A invasão holandesa de 1970

Existem dois momentos da invasão britânica.
Ah, não, não estou falando de guerra e invasão de território. Estou falando das paradas musicais americanas!

A primeira invasão britânica rolou a partir de 1963 e foi como uma onda. De Beatles a Rolling Stones até Animals, Zombies e Kinks passando por Dusty Springfield e outras mídias como o cinema (com Julie Andrews e 007) e a TV (The Avengers e The Man from U.N.C.L.E.), a moda de Swinging London (Mary Quant, as modelos Twiggy e Jean Shrimpton). O que vinha de lá era cool.
No fim dos anos 1960, a coisa foi se arrefecendo e veio a Guerra do Vietnã.

Aí teve a segunda invasão britânica. Preparada no fim dos anos 1970 por The Police e Dire Straits, ela começaria mesmo a partir de 1982. Human League, Soft Cell, Duran Duran, Billy Idol, Bonnie Tyler, Eurythmics, Culture Club, Wham! e George Michael em carreira solo… Até os filmes bem americanos da década voltados para adolescentes (chamados filmes dos Brat Pack, do qual faziam parte Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Molly Ringwald, Ally Sheedy, Rob Lowe, Andrew McCarty, Judd Nelson e Demi Moore) tiveram músicas inglesas: Don't You (Forget About Me) do Simple Minds para O Clube dos Cinco (1985); St. Elmo's Fire de John Parr para O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (1985); e Pretty in Pink de Psychedelic Furs para A Garota de Rosa-Shocking (1986).
(Amo os 3!)

Tem quem defenda que ainda houve uma terceira invasão britânica (meio dos anos 1990, com Spice Girls, Oasis, britpop em geral, Robbie Williams, cultura clubber e raver; era o Cool Britannia, que eu vivi alegremente rsrsrsrs). E tem quem defenda, veja só, uma quarta (a invasão do soul britânico a partir do meio dos anos 2000, com Amy Winehouse, Estelle, Joss Stone, Duffy, Adele, Florence Welch, Leona Lewis, Jessie J). Mas essas não chegaram a ser tão impactantes e influentes quanto as primeiras, e não são importantes para o que na verdade eu vim contar.
É que houve uma invasão holandesa que foi eclipsada pelas invasões britânicas porque aconteceu entre elas. E na verdade foi praticamente uma marola.

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A primeira música da invasão holandesa, e a melhor, é Venus do Shocking Blue. E sim, você vai reconhecê-la.

Quem canta é a gloriosa Mariska Veres, vocalista do grupo. Aí você diz: "Ué, mas essa música é do Bananarama!” Pois é, Venus foi regravada pelo Bananarama e também fez parte da… segunda invasão britânica. Mas antes virou febre no começo dos anos 1970, alcançou primeira posição nas paradas de diversos países (Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Espanha, Canadá, Bélgica, Suíça). A curiosidade é que na Holanda ela só chegou a 3º lugar (e 2º na parada de singles).
Shocking Blue era uma banda boa de verdade. Um dos fãs era Kurt Cobain - o Nirvana regravou Love Buzz, que é da banda, como primeiro single lançado (em 1988) e a música ainda entrou no primeiro álbum deles (Bleach, em 1989).

Chique, né? E Mariska Veres é musa!

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Isso é o que chamo de

olho maior que a boca

Antes de continuar, é bom salientar que existe um nome por trás da tal invasão holandesa. Jerry Ross, o produtor do megahit Sunny do Bobby Hebb (que muitos anos depois ganharia uma versão cômica de Léo Jaime, Sônia, aquela do “não fica me excitando que eu tô de sunga"), estava fazendo um rolê na Suíça. Um jovem que tinha se mudado da Holanda para Genebra tava lá numa boate e pediu para o DJ tocar um disquinho que ele tinha levado. Ross estava na mesma boate, e na época queria hits europeus para lançar nos EUA pela sua gravadora recém-lançada Colossus Records. O disco era Ma Belle Amie, do Tee-Set.

