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A quadrilogia jovem de Marcos Rey – e por que eles ainda não ganharam uma adaptação audiovisual?

July 19, 2020 by Jorge Wakabara in livro, cinema

Você lembra? Lembra sim, né? Marcos Rey, que na verdade era um pseudônimo de Edmundo Nonato, assinou vários livros da coleção Vagalume da Ática. Entre eles, quatro na verdade faziam parte de uma sequência: O Mistério do Cinco Estrelas (1981), O Rapto do Garoto de Ouro (1982), Um Cadáver Ouve Rádio (1983) e Um Rosto no Computador (1994). Muita gente só leu os três primeiros porque o quarto saiu onze anos depois. Eu não me lembro quais li e quais não li na época, mas durante a pandemia, como vocês podem reparar nos posts anteriores, a nostalgia está batendo forte por aqui. Portanto: decidi revisitá-los. Li na sequência e várias perguntas começaram a surgir, sendo a primeira…

Por que eles não ganharam uma adaptação audiovisual até hoje?

A coisa fica ainda mais complexa quando a gente descobre que, mesmo antes de Rey começar a contar as aventuras da turma do Léo, ele já trabalhava como roteirista. A novela A Moreninha da Globo, de 1975, é um exemplo: roteiro dele. A modernosa Super Plá, da Tupi de 1969, também tinha texto dele com Bráulio Pedroso.
E mesmo depois, em 1986, o livro de Rey Memórias de um Gigolô foi adaptado por ele mesmo e Walter Dust para uma minissérie da Globo com direção de Walter Avancini estrelada por Lauro Corona, Bruna Lombardi e Ney Latorraca. Sem esquecer de Elke Maravilha, que ARRASA como madame Yara!

Antes, em 1970, Memórias de um Gigolô foi filme de Alberto Pieralisi sem participação de Rey no roteiro.

Mas se Rey tinha tanta entrada na Globo assim, sendo nome conhecido, por que os seus best seller juvenis nunca emplacaram em filme ou série?
A verdade é que em 2012 tudo indicava que eles iam virar sim, uma série de três filmes (a princípio ignorando o quarto). Saiu notícia e tudo. A RT Features de Rodrigo Teixeira, que estava por trás do projeto, é bacana e já produziu coisas incríveis como O Cheiro do Ralo (2006), Quando Eu Era Vivo (2014), O Abismo Prateado (2011), Tim Maia (2014), A Vida Invisível (2019) e também filmes internacionais como Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e A Bruxa (2015). Ou seja: não é brincadeira. O projeto continua em destaque no site da produtora, mas não existe diretor, elenco, nada. Desde 2012!

O pior é que há precedentes: O Escaravelho do Diabo, outro livro-hit da Vagalume, esse escrito por Lúcia Machado de Almeida, virou filme em 2016. Dirigido por Carlo Milani, é meio OK. Mais para OK do que para bom. Mas eu sempre achei O Escaravelho mais mediano que as tramas do Marcos Rey, confesso…

Os livros são bons?

Para quem não leu ou leu faz muito tempo: os livros sempre se passam em São Paulo, mais especificamente no bairro do Bixiga, e trazem como personagens Leo, o bell-boy do hotel cinco estrelas Emperor Park Hotel, o seu primo cadeirante e jogador de xadrez Gino e a sua quase-namorada patricinha Ângela. São histórias de thriller policial, nas quais os três, às vezes com a ajuda do porteiro do hotel Guima, desvendam o culpado.

Gosto muito do Rapto, no qual um rapaz amigo deles que começou a fazer bastante sucesso como músico é raptado. O primeiro, Mistério, é um clássico, muito bom também. O terceiro, Cadáver, é legal mas acho que perde um pouco para o segundo – a gente já conhece a dinâmica e fica mais fácil descobrir as pistas. E em Cadáver as situações mais violentas às quais tanto Leo quanto Gino se expõe tem o objetivo de talvez trazer mais adrenalina. Isso acontece mesmo, mas ao mesmo tempo fica difícil acreditar que eles seguiriam bancando os detetives com um perigo tão concreto de violar suas integridades físicas. Então Cadáver é o mais descolado da realidade, com um nome (maravilhoso, por sinal) digno de imprensa marrom.

