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Coisas que fiquei pensando depois de ver Nomadland e Minari

March 02, 2021 by Jorge Wakabara in cinema
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Nomadland é um filme norte-americano de 2020 dirigido por Chloé Zhao.
Minari é um filme NORTE-AMERICANO (tá, Globo de Ouro?) de 2020 dirigido por Lee Isaac Chung.

Ambos aparentemente não tem nada em comum.
Aparentemente.

. Tanto Nomadland quanto Minari não são filmes que se passam em metrópoles. São filmes não-urbanos. São filmes rurais? Não saberia bater esse martelo.
. Minari é protagonizado por pessoas amarelas. O diretor, Chung, é um norteamericano amarelo, descendente de coreanos. Nomadland é protagonizado por uma mulher branca e tem um elenco majoritariamente branco, e foi dirigido por uma mulher amarela. Zhao é chinesa.
. Chung deve ser o diretor da versão live action do anime Your Name, que todos amam e eu acho um amontoado sem charme de clichês. Zhao é a primeira mulher amarela a dirigir um filme da Marvel: Os Eternos. Ela também é a primeira mulher amarela a ganhar um Globo de Ouro de Melhor Direção por Nomadland.
. Fern, a personagem de Frances McDormand em Nomadland, e a avó de Minari, interpretada por Yuh-jung Youn em Minari, seriam amigas caso se encontrassem em uma realidade paralela.
. O xixi é um dos temas de Minari. O cocô é um dos temas de Nomadland.
. A casa de Fern e a casa da família de Jacob (Steven Yeun) ficam em cima de rodas. A da mulher branca Fern anda por aí, desbrava os EUA. A da família amarela se finca em um pedaço de terra, recusa-se a sair. Quer criar raízes.
. A natureza em Nomadland é vasta, enorme, grandiosa. A natureza de Minari é linda, extremamente verde, contida num pedaço de terra, modificada com um trator, cultivada. Minari em si é um vegetal usado na culinária coreana.
. Minari, o vegetal, nasce na água. Grande parte de Nomadland se passa no deserto.
. Fern é nômade. Jacob é agricultor, o contrário do nômade.
. Fern trabalha em bicos. Lanchonete. Empacotadora da Amazon. Limpa banheiro do camping. Jacob e Anne (Noel Cho) identificam o sexo de pintinhos e os separam. Nem sei se existe um nome para essa profissão em português. Jacob é mais rápido nisso que Anne.
. Fern não tem família. É viúva e tem amigos que vai arrecadando na sua jornada. Jacob e Anne só tem a família. Anne não consegue fazer amigas.
. Fern tem uma irmã e tem um homem interessado nela, mas ela prefere ficar sozinha depois da morte do marido. Jacob e Anne brigam muito. Anne chama a mãe para morar com ela. Eles vivem em conjunto.

. Fern perdeu tudo e decidiu viver uma vida nômade. Jacob e Anne juntaram o pouco que tinham para tentar uma nova vida. Uma vida dura que te prende à terra arada, plantada, à colheita.

. Os dois filmes falam sobre o sentido da vida. Ou sobre como dar sentido à vida.

Como você dá sentido à sua vida?
Onde você se sente em casa?

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March 02, 2021 /Jorge Wakabara
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cinema
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Raised by Wolves é tudo – amém!

October 13, 2020 by Jorge Wakabara in TV

Raised by Wolves não está muito comentada aqui no Brasil principalmente porque não está disponível pros brasileiros – é uma série da HBO Max. Mas sou fã do Ridley Scott e meu marido também, então "corremos atrás” dessa série de ficção científica produzida por ele e com os dois primeiros capítulos dirigidos por ele.

Ao mesmo tempo, é aquela coisa, né: essa história de chegar num novo planeta com perigos, hummm, já vimos Scott fazendo antes. E ele costuma se repetir pra além da conta. Então a gente chegou com um pezinho atrás. Mas existe um segredo em Raised by Wolves: o criador dela não é Scott e sim Aaron Guzikowski.

A Mãe (Amanda Collin), uma androide de aparência andrógina na superfície (me lembra Doris para Maiores!) e suas crianças

A Mãe (Amanda Collin), uma androide de aparência andrógina na superfície (me lembra Doris para Maiores!) e suas crianças

Existem elementos em comum com o trabalho anterior de Scott, claro: andróides, criaturas alienígenas animalescas e violentas, as câmaras de sono, os cenários extraterrestres com uma devastação pós-apocalíptica. Mas tem um elemento principal aí que muda quase tudo e que não esteve presente de forma tão primordial em algo ridley-scottiano antes: a religião organizada e a fé em um mito ancestral.

