum, ainda antes da morte de Júlio.

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Uma curiosidade: May mudou o nome oficialmente para May East na sua identidade! Doido, né?

E em 1985 ela lançou seu primeiro disco solo, Remota Batucada.

Ela, que adorava esse lado antropofágico pós-tropicalista da Gang 90 (dá para perceber nas entrevistas), mergulhou ainda mais nesse Brasil profundo, buscando uma new wave ainda mais nativa. A música de trabalho do Remota Batucada chama-se Índio e foi composta por ela com Fernando Deluqui. No lançamento do álbum, acredito que ele e o tecladista Luis Schiavon, que também participou da gravação, já estavam bem envolvidos com o RPM.
(A última música do disco, Fire in the Jungle, também é parceria de May com Deluqui; fez parte da trilha do filme Areias Escaldantes de 1985, considerado o registro cinematográfico da cena BRock da época)
Aliás, Remota Batucada é praticamente um quem é quem de parte da new wave brasileira: tem Kodiak Bachine, da maravilhosa Agentss, na faixa Ideias de Brincar (composição dele); participação de Ted Gaz e Kid Vinil, da Magazine, na faixa Normal (composição de May); participação da Alice Pink Pank (a gente já fala disso nesse mesmo post, mais para frente). A divertidinha Night Club em Beirute é composição de Léo Jaime e Tavinho Paes (um dos poetas-letristas que circulavam nessa turma, Tavinho fez um monte de hit tipo Rádio Blá com Lobão e Arnaldo Brandão, Gata Todo Dia com o mesmo Léo e Marina Lima, e Sândalo de Dândi com Alec Haiat e Yann Laouenan, ambos do Metrô). Caim e Abel tem entre seus compositores Guilherme Isnard, do Zero (desconfio que a voz masculina na música também é dele) mais Alberto Birger, Nelson Coelho, Fabio Golfetti e Cláudio Souza (todos também do Zero e os dois últimos depois fizeram parte do Violetas de Outono).

E ainda tem Bumba Meu Boy, uma co-autoria de May com Nico Rezende – nada menos que o cara que fez Perigo, o megahit da Zizi Possi (entre várias outras canções). Bumba Meu Boy é uma tentativa de choro eletrônico, não curto muito não…

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May seguiu gravando mais álbuns. Mas o próximo, Tabapora, de 1987 (ou 1988? Varia de acordo com a fonte), já começa a namorar um som mais new age, mais world music. O de 1990, Charites, tem os dois pés nessa onda. Hoje May é diretora executiva da Gaia Education, uma ONG voltada para educação com foco em design ecossustentável.

Alice Pink Pank, a holandesa

Mito vivo do BRock. Reza a lenda que recentemente Alice Vermeulen estava muito tranquila na Holanda, de vez em quando recebendo ligações do Lobão e um dinheirinho de royalties. Aí o Konijn a localizou e assim conseguiu fazer o livro sobre a Gang. É uma das histórias mais doidas do rock nacional, mas ela nem tinha muita noção do legado que havia deixado aqui. E mesmo na época, a família dela e o pessoal da sua cidade, Tilburgo, não conseguiam entender que ela fazia parte de uma banda que dava shows gigantes, depois fez parte de outra banda que também era grande, participou de programas de auditório e até posou para a Playboy!

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Alice já tinha gravado com o U2 antes de chegar ao Brasil. Pois é, bizarro, e ela fala sobre o assunto como quem vai para a padaria. Mas enfim: o U2 ainda não era uma das maiores bandas do mundo. Na verdade, não era nada: a participação foi no primeiro álbum deles, lançado em 1980, o Boy, na última faixa, Shadows and Tall Trees. Ela faz o backing vocal, dá até para ouvir a voz de Alice bem claramente em algumas partes.

Como essa loucura aconteceu? Bom, ela estava viajando pela Europa, foi parar em Dublin e fez amizade com o U2. O empresário, Tim, e ela acabaram tendo um teretetê que não deu em nada. Gravou e pronto.

Depois, Alice encontrou a brasileira Rosana Pires Azanha, que também fazia uma viagem pela Europa na época. Ficaram amicíssimas. Rosana disse que a nova amiga devia visitá-la no Brasil. E Alice fez que fez que… foi.

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Já disseram por aí que o encontro de Alice com Júlio foi em NY ou no exterior, mas segundo a própria foi em São Paulo mesmo, no Paulicéia Desvairada, o clube noturno que tinha essa pegada new wave e contava com Júlio Barroso nas picapes. Ele, recém-chegado de NY, trazia discos de bandas novas, modernas. Rosana, descolada, levou a amiga turista para dançar lá. Da parte dele, ao que tudo indica, foi amor à primeira vista. Ela pediu pra ele tocar Psycho Killer do Talking Heads, ele a chamou para subir na cabine de DJ. Daí para levá-la para cama e chamá-la para uma banda que ainda nem existia (não necessariamente nessa ordem) foi um pulo.

