Entre Kate & Katy, fique com as duas

Já assistiu ao clipe novo da Katy Perry, de Never Really Over?

Adorei - a música é bem boa, adoro esse clima anos 1970, curto a Katupiry tendo esses momentos palhacitos.
Já teve gente que falou de The OA por causa da coreografia e essa coisa meio terapia alternativa meio seita. Também acho que tem a ver. Agora, novinhas dirão que sentiram um toque de Florence Welch no look esvoaçante, no ar de diva-fada Stevie Nicks. Sim, também tem a ver. Mas houve uma outra cantora pop que, para mim, é a matriz desse tema. Menos rock e mais experimental que Stevie, uma das donas do meu coração - ladies and gentlemen, miss Kate Bush.

Apropriação cultural da China? Um olho bem grande? Já estava tudo na capa do primeiro álbum de Kate Bush, The Kick Inside, de 1978

Apropriação cultural da China? Um olho bem grande? Já estava tudo na capa do primeiro álbum de Kate Bush, The Kick Inside, de 1978

Demorou 3 anos entre Bush gravando demos para uma gravadora e de fato lançando esse álbum. Nesse meio tempo, preparava-se o terreno para a nova estrela. Ela cantou ao vivo com a KT Bush Band em pubs, teve aulas de dança com Lindsay Kemp e se inspirou numa adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes, livro de Emily Brontë, para a TV. Foi mais especificamente uma cena desse filme que bateu na artista: a que mostra Catherine voltando do mundo dos mortos para encontrar com Heathcliff! Tudo isso na cabeça da menina de 18 anos (!) deu no improvável hit homônimo Wuthering Heights (é assim que a obra se chama no original em inglês). E os clipes? Sim, são dois, e em ambos Bush mostra que prestou atenção nas aulas de Kemp.

O olhão arregalado de Bush, de fazer inveja nas coreanas, fica entre o bonito e o assustador. A canção conhecida pelos seus agudos (percursora da música brasileira linda e subvalorizada Escrito nas Estrelas da Tetê Espíndola) vai falando do ponto de vista da personagem Catherine, batendo na janela de Heathcliff e dizendo “abre aí, tô com frio, more!” Sendo que, como eu disse: ela está morta…
Guess it’s never really over…

Bush serve de matriz para tanta gente que nem sei, de Tori Amos a Lady Gaga - ela regravou um dueto que Bush fez com Peter Gabriel, Don’t Give Up, tipo música de auto-ajuda bem bonitinha. A história é de um homem desempregado que está bem na pior, e a voz feminina tenta animá-lo. O clipe da versão com Gaga, que é do The Midway State, é bem parecido com o original.

Mas quando eu digo que Bush é matriz de Gaga, estou me referindo mais a isso…

Madonna nunca imaginou esse grau de histrionismo!
A música Babooshka é do 3º álbum de Bush, Never for Ever. É uma história rocambolesca: uma esposa decide testar a fidelidade do marido mandando bilhetes fingindo ser outra pessoa. Mas o marido, lembrando nesses bilhetes de como a mulher era quando a conheceu, realmente se apaixona. Ou seja, ela mesma estraga o próprio casamento.

Já deu para perceber que Bush curte um caminho lírico mais tortuoso, né?

E tem a música Kashka from Baghdad.

Reparou na letra? Fala desse homem, Kashka, que está em um relacionamento gay mas precisa mantê-lo em segredo - mas ao que tudo indica todo mundo sabe. E ela… quer entrar nesse relacionamento! Alguém disse TRISAL? Essa música é de 1978 - Bush tinha 20 anos!

A babadeira The Tour of Life, turnê de Bush que rolou em 1979, ficaria marcada para sempre na história do pop. Um dos motivos é que ela foi superinovadora na época. E se todo mundo conhece aquele microfoninho tipo telemarketing como o “microfone da Madonna”, ele apareceu mais de uma década antes, em Bush nesses shows, porque ela insistia em cantar e dançar ao mesmo tempo.

Alô, alô. Testando. Um, dois…

Alô, alô. Testando. Um, dois…

Só que Bush não curtia muito o palco. Isso quer dizer que ela nunca mais fez uma turnê - até 2014. E quando a cantora voltou não foi bem uma turnê, e sim uma residência de 22 shows em Londres. Que esgotaram em 15 minutos!