Fóssil de uma serpente gigante, cena de Raised by Wolves

Fóssil de uma serpente gigante, cena de Raised by Wolves

Na franquia de Alien, uma mitologia mais completa só foi aparecer bem depois, com os mais recentes Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), que ainda podem (devem?) ser completados com mais um, formando uma trilogia de prólogo. Antes, o alien era uma criatura extraterrestre parasitária e letal e pronto, o inimigo estava ali, o desafio dado era conseguir fugir dessa colônia horrorosa sem que esses bichos conseguissem se espalhar por outros planetas e, principalmente, sem que uma rainha-mãe chegasse na Terra. Outro desafio das tramas eram os militares ou representantes do governo, que viam nos aliens uma oportunidade de uma arma poderosa na guerra e não entendiam que os aliens são incontroláveis. Quem ousava querer um alien pra chamar de seu geralmente acabava tomando do próprio veneno, morto por algum deles.

Achou o neném! Cena de Alien: Covenant (2017)

Achou o neném! Cena de Alien: Covenant (2017)

Já em Raised by Wolves a gente percebe uma clara vontade de criar um universo particular que vai servir para discutir de maneira metafórica as instituições religiosas e o que permeia a fé humana ao mesmo tempo que constrói uma história mítica em si. Tudo começa com dois fatos: uma guerra santa faz uma grande nave, a arca, sair da Terra com colonizadores em direção de um novo mundo, o Kepler-22B. Esses colonizadores são da religião oficial que cultua um deus Sol, os mitraicos (o Mitraísmo curiosamente existiu de verdade na nossa história terrestre, entre os séculos 3 e 4 na Roma antiga). Ao longo da série, também são citados Rômulo e Remo, em referência clara à origem mitológica de Roma com os irmãos fundadores que foram amamentados por uma loba.

Ao mesmo tempo em que essa arca decola, também está saindo uma outra nave, essa com dois andróides, a Mãe e o Pai (Abubakar Salim), e seis embriões humanos. A ideia do homem que coloca esses andróides pra embarcar é que eles colonizem e garantam um futuro pra humanidade sem guerra – esse cara é ateu e programa os andróides para que eles criem essas crianças como ateias, evitando assim conflitos religiosos. O azar: essa nave também está programada para ir pra Kepler-22B.

Outra curiosidade: Kepler-22B também existe na vida real. Ele foi o primeiro descoberto pela Nasa como teoricamente habitável, baseando-se na distância entre ele e a estrela do sistema em que está.

Guerreiros mitraicos na série: Marcus (Travis Fimmel), Sue (Niamh Algar) e Lucius (Matias Varela)

Guerreiros mitraicos na série: Marcus (Travis Fimmel), Sue (Niamh Algar) e Lucius (Matias Varela)

A Mãe vê os mitraicos como inimigos. Um dos grandes plot twists é que ela não é apenas maternal: guarda dentro de si uma outra essência que, aliás, lembra a mulher-robô do clássico Metrópolis. Scott na verdade aponta como referência a estátua que fica no Rockefeller Center de Nova York. E a posição dela, de braços abertos e pernas unidas, obviamente nos lembra da crucificação de Jesus (tem outro momento que ela fica na mesma posição).

Terra prometida, serpentes (aqui elas são gigantes), sacrifícios, fogo como símbolo do divino, milagre, privações e êxodos no deserto, vozes e visões (que podem ser mensagens do divino… ou esquizofrenia?): tudo isso vai pipocando ao longo dessa primeira temporada. Também rola falibilidade de líder religioso, crime em nome do deus deles, intolerância contra qualquer outra crença (ou a falta de crença). Soa bem, hum, contemporâneo. Infelizmente.

Mas um traço que é BEM Ridley Scott na série é o androide e a questão: até que ponto eles não têm sentimentos de empatia e outros traços humanos, como o ciúme, a tristeza perante a rejeição, o instinto materno? Essas características humanas seriam programáveis? E será que não seriam corruptíveis? Não se desenvolveriam e se transformariam em outras coisas, tal qual acontece nos próprios humanos?

Já foi confirmada uma segunda temporada de Raised by Wolves. Mal posso esperar!

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October 13, 2020 /Jorge Wakabara
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