Mas que raiva do spencer

Não me entenda mal, não estou com raiva do Spencer.
Mas desse spencer.

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Off-White

Fall 2019

Falei sobre essa tendência quando ainda trabalhava no site da Lilian Pacce - você confere aqui. O spencer é o nome mais antigo do paletó cropped, e a história, segundo a própria Lilian me contou, é que um conde ou lorde ou algo assim na nobreza que não lembro bem queimou a ponta da sua casaca e não teve dúvida - meteu-lhe a tesoura. Esse nobre inglês cujo sobrenome era Spencer é um parente antigo de quem de quem de quem? Yes, dear, Lady Diana Spencer.
Ou seja: Lady Di, te adoro, mas que legado para moda esse seu antepassado deixou, hein?
Acho que recorta a silhueta, me lembra um bolero (que também não suporto), é o tipo de peça que só a modelo magérrima e alta fica bem.

Mas o ator muso Cody Fern não concorda.

Ou ele não gostou da peça da Palomo Spain e mesmo assim a Variety o obrigou a usá-lo?
Ajuda o fato de que ele tem o mesmo biotipo de uma modelo magérrima e alta.
Provavelmente nunca saberemos se ele realmente curte um spencer. Mas por mim, uó. É isso. Tchau.

O lado dark do kawaii

Esse post faz parte de uma sequência! Deixo a lista abaixo - recomendo que você leia esses textos antes desse:
. Memória afetiva
. O que é kawaii?
. A rainha & a embaixadora do kawaii

Já leu? Então vem!

Que gracinha!!! Mas espera… ele está comendo um ser-humano?

Que gracinha!!! Mas espera… ele está comendo um ser-humano?

Sim, estamos aqui para falar dos lados mais obscuros do kawaii. Esse de cima, por exemplo, faz parte do guro kawaii, que mistura referências fofas com o grotesco. O Gloomy Bear é obra do designer Mori Chack e ele faz isso mesmo que você está vendo: machuca, e muito, o seu dono Pity.

Não estou interessado em somente desenhar personagens fofos; quero criar algo que vai fazer o seu coração pular.
— Mori Chack, o criador do Gloomy Bear

Mas esse lado mais sinistro de algo a princípio tão infantil não é um movimento tão contemporâneo. É só tomar como exemplo o ero kawaii, também chamado de erokawa

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Ai, jura?

Desenho do Ado Mizumori, artista precursor do erokawa, que faz essas figuras infantis e… meio sensuais? Affff! Bizarro! E elas apareciam em papéis de carta!!!

A cantora Koda Kumi, que começou a carreira em 2000, se autodenomina uma seguidora do erokawa. Nada muito diferente das cantoras pop sexualizadas da década, né?

A cantora Koda Kumi, que começou a carreira em 2000, se autodenomina uma seguidora do erokawa. Nada muito diferente das cantoras pop sexualizadas da década, né?

Bom, outro artista que mexe com imagens kawaii e clima grotesco-bizarro é o Shintaro Kago, que eu por sinal gosto muito! Dá uma olhada…

É o tipo de coisa que eu penduraria na parede em casa? Hum, não exatamente…

Existem várias referências desse kawaii menos ingênuo, com toques de bizarrice. Vou levantar algumas das mais famosas aqui. Vem comigo:

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Tokidoki

Ela na verdade não é uma marca japonesa, como as pessoas costumam imaginar. Foi criada na Califórnia e seu principal designer, Simone Legno, mistura o kawaii com referências mais agressivas como caveiras e spikes. Acabou adorada no Japão também!

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Guro lolita

A subcultura das lolitas não é mais tão forte no Japão mas ainda existe. E além das goth lolitas existem as guro lolitas. Que tal? Vai um kawaii zumbilândia para hoje?

Essa de cima é a Kyary Pamyu Pamyu, que surfou na onda do kimo kawaii (que em tradução porca quer dizer fofinho assustador). O disco é de 2013 - ou seja, com uma estética bem influenciada por Lady Gaga, que lançou The Fame Monster em 2009 e Born this Way em 2011. Musicalmente é j-pop contemporâneo normal.

O Kobito Dukan é horroroso, não consigo me conformar que ele virou algo bacana no Japão. Tem até capinha de celular do Kobito Dukan. Socorro!

O Kobito Dukan é horroroso, não consigo me conformar que ele virou algo bacana no Japão. Tem até capinha de celular do Kobito Dukan. Socorro!

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E eu posso provar

Que coisa horrenda! Pior que o Funassyi. E eu ODEIO o Funassyi. Nem vou colocar foto do Funassyi aqui porque acho um ACINTE a existência desse treco!