Para terminar, queria deixar com vocês alguns minutos de pop perfection: o lado A do álbum Hounds of Love, o melhor de Bush na minha opinião.

“And if I only could
I'd make a deal with God
And I'd get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
Be running up that building“

E antes de acabar, um extra: Björk fala de Kate Bush.

Por que o mundo não dá ao Bananarama o devido respeito?

Eu sei, a gente não precisa de mais uma referência de mulheres brancas no pop.
Mas ao mesmo tempo é TÃO LEGAL!

And Venus was her name…

And Venus was her name…

O trio inglês Bananarama se formou em 1981 e tem um grande hit, Venus, mas existem outros tão divertidos quanto. Fico me perguntando porque I Heard A Rumor e essa delicinha chamada Love in the First Degree não fazem tanto sucesso no karaokê quanto ABBA ou Queen.

(E para te falar a verdade, prefiro I Heard a Rumor, mas Love in the First Degree ficou marcada como a última com o trio completo - depois dela Siobhan Fahey faria a linha Ginger Spice e sairia do grupo, deixando Sara Dallin e Keren Woodward. Houve uma substituta mas essa sairia no começo da década de 90 e elas continuariam como uma dupla)

Minha deusa, esse figurino… Pitéus!!!

E adoro a letra tipo “oi, sumido”: “I heard a rumor, they say you got a broken heart!” Chique demais, muito sutil!

Mas tem muito mais que eu amo. Cruel Summer, por exemplo, que depois ganhou versão do belíssimo e polêmico Ace of Base:

Imagino que você saiba porque o Ace of Base é polêmico; caso não saiba, entenda na Vice - quem mais? - a ligação deles com o… nazismo! Que pop…

Voltando ao Bananarama, uma das músicas mais perfeitas delas é Robert de Niro’s Waiting.

Fora o fato chiquérrimo delas citarem De Niro, a música tem uma melodia muito gostosinha, esconde uma revolta contra o assédio (“A walk in the park can become a bad dream / People are staring and following me”) e, gente, que refrão é esse? “Robert De Niro's waiting / Talking Italian” - Lady Gaga, infelizmente esse não foi você que fez mas aguardo a regravação. Tem um artigo no Guardian, um dos meus jornais preferidos, que fala justamente sobre a criação da música - elas contam que chegaram a encontrar com o ator, que estava filmando o longa Brazil no Reino Unido na época que o hit foi lançado, e… não o reconheceram de primeira. Risos! Leia aqui!

E a maior novidade é que o Bananarama voltou - primeiramente com Fahey, e agora em forma de dupla novamente. E gente, não é que eu gostei do disco novo? Sei lá, não é uma obra maravilhosa, mas é divertido!

Infelizmente o show desse álbum em Londres vai rolar um pouco antes de eu chegar para ver outra volta - a das Spice Girls. Há que se escolher o seu girl group preferido, né? Fica para outra vez. Mas todo o meu respeito!

Aqui elas estão rindo da quantidade de artigos que começaram com “We heard a rumor” quando elas voltaram

Aqui elas estão rindo da quantidade de artigos que começaram com “We heard a rumor” quando elas voltaram

O lado dark do kawaii

Esse post faz parte de uma sequência! Deixo a lista abaixo - recomendo que você leia esses textos antes desse:
. Memória afetiva
. O que é kawaii?
. A rainha & a embaixadora do kawaii

Já leu? Então vem!

Que gracinha!!! Mas espera… ele está comendo um ser-humano?

Que gracinha!!! Mas espera… ele está comendo um ser-humano?

Sim, estamos aqui para falar dos lados mais obscuros do kawaii. Esse de cima, por exemplo, faz parte do guro kawaii, que mistura referências fofas com o grotesco. O Gloomy Bear é obra do designer Mori Chack e ele faz isso mesmo que você está vendo: machuca, e muito, o seu dono Pity.

Não estou interessado em somente desenhar personagens fofos; quero criar algo que vai fazer o seu coração pular.
— Mori Chack, o criador do Gloomy Bear

Mas esse lado mais sinistro de algo a princípio tão infantil não é um movimento tão contemporâneo. É só tomar como exemplo o ero kawaii, também chamado de erokawa

a6ce5388cadd0ed08e7816e267d47ce6.jpg

Ai, jura?

