Uma cantora japonesa de jazz que é a madrasta da Maya Rudolph

Adoro essas pororocas artísticas que às vezes acontecem. O pai da atriz Maya Rudolph, Richard Rudolph, é músico. Para quem não sabe, entre outras coisas ele fez essa maravilha com Minnie Riperton:

Maya vem a ser filha de Richard com Minnie. No fim da música ela fica cantarolando "Maya, maya, maya, maya", acho que é para ela, né? A cantora morreu de câncer, supernova, aos 31 anos em 1979. Em 1990, Richard casou com outra cantora que já tinha feito bastante coisa: Kimiko Kasai.

Eu digo POÁ FEVER!

Eu digo POÁ FEVER!

Kasai nasceu em Quioto em 1945, foi para Tóquio em 1964 e se juntou ao grupo do pianista Yuzuru Sera. E olha o que ela já cantou logo de cara na primeira gravação com sua voz em 1968:

Mas não, ela não canta em português, só faz um improviso tipo Baby Consuelo! É meio doida essa ligação que ela tem com o Brasil, segura que daqui a pouco vem mais.

Uma das coisas mais exóticas da carreira da Kasai é que ela cantou o primeiro jingle do Cup Noodles. Quer ouvir? O caminho é um pouco exótico mas é o único que encontrei: clica nesse link, procura a primeira faixa, clica na primeira faixa, vai abrir uma nova janela, clica na primeira faixa de novo. Trampo, né? Esse jingle saiu em 1971. Mas antes disso ela já tinha lançado o álbum Just Friends, o primeiro solo dela:

Kasai gravou com vários músicos fodões. Por exemplo Stan Getz em This is my love de 1975 - a segunda música, uma versão de Come rain or come shine, é belíssima:

Ou também Satin Doll de 1972 com Gil Evans. Diz que ele se atrasou uma hora e meia para gravar, e quando chegou se desculpou e distribuiu as músicas que tinha feito recentemente para o povo pegar… Simples assim.

Chic, né? Ai, esse blog é muito chic. Mas eu queria mesmo era chegar no exótico Butterfly de 1979, o álbum disco jazz que Kasai fez com Herbie Hancock que é uma delicinha e virou clássico cult!

Kimiko Kasai por essa época acho que já queria ficar mais pop. Olha essa apresentação da música The Right Place de 1982:

Mas o que eu acho mais exótico mesmo é o disco Perigo à Noite de 1987. Por que ele tem esse nome em português? Não faço ideia. Só sei que é super synth pop - o que deixa a gente ainda mais confuso!

Kimiko lançou seu último álbum em 1990. Ela se aposentou dos palcos e começou a trabalhar exclusivamente como joalheira. Parece que essa carreira também acabou há alguns anos.

I had been performing for thirty years. Every day, 365 days a year, morning and evening I was training my voice. I needed to make a change. Also I may have burned out after those very rich thirty years of listening to and sharing live Jazz. In Japan there is a phrase 終わりの美学 / owari no bigaku, which means ‘Beautiful End’. Quietly I put a ‘full stop’ to my all musical activities.
— Kimiko Kasai para o site Ban Ban Ton Ton

Gostaram da madrasta da Maya? Chiqueeeee! Deixo como extra uma apresentação mais longa dela ao vivo de 1991 - ou seja, deve ter sido uma das últimas:

Diga olá para o fantástico mundo das newsletters

Algoritmos das redes sociais e o fim do Google Reader nos deixaram à mercê de outros para o acesso à informação. Ou você tinha que manter um "favoritos" do seu browser superatualizado (e como fazer isso no celular, local onde a maior parte das pessoas consome informação?), ou apelava para memória e costume, prometendo-se entrar na home tal e tal todo dia de manhã entre o café e o busão…
E aí as newsletter fizeram seu comeback, dizem, em 2018, tanto como ferramenta de marketing para as empresas quanto no geral, como fonte de informação. Assinar newsletter ficou cool de novo, por essa Cardosoline não esperava. Continuar no Facebook virou cafona.

