Wakabara

  • SI, COPIMILA • COMPRE MEU LIVRO
  • Podcast
  • Portfólio
  • Blog
  • Sobre
  • Links
  • Twitter
  • Instagram
  • Fale comigo
  • Newsletter
round-6.jfif

Round 6 não é Battle Royale e Jogos Vorazes, e eu vou explicar o porquê

October 04, 2021 by Jorge Wakabara in cinema, TV

De tempos em tempos, surgem uns fenômenos pop na Netflix que são muito interessantes. Fico atraído principalmente pelos que estão “fora do eixo”, ou seja, não são produções estadunidenses. La Casa de Papel nunca me pegou porque sempre achei de uma energia heterossexual demais (desculpem-me pela heterofobia), mas entendo o apelo. A alemã Dark já me complicou a cuca na primeira temporada - adorei, mas evitei seguir em frente por preguiça de entender a trama complexa (percebi que, quando lançou a segunda temporada, já fazia muito tempo que eu havia assistido à primeira e que eu teria que fazer ainda mais esforço para lembrar e compreender tudo hehehehe).

Outras, como a belga Noite Adentro, a islandesa Katla e a russa Cidade dos Mortos, tinham tudo para pegar, mas sei lá porque não pegaram tanto, apesar de terem fãs. Sou um deles: gosto e recomendo as três.

Mas estou aqui para falar de uma série coreana que virou um fenômeno pop e entrou para o topo dos conteúdos mais vistos da Netflix em todos os países, assim, de repente. TODOS mesmo. É ela: Round 6, ou o Jogo da Lula.

squid-game.png

Qual é o segredo? Acho que é uma junção de coisas. Visual instagramável dos cenários dos jogos (sério, acho que isso contou muito), figurinos e iconografia que chamam a atenção (as máscaras, a repetição do quadrado-triângulo-retângulo, o visual dos VIPs e do líder, os caixões em formato de caixa de presente), a impagável e marcante boneca Batatinha Frita 123 (como pode uma personagem que aparece tão pouco entrar para o imaginário pop com tanta força?), personagens minimamente carismáticos, gente-bonita-clima-de-paquera (a imigrante norte-coreana Sae-byeok, a “amiga” dela Ji-yeong, o policial Jun-ho, e o recrutador sem nome que dá tapas na cara de Gi-hun: modeletes, né? Sang-woo também é bem bonitão).

Mas volta a fita: para quem não sabe do que eu estou falando, Round 6 traz a história de um jogo criado para um seleto grupo de milionários (os VIPs, que, aliás, não são amarelos, vale salientar) assistirem. Os participantes são pessoas que estão devendo muito dinheiro e querem ganhar a enorme quantia do prêmio. Só que tem um detalhe: o jogo é mortal, literalmente. Você morre se não consegue chegar no objetivo de cada rodada (que são seis, daí vem o nome).

Outro fator importante é: quanto menos gente viva, mais dinheiro fica acumulado no prêmio e menos gente tem para dividi-lo.

round-six.jpg

Te lembrou algo? Bom, parece Battle Royale mesmo. E não é à toa: o criador de Round 6, Hwang Dong-hyuk, já disse que o mangá Battle Royale (que veio antes do filme) foi uma das fontes de inspiração.
E os livros que viraram cinessérie Jogos Vorazes, todo mundo diz, parecem “bastante inspirados” em Battle Royale (sim, isso foi um eufemismo).
MAS todavia contudo porém digo logo: consigo identificar diferenças que ao meu ver são cruciais entre Battle Royale (e Jogos Vorazes) com Round 6. Vamos a elas.
Vão vazar uns spoilers. Teje avisado.

Aqui é vida real, bróder

Em Battle Royale, um regime totalitário fictício que organiza os torneios com estudantes do qual só um sai vivo, em resposta à delinquência juvenil (nunca entendi direito como um jogo mortal como esse vai controlar a delinquência juvenil de um país, mas vá lá, tudo pelo entretenimento). Jogos Vorazes se passa em um futuro distópico com uma capital, Panem, e 12 distritos - que ficariam onde hoje está os EUA.

Round 6 é uma história fictícia, claro, mas ela não se passa em realidade paralela ou no futuro de Seul. A referência é a nossa realidade (ou melhor, a realidade sul-coreana). Tanto que é explorado o absurdo que esse jogo significa - ou seja, os personagens dividem a indignação do que estão vivendo com a gente. Em Battle Royale, os participantes do jogo também ficam indignados, mas porque são eles que estão participando, de surpresa. E em Jogos Vorazes, é uma realidade dada: o jogo acontece faz anos.

As questões morais envolvidas, aliás, nos levam a outro ponto…

Show me the money

Em Battle Royale e em Jogos Vorazes, o jogo é composto de jovens armados lutando pela vida. Eles matam porque só um vai sobreviver.

Em Round 6, fica mais ou menos implícito que somente um sobrevive. Mas existem diferenças:
1. Está em jogo não apenas a sobrevivência, mas uma dinheirama (em reais: 208 milhões).
2. A maioria dos sobreviventes pós Batatinha Frita 123 entendeu tudo que estava em jogo (ou seja, compreendeu que era um jogo mortal), teve a chance de não participar e voltou a participar mesmo assim, voluntariamente.
3. Eles voltaram porque todos os participantes possuem grandes dívidas, ou seja: se eles saíssem do jogo sem dinheiro, voltariam para a mesma vida de antes, perseguidos por credores.