Desenho do Ado Mizumori, artista precursor do erokawa, que faz essas figuras infantis e… meio sensuais? Affff! Bizarro! E elas apareciam em papéis de carta!!!

A cantora Koda Kumi, que começou a carreira em 2000, se autodenomina uma seguidora do erokawa. Nada muito diferente das cantoras pop sexualizadas da década, né?

A cantora Koda Kumi, que começou a carreira em 2000, se autodenomina uma seguidora do erokawa. Nada muito diferente das cantoras pop sexualizadas da década, né?

Bom, outro artista que mexe com imagens kawaii e clima grotesco-bizarro é o Shintaro Kago, que eu por sinal gosto muito! Dá uma olhada…

É o tipo de coisa que eu penduraria na parede em casa? Hum, não exatamente…

Existem várias referências desse kawaii menos ingênuo, com toques de bizarrice. Vou levantar algumas das mais famosas aqui. Vem comigo:

xxray-tokidoki-salaryman.jpg

Tokidoki

Ela na verdade não é uma marca japonesa, como as pessoas costumam imaginar. Foi criada na Califórnia e seu principal designer, Simone Legno, mistura o kawaii com referências mais agressivas como caveiras e spikes. Acabou adorada no Japão também!

6bb651ff9d68603eba02c16014199175.jpg

Guro lolita

A subcultura das lolitas não é mais tão forte no Japão mas ainda existe. E além das goth lolitas existem as guro lolitas. Que tal? Vai um kawaii zumbilândia para hoje?

Essa de cima é a Kyary Pamyu Pamyu, que surfou na onda do kimo kawaii (que em tradução porca quer dizer fofinho assustador). O disco é de 2013 - ou seja, com uma estética bem influenciada por Lady Gaga, que lançou The Fame Monster em 2009 e Born this Way em 2011. Musicalmente é j-pop contemporâneo normal.

O Kobito Dukan é horroroso, não consigo me conformar que ele virou algo bacana no Japão. Tem até capinha de celular do Kobito Dukan. Socorro!

O Kobito Dukan é horroroso, não consigo me conformar que ele virou algo bacana no Japão. Tem até capinha de celular do Kobito Dukan. Socorro!

m_57df255d6802789849046595.jpg

E eu posso provar

Que coisa horrenda! Pior que o Funassyi. E eu ODEIO o Funassyi. Nem vou colocar foto do Funassyi aqui porque acho um ACINTE a existência desse treco!

monster-mgx-girl-mgx-factory-mgx-color-ink-book-colorinkbook.jpg

MonsterGirl

Criação de Shigetomo Yamamoto, tipo uma prima da Monster High só que japonesa

E sabe aquele bonequinho bebê que é até tema de tatuagem old school?

Kewpie e o Japão tem uma longa história de amor. Quando um pessoal decidiu produzir maionese no país, lá pela década de 1920, eles queriam agradar - afinal, o japonês nunca tinha visto maionese na vida, não era algo familiar. Então eles colocaram a figura de um bonequinho que estava muito popular na época estampado na embalagem. Em 1957, a fusão estava completa: a maionese passou a se chamar Kewpie oficialmente. E os comerciais? Hum, são MARAVILHOSOS. Esse de baixo é de um tempero da mesma marca, que foi batizado de Tarako. Ao dar o play, você se responsabiliza por conta própria: é um jingle bizarro que vai ficar na sua cabeça por pelo menos dois dias.

Creepy! Foto da entrada de uma fábrica da Kewpie Mayonnaise que agora não fica mais aberta para turistas

Creepy! Foto da entrada de uma fábrica da Kewpie Mayonnaise que agora não fica mais aberta para turistas

Obs. jogada no meio do texto: não incluí 6% Dokidoki aqui nesse post porque não considero guro kawaii. Está mais para um kawaii com cores fortes. Sorry, Monster Cafe…

Logo-Hangry-and-Angry.jpg

Hangry & Angry

Eles são esses personagens da imagem e também uma marca de roupa da designer Gashicon. As peças (e os bonecos) podem vir com uns respingos vermelhos…

1.jpg

A artista Junko Mizuno

Essa mulher é maravilhosa. O trabalho dela é maravilhoso. Idolatrem essa mulher comigo!