O motivo de tudo isso é meio óbvio: com a newsletter o poder volta para as mãos do leitor. Ele não vai depender o primeiro compartilhamento de notícia aparecer entre os posts da sua timeline no Face ou um “arrasta para cima" pintar nos Stories - ou seja, não vai depender dos algoritmos. A mesma coisa vale paras as marcas: elas estão nas redes sofrendo para aparecer na timeline do cliente, às vezes precisando pagar para isso. Só que, caso o cliente escolha assim, ela pode falar com ele na hora que quiser via e-mail. Dependendo da imagem que ela já tem, sendo querida e bem gerida, o cliente vai fazer questão de receber algo dela! Um sonho pros marqueteiros.

Hoje em dia eu consumo muito mais informação em newsletter e podcast do que em redes sociais. Assino várias news; muitas são diárias e é raro não abri-las. Perguntei também nas minhas redes sociais quais news as pessoas assinavam para incrementar mais a minha caixa de entrada. E agora chegou a hora de dividir o conhecimento… Com vocês, minhas newsletters preferidas!

Computer-Youve-Got-Mail-Nora-Ephron-2.jpg

Meg Ryan

Em Mens@gem para Você (1998). É que eu queria ilustrar com alguma imagem.

The BRIEF
Uma das minhas preferidas: a The BRIEF sai todo dia útil e é bem voltada para negócios e economia mas eu juro que é legal - um texto leve e curiosidades muito instigantes. É lá que fico sabendo o que a Apple, a Amazon, a Microsoft e outras empresas estão fazendo… kkkkkk Assine aqui.

The Face
Sim, a The Face voltou faz um tempinho - a bíblia do hype continua em busca do, deixe-me ver… hype. Pelo menos da última vez que chequei (ontem), ela falava de coisas que eu não sabia e que ao saber achei o máximo. O significado de hype não é esse? Dá uma procuradinha na home deles para achar o campo de assinatura da news!

a_nexo
A newsletter do Nexo Jornal, um dos informativos mais incríveis da atualidade na minha modesta opinião, traz um resumão para você ficar bem informado pela manhã - se você quiser se aprofundar é só dar um clique; se você quiser ficar por isso mesmo, com o texto da news, já está ótimo. Assine aqui.

Casa Natura Musical
Eu sei, parece esquisito, mas vai por mim: newsletter de empresa boa é aquela que vai além de simplesmente anunciar coisas da empresa. A da Casa Natura Musical fala sobre as próximas atrações e sobre discos patrocinados pela Natura, mas também traz artigos e entrevistas exclusivos sobre música brasileira. Nesse link, além de assinar, dá para conferir edições anteriores.

A Newsletter com Coisas Legais Para Sua Vida
A jornalista e amiga desse que vos fala Flora Paul fazia um apanhado mensal na época em que escrevia para o Buzzfeed com miudezas e dicas que fazem a diferença na vida do millennial. Tipo o xampu com um incrível custo x benefício, a série da Netflix que você devia ver, o produto de limpeza com um cheiro divino, uma barra de cereal inventada pela Nasa… Eu INVENTEI todos esses exemplos só para dar uma ideia do que você podia encontrar nesse espaço, mas eles são bem críveis e talvez, por mais que eu tenha INVENTADO, eles tenham aparecido de verdade por ali. Bom, o ali não existe mais: Flora alçou novos vôos profissionais mas ela decidiu transformar aquele apanhado em uma newsletter mensal! É mara: assine.

Pitchfork
A newsletter que a gente gosta e precisa: aquela que me diz coisas para ouvir. Também assino a da Rolling Stone mas, como explicar, ela é meio… americana demais. Já tentei assinar a da Mojo, minha revista de música preferida, mas me parece que eles não fazem. Então, fique com a da Pitchfork mesmo!