E existem mais nuances. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é um bastião da moral, Shuya Nanahara (Tatsuya Fujiwara) também não quer matar ninguém e só o faz em legítima defesa. Em Round 6 as coisas não são bem assim. Existe o vilão de fato (Deok-su, com direito à tatuagem de cobra no rosto para mostrar que ele é mau), a de moral bem questionável (Mi-nyeo, uma personagem cheia de estereótipos que é transformada pela atriz Kim Joo-ryoung em uma das mais complexas da série, uma mistura de street cred e traumas), o bom de coração puro (Ali, o estrangeiro ingênuo vítima do sistema). E os outros? Sang-woo (Park Hae-soo) também é um vilão? Você pode enxergá-lo como inescrupuloso em diversos momentos, mentiroso (pois engana a mãe no geral e o amigo de infância na hora do jogo). É o tubarão que se deu mal. Salva o grupo quando existe uma causa própria em jogo. No jogo das bolas de gude, ele engana e sofre. No quebra-gelo, ele já está, digamos, contaminado pela amoralidade e mata sem culpa, para não morrer.
Porém, chega o fim e… o que você lê ali? Era tudo pela mãe? Ou ele não conseguiria, como bom “porco capitalista”, ver todo aquele dinheiro desperdiçado?
Gi-hun (Lee Jung-jae), por outro lado, também é questionável. Existe uma linha que ele não cruza. Será? Entre ele e o velho Il-nam (Oh Young-soo), com quem fez amizade, ele escolhe a si mesmo. O velho não está mais lúcido, tem uma doença terminal. Mas isso quer dizer que ele merece menos que Gi-hun? Antes de entrar no jogo, o cara ainda roubava a mãe! Quer pior exemplo? Quando a saúde dela está gravemente ameaçada, ele se arrepende, mas o arco de redenção não é tão, digamos, limpinho e simétrico. E também não “topa tudo para salvar a mãe” - quando o novo marido de sua ex-mulher oferece a grana para que, em troca, ele esqueça da filha, Gi-hun não aceita. Mas participar de um jogo mortal… ah, aí tudo bem!

Round 6 nos deixa com mais perguntas do que respostas porque não fala somente de violência gratuita, do medo da vida humana ter um valor mais relativo. Round 6 é, claramente, sobre dinheiro. Sobre o sistema capitalista. E quem diria, isso tudo vindo da capitalista Coreia do Sul. A dívida é algo real, um problema social do mundo capitalista. Se você tivesse uma dívida desse tamanho, pergunta a série, você entraria num jogo desse?
É uma escolha. Ninguém te força a isso, como em Battle Royale e Jogos Vorazes.

Ainda: na moral dúbia de Round 6, a lógica do jogo não pode ser ameaçada, sob pena de morte. E a lógica é: não haverá benefícios a um ou mais jogadores. Todos precisam ter chances iguais, da mesma forma que se vestem igual e recebem a mesma refeição - meio como num regime comunista! Nesse sentido, é instigante: um jogo para divertir milionários se disfarça de justiça social até as últimas consequências. No fim, parece que esse senso de justiça acontece mais pelas apostas dos VIPs, que precisam de um jogo limpo para funcionar, do que pelos participantes.
Só que… não dá para ter certeza. E essas nuances dão ainda mais sabor e complexidade para a narrativa.

round-six-colmeia.jpg

Ela, mais uma vez: a memória afetiva

Todo filme teen possui, aqui e ali, algo de memória afetiva para alguém que já passou pela adolescência. Stranger Things não é o fenômeno que é só porque remete aos anos 1980 - ele remete a referências de infância e adolescência dos anos 1980.
Em Battle Royale, fica mais difícil ter essa leitura porque, logo no começo, o filme já diz a que veio - mesmo quem usou aqueles uniformes de colegial não vai ter essa sensação boa pois é um thriller tenso e sangrento, quase sem respiro. Jogos Vorazes passa longe de qualquer sensação de memória afetiva em seu universo fictício construído.

Round 6 é um jogo de adultos. Mas os adultos se vêem “brincando” em jogos infantis. E são jogos antigos, desses que a garotada do videogame não brinca mais. Claro, a referência é coreana (nunca tinha ouvido falar de colmeia, por exemplo), mas dá para assimilar a ideia mesmo assim. O playground é universal. Quando Gi-hun lembra do jogo da lula em si, deixa o clima de nostalgia claro.

Game over?

Em Battle Royale, as batalhas terminam mesmo? O fim é claro: aquele jogo foi corrompido, o objetivo inicial não se atingiu (ou foi atingido? Um dos maiores mistérios do cinema pop moderno: o que os personagens Noriko Nakagawa e Kitano conversaram naquela misteriosa cena de flashback?). A sequência de BR dá a entender que sim, as batalhas terminaram, mas o regime totalitário continua. Na trilogia de Jogos Vorazes, como uma “boa” história de herói, o bem vence o mal e o regime é destruído.

Em Round 6, o fim é aberto. Talvez exista uma segunda temporada? Não sei se isso daria certo. Mas o fato é que o jogo em si continua, mesmo sem Il-nam, mesmo com Jun-ho (Wi Ha-joon) tentando denunciá-lo. Os VIPs saem incólumes (a pista deixada pela bomba que Jun-ho descobre no túnel dos mergulhadores não dá em nada, surpreendentemente), o líder sai incólume, o sistema inteiro continua de pé com pouquíssimas avarias.

Gameficação

round-6-2.jfif

Esse item é mais sobre o que Round 6 tem em comum com essas duas outras obras de ficção do que sobre suas diferenças, mas acho que realça o meu ponto de que ela é mais que uma cópia. Talvez todas façam parte do que já está se concretizando como uma “tradição” narrativa.

Battle Royale não foi a primeira nem a última história que segue esses preceitos de jogos mortais. Aliás, não citei várias outras referências aqui, de jogos de sobrevivência. Tem a própria franquia Jogos Mortais, que começou em 2004. Tem a série japonesa Alice in Borderland, na Netflix.

Odeio esse termo gameficação, mas é isso mesmo: me parece que, quando a narrativa se constrói claramente como um jogo, ela é mais claramente assimilada.
Aí aparecem algumas questões:
. Todo jogo precisa ter um motivo e um objetivo.
. Todo jogo tem regras.
. Algumas vezes, existem consequências para regras burladas. Em outras, não.