Gosto de desenhar criaturas e animais fofos. O que rejeito é desenhar meninas kawaii só para atrair japoneses que querem garotas que sejam sensuais e inocentes-ignorantes ao mesmo tempo. Amo desenhar mulheres sensuais, mas é algo para mim, não para atrair homens. (...)

A cultura [do kawaii] é tão complicada que é difícil para eu entender, mesmo nascida e criada no Japão. Ouvi que bebês inconscientemente usam sua fofura para conquistar a atenção das mães. Acho a fofura dos bebês e a fofura que as japonesas usam para atrair homens totalmente diferentes.
— Junko Mizuno
junko_mizuno_pomegranate.jpg

Girl power!

Seguindo esse raciocínio, acho que a Junko faz essas suas figuras serem assustadoras de propósito, para meterem medo nos homens. Yasss!

Breve parênteses: quando fui para o Japão pela primeira vez o AKB48 , uma banda formada por 48 garotas, já era um sucesso. Em Akihabara (o nome da banda vem desse bairro de Tóquio), já estava aberto o café do AKB48. Não sei se ele ainda existe.

Sentei lá com o Pedro por curiosidade. É tudo temático - o cardápio, o porta-copo, os cartazes. Em um telão bem grande, ficam passando clipes com as meninas. Acho que às vezes rola apresentação ao vivo delas.

E o público? Homens de meia idade. Os chamados salary men. É… Esquisito? Você não viu nada: assista Tokyo Idols, tem na Netflix.
Fecha parênteses!

Na mesma pegada de subversão do kawaii na arte da Mizuno mas não exatamente com esse viés mais feminista, existe o movimento New Pop ou Superflat. O nome não pegou, mas um de seus artistas e seu manifesto superflat, que prega o fim da divisão entre alta e baixa cultura japonesas (ou seja, a cultura sofisticada à Quioto da cerimônia do chá e dos salões fechados e o contraponto dos mangas, animes, games e fancy goods da indústria de entretenimento), ganhou fama internacional. Na verdade, mais internacional do que nacional: Takashi Murakami é considerado genial por muita gente fora de casa, mas o Japão em si não liga muito para ele. Será que é porque ele subverte signos do kawaii de maneira provocadora, a ponto deles ficarem assustados?

Tan Tan Bo a.k.a Gerotan: Scorched by the Blaze in the Purgatory (2018)

Tan Tan Bo a.k.a Gerotan: Scorched by the Blaze in the Purgatory (2018)

Murakami é bem conhecido por sua parceria com a Louis Vuitton e pelas suas obras com flores. O caráter bem comercial de algumas de suas obras incomoda bastante gente - meio que na mesma pegada de Romero Britto. Mas eu acho sinceramente que ele consegue ser bem mais profundo em suas propostas, e mesmo o fato de transformar seu trabalho em fancy goods é uma espécie de subversão do sistema.

E me diz: por que o Murakami é uó e a Yayoi Kusama, que também é bem pop e também já fez colab com a Vuitton, não é?

77525593.jpg

Murakami em si na Gagosian Gallery

Essa foto de 2011 saiu desse artigo do Observer

dc39b3525587bd951259a960b364ecda.jpg

E essas são duas das minhas obras preferidas de Murakami

Hiropon (1997) e My Lonesome Cowboy (1998). Sim, é uma mina com umas tetas gigantes saindo leite e um boy esporrando. Não seja careta! Você está ficando vermelho?!

Gosto dessas obras porque elas mostram a sexualização do kawaii, como se esfregasse na cara do Japão que não adianta parecer infantilizado e asséptico em relação a sexo porque as subculturas do hentai (o manga e anime eróticos) e outros fetiches continuam ali, prontos para emergir.