Ross assinou com Tee-Set e ainda pescou Venus e Little Green Bag do George Baker Selection.
O Tee-Set também era uma boa banda. Seu próximo single, que fez sucesso na Holanda, era She Likes Weeds. Foi censurada nos EUA - I wonder why

Bom, perto de Shocking Blue e Tee-Set, o George Baker Selection é uma bobagem. Mas como tem gente que gosta de bobagem, fica aí o play por sua própria conta e risco:

Todas as 3 músicas alcançaram o top 40 da Billboard. Só que Ross fechou a Colossus em 1971!
E aí, acabou? Mais ou menos. Teve outras!
Em 1972, apareceu How Do You Do? da dupla Mouth & MacNeal. Talvez se tivesse um player no dicionário ao lado do termo hippie, seria isso que você ouviria:

No ano seguinte, 1974, as paradas receberam Hocus Pocus da banda Focus (sim, parece um trava-língua, eu sei). É engraçada, parece uma zoeira com rock progressivo mas na verdade era uma banda muito séria - até demais! kkkkk Mas ouve para você não ver se é engraçada:

Quem fecha a invasão holandesa é a banda Golden Earring com Radar Love em 1974. É engraçado porque se me dissessem que Venus e Radar Love foram compostas pela mesma pessoa (não foram), eu acreditaria. E no visual, Golden Earring está mais para Led Zeppelin do que para Beatles, sem dúvida:

Você conhecia alguma das bandas que apareceram aqui? Pois é! Babado!

E se você chegou até aqui, pode ser que se interesse pela música pop perfeita!

E Londres primavera-verão 2020, hein, Wakabara? Você não vai comentar?

Vou.
Afinal, gosto tanto da cidade e da moda da cidade, não posso deixar de falar da temporada por lá, que acabou de acabar, né?
E quem quiser ver o de NY, que fiz faz um pouquinho, corre aqui nesse outro post!
(De Milão não sei se vou falar, vi o desfile da Prada e bateu desânimo, que chatice!!!)

Bom, preparados para essa surra de moda londrina? Se aproxime:

A coleção que eu queria vestir!

Wales Bonner traz uma coleção inspirada na cultura afrocubana e no MAMBO! Já me senti a Heleninha Roitman pedindo mais um mambo para o DJ porque sou dessas.
Só trocaria o sapato por um marrom escuro - odeio sapato de couro preto. Bota eu gosto.
As bolinhas, o colar, o toque de vermelho, a delicadeza da camisa, as calças de alfaiataria… É simples mas com um charmezinho delícia. Fiquei fissurado.

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Curto essa ideia de uma festa alternativona

Camiseta pop com saião inflado e armado, cabelão para o lado. Adoro. O look é Marques’ Almeida

Uma das musas desse blog é a inspiração da 16Arlington

Ai, que perfeiçãoooooo! A dupla Marco Capaldo e Kikka Cavenati se inspirou em nada menos que Raffaella Carrà!!! Paraaaaa! Lembra que eu falei da cantora italiana aqui no blog? Eu simplesmente amei, olha essa camiseta que reproduz a capa do álbum Forte Forte Forte com brilhoooossssss!
#quero!

Mágico de Oz versão street: Bobby Abley

Quem me conhece sabe que tenho certa fixação com O Mágico de Oz - o meu primeiro blog se chamava O Caminho Dourado de Dorothy porque um amigo meu da faculdade, antes de me conhecer, implicava comigo e me apelidou de Dorothy. Eu usava tênis vermelho - e sigo usando, é a minha cor de tênis preferida.
Então, toda vez que algum estilista usa O Mágico de Oz como inspiração (exemplo de novo clássico é a primeira coleção de Virgil Abloh para a Louis Vuitton) eu fico amarradão. Bobby Abley fez sua versão nessa temporada londrina, com conjuntinho de tijolo dourado e tudo. Prefiro a versão do Abloh, mas gosto dessa também.

E Bobby ainda faz uma homenagem à artista que ele já vestiu antes, Christina Aguilera, e o que as gays chamam de clássico incompreendido e à frente de seu tempo: o álbum Bionic (2010). Nem curto tanto o Bionic, mas achei simpática a capa que reprodu…

E Bobby ainda faz uma homenagem à artista que ele já vestiu antes, Christina Aguilera, e o que as gays chamam de clássico incompreendido e à frente de seu tempo: o álbum Bionic (2010). Nem curto tanto o Bionic, mas achei simpática a capa que reproduz a capa do álbum. O estilista já fez uma coleção inteira em homenagem a ela, a de fall 2016/17

Chalayan é tudo - e continua sendo tudo!