O excesso de narrativas assim me soa preocupante. A vida real não é um jogo, não é um BBB nem um Jogos Vorazes. A vida não é filme, você não entendeu, diria Herbert Vianna. Encarar a vida como um jogo é empobrecê-la e banalizá-la.
Mas, enfim, esse sou eu e a minha humilde opinião.

Já existiram tentativas de adaptação de Battle Royale, inclusive para a TV. Elas nunca foram para frente principalmente por causa da violência gratuita e polêmica. Em tempos de Round 6, pós-Tarantino (que é um grande fã declarado de BR), de guerra do streaming e de exploração de franquias até o esgotamento… Uma adaptação de Battle Royale pode estar mais próxima do que a gente imagina.

Extra

GEEEEENTEEEE! Aí me fizeram um espaço instagramável na Coreia do Sul com o tema Round 6, com direito a Batatinha Frita 123 e tudo?

Achei o máximo mas não passaria perto. Eu hein, vai que me pegam para jogar um lance mortal…

Se você gostou desse post, talvez goste desses outros aqui:
. It’s a Sin, ai que série boa de chorar
. Drag queens foram de artistas marginalizadas a conselheiras da família
. O outro Pablo: o do Qual é a Música

October 04, 2021 /Jorge Wakabara
Netflix, pop, Round 6, Instagram, figurino, iconografia, máscara, Batatinha Frita 123, Battle Royale, Hwang Dong-hyuk, Jogos Vorazes, delinquência juvenil, distopia, EUA, Seul, Jennifer Lawrence, Tatsuya Fujiwara, Kim Joo-ryoung, Park Hae-soo, capitalismo, Lee Jung-jae, Oh Young-soo, violência, dinheiro, Coreia do Sul, adolescência, playground, nostalgia, Wi Ha-joon, Jogos Mortais, Alice in Borderland, gameficação, streaming, memória afetiva
cinema, TV

A segunda onda do City Pop: Miki Matsubara

September 30, 2021 by Jorge Wakabara in música

Primeiro foi Plastic Love. Já contei toda história aqui: uma música japonesa foi redescoberta nos EUA graças a uma loucura do algoritmo do YouTube que até agora ninguém conseguiu explicar. Música essa que nem era o maior hit de Mariya Takeuchi! De repente, surgiu toda uma subcultura ao redor dessa canção, com uma gama de pessoas fãs de um estilo musical do Japão do fim dos anos 1970 e grande parte dos anos 1980 que nem existe mais. E que nem os japoneses reconhecem direito! Mais exótico ainda: grande parte dos fãs do City Pop nem eram nascidos na época que os hits foram lançados.

Depois de Plastic Love, vários outros artistas, incluindo Tatsuro Yamashita (que é o marido de Mariya Takeuchi), foram descobertos. Discos esgotaram, ficaram caríssimos. E já ouvi muita gente falar que gosta de City Pop porque não entende japonês, então consegue curtir as melodias superchiclete trabalhando ou fazendo outra coisa, sem se distrair muito - vira música boa de fundo.

E finalmente, Mayonaka no Door - Stay With Me de Miki Matsubara virou outro capítulo dessa história do j-pop. Ela chegou a ocupar o topo da parada global do Spotify de hits virais em uma semana de dezembro de 2020! Existem duas teorias para esse acontecimento, mas eu não acho que uma elimina a outra.

Mayonaka no Door foi lançada na voz de Matsubara em 1979. Mais de 40 anos atrás. Então como isso aconteceu?
Quem é rato de YouTube sabe que tem muito canal em que cantores fazem cover de músicas para mostrar seu talento - aliás, acho que era o caso de bastante gente famosa hoje, como Justin Bieber e a brasileira Iza.
Uma dessas cantoras que aproveitam o YouTube para fazer isso é a Rainych.
Ela já é uma figura bem interessante por si só, da Indonésia, muçulmana (dá para sacar pelo hijab) e bem kawaii, uma voz bem gracinha. Atualmente acumula 1,7 milhões de seguidores.
E Rainych decidiu gravar Mayonaka no Door - em japonês mesmo!

Esse vídeo tem mais de 5 milhões e meio de views. E contando.
Raynich, ou quem quer que planeje o visual dos seus vídeos, sabia o que estava fazendo. Como o City Pop é um estilo rodeado de referências retrô, que vão de animes antigos ao disco de vinil, o clipe também tem esse visual inspirado.

Mayonaka no Door então foi redescoberta na Indonésia e outros países asiáticos. Aí foi entrando em playlists e se popularizando. Até que virou… um desafio do TikTok.
Ah, o TikTok. Sempre ele. TikTok é a nova Hollywood, o lançador de tendências atual.

Dizem que existe um primeiro vídeo, que eu não consegui localizar, no qual um usuário do Tiktok coloca Mayonaka no Door para tocar e filma a mãe e a tia ou algo assim. São duas japonesas. E elas invariavelmente começam a balançar de um jeito muito característico quando o refrão da música chega - memória afetiva total.
Aí outras pessoas que têm mãe que viveu na década de 1980 no Japão decidiram fazer a mesma coisa. E descobriram que elas… reagiam da mesma forma!
A coisa tomou tal proporção que virou meme: as pessoas começaram a fazer a mesma coisa com qualquer um, e tudo combinado, claro, esse qualquer um reagia do mesmo jeito que as mulheres japonesas! Risos!

(Sorry pela propaganda no meio desse vídeo! Don’t shoot the messenger!)

E foi aí que Mayonaka no Door se popularizou de vez, chegando na parada global viral do Spotify. Aliás, o fato da música já estar no Spotify na época que começou a viralizar também deu um impulso mais imediato nela, se a gente comparar com Plastic Love que se manteve por muito tempo como fenômeno específico de YouTube e só foi chegar na plataforma de música no mesmo mês de dezembro de 2020.