Na mesma turma de Murakami, vários outros artistas fazem movimentos parecidos. Vamos a eles:

yoshitomo-nara-drawings-69.jpg

Yoshitomo Nara

Que eu gosto tanto quanto ou até mais que o Murakami!

yoshitomo-nara-kitty.jpg

Quem resiste

a essa carinha sinistra? Yoshitomo, você é o cara

MR., aqui na frente de uma de suas obras, trabalha com a estética exagerada da cultura otaku - fonte da foto é o Hypebeast

MR., aqui na frente de uma de suas obras, trabalha com a estética exagerada da cultura otaku - fonte da foto é o Hypebeast

Making Things Right (2006), de MR. - e sim, você está vendo a calcinha

Making Things Right (2006), de MR. - e sim, você está vendo a calcinha

Mariko Mori já fez exposição em CCBB aqui no Brasil e tem umas viagens sensoriais futurísticas - o kawaii entra como subtexto e talvez até inconscientemente, já que ele está tão enraizado na cultura japonesa

Mariko Mori já fez exposição em CCBB aqui no Brasil e tem umas viagens sensoriais futurísticas - o kawaii entra como subtexto e talvez até inconscientemente, já que ele está tão enraizado na cultura japonesa

7235c3c9-6ae5-4d6b-9f42-b9a325340410_570.jpeg

Rising, Floating Energy and Flowers (2013)

Obra de Aya Takano, que tem um ar kawaii old school mas traz um clima de mistério e sensualidade nas suas obras

Belíssima essa obra da Takano, né?

Belíssima essa obra da Takano, né?

Tenho uma paixão real por aquarela, pincéis e papel de desenho. Comecei com aquarela, aí experimentei pintura a óleo no Ensino Médio, aí abandonei isso aos 19 anos para tinta acrílica, que é mais próxima da aquarela na tela. Depois de 11/03/2011 [a data do acidente nuclear em Fukushima], chocada, comecei a recusar as coisas que não são naturais. Meu paladar mudou e meu jeito de vestir também. A tinta acrílica não era mais bacana, então voltei para a tinta a óleo.
— Aya Takano
Miss Maid (2002) de Shintaro Miyake

Miss Maid (2002) de Shintaro Miyake

Obra do Yosuke Ueno - que me lembra um pouco a pegada da Nina Pandolfo! As coisas dela são bem kawaii, você não acha?

Obra do Yosuke Ueno - que me lembra um pouco a pegada da Nina Pandolfo! As coisas dela são bem kawaii, você não acha?

Obra da Chikuwaemil, sempre com uma explosão de cor

Obra da Chikuwaemil, sempre com uma explosão de cor

E finalmente a Hello Kitty do mundo bizarro, obra de Yoskay Yamamoto

E finalmente a Hello Kitty do mundo bizarro, obra de Yoskay Yamamoto

On Our Way Home (2015), do Yoskay Yamamoto. Também acho o trabalho dele foda! E você, de qual gostou mais?

On Our Way Home (2015), do Yoskay Yamamoto. Também acho o trabalho dele foda! E você, de qual gostou mais?

Bom, espero que vocês tenham gostado desse post interminável! Agora é hora de segurar para a próxima parte dessa sequência, na qual vou falar de um bairro que virou um mito. Um mito maior que Pinheiros, que o Soho nova-iorquino, que Shoreditch… e talvez equivalente a Copacabana, ocupando um espaço cultural que os outros só sonham e nunca vão conseguir.

Adivinhou? Se ainda não conseguiu… acho que você precisa ouvir mais Gwen Stefani.

Uma das minhas músicas preferidas de todos os tempos...

É japonesa.
Tentei cantá-la recentemente no karaokê e não deu muito certo - a letra só aparece em hiragana e kanji (que são as letras e ideogramas japoneses) e eu tive que acompanhar lendo a letra no celular e… Basicamente é difícil cantar em japonês quando você não sabe japonês, certo? Era de se imaginar!
Já tinha ouvido essa música antes mas a primeira vez em que realmente prestei atenção nela foi num karaokê - só que em Tóquio em 2015. A minha amiga Kaori Nagata cantou.
Aí fiquei com essa música na cabeça e fui descobrir a história dela. Isso acabou gerando uma thread que segue abaixo:

Clica no tweet acima para ver a thread toda!

Nessa imagem Yumi Arai se prepara para levar a música pop japonesa nos ombros - rainha maravilhosa

Nessa imagem Yumi Arai se prepara para levar a música pop japonesa nos ombros - rainha maravilhosa

E para quem quer ouvir o disquinho - a minha preferida é a primeira:

London, London: para quem vai pela primeira vez

Sim, caro leitor: vou para Londres mais uma vez daqui a menos de um mês.

