Wakabara

  • SI, COPIMILA • COMPRE MEU LIVRO
  • Podcast
  • Portfólio
  • Blog
  • Sobre
  • Links
  • Twitter
  • Instagram
  • Fale comigo
  • Newsletter
bianca-a-roqueira-do-brasil.jpeg

A roqueira do Brasil... Bianca!

November 21, 2020 by Jorge Wakabara in música

Todo mundo sabe: mulher pioneira do rock brasileiro é Rita Lee. OK, teve a Jovem Guarda antes, com Wanderléa e outras. OK, foi Nora Ney a primeira brasileira a gravar um rock (era um cover de Rock Around the Clock em 1955). Mas é Rita quem leva a faixa de “a roqueira do Brasil".

Só que em 1979, quando a própria Rita ia deixando seu som cada vez mais pop com aquele disco que tem Mania de Você, Doce Vampiro e Chega Mais, aparecia uma menina mineira de 15 anos, Cleide Domingues Franco, empunhando uma guitarra. O rock rejuvenesceu. E ela já assumia um nome artístico sem sobrenome, coisa pra poucos. Era a Bianca.

Quem descobriu Bianca foi Cléo Galante, que por sua vez já tinha discos lançados nos anos 1970 e tinha uma carreira até então bem calcada em samba rock.

A lenda é que Cléo viu Bianca se apresentando como crooner de uma banda ainda na cidade natal dela, Ituiutaba, e a levou para São Paulo para apresentá-la para sua gravadora, a RGE. Dizem que o nome, invenção do produtor Reinaldo Barriga, era uma referência à Bianca Jagger, mulher do vocalista dos Rolling Stones.
Os Tempos Mudaram é composição de Cléo. O lado B do primeiro compacto, Vou pra Casa Rever Meus Pais, é uma versão para o português de A Little More Love do repertório de Olivia Newton-John – assinada também por Cléo.

As duas músicas são ÓTIMAS e o segundo compacto saiu em 1980.

É interessante que os temas das letras dessa primeira parte da carreira de Bianca sempre são ligados ao sentimento adolescente de inadequação, problemas de relacionamento e angústia. Tudo moldado para o público-alvo, sem disfarçar! A cantora fala bastante dos pais – em Sou Livre (Agora Chega), ela diz que o pai é muito ocupado, a mãe sempre observa o lado dele e ninguém vê que ela cresceu; em Vou pra Casa Rever os Meus Pais, eles estão no título, logo de cara. E em Minha Maneira (Não Suporto Mais), Bianca entoa no refrão: “Assim não dá pra ser / Eu quero namorar sem ter que aceitar e nem obedecer”, e diz que o cara é tão possessivo e mandão que está parecendo mais… o pai dela.

(Aliás, Minha Maneira é uma versão de She's in Love With You, o rockão de Suzi Quatro, uma melodia deliciosamente abbaística que também cai bem em Bianca)

Ainda em 1980, o primeiro álbum chega com a supercozinha de Os Carbonos e produção artística de Hélio Costa Manso. Minha Amiga, uma das músicas de trabalho, chega no programa Geração 80 da Globo.

Minha Amiga é uma versão da original de Jennifer Warnes I Know a Heartache When I See One.

O disco em si é recheado de surpresas:

A segunda faixa, por exemplo, Comentário a Respeito de John, é de Belchior com José Luis Penna! E começa com citação a Happiness is a Warm Gun! A música foi gravada primeiro por Belchior um pouco antes, em 1979. Bianca já havia citado, em entrevista, a admiração por Elis Regina (que gravou Como Nossos Pais de Belchior em interpretação antológica e, por que não dizer, roqueira em 1976). Pelo disco inteiro, dá para notar uns toques de Como Nossos Pais espalhados – deve ter sido algo muito marcante para Bianca, ou um modelo muito desejado pelo pessoal da gravadora. Ou os dois!
Igual a Vocês é versão de Going My Way do Tax Loss, e é a única do álbum que conta com letra da própria Bianca. Mais versão? Lembrando os Rapazes de Liverpool é I Only Want to Be With You – primeiro de Dusty Springfield em 1963 (!!!) e depois na versão que provavelmente inspirou a inclusão para o disco de Bianca, a de Bay City Rollers em 1976. Só que quem inspira a letra obviamente são os Beatles. Sintomático: tem John Lennon na letra de Belchior, tem Beatles em uma música que originalmente é dos anos 1960… Bianca tinha traços de futuro, mas era muito apegada ao passado.