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LOOK 1-4. SPRING SUMMER 2020. POST-COLONIAL BODY. #WorldofChalayan

Uma publicação compartilhada por CHALAYAN (@chalayanstudio) em

Gosto demais desse estilista cabeção. Para as novinhas, procure saber. Não sei como a Lady Gaga não patrocina esse cara e usa todos aqueles looks tecnológicos que mexem sozinhos nos tapetes vermelhos. Hussein Chalayan faliu, ressurgiu só com o sobrenome e não lhe é dada a devida atenção por parte da crítica especializada, apesar dele continuar sendo um estilista interessantíssimo, com algo a dizer.

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Mil folhas

Look da Marta Jakubowski. Chique, hein?

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Não gosto mas já esperava

Essa blusinha meio corsetada-estruturada é a cara dos anos 1990 e estou me preparando psicologicamente para vê-la na vida real novamente. Me lembro de gente como Vivienne Westwood e John Galliano fazendo coisas do tipo. Essa é da PushButton

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Gosto e não esperava

Macaquinho nada em neon, bem minimal que é o máximo, com oclinho de moderna - só que colocaria um tenizão. O look também é PushButton

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Olha aí o corsetado de novo

Look de Dilara Findikoglu

Mais boudoir chic: Burberry

Já podemos dizer que não estamos curtindo muito o Riccardo Tisci na Burberry?
Então: não estamos.
Tem um look ou outro interessante, uma ou outra ideia instigante mas não pegou, pegou?
Não é um talk of the town, não é um hot ticket, não é um <insira aqui mais uma expressão em inglês>.
Nessa temporada, no meio de muita coisa (Quem faz a edição desse desfile?? Cruzes!), encontrei essas referências à lingerie bem diluídas. Mas estou sentindo que isso, pelo que também deu para ver da temporada de NY, vai ser tendência forte.

Então é isso - por pouco a Burberry não entra aqui nesse post pois não sou obrigado.

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Meu lado hippie suspira vendo isso

Que amor. É Ashish - sim, eu sei, muita gente vai achar horroroso. Não me importo!

To the moon and back: Christopher Kane

Amo sci-fi no geral, e gosto muito dos relatos de astronautas que olham para a Terra do espaço e ficam absurdamente maravilhados com que vêem. Eles garantem que é uma sensação bem diferente de você ver fotos ou vídeos. Tem a ver com um redimensionamento do seu tamanho perante o cosmo ou mesmo o planeta; e consequente relativização de muita coisa. Esse artigo da BBC fala um pouco disso.
Kane quis misturar o sexo e o comportamento humano com ciência, natureza e o nosso planeta. O resultado me lembra um pouco essa relação de amor e gratidão que os astronautas desenvolvem com a Terra quando a observam de fora.
E a bolsinha planeta azul? Tudo!

Volumes abusados de Richard Quinn

Gosto desse clima alta costura com modelagens que, se não são novas, ao menos são desafiadoras. O fato de Quinn usar estamponas traz um clima que você pode ler como sofisticado, moda festa da ousadinha fashionista ou camp. Curto a ideia do camp de luxo, mesmo.

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O vestido que encapa tudo

Adoro já faz tempo. E as japonesas também, desde a minha segunda viagem para o Japão, em 2017. Esse é da Molly Goddard

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Tem esse também

Camisa no lugar de vestido! É House of Holland

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Para quem adora uma pochete transpassada como eu

isso é MARA. Da passarela de JW Anderson

Os óculos para quem não quer enxergar, de Matty Bovan

Obs.: quem usa esses óculos, além de fazer a linha diferentona, não consegue enxergar!

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Que look tudo!

Meio bruxa branca. Direto do desfile de Simone Rocha - na passarela de Dilara Findikoglu também tinha uns climas meio coven só que mais sinistrões

Momento não entendi

A inspiração em Tina Modotti na Erdem deu numa coleção toda fechadona. Tina, fotógrafa muito foda e militante comunista, tem um fator importantíssimo na sua história: foi uma mulher que teve amores misturados com suas crenças políticas. Tudo bem o estilista Erdem Moralioglu entender que comunista não ama, vai da ideologia de cada um, mas retirar todo o sangue latino quente que poderia estar aqui é bem… hum… reducionista. Aliás, ele se inspirar em uma notória comunista cujo trabalho como fotógrafa foi encharcado de ideologia já é algo esquisito. Em suma, achei nada a ver.

E aí, curtiu a seleção ou vai pedir o Brexit? Me conta!

50 anos da moda de Zandra Rhodes

Se você não conhece a Zandra Rhodes, eu nem sei se algum dia você já foi feliz.