Certo. E a Miki Matsubara em si?

stay-wth-me-miki-matsubara.jpg

Matsubara foi um caso raro na época de cantora pop que não era considerada idol. Isso quer dizer que, por mais que ela fizesse um som comercial, era respeitada enquanto cantora. Reconheciam seu talento e sua capacidade. Uma idol seria um produto massificado feito para ser consumido por adolescentes, Matsubara era artista. Mayonaka no Door foi o single de estreia dela, em 1979, e virou um hit que não chegou no topo das paradas, mas se manteve perene (tanto que resistiu na memória das japonesas que viraram mamães até 2020). É considerada até hoje a grande música da carreira de Matsubara, mesmo que ela tenha lançado outras coisas bem sucedidas depois.

O compositor de Mayonaka no Door também não tinha muita experiência: Tetsuji Hayashi tinha acabado de começar na carreira, com bastante influência da música estadunidense no seu trabalho. Na mesma época, fez coisas para outros nomes do City Pop como Takeuchi e Junko Ohashi.
Hayashi veio a se tornar o grande mago do j-pop: compôs grandes sucessos para nomes gigantescos como Seiko Matsuda, Momoko Kikuchi, Hideki Saijo e Akina Nakamori.

Matsubara lançou vários álbuns ao longo dos anos 1980, se aventurando até pelo jazz em 1984 com Blue Eyes, que traz as suas versões de vários standarts como Love for Sale e Misty. Ladygagou toda!

A minha capa preferida é a do último solo, Wink, de 1988. Em 1992, sairia a trilha de um OVA do Gundam (aquele do robô gigante, o mecha) com sua participação. Depois disso, ela se dedicou mais a trilha de animes e ao seu trabalho como compositora.

wink-miki-matsubara.jpg

Matsubara era bastante reservada a respeito de sua vida pessoal. Ela morreu de câncer do colo do útero em 2004, aos 44 anos, mas sua morte foi anunciada publicamente só dois meses depois.

Para acabar esse post numa energia mais para cima, confira Matsubara e Matsuda, que é uma das maiores idols que o Japão já teve (e, segundo muitos, a maior de fato), cantando Mayonaka no Door juntas em 1980:

View this post on Instagram

A post shared by 昭和時代の思い出 (@showa_era_memories)

Se você gostou desse post, pode gostar desses outros:
. A terceira temporada do anime Aggretsuko é perfeita (e a quarta vem aí)
. Uma reunião de atores muito específica no filme Mal Posso Esperar de 1998
. Pânico: terror em metalinguagem

September 30, 2021 /Jorge Wakabara
EUA, YouTube, Mariya Takeuchi, Japão, anos 1970, anos 1980, City Pop, Miki Matsubara, j-pop, Spotify, Rainych, Indonésia, islamismo, hijab, kawaii, retrô, TikTok, memória afetiva, meme, idol, Tetsuji Hayashi, Seiko Matsuda, Gundam
música

O Eurovision voltou a captar o espírito do tempo? Ou sempre captou? Ou é apenas uma coincidência?

September 23, 2021 by Jorge Wakabara in música

Tô mais atrasado que o Rubinho Barrichello, mas tá valendo. O Eurovision 2021 aconteceu enquanto eu estava num período sem escrever nesse blog, mas a editoria Eurovision aqui não parou - comentei tudo no Twitter, no calor dos acontecimentos. Mas segui pensando profundamente no evento e tudo que o rodeia desde que ele aconteceu, em maio (juro que não estou sendo irônico).

O Eurovision sempre foi a voz do povo. Agora, olhando com distanciamento, claro que a gente diz: “Ah! Eu tinha certeza que o Måneskin ia ganhar!”. Tinha nada. A gente estava torcendo para a Islândia, para de ser besta!

Mas então o que fez a Itália, na forma do Måneskin, ganhar? A música Zitti e Buoni é um rock que não tem nada de necessariamente novo… para quem é quarentão como eu. Mas será que foi uma geração que não curtiu tanto rock até hoje que votou neles? Ou seja, a Gen Z?
Sinais de que “sim, é isso mesmo” vem na paralela, quando pouco tempo depois a versão roqueira de Beggin’ do Måneskin viralizou no TikTok. O que hoje em dia significa a mesma coisa que estar na trilha da novela das oito na Globo em 1994.

O Måneskin reproduz ícones bem interessantes. O seu vocalista Damiano David é uma mistura andrógina de Lady Di e rockstar. Os outros integrantes não ficam atrás, todos belos e vestidos de Etro na final do Eurovision em que ganharam. Damiano rasgou a calça sem querer durante a coletiva e causou por causa de um take da transmissão ao vivo, em que parece que ele está cheirando uma carreira de cocaína em cima da mesinha durante a apuração dos votos do evento.

Quando usar uma calça da Etro, cuidado com movimentos bruscos

Quando usar uma calça da Etro, cuidado com movimentos bruscos

A versão oficial é que ele não usa drogas (portanto sua nítida empolgação durante a coletiva seria uma mistura de euforia pela vitória e champanhe) e que ele baixou a cabeça naquele tal take para ver um copo que alguém tinha quebrado e estava estatelado no chão. Tem até foto do copo:

copo-quebrado.jpg

Foi feito um exame toxicológico em Damiano que provou que não, ele não cheirou cocaína (teóricos da conspiração, uni-vos e começai a caraminholar, vocês têm o meu apoio). E existe a versão de que ele estava xingando a Destiny, concorrente de Malta, que faz muito sentido quando você revê o vídeo! A dona da teoria é Manuela Barem:

Com licença entrando na conversa pois tenho uma teoria: revi o vídeo do momento e acho que ele tava era xingando a moça de malta enquanto ela falava!!

