Wakabara

  • SI, COPIMILA • COMPRE MEU LIVRO
  • Podcast
  • Portfólio
  • Blog
  • Sobre
  • Links
  • Twitter
  • Instagram
  • Fale comigo
  • Newsletter
mario-gomes.jpg

Canta, Mário Gomes

August 31, 2020 by Jorge Wakabara in TV, música

Antes de Marcos Pasquim, Humberto Martins e todos os descamisados das novelas de Carlos Lombardi, existiu esse protomuso. Aliás, o Mário Gomes fez parte do elenco de várias novelas em que Lombardi participou como colaborador ou autor principal. Jogo da Vida, por exemplo, com o autor principal Silvio de Abreu, de 1981. Guerra dos Sexos, do mesmo Silvio, de 1983. Vereda Tropical, a primeira de Lombardi como autor titular na Globo, de 1984. Perigosas Peruas, de 1992. E por aí vai.

Mas antes de tudo isso, em 1976, surgiu um boato babadeiro e maldoso envolvendo um pessoal da TV. A fofoca era que Gomes foi parar no hospital com uma cenoura entalada na bunda. O próprio autor da história mentirosa já confessou seu crime: era Daniel Filho, na época diretor de novela e casado com Betty Faria. Betty teria se engraçado com Gomes, seu par na novela dirigida por Daniel, Duas Vidas.
Na novela, Mário Gomes interpretava Dino César, um cantor. E a música-tema do personagem na trilha sonora era interpretada por ele mesmo: Chiclete e Cabochard.

mario-gomes-duas-vidas-4.jpg mario-gomes-duas-vidas-3.jpg mario-gomes-duas-vidas-1.jpg

Esse colarzinho branco de contas que o personagem Dino usava virou moda na época.

E aí, embalado pela música que interpretou de autoria de Pedro Aurélio C. Dias, Gomes gravou e lançou um disco inteiro. O colar virou corrente na foto da capa.

A semelhança com Belchior é esquisita-maravilhosa-insólita.
A música de Mário Gomes raramente é encarada como algo mais do que uma tentativa de ganhar dinheiro. Sinceramente, acho LEGAL. Acho essa música BOA. Interessante. Pop. Imita Belchior? Sem dúvida. Mas é legal. Tá tudo certo!

E o resto do disco?

Um Alô, a que abre o álbum, é do Guilherme Lamounier, assim como Enrosca. A versão de Enrosca do próprio Guilherme também saiu no mesmo ano, 1977. E surpresa: a do Fábio Jr é posterior, de 1982! Um Alô foi exclusiva para Gomes e até hoje só existe registro gravado na voz dele.

Acho O Cadillac do Prefeito, de Piau e Sérgio Natureza, bem interessante (e, mais uma vez, bem Belchior). Idem para Primeira Amante, do mesmo Pedro Aurélio C. Dias, e para Ainda Havia Amor, de Mauro Machado Jr e Dalton Rieffel (essa com um coro de mulheres bem cafona-delícia). Só pra Você, criada por Gabriel O'Meara e Paulo Zdanowsky, é inspirada em poesia de Pablo Neruda e é spoken word na mesma linha de compactos que os galãs Tarcísio Meira (em 1975) e Francisco Cuoco (em 1974) vinham fazendo. É meio o 50 Tons de Cinza da época? Babado…

A última, Cartier Latin, é TUDO, um convite ao desbunde. A autoria é de Sérgio Mello.

Vou abrir um parênteses aqui para falar de Sérgio, que é um artista indie que eu acho interessante. Em 1983, ele lançou esse disco aqui:

Sérgio continuou lançando um monte de música em esquema independente até hoje. A mais nova é Too Much is Not Enough, um rock em inglês bem curtinho, de menos de dois minutos, que saiu no Spotify em julho de 2020!

E é importante dizer: não confunda Sérgio Mello com o diplomata Sérgio Vieira de Mello, recentemente interpretado por Wagner Moura na cinebio Sérgio, que está na Netflix.
Fim do parênteses!

Gomes (e toda a torcida do Flamengo) diz que sua carreira foi muito prejudicada pelo boato da cenoura. Depois de Vereda Tropical de 1984, o ator deve ter reparado que a barra pesou ainda mais (e pesou mesmo, ele não apareceria novamente em elenco da Rede Globo até 1989 em O Sexo dos Anjos e, nesse meio tempo, faria a novela Olho Por Olho da Manchete só em 1988). O artista diz que é por isso que tentou se dedicar à carreira de cantor – talvez diversificando suas chances, conseguiria mais trabalhos. Foi aí que surgiu o ótimo compacto de 1984 que trazia O Dono da Bola e O Rei dos Trópicos.

Adeus para o toque belchioriano. Anos 1980 na veia. Atrevidíssima, a letra da música diz de “chão da sala, joelhos em dor” – bem gráfico, né, acho que você entendeu. E pelo visto, ou a mulher gosta bastante de mudar de visual, ou são várias: Gomes canta de cabelo louro, depois de cabelo negro e sarará. Uma loucura! Perucas, será?
A música O Dono da Bola é composta por Gastão Lamounier Neto e Luis Mendes Junior com o próprio Mario Gomes. Entrou na trilha de Vereda Tropical. Gastão, para quem não reconheceu o sobrenome, é primo de Guilherme Lamounier. Todos eles são netos de Gastão Lamounier, um compositor bem importante da música brasileira, especializado em valsas. Essa aqui, por exemplo, é dele com Olegário Mariano:

Gomes ainda gravaria mais um compacto em 1985, com as músicas No Sexto Degrau e Coisas da TV. A letra de Coisas da TV parece falar sobre, bem… Betty Faria.