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Muito close

Florence Welch mataria por um desses

Rhodes nasceu em 1940 na Inglaterra. Entre 1966 e 1969, em plena Swinging London, ela abriu a loja Fulham Road Clothes Shop com uma amiga - ela cuidava das estampas e Sylvia Ayton desenhava as roupas. A partir de 1969, com a sociedade desfeita, Rhodes foi brilhar sozinha. Suas roupas dramáticas e coloridas formam um universo todo particular, uma ponte entre o hippie e o punk que não é uma coisa nem outra e sim algo único. Fico alucinado hoje só de ver foto - imagina naquela época?

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Looks de 1977

A coleção, uma de suas mais clássicas até hoje, se chamava Conceptual Chic

A Conceptual Chic brincava de punk de boutique com alfinetes de segurança, correntes e furos tipo rasgos. Rhodes foi ao baile do Met em 2013 cujo tema era punk com um look vintage dessa coleção - ela conta a história no Huffington Post.

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Sim, é isso mesmo

Esse é Freddie Mercury usando Zandra Rhodes em 1974

Zandra nem sabia quem era o Queen nessa época - A Night in the Opera, que tem Bohemian Rhapsody, só sairia no ano seguinte. Ela contou a história em entrevista para a Another Magazine - Freddie foi o segundo homem que ela vestiu na vida. O primeiro foi Marc Bolan.

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Olha ele aí

Bolan no mesmo ano de 1974, usando Zandra Rhodes

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Bianca Jagger

Na Cosmopolitan de 1974. Entendi que esse vestido é da Shell Collection, de 1972/73

Dizem que a Shell Collection saiu inteira de uma cestinha coberta de conchas que Rhodes encontrou em um brechó em NY.

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1969

Um clique de David Bailey para a Vogue UK da primeira coleção solo de Rhodes

Olha o look de novo na própria Zandra Rhodes, arrumando uma modelo toda trabalhada no metalizado (acho que de 1981, a coleção Renaissance/Gold)! As peças da coleção knitted circle (de onde vem o casaco amarelo) eram circulares, o que fazia toda a di…

Olha o look de novo na própria Zandra Rhodes, arrumando uma modelo toda trabalhada no metalizado (acho que de 1981, a coleção Renaissance/Gold)! As peças da coleção knitted circle (de onde vem o casaco amarelo) eram circulares, o que fazia toda a diferença no look

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1975

Mais um clique de Bailey para a Vogue UK, 6 anos depois

Esse vídeo acima traz Zandra sendo entrevistada, além de looks de Ossie Clark, outro gênio que também bombava na época. Clark, aliás, foi um dos primeiros estilistões internacionais que Regina Guerreiro entrevistaria na sua carreira. Ela diz que quando o Clodovil leu a matéria, disse: “Olha como a Regina é boa, dá para ver que ele é doidão lendo a entrevista!” HAHAHAHAHA!!!

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Natalie Wood

Em 1970 com um look bem típico de Rhodes, ainda com a ideia circular da sua primeira coleção solo

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Dinosaur Coat, 1971

Enfeitado com os "botões” de flor. São estampas que parecem flores com botões no meio que Rhodes costurava na roupa tipo um enfeite!

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Detalhe de uma manga

Da coleção Elizabethan Slashed Silk: ela misturou modelagens dos nativo-americanos do século 16 com sedas rasgadas do mesmo período na Inglaterra, a era elizabetana. Look de 1971

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Mais do povo nativo da América do Norte

Esse look é bem típico de Rhodes, um clássico: estampas de penas da coleção Indian Feathers, de 1970

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A segunda coleção solo

Chevron Shawl, de 1970, é inspirada na estampa chevron dos xales vitorianos que ela viu no Victoria & Albert Museum

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Lady Di em 1989

O look é de 1985 e é coberto de estrelas egípcias. Princesa Diana usou-o no consulado britânico de Dubai

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High Gothic!

O lenço de Rhodes na capa da Queen em 1969

A própria Zandra Rhodes

A própria Zandra Rhodes

Entre 27/09 e janeiro do ano que vem, os 50 anos da marca própria de Zandra Rhodes são comemorados com uma exposição no Fashion and Textile Museum em Londres. Vai se chamar Zandra Rhodes: 50 Years of Fabulous. Eu vou - não sou nem doido de perder! <3
Ai, ai. Saudades do que eu nem vivi. kkkkkkkkk