— Manuela Barem (@manubarem) June 11, 2021

Para não fazer você dar esse Google, segue a cena:

SIM, FAZ TODO O SENTIDO!!!

Com o desenrolar de 2021, foi ficando claro que o rock de fato está voltando a ocupar algum espaço. Parece que o pop por si só se esgotou, por enquanto. Artistas buscam referências no rock, no country, no eletrônico mais pesado. Aqui no Brasil dizem que até o emo voltou! (E desculpa, mas essa onda eu vou perder, nada contra.)
Então o resultado do Eurovision 2021, que é um concurso no qual o voto popular tem um peso enorme, foi um indicador de caminho para a indústria fonográfica? Ou afirmar isso é um exagero?
Em 2020, não teve Eurovision. Em 2019, quem ganhou o Eurovision foi a Holanda com Duncan Laurence por Arcade, uma balada bonita que fica repetindo “all I know / all I know / loving you is a losing game” (tanto que eu achava que o nome da música era Loving You Is a Losing Game kkkkkkkk). Em 2018, a ganhadora foi Netta, uma maravilhosa sobre a qual já falei aqui, que concorreu por Israel com Toy, um pop com toques de empoderamento feminino. E 2017, não sei se você lembra mas foi o ano esquisito em que Portugal ganhou pela primeira vez, e com uma música em português! Amar Pelos Dois de Salvador Sobral é linda, mas não me parece ter sido indicadora de nada: o português continuou sendo uma língua exótica para quem não fala, não rolou uma febre de fado ou algo assim (não que eu ache que Amar Pelos Dois é um fado, mas vai que, né?).
O que eu acho é que às vezes o Eurovision prevê coisas ou apresenta coisas que já estão acontecendo. Às vezes não. Depende dos concorrentes, depende de muitos outros fatores. Porém, eu não ignoraria o poder dele de captar o espírito do tempo se eu fosse um executivo de gravadora.

Mas e o Måneskin em si, hein?

Måneskin em nada mais, nada menos que UMA CAMPANHA DA GUCCI

Måneskin em nada mais, nada menos que UMA CAMPANHA DA GUCCI

Um dos maiores receios de concorrentes de Eurovision, eu suponho, deve ser virar um one hit wonder.
Só que muita gente conseguiu participar com louvor e ainda assim deixar o passado para trás. Ninguém se refere a Lara Fabian como uma ex-Eurovision (aliás, aqui no Brasil se referem a Lara Fabian como a cantora da música em que Carolina Dieckmann ficou careca). Nem Celine Dion. Nem Julio Iglesias.
Será que o Måneskin vai conseguir fazer isso?
Tudo indica que sim. O próprio som deles já se descola bastante do que você espera de uma “música típica de Eurovision”. O visual também: eles não deixam de ser camp, mas tem um frescor juvenil ali que, com a equipe certa, vai ser trabalhado a ponto de deixá-los mais sofisticados e palatáveis para quem é muito chato e gosta de chamar coisas de brega como se brega fosse pejorativo (e na verdade, vide campanha da Gucci, essa transformação do Måneskin já está acontecendo agora).

Ao mesmo tempo, existe gente que tem orgulho de fazer parte da família Eurovision, o que eu particularmente acho massa demais. É o caso de Dana International, por exemplo, ou de Johnny Logan, o único até hoje que conseguiu ganhar o evento duas vezes.
E também é o caso de… vocês sabem quem.

O ABBA é quase um sinônimo de Eurovision. Ambos maravilhosamente pop camp.
Fun fact: o ABBA está de volta, né, você já deve saber, com músicas novas, um álbum novo para ser lançado e shows com avatares-hologramas (que eles estão chamando de ABBATARS kkkkKKKKK), versões jovens de todos os quatro integrantes captadas com toda uma tecnologia a partir deles velhinhos fazendo os movimentos.
Adorei as duas músicas que já saíram, porém suspeitíssimo pois muito fã.

Agora o fun fact em si: a data de lançamento de novas músicas que podem concorrer no Eurovision 2022 segundo o regulamento era a partir de 1/09/21.
As duas músicas novas do ABBA saíram, juro para você, dia 2/09/21.

E agora???
A verdade é que é improvável que o ABBA concorra pela Suécia. Primeiro porque o país tem o seu próprio esquema de seleção: é via Melodifestivalen, um festival de música local. A final ocorre 12/03 do ano que vem.
É extremamente improvável que o ABBA participe do festival, já que eles não vão participar nem mesmo dos próprios shows porque, enfim, eles são o ABBA e já estão aposentados, não precisam passar por essa coisa de show ao vivo nessas alturas e vão mandar os abbatars (pqp kkkkkk) no lugar.
Também é improvável que as regras do Melodifestivalen e do Eurovision aceitem algo gravado, com hologramas, concorrendo.

MAS dito isso tudo… queríamos ABBA no Eurovision 2022?
Nossa.
Me deixe sonhar!!!

Os abbatars!!

Os abbatars!!

Agora: se o ABBA concorresse e se pensássemos nessa lógica de que o Eurovision capta o espírito do tempo… Eles ganhariam?
Minha resposta é sim, pois:
1. Os votantes do Eurovision esqueceriam qualquer lógica: eles amam o ABBA e se derreteriam por eles.
2. Memória afetiva é uma das tendências mais poderosas do nosso tempo.

Se você gostou desse post, pode ser que também goste desses outros:
. Bianca, a roqueira do Brasil. Lembra?
. Um elo perdido de estrela pop: Emilinha
. O dia em que a música afro encontrou o BRock: Obina Shok

September 23, 2021 /Jorge Wakabara
Eurovision, Måneskin, rock, Itália, Gen Z, TikTok, Damiano David, Etro, cocaína, Destiny, pop, Gucci, camp, ABBA, Suécia, Melodifestivalen, memória afetiva
música
mariya-takeuchi-plastic-love.jpg

Plastic Love: a música japonesa que o algoritmo do YouTube fez virar a tradução de pop perfection no mundo

December 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Descobri um pecado meu. Com todo esse tempo do blog, eu nunca falei sobre uma das minhas músicas preferidas da VIDA por aqui. Nem sobre sua autora e cantora, Mariya Tekeuchi. Nem sobre o marido dela, o também cantor Tatsuro Yamashita, que produziu a faixa. Nem sobre City Pop em si!
Na verdade, eu falei sobre Plastic Love lá no segundo episódio da primeira temporada do Quatrilho, programa do meu podcast!