E o quarto é bem fraco perto dos outros. Cheio de pontas soltas, ele sugere várias coisas que não são desenvolvidas direito – a sequestrada Lia gosta ou não do Leo? E essa tensão sexual entre Gino e Ângela, aparece de onde e pra quê? Uma falha que considero enorme é que no meio do livro a gente já sabe quem é o culpado, o que acaba com esse suspense – só ficamos tensos para saber como eles vão desvendar o mistério, e o modo que eles conseguem fazê-lo também é meio besta. Entendo que Rey provavelmente não quisesse repetir a mesma fórmula, mas do jeito que ele fez… também não ficou bom. Até o título é meio esquisito: o paralelo entre o computador e o culpado é muito pouco explorado para ganhar tanta importância. Talvez em 1994 a palavra "computador” fosse mais forte, mas hoje é meio qualquer coisa, então ele também envelheceu mal.

De qualquer forma, se você se empolgar e chegar no fim do terceiro, vai acabar lendo o quarto também… Risos!

Quanto aos livros serem materiais bons para um roteiro: SUPER. Acho que pelo próprio Marcos Rey ser roteirista, as histórias que ele criou são bem dinâmicas, facilmente adaptáveis.
Agora, eu preferia uma série do que filmes, e se possível que se passasse nos mesmos anos que os livros, entre 1981 e 1983 (repare que estou ignorando total o Rosto kkkkkkk). Pode ser, Netflix? Amazon Prime? Globoplay?? Alguém???

Eu amava essa capa original! Sucesso! Você já viu as novas versões? Tão fraquinhas perto das antigas…

Eu amava essa capa original! Sucesso! Você já viu as novas versões? Tão fraquinhas perto das antigas…

Para quem ficou curioso: o ilustrador das capas originais dos livros do Marcos Rey é Jayme Leão – inclusive do quarto.
Rey morreu em 1999. Jayme Leão, em 2014.

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July 19, 2020 /Jorge Wakabara
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livro, cinema
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Você lembra de "O Gênio do Crime"?

June 18, 2020 by Jorge Wakabara in livro, cinema

Uma das minhas maiores referências da infância, o livro O Gênio do Crime foi lançado em 1969. Não fazia parte da série Vagalume, que a gente amava, mas tinha mais ou menos a mesma pegada: era uma história com ação e mistério e trazia protagonistas crianças. Depois dessa edição acima, que eu acho que era da Brasiliense e é a que li, ele foi para a Global (acredito que entre as décadas de 1980 e 1990). Hoje a editora Global é a responsável pela série da Turma do Gordo – pois sim, existem 13 livros da Turma do Gordo e O Gênio do Crime é apenas o primeiro!

“Escute aqui, seu bonequinho lustroso! Você que é um burro com ‘b’ minúsculo!”
— Gordo no filme O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime

A história tem um apelo delicioso: trata-se de uma investigação feita por crianças sobre um falsificador de figurinhas do campeonato de futebol. A editora, que promete prêmios em troca do álbum completo, está em maus bocados porque não consegue atender a demanda de álbuns completos decorrentes da venda ilegal de figurinhas falsificadas. Então a turma, formada por Edmundo, Pituca, Berenice e Gordo, decidem ajudá-lo. Eles ainda têm como rival um detetive gringo, apelidado “O Invicto", que quer desvendar o caso primeiro.

É nesse livro que aparece o conceito de "perseguição do avesso”, inventado pelo Gordo, que estimulou muito a minha imaginação. Quando entendi o que queria dizer na época, me achei um gênio (não do crime, claro)! E cheguei a ler algumas outras obras da série, como Cascata de Cuspe (que eu lembro que chegava a ser meio experimental, se não estou enganado), Sangue Fresco e O Caneco de Prata.
Ai, ai, deu até saudade.

O autor, João Carlos Marinho, é apontado como referência na área só pela Turma do Gordo (ele chegou a lançar livros fora da série sem chegar ao sucesso de O Gênio do Crime e as sequências). Uma vez eu estava em férias e passeando por São Paulo. Decidi dar uma fuçada na FNAC de Pinheiros (por aí você já vê que faz um tempo, mas a FNAC já estava meio decadente). E, surpresa, ia rolar uma sessão de autógrafos com João Carlos Marinho! Provavelmente foi em 2015, no lançamento do O Fantasma da Alameda Santos, o último da série da Turma do Gordo. Fiquei NERVOSO, mas ao mesmo tempo estava sem dinheiro, a fila já estava grande e ele nem tinha começado a autografar. Então decidi desencanar depois de um tempo e fui embora me contentando em tê-lo visto.