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MonsterGirl

Criação de Shigetomo Yamamoto, tipo uma prima da Monster High só que japonesa

E sabe aquele bonequinho bebê que é até tema de tatuagem old school?

Kewpie e o Japão tem uma longa história de amor. Quando um pessoal decidiu produzir maionese no país, lá pela década de 1920, eles queriam agradar - afinal, o japonês nunca tinha visto maionese na vida, não era algo familiar. Então eles colocaram a figura de um bonequinho que estava muito popular na época estampado na embalagem. Em 1957, a fusão estava completa: a maionese passou a se chamar Kewpie oficialmente. E os comerciais? Hum, são MARAVILHOSOS. Esse de baixo é de um tempero da mesma marca, que foi batizado de Tarako. Ao dar o play, você se responsabiliza por conta própria: é um jingle bizarro que vai ficar na sua cabeça por pelo menos dois dias.

Creepy! Foto da entrada de uma fábrica da Kewpie Mayonnaise que agora não fica mais aberta para turistas

Creepy! Foto da entrada de uma fábrica da Kewpie Mayonnaise que agora não fica mais aberta para turistas

Obs. jogada no meio do texto: não incluí 6% Dokidoki aqui nesse post porque não considero guro kawaii. Está mais para um kawaii com cores fortes. Sorry, Monster Cafe…

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Hangry & Angry

Eles são esses personagens da imagem e também uma marca de roupa da designer Gashicon. As peças (e os bonecos) podem vir com uns respingos vermelhos…

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A artista Junko Mizuno

Essa mulher é maravilhosa. O trabalho dela é maravilhoso. Idolatrem essa mulher comigo!

Gosto de desenhar criaturas e animais fofos. O que rejeito é desenhar meninas kawaii só para atrair japoneses que querem garotas que sejam sensuais e inocentes-ignorantes ao mesmo tempo. Amo desenhar mulheres sensuais, mas é algo para mim, não para atrair homens. (...)

A cultura [do kawaii] é tão complicada que é difícil para eu entender, mesmo nascida e criada no Japão. Ouvi que bebês inconscientemente usam sua fofura para conquistar a atenção das mães. Acho a fofura dos bebês e a fofura que as japonesas usam para atrair homens totalmente diferentes.
— Junko Mizuno
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Girl power!

Seguindo esse raciocínio, acho que a Junko faz essas suas figuras serem assustadoras de propósito, para meterem medo nos homens. Yasss!

Breve parênteses: quando fui para o Japão pela primeira vez o AKB48 , uma banda formada por 48 garotas, já era um sucesso. Em Akihabara (o nome da banda vem desse bairro de Tóquio), já estava aberto o café do AKB48. Não sei se ele ainda existe.

Sentei lá com o Pedro por curiosidade. É tudo temático - o cardápio, o porta-copo, os cartazes. Em um telão bem grande, ficam passando clipes com as meninas. Acho que às vezes rola apresentação ao vivo delas.

E o público? Homens de meia idade. Os chamados salary men. É… Esquisito? Você não viu nada: assista Tokyo Idols, tem na Netflix.
Fecha parênteses!

Na mesma pegada de subversão do kawaii na arte da Mizuno mas não exatamente com esse viés mais feminista, existe o movimento New Pop ou Superflat. O nome não pegou, mas um de seus artistas e seu manifesto superflat, que prega o fim da divisão entre alta e baixa cultura japonesas (ou seja, a cultura sofisticada à Quioto da cerimônia do chá e dos salões fechados e o contraponto dos mangas, animes, games e fancy goods da indústria de entretenimento), ganhou fama internacional. Na verdade, mais internacional do que nacional: Takashi Murakami é considerado genial por muita gente fora de casa, mas o Japão em si não liga muito para ele. Será que é porque ele subverte signos do kawaii de maneira provocadora, a ponto deles ficarem assustados?

Tan Tan Bo a.k.a Gerotan: Scorched by the Blaze in the Purgatory (2018)

Tan Tan Bo a.k.a Gerotan: Scorched by the Blaze in the Purgatory (2018)

Murakami é bem conhecido por sua parceria com a Louis Vuitton e pelas suas obras com flores. O caráter bem comercial de algumas de suas obras incomoda bastante gente - meio que na mesma pegada de Romero Britto. Mas eu acho sinceramente que ele consegue ser bem mais profundo em suas propostas, e mesmo o fato de transformar seu trabalho em fancy goods é uma espécie de subversão do sistema.

E me diz: por que o Murakami é uó e a Yayoi Kusama, que também é bem pop e também já fez colab com a Vuitton, não é?