Quem já ouviu já sabe de quase tudo que eu vou falar aqui. Quem não ouviu tem as duas opções: ouvir ou ler esse post! Vamos?

city-pop.jpg

Uma breve introdução: o que é City Pop?

Acho que eu também nunca expliquei essa evolução da música pop japonesa até chegar ao j-pop por aqui.

Teve uma hora, tipo anos 1970, que o pop com cara de folk apareceu no país. Mas ele ainda era meio de protesto. E também tinha a turma do rock adolescente, muito na onda do mítico show dos Beatles no Budokan em 30/06/1966. Muita banda surgiu dessa apresentação – um movimento que também pintou em vários lugares do ocidente como no próprio Brasil, com a Jovem Guarda.

Só que existia o mito que a língua japonesa não podia ser a do rock: era impossível de combinar. Rock tinha que ser em inglês. E também tinha a turma que olhava o rock como música alienada: bom mesmo era o folk mais cabeçudo. Ou o enka, estilo japonês de música que emula melodias tradicionais e temas nostálgicos com orquestração ocidentalizada.

E aí surgiu o Happy End, sobre o qual já falei aqui, que fazia uma espécie de folk rock – ou seja, era rock – em japonês. O Happy End não foi sucesso de vendas (ele só virou um hit depois, numa pegada cult). A banda faz parte da gênese do que se convencionou chamar por lá de new music: uma espécie de soft rock nipônico. Com o fim do Happy End (sem trocadilhos! kkkk), dois integrantes, Shigeru Suzuki e Haruomi Hosono, foram para a Tin Pan Alley com Masataka Matsutoya e Tatsuo Hayashi. Chegaram a gravar discos sob esse título. Olha:

Mas antes de ser o Tin Pan Alley, esse mesmo grupo assinava como Caramel Mama. E fizeram a cozinha de nada menos que o disco de estreia de Yumi Arai.

Yuming (o apelido de Yumi Arai) é uma das peças-chave para entender a new music pois é um dos seus principais nomes. Depois de alguns álbuns, Yuming passou a assinar como Yumi Matsutoya porque casou com o Masataka, integrante da Tin Pan Alley. Ele produziu os álbuns dela e, assim, os dois formaram um dos pilares desse novo estilo que conquistava as paradas.

Da new music, apareceu outra coisa: o City Pop.
Em contraponto do enka e da tradição em geral mas também se afastando do folk e do rock, o City Pop era assumidamente comercial, amava sintetizadores e naipe de metais, e gostava muito de falar sobre elementos da vida urbana moderna: compras, carro, telefone, barzinho, boate…
Lembra algo? Algo que rolou no Brasil, mais especificamente?
Sim, estou falando dele mesmo e vou usá-lo para exemplificar.

ritchie-anos-80.jpg

O inglês Ritchie fez no Brasil, guardadas as diferenças culturais, a mesma coisa que Anri, Taeko Ohnuki, Junko Ohashi, Eiichi Ohtaki, Tatsuro Yamashita e, claro, Mariya Takeuchi, entre tantos outros, fizeram no Japão.
O primeiro disco solo de Ritchie, Vôo de Coração, saiu em 1983 e era City Pop para japonês nenhum botar defeito. A segunda faixa, A Vida Tem Dessas Coisas, é sobre um ex-casal que fica preso no elevador. Apartamento, interfone, relacionamentos fugazes – tá tudo ali.

Vôo de Coração foi o disco que mais vendeu no seu ano de lançamento. Ultrapassou as vendas até de Roberto Carlos. Seu sucesso foi também sua sina: acabou considerado popular demais. De moderno, passou a ser encarado como brega. Ritchie, a figura mais bem sucedida do BRock, caiu em desuso em seguida.

E se a gente analisar agora, com distância, Ritchie realmente foi o precursor do som que caracterizou o neo-sertanejo do fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990 – não só por ter sua Menina Veneno regravada por Zezé di Camargo & Luciano, mas porque o neo-sertanejo também tem um pouco de City Pop (POLÊMICAAAA!). O estilo deixa os temas rurais e parte para o romantismo cheio de sintetizadores: afoga as lágrimas num copo de cerveja, veste um paletó (com um fio de cabelo), usa o telefone (ligando para mim, não, não liga para ele – ou no toque do seu telefone… Você vai ver!)… O êxodo rural e a urbanização do Brasil ganhavam uma trilha sonora um tanto tardia, mas avassaladora em termos de vendas.

Digressão feita… Vamos para ela?

I know it's Plastic Love

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Essa é uma história sobre o mistério que ronda o algoritmo.

Em 2017, alguém fez um upload da música Plastic Love, originalmente lançada em 1984, no YouTube. O usuário PlasticLover, que não existe mais, usou um remix mais longo da canção com uma imagem que na verdade não correspondia a ela: realmente era uma foto de Mariya Takeuchi, a cantora, mas a foto saiu na capa do single de outra música, Sweetest Music.

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

E aí, alguma coisa aconteceu com o algoritmo. Será que todo mundo que via esse meio sorriso, esse movimento jogando o cabelão e o nome do vídeo, Plastic Love, ficava tentado a clicar? E o YouTube foi entendendo que aquele vídeo era irresistível? Não sabemos o motivo real, mas essa publicação passou a aparecer entre os recomendados da coluna da direita (para quem usa desk) ou embaixo do vídeo (para mobile) para um monte de gente, do nada. Gente que nem ouvia música japonesa, que não tinha demonstrado o menor interesse pela cultura do Japão. E aí essa música ganhou mais de 22 milhões de views!!!