Tate
Tem lugares que gosto muito mas que infelizmente não posso estar presente toda hora. Um desses casos é o museu Tate Modern de Londres. Aí, para não me sentir muito distante dele, eu assino a newsletter. Assim fico sabendo o que artistas que gosto andam fazendo; descubro novos nomes de vez em quando; e fico com raiva quando um artista que eu não gosto faz uma exposição solo ("ai, se eu fosse esse curador!!!” Risos, brincadeira; mas na verdade não). Quer fazer como eu e se sentir mais perto de um dos lugares mais legais de Londres? Assine a newsletter aqui.

IMDb
Sim, eu continuo visitando o IMDb constantemente, e se você se registra por lá tem como escolher preferências de e-mail e receber newsletters. Acho bom para receber novidades do mundo do cinema e da TV, me manter informado, mas não é o lugar onde você vai encontrar as melhores críticas… Enfim, quebra um galho.

A minha newsletter
Faço um apanhado de posts quinzenalmente e também sugiro conteúdos de outros lugares - assine aqui!

Google Alerts
Sim, uso esse serviço e recomendo. Coloca no Google Alerts o nome do seu artista preferido, aquele filme que você ama, o nome daquela série que não sai da sua cabeça. Aí funciona como uma newsletter: você recebe e-mails com links que citaram aqueles termos, dá aquela abridinha, geralmente não vai clicar em nada mas às vezes rola. Vai lá!

ATUALIZAÇÃO 22/08/2019:
Genteeee, esqueci a newsletter do Enrique Jimenez, ele faz uma seleção de links interessantes de tempos em tempos que se chama… #LinksInteressantes <3 Assine!

ATUALIZAÇÃO 20/09/2019:
Saiu esse post no site da Rock Content que fala sobre o boom da newsletter. Achei interessante! Gosto quando a autora, Beatriz Guarezi, fala sobre "menos barulho e mais intimidade".

Mas então a febre country é real?

Um dos primeiros posts desse blog, lá em maio, brincava com o fato de que o country tinha voltado. Mas, menina… e não é? Escute os sinais. Além de tudo aquilo que de fato falei naquele post, tem mais, contando certo movimento de country rap (!) com um interessante artista chamado Lil Nas X que, em pouco tempo, trouxe Billy Ray Cyrus (sim, ele mesmo, o pai da Miley) de volta às paradas e ao mesmo tempo saiu do armário. Eita!

Nesse clipe já tem a versão “atualizada", que conta com Billy Ray e Diplo, mais um sample de Nine Inch Nails (quem diria); e Lil Nas brinca com essa coisa de se vestir de caubói hoje. O hit é um fenômeno que está faz 14 semanas na parada da Billboard. O segredo: além de juntar o trap com o country, a música virou desafio no aplicativo fenômeno TikTok. Misturas explosivas.

Na passarela em si, durante a Casa de Criadores, a gente viu sinais bem calcados da mistura do street com o country. Você reparou? Vem:

country-ken-ga.jpg

Clube Irmã Caminhoneira

Franjas e jeans na Ken-gá. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

country-jal-vieira.jpg

Franja do sertão

A leitura da seca sertaneja de Jal Vieira passa por franjas na bolsa e muita cortiça e navalhados. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

country-rafael-caetano.jpg

Para dançar isso aqui é bomber

As jaquetas de Rafael Caetano ganham recortes e franjas country. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

country-rober-dognani.jpg

These boots are made for walking

Os romeiros de Rober Dognani usam bota de caubói. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

Mais do que um country rústico à Marlboro, esse novo country está mais conectado com a ostentação de Nudie Cohn. Sabe quem é ele? Talvez um dos estilistas ucranianos mais famosos de todos os tempos, Nudie chegou nos EUA aos 11 anos e é um selfmade man. Nudie's Rodeo Tailors é parte essencial da estética da música popular americana!

nudies-logo.jpg

A estética de Nudie é superinfluente até hoje, do look de Diplo naquele post anterior até Elvis Presley em si.

nudie-elvis.jpg

We are golden

Lookinho discreto: esse é o Nudie Cohn com Elvis Presley em si, na seção de fotos da capa do álbum 50,000,000 Elvis Fans Can't Be Wrong

Quer mais? Pois não:

Essa prática de aplicação de bordados tem tudo a ver com o movimento de upcycling e customização que volta à cena agora, na necessidade de uma imagem fashion para a sustentabilidade. Os recortes de camisa de caubói também me parecem uma boa opção para reaproveitamento de resíduo têxtil.