E essa aquendada do pipi? Não entendi!

E essa aquendada do pipi? Não entendi!

Gomes ainda chegaria ao ponto de cantar Estou Cheio de Mulher, do repertório do Chacrinha, no programa do próprio apresentador, explorando o seu lado latin lover. Soa como uma pessoa desesperada para enterrar a fofoca da cenoura (desculpa, o trocadilho foi involuntário).

As coisas teriam sido diferentes para Mário Gomes se esse boato não tivesse aparecido? Talvez.

Mais recentemente, a "imprensa” descobriu e explorou bastante o fato de Gomes estar vendendo sanduíche na praia tal qual Raquel Accioli em Vale Tudo (ou num esquema mais profissional: ele tem um carrinho e tudo). O câncer de próstata do qual ele sofreu no passado voltou agora, em 2020. Ele deu uma entrevista para Cidinha Campos no rádio nesse ano e declarou, entre outras coisas, que está escrevendo um livro sobre a sua vida. E sim, o boato da cenoura estará nele, assim como seu caso com Betty Faria.

Queremos ler desde já.

mario-gomes-o-dono-da-bola.jpg

Quem gostou desse post pode gostar desses outros aqui:
. Por que de repente a banda Grafite não sai da minha cabeça?
. Rick Astley: muito mais que um meme
. Glória Pires: a cantora

August 31, 2020 /Jorge Wakabara
Carlos Lombardi, Mário Gomes, novela, Vereda Tropical, Daniel Filho, Betty Faria, Duas Vidas, Pedro Aurélio C. Dias, Belchior, Guilherme Lamounier, Piau, Sérgio Natureza, Mauro Machado Jr, Dalton Rieffel, Gabriel O'Meara, Paulo Zdanowsky, Pablo Neruda, spoken word, Sérgio Mello, anos 1980, Gastão Lamounier Neto, Luis Mendes Junior, Gastão Lamounier, Olegário Mariano, Jacob do Bandolim, Chacrinha, latin lover, galã, câncer, Cidinha Campos
TV, música
“Chinese people have a saying: when people get cancer, they die. But it’s not the cancer that kills them, it’s the fear.”
— Lu Jian (Diana Lin) em The Farewell

The Farewell: choque cultural tocante

November 11, 2019 by Jorge Wakabara in cinema

O filme The Farewell traz uma história que realmente aconteceu com a diretora Lulu Wang. Sino-americana, ela se viu voltando para a China quando a avó foi diagnosticada com um câncer em estágio bem avançado. Só que a família decidiu não contar para ela, como é de costume no país. Então eles inventam um casamento entre o primo e a namorada japonesa de 3 meses dele para servir como desculpa e todo mundo possa ver a avó Nai Nai (Shuzhen Zhao) pelo que eles acreditam que seja a última vez.
Awkwafina é Billi, a personagem principal e alter-ego de Wang. E tudo que anda correndo por aí, a boca pequena, é verdade: Awkwafina ARRASA.
OK, eu sou fã. Mas juro que ela convence como atriz dramática. Mesmo porque apesar de não ser uma comédia rasgada, The Farewell também não é um dramalhão como você espera pela sinopse. Na verdade tem diversos momentos bem-humorados, e não é exatamente a diferença cultural ocidente-oriente que se explora e sim o lado meio esquisito que toda família tem. Aquele “de perto ninguém é normal”, sabe?

the-farewell.jpg

O fator principal, que faz o filme ser tão delicado e bom, é que o conflito é de outra procedência. Billi não é estranha à cultura chinesa. Ela se insere e se reconhece nela, por mais que tenha sido criada nos EUA sob valores norte-americanos. Então o seu olhar - que acaba sendo o olhar do espectador - não é caricato, mas sim compreensivo. Procura entender. Não ressalta a diferença e sim busca a semelhança. Por aí, você já percebe que é uma outra visão, que foge do estereótipo mas não das peculiaridades culturais.

the-farewell-2.jpg

Acho que para quem não quiser spoiler é melhor parar por aqui!

Existem dois lados da saudade nesse filme. O prenúncio, o medo de senti-la com a morte de Nai Nai; e a saudade de algo que a gente nem lembra direito, a recordação do local que a gente conhecia quando era pequena e hoje não existe mais, já mudou, agora é outro mundo.
Uma vez que nasci em Pinheiros e morei no bairro a minha vida inteira, não tenho essa sensação de chegar depois de um longo tempo no país que nasci e ver tudo mudado. Mas sim, é obviamente outro lugar, então posso imaginar.
Também parece uma China de verdade, fora do circuito turístico.

farewell-china.jpg

E acho importante dizer: Billi não tem um objetivo amoroso. É solteira e está OK assim. Isso é uma questão para Nai Nai mas não para ela. Ela não fala de boy. Ela não é cheia de frufru - pelo contrário, usa calça e é quase um tomboy. Ah, que bom: um filme sensível protagonizado por uma mulher que não foca em relacionamento e casamento! Nada como algo um pouco diferente, não é mesmo?

Assista The Farewell quando estrear. É bem bom. E eu só lacrimejei, nem chorei, veja só!

ATUALIZAÇÃO 6/01/2020: Gente, a avó da Lulu Wang continuou sem saber da sua situação até… o filme estrear na China! Sim, ela ficou sabendo pelo filme! #passada Veja mais na Slate.

November 11, 2019 /Jorge Wakabara
The Farewell, Lulu Wang, China, câncer, Shuzhen Zhao, Awkwafina
cinema

Powered by Squarespace