May, Lonita, Alice (com a luva) e Júlio: a comissão de frente mais clássica da Gang 90

May, Lonita, Alice (com a luva) e Júlio: a comissão de frente mais clássica da Gang 90

May fala sempre que, das quatro absurdettes do começo, Alice era quem cantava melhor porque tinha um background (a participação no disco do U2). Acho que era mais talento nato, mesmo porque a experiência anterior dela foi muito pequena (a última faixa do disco de estreia do U2, que podia ter dado em nada).

Alice namorou Júlio por um tempo considerável. A origem do seu nome artístico é Liesel Pink-Pank.

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Liesel Pink-Pank

era uma bailarina alemã dos anos 1930. A própria Alice gostava do nome, gostava de dançar e escolheu a alcunha

Alice chegou a compor duas músicas do primeiro álbum da Gang 90 – na verdade foi a única absurdette a fazê-lo nessa estreia. Eram as menos conhecidas e nem por isso menos incríveis Românticos a Gô-gô e Jack Kerouac, ambas parcerias com Júlio.

Românticos a Gô-gô é tão neotropicalista que nem sei. A letra é um name dropping de nomes incríveis: de Cartola a Jimi Hendrix, de Brigitte Bardot a Pagu, de Yoko Ono a Marcel Duchamp, de Arto Lindsay a Vaslav Nijinsky. Uma delícia.

Já Jack Kerouac é bem spoken word.

Mas essas, na minha modesta opinião, nem são as melhores contribuições de Alice para a nossa música.

Nesse meio tempo, Júlio começou a beber mais e ficar violento com ela, como é narrado no livro de Konijn. E Alice, num show na Urca, conheceu um baterista que Júlio chamou na amizade para substituir Gigante Brazil, que não conseguiu chegar a tempo.
Era o Lobão, na época tocando na banda da Marina Lima e ex-Blitz (lembra que eu disse que a Blitz lançou disco antes da Gang?).
Ambos se apaixonaram. Ficaram.
De uma conversa entre Júlio e Lobão, na qual descobriram que ambos estavam apaixonados pelas mesmas mulheres (Alice e Marina), saiu a composição Noite e Dia.

Lobão também gravou. E Marina também, antes dele, no mesmo ano de 1982! Imagino que, se existe essa divisão na música, Alice seria a musa dos primeiros versos e Marina (por causa dos olhos negros) seria a musa da segunda parte.

Em 1983, saía Será Que o King Kong é Macaca?, composição de Toinho com Tavinho Paes, para o especial infantil de TV Plunct Plact Zum! E dá para ver Alice ali, entre as absurdettes. Não sei quando foi gravado, mas me parece que essa deve ter sido uma das últimas coisas que Alice fez com a banda.

Acabou que Alice saiu da Gang e da casa de Júlio – foi morar com o Lobão e acabou entrando para a banda que ele tinha na época e que atendia por Lobão e os Ronaldos. Júlio, enquanto isso, achou outra absurdette para manter o número de três mulheres no palco (calma que eu já conto essa parte!).
Nesse meio tempo, a holandesa fez uma participação num disco muito especial: a estreia de Léo Jaime.

Phodas "C” saiu em 1983 e Alice é a backing vocal que canta junto com ele em Ora Bolas!, a voz feminina mais destacada. Em teoria, May East também participou desse disco em outra música – no encarte, está creditada para Eu Vou. Mas o detalhe: não existe música chamada Eu Vou nesse álbum. Entendeu? Nem eu.
(May namorou Jaime nessa época)

Bom, então vamos para Ronaldo Foi pra Guerra, o disco do Lobão e os Ronaldos que não só traz Alice nos vocais e teclados mas também como compositora.

Um clássico do BRock direto de 1984, Ronaldo Foi pra Guerra é bem perfeitinho. Quem só conhece os maiores hits devia dar uma revisitada nele, vale a pena. As músicas das quais Alice participou da composição são as ótimas Tô à Toa Tokio (com Lobão), Abalado (idem), a minha preferida Bambina (com Lobão, o baterista dos Ronaldos Baster Barros e o poeta-letrista Bernardo Vilhena) e Inteligenzia (com Vilhena).

Pelo que entendi, a versão de Alice para a saída dela dos Ronaldos é que Lobão arrumou outra mulher (Daniele Daumerie, prima dele que posou nua na capa do primeiro disco solo do Lobão, O Rock Errou, de 1986). A versão dele é que ela entrou numas de se lançar em carreira solo. Enfim!