Porém… mas porém…

E Oh Susie? Sim: new wave em pleno 1980, em um disco brasileiríssimo. É versão em português da música de mesmo nome do Secret Service! Tá passada? Eu tô! A versão ficou bem pop, na verdade, meio disco music. Mas pop do bom.
Mais surpreendente ainda: um blues do Gilliard. Isso mesmo que você leu. É Gilliard quem assina Tempos Difíceis com Washington.

Bom, sobra espaço até para mais disco music (Não Tenha Medo, de Cléo Galante). Esse rock era uma frente ampla, para usar uma expressão em voga atualmente…

bianca-minha-amiga.jpg

E depois? Pois é, o depois.

O compacto de Faz de Conta saiu em 1982.

Também da safra de Cléo, meio hedonista demais, menos angustiada (e nesse sentido menos roqueira). Agora, imagina essa musiquinha dizendo "Vamos viver em festa / faz de conta que o mundo está lindo” concorrendo no rádio com Evandro Mesquita dizendo “aí você finalmente encontra o broto”, mandando descer dois, descer mais chopes, e comentando que realmente queria que ela estivesse nua? A Blitz e o BRock chegaram para atropelar Bianca. Ela ficou datada demais, e não havia versão de Loredana Bertè que a salvasse:

Eu particularmente AMO Non Sono Una Signora, composição de Ivano Fossati, e gosto da versão de Bianca, que saiu em compacto em 1983, mas enquanto Bertè se derrama inteira na música, Bianca dá uma mergulhadinha com pouca dimensão. Compara aí:

Quando Bianca foi tentar uma volta de verdade, anos depois, revelou-se a verdade: ela deixou de ser roqueira. Era só chuva de verão. O disco A Volta, de 1993, é inteiro sertanejo, daquele tipo mais pop que tinha invadido o Brasil de Fernando Collor. Não deu certo, não repetiu as vendas de antes.

E aí? O que rolou com a Bianca?
Bom, prepare-se para entrar num terreno mais arenoso.

Quando uma artista assim, que fez tanto sucesso, simplesmente evapora, começam a surgir boatos. E eles costumeiramente são bem criativos. Os mais maldosos eram de que ela tinha morrido de overdose ou suicídio. Mas parece que não: dizem que ela virou vocalista de banda de forró (o Destak do Forró da cidade cearense de Piquet Carneiro).

Ela seria essa de roxo no vídeo, agora loira.
Tem quem acredite, tem quem não acredite.
O esquisito: até hoje ninguém teve a manha de ir até lá e entrevistá-la? Ou achá-la pela internet, que seja?

Então, até segunda ordem… Bianca segue sumida.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
. A ópera-forró Trilogia da Rapariga
. As muitas versões de Diana
. Um jogo com trilha sonora (?) da banda da Rita Lee (??)