O incauto deve pensar: pôxa, tanto lugar para ir no mundo, por que o Jorge vai tanto para Londres?
Primeiro porque é melhor que Paris (brincadeira; mas é verdade).
Mas o motivo acho que vem da minha educação, acredita?

Papai sempre fez questão de investir muito na minha educação e na das minhas irmãs - tanto que fiz duas faculdades particulares. E desde pequeno ele me matriculou na Cultura Inglesa: a gente precisava estudar inglês, isso seria um diferencial no mercado de trabalho. Ele nunca tirou isso da cabeça. Realmente foi e é um diferencial, meu inglês é bem bom por causa de todos esses anos em que fiz aula duas vezes por semana na Cultura - que os iniciados chamavam de Tortura Chinesa. No fundo era legal, só era chato ter que ir em mais uma escola além da escola normal, né? E um lado da Cultura Inglesa que é bacana está no nome: lá você não só aprende a língua, mas todo o material didático está cheio de referências ao Reino Unido, de cool britannia a swinging London passando por lugares turísticos, English breakfast e obviamente o sotaque. O inglês que você aprende na Cultura é o britânico, e tive professores nativos da Inglaterra.
Resultado: virei uma criança e um adolescente fissurado em tudo que era inglês. Tava nem aí para NY, EUA e Disney: queria saber de Beatles, de Rolling Stones, de Oasis, de Blur e de Spice Girls. Queria saber da Ministry of Sound, de Prodigy e Chemical Brothers, do David Bowie, do George Michael (“será que ele é gay, mesmo?!”), da The Face (até hoje a minha revista preferida é uma revista inglesa, a Mojo), da família real britânica especialmente Lady Di, de Trainspotting. Nos anos 1990 o moderno estava em Londres, quem era moderno queria estar em Londres - durou até os anos 2000, quando Madonna casou com Guy Ritchie e aí estragou o rolê. Risos! Tô brincando, não me matem, queridos fãs de Madge.
E por isso acabei fazendo um pequeno intercâmbio de um mês para Londres com a minha amiga Massami Akutsu em 1997, nós dois com 16 aninhos, no fervo dos hormônios, querendo descobrir tudo. Tudo o que você está imaginando que a gente pode ter feito: sim, fizemos. Inclusive ir na Ministry of Sound e de fato conseguir entrar nela (usei uma carteirinha de albergue de uma carioca maior de idade que se chamava Daniela!). Foi em Londres que beijei um homem pela primeira vez - e ele era londrino.

Lady Diana Spencer morreu em Paris mais ou menos um mês depois da gente voltar desse intercâmbio. Em 1998, Geri Halliwell anunciava sua saída das Spice. E entre 1999 e 2000, eu trabalhei na assessoria de imprensa do canal Multishow e assisti pela primeira vez Absolutely Fabulous, a série inglesa mais perfeita da história das séries inglesas (com The Office quase lá).

princessdiana2-56a48c0a3df78cf77282edfe.jpg

Ícone

Sou meio fissurado na história dela até hoje. E você?

Essa introdução que virou um textão é para dizer que Londres sempre rondou e provavelmente sempre vai rondar a minha vida - e a coisa ficou ainda mais exagerada quando criei um monstro levando o meu marido para lá e apresentando a cidade para ele. Foi paixão avassaladora à primeira vista - depois disso ele vai para lá sempre, ainda mais vezes do que eu! É por isso que esse post, com dicas para quem vai para a cidade pela primeira vez, tem a assessoria dele - thank you, baby! ;)
Sem mais delongas: vamos a elas?

p244417670-4.jpg

Pegar busão é bom

Se você tem mais tempo, o ônibus é muito mais legal do que o metrô. Ele é mais barato, vai demorar mais porém você vai observando a cidade, e tem todo o charme dos dois andares.

Menção honrosa à nossa amiga Yéssica Klein que nos apresentou a linha 23, que vai para quase todos os lugares que você precisa ir ou pelo menos bem perto desses lugares!

E só pegue o black cab, os famosos táxis pretos londrinos, se você for milionário.

1600.png

Zona 2 at least

Londres é dividida em zonas: no centro fica a 1, ao redor do centro fica a 2, e assim por diante. Na minha humilde opinião, a zona 3 já fica bem longe das principais atrações turísticas e você vai demorar mais e pagar mais caro no transporte público.

