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The Crown temporada 4: o imitador vs o ator

Gillian Anderson interpreta Margaret Thatcher em The Crown

A essa altura você já sabe que a quarta temporada de The Crown estreou na Netflix. A série acumula fãs e deve ser uma das mais comentadas do serviço de streaming hoje ao lado de Stranger Things. E essa nova fase traz dois elementos que aumentam mais o interesse do pessoal: aparecem na trama a primeira-ministra Margaret Thatcher e Diana Spencer, a princesa do povo.

Não é novo mas é certo: a interpretação dramática de personalidades que existiram nos fascina. O último Oscar de Melhor Atriz foi para Renée Zellweger no papel de Judy Garland – um filme que nem todo mundo viu mas mesmo assim levou essa estatueta. São tantos outros exemplos: Meryl Streep como a mesma Margaret Thatcher, Natalie Portman como Jackie O, Babu Santana como Tim Maia.

Babu Santana no filme Tim Maia

Porém, algo parece separar essa turma. Portman, ao meu ver, não teve um desempenho tão bom quanto o Babu, por exemplo. O que houve? É que essa personificação precisa ultrapassar a mera imitação e injetar alguma humanidade naquela celebridade que só conhecemos em entrevistas, no palco, sob escrutínio público. Portman não conseguiu. Babu nadou de braçada. Muita gente odeia o desempenho do Rami Malek como Freddie Mercury, mas sinceramente também acho merecedor de Oscar. Meio caricatural em certos frames, OK, mas em outras cenas Malek traz uma dimensão humana para a estrela do rock.

E ainda existe outro tipo de caso, no qual acredito que Andrea Beltrão seja um ótimo exemplo no seu desempenho como Hebe Camargo. Ela não era parecida fisicamente com a apresentadora e nem usou de maquiagem para ficar igual. Mas existe algo de verdadeiro no personagem dela, sem precisar dessa ilusão física, que traz uma essência de Hebe. E você acredita na leitura dela. Já é o bastante.

Andrea Beltrão em Hebe

Voltando para The Crown: a interpretação de personagens da família real do Reino Unido e outros que transitaram ao seu redor é um dos maiores apelos da série.

Gillian Anderson encarna Margaret Thatcher e o faz de maneira muito instigante. Quem conhece Anderson (ela é a eterna Agente Scully de Arquivo X) sabe que o seu tom de voz ali não é forçado ou inventado – claro que ela está falando de um jeito característico, mas a voz de Anderson normalmente é um pouco mais grave e rouca. Thatcher é um personagem desafiador porque sua versão da vida real já era meio caricatural, daquele jeito que só os políticos conseguem. Ou seja, o desafio é fazer algo próximo do caricatural (pois, afinal, ela era assim) e ao mesmo tempo crível, principalmente ao redor de interpretações mais naturalistas. Anderson consegue passar certas sutilezas no olhar e no gestual no meio dessa pegada histriônica. Acho que ela arrasou, desempenho digno de Globo de Ouro e Emmy. E vocês, concordam?

Sua provável concorrente é a colega de elenco Emma Corrin. Nas fotos nem dá para ver tanto, mas é no vídeo que a mágica acontece: Corrin praticamente incorpora Lady Di no gestual, o jeito de olhar (aqueles grandes olhos de bicho assustado e curioso), a cabeça inclinada misturando timidez e carisma, o jeito de falar. Quem é meio viciado em Diana Spencer que nem eu, que viu um monte de vídeos, consegue reconhecê-la ali.

Josh O’Connor como Príncipe Charles e Emma Corrin no papel de Lady Di em The Crown

Pouco a pouco, como na vida real, Lady Di vai roubando a cena da família real na minissérie. É como reviver a história, agora em capítulos que você pode maratonar.

Mas a minha visão a respeito da nova temporada é a mesma da terceira. Pobre Elizabeth 2ª. Fica para escanteio. A série definitivamente não é mais sobre ela.

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