O country, um dos símbolos do conservadorismo, tem sido colocado de cabeça para baixo. Kacey Musgraves, por exemplo, ganhou um Grammy incluindo coisas em sua música que aparentemente não passariam incólumes num rodeio. Ela tem sido encarada como mais uma para quem não conhece tão bem seu trabalho, e não deveria… Você fica sabendo mais sobre Kacey nesse link, num ótimo artigo do The Guardian. E olho também na Kesha, outra que usa o country como ferramenta para mensagens de igualdade e quebra de padrões.

Nudie morreu mas seu legado continua vivo, principalmente com sua neta Jamie Nudie. Saiba mais no vídeo abaixo, da Vice:

E resumindo: em caso de sensação febril, acompanhe. O 37ºC pode virar 39ºC.

A nova MPB que é pop demais para caber nessa categorização

MPB é um estilo musical muito abstrato, porque na minha cabeça se fundamenta também em ecletismo, além da brasilidade. O mito do Brasil mestiço parece que desemboca na MPB, do repertório esperto e misturado de Elis Regina, Gal Costa e Marisa Monte, para ficar só em 3 referências praticamente intocáveis da tal música popular brasileira. Elis tinha essa coisa de extrema qualidade - até quando soava dominada pela emoção era técnica, uma contradição doida. É uma experiência sensorial ouvir, por exemplo, Tiro ao Álvaro no fone de ouvido mais alto. Aquele timbre, a inflexão, o conforto que a gaúcha que desenvolveu sua sensibilidade artística no Rio sentia dentro daquela música tão paulistana. Elis interpretava uma música como grandes atrizes interpretam papéis, era um assombro. E o que davam para ela, Elis tornava dela e comia de garfo e faca: de Gracias a La Vida a Cartola (Basta de Clamares Inocência é uma das minhas preferidas), de Jorge Ben a Tom Jobim. Tudo virava dela e tudo, hoje, é considerado MPB.
E Gal? Ouvi esses dias o single novo, Motor, e que mulher, não é mesmo?

Motor, aliás, tem uma história tipicamente MPB: é da banda Maglore, de Salvador, e foi lançada em 2013 no álbum deles Vamos pra Rua. Marcus Preto, que atualmente assina direção artística das coisas que Gal tem lançado, mostrou para ela dizendo que lembrava Vapor Barato (na versão de Gal, ela cita a ligação, incluindo uns honey baby).
E Motor, como boa pérola, também ganhou versões recentes de Pitty, no álbum novo dela, e do próprio compositor Teago Oliveira em Maglore ao Vivo com participação de Helio Flanders do Vanguart.
Essa coisa de pinçar compositores diferentes para o repertório ficar mais rico é típico das cantoras da MPB: Elis fazia isso (Fagner, Belchior, Gil, Mliton, tantos outros), Gal faz isso (Lulu Santos, Luis Melodia, Mautner, Roberto & Erasmo). E o chique era também resgatar artistas antigos, tipo Gal com Lupicínio Rodrigues, Ismael Silva e Geraldo Pereira. Nara Leão também curtia essa coisa de descoberta do baú.
Marisa Monte, no começo da carreira, seguiu essa cartilha de ecletismo e mistura do antigo e moderno direitinho: samba-enredo (Lenda das Sereias, Rainha do Mar), música de trabalho (Ensaboa, que é de Cartola mas provavelmente é música de trabalho tradicional e Cartola adaptou) e Titãs. Ela era hipster antes do termo se popularizar - conseguia buscar o lado B daquele disco que ninguém tinha descoberto e transformar em ouro. Depois ela vai assumindo seu lado compositora.