Plastic Love na verdade faz parte do álbum Variety, que Takeuchi lançou depois de uma pausa de 3 anos na carreira dela. Ele é o primeiro que traz apenas composições dela, e vendeu mais que os seus anteriores – ou seja, era um degrau rumo ao sucesso. Mas, na época, era só um degrau mesmo: a consagração de vender mais de um milhão de cópias viria apenas no disco seguinte, Request, de 1987.

plastic-love-single.jpg variety-album.jpg request.jpg

Tatsuro Yamashita, o produtor de Plastic Love que aparece creditado na capa do single, também era (e é) marido de Takeuchi. Eles se casaram em 1982, ou seja, no intervalo de 3 anos da carreira dela. Yamashita é considerado um dos principais nomes do City Pop: é o "rei" deles. Não só produz mas também tem um trabalho próprio.
Um dos seus principais álbuns é Spacy, de 1977, considerado precursor do City Pop que explodiu nos anos 1980.

E Plastic Love em si? Acho que o mistério em torno dela colaborou ainda mais para o sucesso tardio. Veio casada com o vaporwave, virou sua trilha sonora mais querida e despertou memes, fan art, vídeos ilustrados com cenas retrô de animes. E a Vice chegou a chamar a canção de melhor música pop do mundo.

Clique aqui para ler o artigo completo

Clique aqui para ler o artigo completo

O mais instigante é que a música fala sobre a artificialidade das relações amorosas. A letra é em japonês, mas quando quem não entende japonês traduz (via Google Translator ou sei lá), fica ainda mais fissurado: o significado da mensagem ressoa nas relações de hoje. Pouco, ou nada, mudou.

“A letra conta a história de uma mulher que perdeu o homem que ela amava de verdade e, não importa quantos outros caras a procurem, ela não poderia afastar o sentimento de solidão que essa perda criou.”
— Mariya Takeuchi para o Japan Times

E por que o tal vídeo com tantas visualizações não está mais no ar? Você pode achar que foi a gravadora japonesa que derrubou, mas está errado. A resposta está em Alan Levenson… o fotógrafo da foto que virou um clássico tardio.

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Levenson era assistente de um outro fotógrafo, que era o profissional que a gravadora queria que fizesse os cliques de Mariya em Hollywood para o Miss M de 1980. O valor que a gravadora ia pagar era muito baixo, o fotógrafo não quis e Levenson se ofereceu. Levou Mariya para um estúdio e pronto: estava feito o ensaio.

Ele não foi creditado no upload do vídeo do PlasticLover e ficou bolado. Pediu para o YouTube derrubar por uso indevido de imagem. Mas aí o estrago já estava feito: Plastic Love já era um sucesso tardio e a foto também.
Hoje existem vários uploads da mesma Plastic Love espalhados pela rede (inclusive usando a mesma foto!). A versão original ainda não subiu no Spotify até hoje – o que você encontra por lá são versões de outros artistas. Vou deixar aqui uma das minhas preferidas: a da Chai.

Como eu já disse, Mariya viraria uma superartista, vendendo pencas, em 1987. Plastic Love é meio desconhecida pela maior parte dos japoneses.
E isso é apenas uma parte infinitamente pequena do City Pop, um estilo de música japonês que virou cult… entre não-japoneses! Kkkkkkkkkkkkkkkk!

Se você gostou desse post, pode gostar desses outros também:
. A democratização do kawaii com a Chai
. Momoe Yamaguchi, rainha de TUDO
. Uma thread sobre uma das minhas músicas preferidas de todo o tempo – que vem a ser do primeiro disco de Yumi Arai

December 07, 2020 /Jorge Wakabara
Mariya Takeuchi, City Pop, Tatsuro Yamashita, folk, pop, anos 1970, anos 1980, enka, memória afetiva, Happy End, new music, soft rock, Shigeru Suzuki, Haruomi Hosono, Tin Pan Alley, Masataka Matsutoya, Tatsuo Hayashi, Caramel Mama, Yumi Arai, Yuming, sintetizador, Ritchie, Japão, BRock, neo-sertanejo, sertanejo, Zezé di Camargo & Luciano, romantismo, êxodo rural, algoritmo, YouTube, vaporwave, meme, fan art, retrô, Alan Levenson, Chai
música
o-misterio-do-cinco-estrelas.jpg

A quadrilogia jovem de Marcos Rey – e por que eles ainda não ganharam uma adaptação audiovisual?

July 19, 2020 by Jorge Wakabara in livro, cinema

Você lembra? Lembra sim, né? Marcos Rey, que na verdade era um pseudônimo de Edmundo Nonato, assinou vários livros da coleção Vagalume da Ática. Entre eles, quatro na verdade faziam parte de uma sequência: O Mistério do Cinco Estrelas (1981), O Rapto do Garoto de Ouro (1982), Um Cadáver Ouve Rádio (1983) e Um Rosto no Computador (1994). Muita gente só leu os três primeiros porque o quarto saiu onze anos depois. Eu não me lembro quais li e quais não li na época, mas durante a pandemia, como vocês podem reparar nos posts anteriores, a nostalgia está batendo forte por aqui. Portanto: decidi revisitá-los. Li na sequência e várias perguntas começaram a surgir, sendo a primeira…

Por que eles não ganharam uma adaptação audiovisual até hoje?

