O Natal é camp mesmo, e a gente adora

Papai Noel. Pinheiro com bolas coloridas. Meia decorada pendurada na lareira. Peru assado.
O Natal é muito camp, gente, aceita.
E é por isso que para entrar no clima, várias coisas tem aparecido por aí. Como o especial da Amazon Prime Video da Kacey Musgraves!

Esse é um daqueles casos de "o trailer é melhor que a coisa em si", mas tudo bem, é um videozinho bom para quando você está com o cérebro derretido e não quer pensar.
Camp até a medula, o especial traz piadas idiotas, Zooey Deschanel de franja (porque Zooey Deschanel sem franja não é Zooey e não é camp), Troye Sivan numa roupa que não o favorece, Kendall Jenner na participação mais estranha que uma Kardashian-Jenner já fez em alguma coisa, as Radio City Rockettes em coreô meio Ziegfeld Follies (CAMP DEMAAAAIS), James Corden (er, OK), Leon Bridges (que homem, né?) num número de subir pelas paredes, Dan Levy sendo extremamente humorista judeu em um especial de Natal e… ah, e Lana del Rey e Camila Cabello! kkkkkkkk
As músicas são, na grande maioria, clássicos de Natal mesmo.

Que mais? Tem a música nova da Katy Perry, Cozy Little Christmas. Achei uma bobagem, mas para quem gosta é bom, né?

E o clipe é meio engraçado daquele jeitinho Catu Piry. Mil perucas, incluindo essa tipo árvore de Natal e uma outra loira com chifres de rena; dancinha na taça à Dita von Teese; Papai Noel seminu na massagem; drinques na piscina. Camp indeed.

Tem filme em cartaz no cinema, para quem quer sair de casa:

Uma Segunda Chance para Amar (2019) conta com um maravilhoso elenco (Emilia Clarke, Emma Thompson, Henry Golding, Michelle Yeoh), uma trilha recheada de hits de George Michael (Last Christmas para mim é uma das melhores músicas natalinas EVER, cria do Wham!, a dupla da qual Michael fez parte antes de sair em carreira solo) e aquele climinha de comédia romântica besta misturado com um toque John-Hughes-Esqueceram-de-Mim. Ou seja: pessoas em situação de rua & tempo de comunhão mas sem criança loira.
Ainda não tive coragem de pagar um ingresso de cinema para assistir, mas confesso que estou MORRENDO DE VONTADE.
É o meu lado camp, o que posso fazer?

ATUALIZAÇÃO 15/12/2019: ASSISTI.
Sim, é bobinho. E sim, tem seu toque camp. Mas Uma Segunda Chance Para Amar tem seu lado inesperado. Primeiro que ele não é tão centrado assim nas músicas de Michael. Segundo que, se passando em Londres, ele surpreendentemente traz como pano de fundo as discussões sobre nacionalismo e Brexit! A personagem de Clarke, Kate, na verdade se chama Katarina e é iugoslava. Terceiro: é uma história de amor um pouco diferente, com um twist. Não vou falar mais porque vira spoiler. Também não chega a ser uma revolução cinematográfica. De qualquer forma, me surpreendeu!

Tem um outro especial, mais antigo, que é meio besta mas eu gosto. É o do Bill Murray de 2015, disponível na Netflix e dirigido por Sofia Coppola:

A Very Murray Christmas é sem dúvida camp, mas com aquele toque modernete da dupla Coppola e Murray, com direito a Phoenix (Thomas Mars, o vocalista, é marido de Sofia), e um elenco daquele povo de sempre: Rashida Jones, Jason Schwartzman, Maya Rudolph, Michael Cera. Mas ainda tem George Clooney e Miley Cyrus! É sempre ótimo ver George Clooney e Miley Cyrus.

Agora, se você está atrás de um novo clássico camp…

SIM: existe um especial da Mariah Carey produzido pela Hallmark e disponível na Netflix! Gravado também em 2015, Mariah Carey's Merriest Christmas conta com clássicos e All I Want for Christmas is You, claro, lançado em 1994. Eu simplesmente AMAVA esse álbum Merry Christmas da Mariah; além dessa tinha Christmas (Baby Please Come Home), Santa Claus is Coming to Town e Jesus Oh What a Wonderful Child, que eu não parava de ouvir lá nos Natais da década de 1990.
E o especial traz Mariah em dueto com Babyface! CHIQUE! A música que eles cantam é Christmas Time is in the Air Again. Climinha R&B na noite do dia 24 <3

Ainda na Netflix, cheguei a citar Esqueceram de Mim (1990) nos parágrafos anteriores, certo? Tem uma nova série no serviço de streaming chamada Filmes que Marcaram Época. São 4: Dirty Dancing, Duro de Matar, Ghostbuster e… adivinha?