Aí MPB é isso.
Mas os novos nomes da MPB são isso? Para mim, os que mais me empolgam não tem nada disso. E digo mais: eles têm sede de pop. Não falo isso como algo ruim - acho ótimo! É que a MPB sempre pareceu gostar do cabeçudismo, do cult, do "para poucos”. Gosto de ambos os caminhos, existem momentos para ambas as coisas, mas adoro o desenvergonhado pop!
(aliás, as 3 cantoras acima citadas, apesar de terem coisas no repertório que são mais conceituais, abraçaram o popular bem lindas em estágios das carreiras. certas elas!)
A última vez que concretamente a MPB deixou de ser tão MPB e ficou mais pop foi no estouro do samba-reggae baiano. No afoxé. Na música para cantar junto dançando na ladeira. Sim, estou falando da axé music!

Todo mundo que gosta de música PRECISA assistir esse documentário! Tem no GNT Play.

Ao contrário de muita gente, não acho que comparar algo com axé music é pejorativo. É brasileiro e é uma delícia. Tem coisa boa e tem coisa ruim, como em qualquer outro estilo.
Sinto, nessa vontade de pop desses artistas que estão chegando, algo diferente do axé mas ao mesmo tempo próximo, gostoso, meio despretensioso. É mais axé que MPB, no sentido de que não existe pedestal, elitismo. Mas existe estrela pop, sim, em ascensão.
Vou mostrar aqui o que considero que é meio primo - acaba sendo uma generalização, mas é para fins de exaltação e mais divulgação e não de reducionismo; cada um aqui é importante por si só e maravilhoso. Gosto de tudo - goste também!

MC Tha

Eu sei, é irresistível comparar a MC Tha a Clara Nunes com as simbologias de religiões de matriz africana nos figurinos, com as referências a umbanda na música, MAS PORÉM MC Tha deixa a matriz do samba de lado - ela se refastelou no funk antes de lançar esse disco, que tem um viés bem pop. A capa do disco materializa essa relação:

Mistura do look ostentação do funk com iconografia da umbanda

Mistura do look ostentação do funk com iconografia da umbanda

Faz sentido que ela use o funk como matriz no lugar do samba se a gente pensar no espaço que os estilos musicais ocuparam/ocupam na periferia ontem e hoje. Mas o que me interessa, acima de tudo, é que esse disco de estreia de MC Tha transcende o conceito: é bom de ouvir na pista, na festinha, no rádio. Ouçam!

Jaloo

Falando em MC Tha, vamos falar também de um amigo dela! Jaloo a chamou para participar de Céu Azul, uma música muito bonita lançada em single por ele; e ela por sua vez traz Jaloo no álbum de estreia na faixa Onda.
O Jaloo não chegou no rolê ontem - tem um disco de 2015, o #1, que já era bom. Mas a safra de singles novos e de participações em músicas de colegas mostra que ele trouxe uma vontade de dialogar com um público maior, de se propor novos desafios. Vide, inclusive, o filme Paraíso Perdido de Monique Gardenberg, em que ele faz a adorável personagem Imã, uma das coisas mais carismáticas do longa. Não é pouca coisa: foi a mesma Gardenberg que mostrou o quanto Cléo Pires era fotogênica em Benjamin, de 2003. A lente dela também adora Jaloo, passeia por ele, brinca de intimidade.
Só falta o disco novo, né, Jaloo? KD?
Aproveito para falar de outra cantora que também chamou Jaloo para participar de uma música…

Duda Beat

Já entrevistei Duda para o canal do YouTube da Lilian Pacce - assista abaixo. Atesto que ela é simpática e me pareceu uma pessoa muito bacana para ser amiga e tomar uma breja.