A coisa fica ainda mais complexa quando a gente descobre que, mesmo antes de Rey começar a contar as aventuras da turma do Léo, ele já trabalhava como roteirista. A novela A Moreninha da Globo, de 1975, é um exemplo: roteiro dele. A modernosa Super Plá, da Tupi de 1969, também tinha texto dele com Bráulio Pedroso.
E mesmo depois, em 1986, o livro de Rey Memórias de um Gigolô foi adaptado por ele mesmo e Walter Dust para uma minissérie da Globo com direção de Walter Avancini estrelada por Lauro Corona, Bruna Lombardi e Ney Latorraca. Sem esquecer de Elke Maravilha, que ARRASA como madame Yara!

Antes, em 1970, Memórias de um Gigolô foi filme de Alberto Pieralisi sem participação de Rey no roteiro.

Mas se Rey tinha tanta entrada na Globo assim, sendo nome conhecido, por que os seus best seller juvenis nunca emplacaram em filme ou série?
A verdade é que em 2012 tudo indicava que eles iam virar sim, uma série de três filmes (a princípio ignorando o quarto). Saiu notícia e tudo. A RT Features de Rodrigo Teixeira, que estava por trás do projeto, é bacana e já produziu coisas incríveis como O Cheiro do Ralo (2006), Quando Eu Era Vivo (2014), O Abismo Prateado (2011), Tim Maia (2014), A Vida Invisível (2019) e também filmes internacionais como Me Chame Pelo Seu Nome (2017) e A Bruxa (2015). Ou seja: não é brincadeira. O projeto continua em destaque no site da produtora, mas não existe diretor, elenco, nada. Desde 2012!

O pior é que há precedentes: O Escaravelho do Diabo, outro livro-hit da Vagalume, esse escrito por Lúcia Machado de Almeida, virou filme em 2016. Dirigido por Carlo Milani, é meio OK. Mais para OK do que para bom. Mas eu sempre achei O Escaravelho mais mediano que as tramas do Marcos Rey, confesso…

Os livros são bons?

Para quem não leu ou leu faz muito tempo: os livros sempre se passam em São Paulo, mais especificamente no bairro do Bixiga, e trazem como personagens Leo, o bell-boy do hotel cinco estrelas Emperor Park Hotel, o seu primo cadeirante e jogador de xadrez Gino e a sua quase-namorada patricinha Ângela. São histórias de thriller policial, nas quais os três, às vezes com a ajuda do porteiro do hotel Guima, desvendam o culpado.

Gosto muito do Rapto, no qual um rapaz amigo deles que começou a fazer bastante sucesso como músico é raptado. O primeiro, Mistério, é um clássico, muito bom também. O terceiro, Cadáver, é legal mas acho que perde um pouco para o segundo – a gente já conhece a dinâmica e fica mais fácil descobrir as pistas. E em Cadáver as situações mais violentas às quais tanto Leo quanto Gino se expõe tem o objetivo de talvez trazer mais adrenalina. Isso acontece mesmo, mas ao mesmo tempo fica difícil acreditar que eles seguiriam bancando os detetives com um perigo tão concreto de violar suas integridades físicas. Então Cadáver é o mais descolado da realidade, com um nome (maravilhoso, por sinal) digno de imprensa marrom.

E o quarto é bem fraco perto dos outros. Cheio de pontas soltas, ele sugere várias coisas que não são desenvolvidas direito – a sequestrada Lia gosta ou não do Leo? E essa tensão sexual entre Gino e Ângela, aparece de onde e pra quê? Uma falha que considero enorme é que no meio do livro a gente já sabe quem é o culpado, o que acaba com esse suspense – só ficamos tensos para saber como eles vão desvendar o mistério, e o modo que eles conseguem fazê-lo também é meio besta. Entendo que Rey provavelmente não quisesse repetir a mesma fórmula, mas do jeito que ele fez… também não ficou bom. Até o título é meio esquisito: o paralelo entre o computador e o culpado é muito pouco explorado para ganhar tanta importância. Talvez em 1994 a palavra "computador” fosse mais forte, mas hoje é meio qualquer coisa, então ele também envelheceu mal.

De qualquer forma, se você se empolgar e chegar no fim do terceiro, vai acabar lendo o quarto também… Risos!

Quanto aos livros serem materiais bons para um roteiro: SUPER. Acho que pelo próprio Marcos Rey ser roteirista, as histórias que ele criou são bem dinâmicas, facilmente adaptáveis.
Agora, eu preferia uma série do que filmes, e se possível que se passasse nos mesmos anos que os livros, entre 1981 e 1983 (repare que estou ignorando total o Rosto kkkkkkk). Pode ser, Netflix? Amazon Prime? Globoplay?? Alguém???

Eu amava essa capa original! Sucesso! Você já viu as novas versões? Tão fraquinhas perto das antigas…

Eu amava essa capa original! Sucesso! Você já viu as novas versões? Tão fraquinhas perto das antigas…

Para quem ficou curioso: o ilustrador das capas originais dos livros do Marcos Rey é Jayme Leão – inclusive do quarto.
Rey morreu em 1999. Jayme Leão, em 2014.

Quem gostou desse post também pode gostar de:
. Qual seria o Brat Pack brasileiro? Juntei Vamp com Top Model!
. Existe uma adaptação cinematográfica de Gênio do Crime – e eu entrevistei o diretor!
. Na dúvida, aposte na memória afetiva!

July 19, 2020 /Jorge Wakabara
Marcos Rey, Série Vagalume, O Mistério do Cinco Estrelas, O Rapto do Garoto de Ouro, Um Cadáver Ouve Rádio, Um Rosto no Computador, memória afetiva, Tv Tupi, Bráulio Pedroso, Memórias de um Gigolô, Walter Dust, Walter Avancini, Lauro Corona, Bruna Lombardi, Ney Latorraca, Elke Maravilha, Alberto Pieralisi, RT Features, Rodrigo Teixeira, O Escaravelho do Diabo, Lúcia Machado de Almeida, Carlo Milani, Bixiga, São Paulo, Jayme Leão
livro, cinema
  • Newer
  • Older

Powered by Squarespace