Existem bairros especialmente estratégicos e com bastante opções de acomodação: Earl’s Court e Paddington são os que a gente usa bastante, com preferência pro primeiro porque ele tem boas linhas de metrô (a Piccadilly Line, por exemplo, vai direto pro meio do fervo: Piccadilly Circus, Leicester Square, Covent Garden; e é por ela que você consegue ir para a King’s Cross St Pancras para pegar trem!). Dá para ir em várias lugares em uma caminhada. E os hotéis são bem legais na questão custo x benefício!

pret_a_manger_wikicommons_thumb800.jpg

O seu melhor amigo

Pret a Manger é um dos lugares mais legais para tomar café e comer alguma coisinha no meio do seu roteiro: o custo x benefício é bom (Londres é uma cidade cara mesmo, então essa dica é preciosa), as coisas são bem gostosas.

A culinária inglesa não é exatamente deliciosa. Até que curto (pois excêntrico) mas com moderação e só fish & chips (peixe empanado com batata frita), algumas tortas (mas apenas algumas mesmo, a chance de ser sem graça ou ter um gosto bem exótico é grande) e pronto.

Então nossa dica para Londres para comer barato é supermercado - lá eles têm várias coisinhas já prontas e inofensivas, tipo salada, pão recheado, macarrão etc. E também vale dar uma olhada nos restaurantes de estrangeiros: chinês, árabe, italiano, vietnamita… Provavelmente vai ser mais barato e mais gostoso.

Ah, e tem redes de restaurante que a gente adora: Eat, Wagamama (que é um pouco mais caro mas muito gostoso), Wasabi e o Itsu. Outro segredo: geralmente no Itsu as coisas que sobram ficam 50% mais baratas um pouco antes do restaurante fechar, tipo meia hora antes. Ah, e sabia que às vezes isso também acontece nos mercadinhos da Liberdade em São Paulo?

rough-trade-east-2-e7a6d4a5d86e348cec661e5f8812eeb9668e4e6b81d9daa608f177dab016548b.jpg

Ainda existe um indie dentro de mim

Então a gente continua frequentando a Rough Trade!

Uma das lojas de música mais incríveis do mundo, a Rough Trade é parada obrigatória. Você só ouve Spotify? Tudo bem: também é um bom lugar para você descobrir sons que não conhecia e depois buscá-los no seu aplicativo. Como tenho vitrola, às vezes acabo saindo com um disquinho (ou dois, ou quatro…). Mas confesso que o que amo mesmo é a seleção de livros deles - sempre tem algo que me interessa. Aliás, fica a dica também para a seção de livros da Harrods - sim, é carérrima; sim, você provavelmente não vai levar nenhuma roupa; mas sim, talvez você leve um livro!

gettyimages-982745620.jpg

Mais compras?

Não esquece de passar na Tiger!

Existem todas as lojas manjadas para quem viaja para o exterior - as minhas preferidas são Uniqlo e Urban Outfitters, o Pedro não resiste à Primark, sempre passamos na H&M. Às vezes a Pull & Bear está bem legal, e eu tenho ficado muito na onda da Benetton depois que o Jean-Charles de Castelbajac assumiu a direção criativa. Eu a-do-ro a Fiorucci, então sempre dou uma passadinha; e a Liberty, que simpatizo, mas obviamente nunca compro nada por motivos de conta bancária saudável. Da última vez que fomos, também curtimos a Goop, loja da Gwyneth Paltrow, principalmente na parte de beleza. Cara porém agradável. E o Pedro, como é muito fã da Vivienne Westwood, sempre quer ir em pelo menos uma loja dela - a de Chelsea, a World’s End, é tipo ponto turístico para o fashionista pois segue no mesmo endereço e imóvel que Vivienne abriu a sua mítica loja SEX com o então marido Malcolm McLaren e influenciou a estética do punk para sempre. Mas talvez a mais legal de todas seja a Flying Tiger, uma loja de miudezas de Copenhagen que traz um monte de coisa que a gente nunca soube que queria ter mas de repente é tudo na vida: um conjunto de copinhos rosa com um desenho fofo, uma máscara linda para usar no Carnaval, uma placa luminosa, um lápis todo brilhoso, cabo USB colorido. O Alexandre Herchcovitch já me disse que também ama! É tudo baratinho, então você acaba levando cerca de 500 itens, pagando um milhão de libras e se preocupando com o excesso de bagagem.
Pensando bem, talvez seja melhor você nem entrar nessa loja.