Acontece que ela já está estourando. A mistura de sofrência com batidas pop mais melodias de forte apelo levam Duda para todo lugar: ela é a nova atração musical que toda marca quer para a festinha, foi destaque no Festival da Cultura Inglesa desse ano e sua Bixinho bateu mais de 7 milhões de streams no Spotify.
A música que ela canta com Jaloo, Chega, traz outra pessoa que nos ajuda a explicar um pouco como chegamos nesse cenário de hoje: é o Mateus Carrilho, egresso da Banda Uó.
A Banda Uó veio na matriz de outro trio, o Bonde do Rolê, que começou em 2005 e trazia o DJ Gorky (e tem a infelicidade de também contar com Pedro D’Eyrot na sua formação, que vem a ser um dos fundadores do MBL). Eles trouxeram o funk para a cena da noite indie, na época majoritariamente branca, e causaram. A melhor formação é mesmo a primeira, com Marina Gasolina (o codinome de Marina Ribatski). Na mesma época, os palquinhos também ferviam com Cansei de Ser Sexy - era uma cena.
Aí veio a Banda Uó em 2010, com a produção do mesmo Gorky. Eles incluiram outras referências como letras mais próximas do forró popular dos Aviões do Forró e Calcinha Preta, melodias do brega, aparelhagem, rap… Estourou. Também eram mais diversos que o Bonde: um moreno bem latino (o Mateus), um loiro bem branquelo, e Mel Gonçalves, linda, de cabelo crespo maravilhoso e superpresença de palco.
A Banda Uó anunciou uma interrupção (ou um término?) em 2017. Foi nesse mesmo ano que o mesmo Gorky estava envolvido na produção de outro fenômeno, que seria o maior dele até hoje…

Pabllo Vittar

"Não gosto da voz", “acho que canta mal", “não é boa a música". A maioria das pessoas que já ouvi falando isso curtem uns funks. Gosto das duas coisas e acho que essa rejeição com a Pabllo tem a ver com outra coisa… Mas esse sou eu supondo algo, sei lá, néam.
Aceita o hit, bi.

Pabllo é um fenômeno não só por ser uma drag queen. A música é boa e bem produzida sim. É mais ou menos a mesma fórmula da Banda Uó atualizada, com letras ainda melhores, mais pop e radiofônica que nunca. O último álbum, Não Para Não, também produzido por Gorky e mais uma turma, é muito superior a muita coisa que a gente vê por aí, inclusive internacional. Caprichado, variado mas mantendo uma coesão. Sou fã mesmo! Leia esse texto do Reverb com o Gorky falando do seu trabalho com a Pabllo.

Tem um monte de outras coisas que considero que são próximas desse movimentinho pop popular mas que se aproximam mais da MPB (Liniker, Jade Baraldo, Mahmundi, Johnny Hooker, As Bahias e A Cozinha Mineira, a própria Luísa Sonza em grande parte do repertório dela), e outras ainda que se aproximam mais do conceitual (Teto Preto, Letrux). Acho (quase) tudo bom, o que na verdade é ótimo: a qualidade da música pop brasileira tem se mostrado uma constante.
Não me incomoda a hegemonia do sertanejo e do funk principalmente porque com a internet isso é facilmente burlado por quem quiser - basta procurar. E não acho o sertanejo necessariamente ruim (aliás, acho que tem umas coisas ótimas sim), nem o funk (até incluiria Anitta e Ludmilla aqui nesse post mas as considero casos à parte, elas estão internacionalizando o som para ficar mais pop enquanto esses que citei pegam muitos elementos do som popular brasileiro).

Pegando o gancho do último parêntese, se a gente for pensar bem: do mesmo jeito que a MPB pegava músicas populares e as trazia para o seu cercado (samba, Roberto Carlos, e até o sertanejo com a gravação de É o Amor com Maria Bethânia e de Nuvem de Lágrimas com Fafá de Belém), esse pop de hoje tem feito a mesma coisa (funk, forró, sertanejo, arrocha). O Brasil é o país da mistura mesmo.

Misturem-se. Que a caretice nunca crie muros e nunca derrube pontes.