E lembra que em 1985 a May East lançou seu primeiro disco solo? Falei que tinha participação especial de Alice nele, né? Era na faixa Maraka.

Maraka é meio protoaxé, fala de Oxum numa pegada de toque das religiões de matriz afro. Eu adoro! O mais esquisito: só May aparece no clipe. Cadê Alice? Só a voz…

Bom, talvez Alice estivesse ocupada tentando armar a própria carreira solo.

Amo essa música. DE VERDADE.
E olha a surpresa: os compositores, além da própria Alice, eram Leoni e Liminha.

O compacto contou com Baby Love de lado A e 24 Frames Per Second do lado B. 24 Frames é de Alice com Guto Barros (dos Ronaldos) e… Isabella. Não sei quem é Isabella!

O compacto contou com Baby Love de lado A e 24 Frames Per Second do lado B. 24 Frames é de Alice com Guto Barros (dos Ronaldos) e… Isabella. Não sei quem é Isabella!

Foi Liminha quem produziu o compacto de Alice. Mas quando eu digo que é uma surpresa ver Leoni entre os compositores, é porque o compacto saiu pela mesma gravadora da banda de Leoni na época, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. O Kid lançou, em 1985, o disco repleto de hits Educação Sentimental. E diz a história extraoficial que a gravadora preferiu focar no Kid, que tinha Paula Toller à frente, do que em Alice Pink Pank. Morria aí a carreira solo dela.
(E aí rolaria aquela história bizarra do Leoni brigando com o Léo Jaime no palco e a ex-namorada, Paula, e o Herbert Vianna, então atual namorado dela, se metendo no meio, e aí a filha do fundador da Zoomp… Vish, isso é assunto para outro post, né?)

Alice acabou cansando de esperar que alguém lhe desse mais alguma chance e voltou para a Europa. Mas antes… Sim, ela deixou mais uma música para o pop nacional.

É muito doido quando as histórias se cruzam. Lembra que eu falei da Emilinha aqui? Lembra que ela fez parte do Afrodite se Quiser? Pois é.

Talk Tales, do primeiro álbum delas, é de Alice com uma pá de gente: Paulo Sauer, Luis Casé, Sérgio Santos, Pedro Brandão, Isabela Lago, Flávia C e Claudia Niemeyer (que já foi da Blitz e da Gang 90). Soa como algo da Blitz, aliás.

Alice ainda tentou seguir carreira artística na Holanda mas essa história não rendeu. Virou um capítulo dos mais interessantes da história do BRock, apesar de desconhecida na sua terra natal (e hoje, no Brasil, também quase esquecida).

Taciana Barros, a resistência

Parte da formação da Gang 90 pós-lançamento do primeiro álbum: Júlio Barroso, May East, Taciana Barros, Lonita Renaux e Herman Torres

Parte da formação da Gang 90 pós-lançamento do primeiro álbum: Júlio Barroso, May East, Taciana Barros, Lonita Renaux e Herman Torres

Taciana tocava numa banda de garotas em Santos, litoral de SP, quando Júlio a viu. Não fica claro nas histórias orais que a gente ouve se nessa época Alice já tinha saído ou estava para sair da Gang 90, mas o convite rolou ali no meio de um show, com Taciana no palco e Júlio na plateia, gritando "passa seu telefone".
A gente não sabe se ele ligou 3 horas da manhã com um papo poesia, mas logo Taciana era uma das absurdettes no lugar de Alice. De cabelo curto (como Alice) e roupas moderninhas (idem), ela é tratada como “a substituta" até hoje, por mais que já tenha provado pelo resto da carreira que é muito mais que isso.
Mas algo que pode ter colaborado para essa visão do povo é o fato dela ter participado do clipe de Telefone dublando, mesmo não tendo gravado a música.

(E repare que estranho: Lonita não aparece aqui)

Quando Júlio morreu, em 1984, ele e Taciana estavam num estágio de composição avançado do segundo álbum da Gang. May já tinha saído, Herman Torres pelo que entendi também, Lonita não sei. Taciana decidiu levar a coisa para frente. A Gang 90 continuaria sem o seu nome principal, Júlio Barroso, e cortava o “absurdettes". Agora era uma absurdette que virava líder e o disco Rosas & Tigres saiu em 1985. Entre as composições, tem um monte de música com co-autoria de Júlio (9 das 11). E também um monte da Taciana (8 das 11).

Rosas e Tigres, a primeira faixa, é a música que o povo fala que Júlio estava empolgado a respeito, antes chamada Kamikaze Coração. A voz principal virou da Taciana. De Júlio, Taciana e Roberto Firmino (que fazia parte dessa nova formação), é ótima. Entrou para a trilha sonora da Armação Ilimitada. Mas não "aconteceu" nas paradas, assim como o resto do álbum.