Ah, e tem outra loja, essa um pouquinho mais antiga…

methode_times_prod_web_bin_b47f7ada-f4c4-11e8-86cb-a1db889448ed.jpg

Uma loja mais velha que a sua avó

E a sua bisavó. Bom: é uma loja mais velha que a Revolução Industrial!!!

A Fortnum & Mason foi aberta em 1707 pelo mister Fortnum e mister Mason, e inicialmente vendia comida. Hoje ela é uma loja de departamento chique, mas segue no segmento alimentício: chocolates lindos, docinhos e, principalmente, chás. Ela ficou intimamente ligada à imagem da família real inglesa e tem entre os seus blends o Queen’s Blend Tea, criado em homenagem à rainha Elizabeth, a monarca com maior tempo de reinado em UK. Ui! Mesmo que você não vá comprar nada (mas duvido que você não saia com um pacotinho de chá para sua mãe), vale visitar. O preço não é barato, mas é pagável e você se sente adquirindo algo luxuoso.

travel_oyster_tap.jpg

Não seja uma ostra

Vale a pena comprar o Oyster? Olha, eu acho que sim, pela praticidade. Mas fique atento às regras!

Tem uns pacotes para usar o cartão à vontade por um período e combinação de zonas, mas ele pode não ser válido para alguma área específica. A do aeroporto, por exemplo: quando você chegar em Heathrow, só coloque dinheiro no Oyster para ir até o hotel e ainda não compre pacote porque vai dar ruim, a região do aeroporto é a 6. O pacote é validado assim que você o compra - então é melhor comprá-lo quando você já estiver na zona do seu hotel!

newtatemodernsouthview.jpg

Vá ao museu, por favor

É de graça. É sério, vá.

Museu geralmente é carérrimo na Europa. Absurdo de caro. Esse é um dos motivos para amar Londres: acervos de museu incríveis e com entrada gratuita! Eles pedem contribuições espontâneas, e às vezes a gente até dá com gosto porque é muito legal. O meu parâmetro é não dar se eu vou para alguma exposição paga lá dentro; e geralmente acabo indo.

É difícil falar quais são meus museus preferidos na cidade: pode ser todos? Esse da foto é o Tate Modern, que amo. Tem o Victoria & Albert, o de História Natural, a National Gallery, o British Museum, o de Ciência… É tudo mara. Mesmo que você não goste tanto dos rolês de museu, acho que vale porque é de graça mesmo. E você devia gostar, quem sabe indo em um museu londrino você não acaba descobrindo que gosta?

E eu também queria falar das ROUBADAS. Tipo: já fui, não recomendo!

. Troca da guarda: é uma bobagem, mas todo mundo vai. Já fui mais de uma vez. Vale a pena? Não. Vou te julgar por você querer ir? Não mesmo. Você vai se arrepender? Vai sim. Tudo bem? Tudo bem. Mas se quiser pular, não fique com dor na consciência!

. Madame Tussauds: o museu de cera é feio, é caríssimo, é cafona. Não precisa, a menos que você queira dar risada e esteja, digamos, podendo ($$$).

. London Pass: olha, os museus são de graça. Se é a primeira vez que você vai para Londres, o acervo deles já vai ter muita coisa para ver. Talvez você queira ir para uma ou outra exposição paga, e mesmo assim a gente acha que não vale o preço de um London Pass. Faça o cálculo antes.

. Metrô no horário de pico: só vi coisa pior na linha vermelha em SP e no horário de pico em Tóquio. Faz uma horinha no Starbucks, vai por mim. Ou vá à pé, vai ser bem mais confortável por mais longe que seja.

. Região dos museus no sábado à tarde: evite. Aliás, sábado à tarde é hora boa para, sei lá, ir em um dos parques, ir para Camden Town, ir conhecer Hackney e Shoreditch - qualquer coisa que seja mais afastada dos grandes centros de compra ou de visita.