Esqueceram de Mim é tudoooo. E a história de toda a produção por trás dele também. Então eu recomendo - não só esse episódio da série como todo o resto, cheio de entrevistas com pessoas que participaram por trás das câmeras, alguns diretores e atores. Gostei de verdade!
(Dá para alugar Esqueceram de Mim 2, de 1992, no YouTube. Também é natalino e, apesar de não ser tão bom quanto, meio uma nova versão da mesma história com poucas diferenças, é bem legal também!)
(A Disney, após a compra da Fox, viu Esqueceram de Mim chegar na sua casa. Parece que eles pensam em fazer um remake. Minha opinião? SACRILÉGIO.)

Está bom de opções natalinas para se divertir enquanto espera a ceia? Bom, caso bata aquela bad (sempre bate aquela bad) e você queira curtir essa bad com algo menos camp e mais dramático… Segue a música de Natal mais triste já feita. Fica a dica.

Feliz Natal!
(E fica também a dica de panetone: o da Bráz com laranja cristalizada chocolate e tudo e tal ou o da B.Lem, com recheio de DOCE DE OVOS MOLES, caralho, só de pensar já fico doido)

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Mas então a febre country é real?

Um dos primeiros posts desse blog, lá em maio, brincava com o fato de que o country tinha voltado. Mas, menina… e não é? Escute os sinais. Além de tudo aquilo que de fato falei naquele post, tem mais, contando certo movimento de country rap (!) com um interessante artista chamado Lil Nas X que, em pouco tempo, trouxe Billy Ray Cyrus (sim, ele mesmo, o pai da Miley) de volta às paradas e ao mesmo tempo saiu do armário. Eita!

Nesse clipe já tem a versão “atualizada", que conta com Billy Ray e Diplo, mais um sample de Nine Inch Nails (quem diria); e Lil Nas brinca com essa coisa de se vestir de caubói hoje. O hit é um fenômeno que está faz 14 semanas na parada da Billboard. O segredo: além de juntar o trap com o country, a música virou desafio no aplicativo fenômeno TikTok. Misturas explosivas.

Na passarela em si, durante a Casa de Criadores, a gente viu sinais bem calcados da mistura do street com o country. Você reparou? Vem:

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Clube Irmã Caminhoneira

Franjas e jeans na Ken-gá. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

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Franja do sertão

A leitura da seca sertaneja de Jal Vieira passa por franjas na bolsa e muita cortiça e navalhados. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

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Para dançar isso aqui é bomber

As jaquetas de Rafael Caetano ganham recortes e franjas country. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

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These boots are made for walking

Os romeiros de Rober Dognani usam bota de caubói. Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite

Mais do que um country rústico à Marlboro, esse novo country está mais conectado com a ostentação de Nudie Cohn. Sabe quem é ele? Talvez um dos estilistas ucranianos mais famosos de todos os tempos, Nudie chegou nos EUA aos 11 anos e é um selfmade man. Nudie's Rodeo Tailors é parte essencial da estética da música popular americana!

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A estética de Nudie é superinfluente até hoje, do look de Diplo naquele post anterior até Elvis Presley em si.

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We are golden

Lookinho discreto: esse é o Nudie Cohn com Elvis Presley em si, na seção de fotos da capa do álbum 50,000,000 Elvis Fans Can't Be Wrong

Quer mais? Pois não:

Essa prática de aplicação de bordados tem tudo a ver com o movimento de upcycling e customização que volta à cena agora, na necessidade de uma imagem fashion para a sustentabilidade. Os recortes de camisa de caubói também me parecem uma boa opção para reaproveitamento de resíduo têxtil.

O country, um dos símbolos do conservadorismo, tem sido colocado de cabeça para baixo. Kacey Musgraves, por exemplo, ganhou um Grammy incluindo coisas em sua música que aparentemente não passariam incólumes num rodeio. Ela tem sido encarada como mais uma para quem não conhece tão bem seu trabalho, e não deveria… Você fica sabendo mais sobre Kacey nesse link, num ótimo artigo do The Guardian. E olho também na Kesha, outra que usa o country como ferramenta para mensagens de igualdade e quebra de padrões.

Nudie morreu mas seu legado continua vivo, principalmente com sua neta Jamie Nudie. Saiba mais no vídeo abaixo, da Vice:

E resumindo: em caso de sensação febril, acompanhe. O 37ºC pode virar 39ºC.