Sexismo? Não sei, porque Paula Toller era a voz do Kid Abelha e tudo bem ela fazer sucesso, né? Será que duas já eram demais?

Curiosidade: em 2015, o disco de Filipe Catto Tomada trouxe uma gravação de Do Fundo do Coração, música de Taciana e Júlio, a última desse álbum Rosas & Tigres. Adoro demais a original, e esse remake é legal também.

Pedra 90, que saiu em 1987, é o terceiro e derradeiro disco da Gang, ainda com Taciana à frente. Dessa vez, só uma música contava com Júlio Barroso na autoria (Junk Favela). E, no lugar de Roberto Firmino, quem assume a composição de várias músicas aqui é Gilvan Gomes (5 das 8).

A curiosidade é que tem dois ícones do BRock escondidos aqui entre os compositores, ambos em parcerias com Taciana. Arnaldo Antunes, na época parte dos Titãs, é co-autor em Vida Dura. E Edgard Scandurra, do Ira!, é co-autor de Coração de Alguém.
Edgard foi casado com Taciana e lá pelo fim dos anos 1980 tiveram um filho, Daniel. No verso do álbum Amigos Invisíveis, o primeiro trabalho solo do Scandurra (saiu em 1989), tem uma foto do Daniel.

amigos-invisiveis-verso-edgard-scandurra.png

A música Bem Vindo Daniel é em homenagem ao bebê. Taciana é co-autora de Abraços e Brigas, Culto de Amor e Vou me Entregar Como Nunca.

Em 1989 apareceu a banda Solano Star – o nome é uma homenagem ao navio Solana Star, que estava traficando latas de maconha em direção de Miami em 1987. Ao descobrirem que o barco estava sendo procurado, a tripulação jogou as latas no mar… e eles estavam perto do litoral do Rio. Resultado: surgia o que ficou conhecido como verão da lata, de 1987-88, com o povo achando latas na praia e arrasando, se é que me entendes.
Faziam parte da Solano Star: Taciana nos vocais e Scandurra na guitarra, mais um povo. Gosto BASTANTE de Uma Vez Mais:

Não sei quando a Solano Star terminou, só tenho essa referência de data desse clipe: 1990.
No repertório da banda também tem Isadora, uma música feita por Taciana baseada em longas conversas entre ela e Andréa de Maio, personagem clássico da noite paulistana. Isadora é sobre travestis.

Também não sei exatamente quando começou o relacionamento de Taciana com Mitar Subotic, o Suba.

Suba, iugoslavo, veio para o Brasil na época do Collor com uma bolsa para estudar bossa nova. Acabou virando um dos responsáveis por divulgar o casamento entre a música brasileira e a eletrônica, trabalhando com gente como Marina Lima e Bebel Gilberto.
Suba e Taciana casaram, e dessa união saíram coisas maravilhosas. Em 1995, foi lançado o Janela dos Sonhos, primeiro e por enquanto único disco solo de Taciana.

Uma coisa interessante é que continuou (e continua) tudo em família: Scandurra participou desse álbum, por exemplo. E a primeira música, Qualquer Gesto, é uma nova versão para Qualquer Gesto do disco Rosas & Tigres, o segundo da Gang 90, composição de Taciana com Júlio Barroso e Roberto Firmino. E é muito boa!!!

O álbum solo do próprio Suba, São Paulo Confessions, saiu em 1999 e trazia a participação de algumas vocalistas – entre elas, Taciana em Você Gosta, composição dele, dela e de Marcelo Rubens Paiva.

É interessante porque essa neo bossa, ou seja, mistura da eletrônica com bossa nova, samba jazz e congêneres, estava pelo mundo (vide meu post sobre Shibuya-kei) nos anos 1990. Com Suba no Brasil, ela chegou no seu ponto mais burilado, mais refinado. O auge.

Suba morreu num incêndio no mesmo ano de lançamento desse disco, 1999. Seguia casado com Taciana mas eles já estavam morando separados.

Imagina que loucura para ela? Júlio, depois Suba.

Em 2008, surgia o projeto que provavelmente foi o mais bem sucedido comercialmente de Taciana. Era o Pequeno Cidadão, de música infantil, ao lado dos comparsas Arnaldo Antunes, Antonio Pinto e mais uma vez Scandurra.
Pequeno Cidadão é MUITO LEGAL. E não precisa ser criança para gostar! Eu juro!

E assim termina – por enquanto – a história das absurdettes.
Todas maravilhosas.
Obrigado para elas. <3

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November 13, 2020 /Jorge Wakabara
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