November 21, 2020 /Jorge Wakabara
rock, Nora Ney, pop, Bianca, Cléo Galante, samba rock, Ituiutaba, Minas Gerais, RGE, Reinaldo Barriga, Bianca Jagger, Olivia Newton-John, adolescência, Suzi Quatro, ABBA, Os Carbonos, Hélio Costa Manso, Geração 80, Rede Globo, Belchior, José Luis Penna, Elis Regina, Tax Loss, Dusty Springfield, Bay City Rollers, The Beatles, John Lennon, new wave, Secret Service, disco music, Gilliard, Washington, Evandro Mesquita, Blitz, BRock, Loredana Bertè, Ivano Fossati, sertanejo, forró, Destak do Forró, Piquet Carneiro, Ceará
música
mario-gomes.jpg

Canta, Mário Gomes

August 31, 2020 by Jorge Wakabara in TV, música

Antes de Marcos Pasquim, Humberto Martins e todos os descamisados das novelas de Carlos Lombardi, existiu esse protomuso. Aliás, o Mário Gomes fez parte do elenco de várias novelas em que Lombardi participou como colaborador ou autor principal. Jogo da Vida, por exemplo, com o autor principal Silvio de Abreu, de 1981. Guerra dos Sexos, do mesmo Silvio, de 1983. Vereda Tropical, a primeira de Lombardi como autor titular na Globo, de 1984. Perigosas Peruas, de 1992. E por aí vai.

Mas antes de tudo isso, em 1976, surgiu um boato babadeiro e maldoso envolvendo um pessoal da TV. A fofoca era que Gomes foi parar no hospital com uma cenoura entalada na bunda. O próprio autor da história mentirosa já confessou seu crime: era Daniel Filho, na época diretor de novela e casado com Betty Faria. Betty teria se engraçado com Gomes, seu par na novela dirigida por Daniel, Duas Vidas.
Na novela, Mário Gomes interpretava Dino César, um cantor. E a música-tema do personagem na trilha sonora era interpretada por ele mesmo: Chiclete e Cabochard.

mario-gomes-duas-vidas-4.jpg mario-gomes-duas-vidas-3.jpg mario-gomes-duas-vidas-1.jpg

Esse colarzinho branco de contas que o personagem Dino usava virou moda na época.

E aí, embalado pela música que interpretou de autoria de Pedro Aurélio C. Dias, Gomes gravou e lançou um disco inteiro. O colar virou corrente na foto da capa.

A semelhança com Belchior é esquisita-maravilhosa-insólita.
A música de Mário Gomes raramente é encarada como algo mais do que uma tentativa de ganhar dinheiro. Sinceramente, acho LEGAL. Acho essa música BOA. Interessante. Pop. Imita Belchior? Sem dúvida. Mas é legal. Tá tudo certo!

E o resto do disco?

Um Alô, a que abre o álbum, é do Guilherme Lamounier, assim como Enrosca. A versão de Enrosca do próprio Guilherme também saiu no mesmo ano, 1977. E surpresa: a do Fábio Jr é posterior, de 1982! Um Alô foi exclusiva para Gomes e até hoje só existe registro gravado na voz dele.

Acho O Cadillac do Prefeito, de Piau e Sérgio Natureza, bem interessante (e, mais uma vez, bem Belchior). Idem para Primeira Amante, do mesmo Pedro Aurélio C. Dias, e para Ainda Havia Amor, de Mauro Machado Jr e Dalton Rieffel (essa com um coro de mulheres bem cafona-delícia). Só pra Você, criada por Gabriel O'Meara e Paulo Zdanowsky, é inspirada em poesia de Pablo Neruda e é spoken word na mesma linha de compactos que os galãs Tarcísio Meira (em 1975) e Francisco Cuoco (em 1974) vinham fazendo. É meio o 50 Tons de Cinza da época? Babado…

A última, Cartier Latin, é TUDO, um convite ao desbunde. A autoria é de Sérgio Mello.

Vou abrir um parênteses aqui para falar de Sérgio, que é um artista indie que eu acho interessante. Em 1983, ele lançou esse disco aqui:

Sérgio continuou lançando um monte de música em esquema independente até hoje. A mais nova é Too Much is Not Enough, um rock em inglês bem curtinho, de menos de dois minutos, que saiu no Spotify em julho de 2020!