Nunca mais tive essa oportunidade. João Carlos Marinho morreu em 2019, 50 anos depois do lançamento de O Gênio do Crime.

Mas em 1973, algo aconteceu. Chegava nos cinemas o longa O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime!

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Descobri isso porque fui conferir uma informação que dei no programa Sessão da Tarde do meu podcast sobre Os Goonies. Eu comparei o estereótipo do personagem Chunk, ou Gordo na tradução, com o Gordo da Turma do Gordo de Marinho – que é o mais legal, o que fica com a mocinha e tem as melhores ideias!

Fiquei chocado porque nunca soube do filme baseado no livro antes! Pelo que entendi, João Carlos Marinho participou ativamente da produção.
Há 6 anos, o diretor Tito Teijido (que nunca mais dirigiu um longa) disponibilizou o filme no Vimeo. Junto, ele publicou o seguinte texto:
Este filme foi realizado em 1972, faz 40 anos! Era plena ditadura militar e quem pretendesse dizer sua verdade corria risco de vida. Liberdade não havia e a vida se apresentava medíocre, triste e chata. Por isso fiz este filme, para proclamar o direito e a liberdade de cada um a inventar sua própria vida. Encontrei isso no romance "O Gênio do Crime" de João Carlos Marinho, que até hoje traz essa mensagem para a garotada do Brasil todo.
Hoje este é um filme primitivo, feito sem dinheiro e por amor ao cinema e à vida. Era um Cinema de Guerrilha.


RT se você chorou (eu chorei).

Vou te dar alguns motivos para assisti-lo abaixo:
. O filme é muito bom, principalmente se considerarmos que a produção foi pobre. É bem feito, um roteiro redondo, o som é audível (tem filme nacional antigo que você não entende nada, né?). Tem bastante cena externa, mostrando uma São Paulo de outra época e uma infância que era mais solta, que tinha a liberdade de brincar pela rua sem medo.
. Todos os atores são bons mas a menina que interpreta Berenice, em especial, ganhou meu coração demais. E o Gordo também é muito foda, inclusive como Afonsinho! O ator se chama Arlindo Paulino, mas acho que nunca fez mais nada no cinema.
. Outros atores: acho que Fernando Uzeda é o Edmundo e, pela lógica, Pituca seria Antonio Claudio. Cristiane Heuer é a Berenice? Não tenho certeza. Cazarré deve ser o dono da editora (ele era um ator incrível e morreu atingido por bala perdida em 1992). Osvaldo Tesser, argentino, faz o detetive John Smith Peter Tony. Ele também morreu em 2019. Sidnei Paiva Lopes é o assistente dele – um cara bem envolvido com cinema, chegou a codirigir a comédia Sabendo Usar Não Vai Faltar em 1976.
. Quando o Gordo tem uma ideia genial, ele fica fazendo toda uma cena. Isso já existia no livro e é muito divertido ver como eles concretizaram essa "geração da ideia” no longa! <3
. O xingamento “cara de jaca” é tudo para mim.
. O pôster do Snoopy: quero.
. A calça listrada com blusa vermelha do Edmundo na cena da perseguição: também quero esse look.
. E as cenas do jornal na TV? Todas maravilhosas!
. Corintianos vão ter um apreço bem especial por esse filme. E quem gosta de futebol no geral também!

Quem quiser assistir pode ir nesse link – a senha é sanlo46
E quem quiser ler uma entrevista exclusiva que fiz com o diretor do filme, vem nesse link!

Arlindo Paulino, que fez o Gordo no cinema, no centro; ao redor, pessoas da equipe do filme. Acho que o Teijido é o de preto com o braço apoiado na cadeira do Paulino

Arlindo Paulino, que fez o Gordo no cinema, no centro; ao redor, pessoas da equipe do filme. Acho que o Teijido é o de preto com o braço apoiado na cadeira do Paulino

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June 18, 2020 /Jorge Wakabara
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