E é importante dizer: não confunda Sérgio Mello com o diplomata Sérgio Vieira de Mello, recentemente interpretado por Wagner Moura na cinebio Sérgio, que está na Netflix.
Fim do parênteses!

Gomes (e toda a torcida do Flamengo) diz que sua carreira foi muito prejudicada pelo boato da cenoura. Depois de Vereda Tropical de 1984, o ator deve ter reparado que a barra pesou ainda mais (e pesou mesmo, ele não apareceria novamente em elenco da Rede Globo até 1989 em O Sexo dos Anjos e, nesse meio tempo, faria a novela Olho Por Olho da Manchete só em 1988). O artista diz que é por isso que tentou se dedicar à carreira de cantor – talvez diversificando suas chances, conseguiria mais trabalhos. Foi aí que surgiu o ótimo compacto de 1984 que trazia O Dono da Bola e O Rei dos Trópicos.

Adeus para o toque belchioriano. Anos 1980 na veia. Atrevidíssima, a letra da música diz de “chão da sala, joelhos em dor” – bem gráfico, né, acho que você entendeu. E pelo visto, ou a mulher gosta bastante de mudar de visual, ou são várias: Gomes canta de cabelo louro, depois de cabelo negro e sarará. Uma loucura! Perucas, será?
A música O Dono da Bola é composta por Gastão Lamounier Neto e Luis Mendes Junior com o próprio Mario Gomes. Entrou na trilha de Vereda Tropical. Gastão, para quem não reconheceu o sobrenome, é primo de Guilherme Lamounier. Todos eles são netos de Gastão Lamounier, um compositor bem importante da música brasileira, especializado em valsas. Essa aqui, por exemplo, é dele com Olegário Mariano:

Gomes ainda gravaria mais um compacto em 1985, com as músicas No Sexto Degrau e Coisas da TV. A letra de Coisas da TV parece falar sobre, bem… Betty Faria.

E essa aquendada do pipi? Não entendi!

E essa aquendada do pipi? Não entendi!

Gomes ainda chegaria ao ponto de cantar Estou Cheio de Mulher, do repertório do Chacrinha, no programa do próprio apresentador, explorando o seu lado latin lover. Soa como uma pessoa desesperada para enterrar a fofoca da cenoura (desculpa, o trocadilho foi involuntário).

As coisas teriam sido diferentes para Mário Gomes se esse boato não tivesse aparecido? Talvez.

Mais recentemente, a "imprensa” descobriu e explorou bastante o fato de Gomes estar vendendo sanduíche na praia tal qual Raquel Accioli em Vale Tudo (ou num esquema mais profissional: ele tem um carrinho e tudo). O câncer de próstata do qual ele sofreu no passado voltou agora, em 2020. Ele deu uma entrevista para Cidinha Campos no rádio nesse ano e declarou, entre outras coisas, que está escrevendo um livro sobre a sua vida. E sim, o boato da cenoura estará nele, assim como seu caso com Betty Faria.

Queremos ler desde já.

mario-gomes-o-dono-da-bola.jpg

Quem gostou desse post pode gostar desses outros aqui:
. Por que de repente a banda Grafite não sai da minha cabeça?
. Rick Astley: muito mais que um meme
. Glória Pires: a cantora

August 31, 2020 /Jorge Wakabara
Carlos Lombardi, Mário Gomes, novela, Vereda Tropical, Daniel Filho, Betty Faria, Duas Vidas, Pedro Aurélio C. Dias, Belchior, Guilherme Lamounier, Piau, Sérgio Natureza, Mauro Machado Jr, Dalton Rieffel, Gabriel O'Meara, Paulo Zdanowsky, Pablo Neruda, spoken word, Sérgio Mello, anos 1980, Gastão Lamounier Neto, Luis Mendes Junior, Gastão Lamounier, Olegário Mariano, Jacob do Bandolim, Chacrinha, latin lover, galã, câncer, Cidinha Campos
TV, música

Powered by Squarespace