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Murakami em si na Gagosian Gallery

Essa foto de 2011 saiu desse artigo do Observer

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E essas são duas das minhas obras preferidas de Murakami

Hiropon (1997) e My Lonesome Cowboy (1998). Sim, é uma mina com umas tetas gigantes saindo leite e um boy esporrando. Não seja careta! Você está ficando vermelho?!

Gosto dessas obras porque elas mostram a sexualização do kawaii, como se esfregasse na cara do Japão que não adianta parecer infantilizado e asséptico em relação a sexo porque as subculturas do hentai (o manga e anime eróticos) e outros fetiches continuam ali, prontos para emergir.

Na mesma turma de Murakami, vários outros artistas fazem movimentos parecidos. Vamos a eles:

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Yoshitomo Nara

Que eu gosto tanto quanto ou até mais que o Murakami!

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Quem resiste

a essa carinha sinistra? Yoshitomo, você é o cara

MR., aqui na frente de uma de suas obras, trabalha com a estética exagerada da cultura otaku - fonte da foto é o Hypebeast

MR., aqui na frente de uma de suas obras, trabalha com a estética exagerada da cultura otaku - fonte da foto é o Hypebeast

Making Things Right (2006), de MR. - e sim, você está vendo a calcinha

Making Things Right (2006), de MR. - e sim, você está vendo a calcinha

Mariko Mori já fez exposição em CCBB aqui no Brasil e tem umas viagens sensoriais futurísticas - o kawaii entra como subtexto e talvez até inconscientemente, já que ele está tão enraizado na cultura japonesa

Mariko Mori já fez exposição em CCBB aqui no Brasil e tem umas viagens sensoriais futurísticas - o kawaii entra como subtexto e talvez até inconscientemente, já que ele está tão enraizado na cultura japonesa

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Rising, Floating Energy and Flowers (2013)

Obra de Aya Takano, que tem um ar kawaii old school mas traz um clima de mistério e sensualidade nas suas obras

Belíssima essa obra da Takano, né?

Belíssima essa obra da Takano, né?

Tenho uma paixão real por aquarela, pincéis e papel de desenho. Comecei com aquarela, aí experimentei pintura a óleo no Ensino Médio, aí abandonei isso aos 19 anos para tinta acrílica, que é mais próxima da aquarela na tela. Depois de 11/03/2011 [a data do acidente nuclear em Fukushima], chocada, comecei a recusar as coisas que não são naturais. Meu paladar mudou e meu jeito de vestir também. A tinta acrílica não era mais bacana, então voltei para a tinta a óleo.
— Aya Takano
Miss Maid (2002) de Shintaro Miyake

Miss Maid (2002) de Shintaro Miyake

Obra do Yosuke Ueno - que me lembra um pouco a pegada da Nina Pandolfo! As coisas dela são bem kawaii, você não acha?

Obra do Yosuke Ueno - que me lembra um pouco a pegada da Nina Pandolfo! As coisas dela são bem kawaii, você não acha?

Obra da Chikuwaemil, sempre com uma explosão de cor

Obra da Chikuwaemil, sempre com uma explosão de cor

E finalmente a Hello Kitty do mundo bizarro, obra de Yoskay Yamamoto

E finalmente a Hello Kitty do mundo bizarro, obra de Yoskay Yamamoto

On Our Way Home (2015), do Yoskay Yamamoto. Também acho o trabalho dele foda! E você, de qual gostou mais?

On Our Way Home (2015), do Yoskay Yamamoto. Também acho o trabalho dele foda! E você, de qual gostou mais?

Bom, espero que vocês tenham gostado desse post interminável! Agora é hora de segurar para a próxima parte dessa sequência, na qual vou falar de um bairro que virou um mito. Um mito maior que Pinheiros, que o Soho nova-iorquino, que Shoreditch… e talvez equivalente a Copacabana, ocupando um espaço cultural que os outros só sonham e nunca vão conseguir.

Adivinhou? Se ainda não conseguiu… acho que você precisa ouvir mais Gwen Stefani.

O estranho caso da Pooey Puitton

Não sei se você sabe mas existe uma estranha moda atualmente que foi detonada pelo emoji de cocô. Sim, aquele mesmo.

Olá!

Olá!

Existe uma série de produtos com esse desenho hoje em dia. Já vi caderninho, capinha de celular, ponta de caneta, almofada. Aliás, tem uma almofada de cocô na minha cama - o meu marido adora falar pro gato: “Eita Elvis, tá na merda hoje, hein?”

Acho que é um movimento meio irônico, do mesmo jeito que as pessoas adoravam o personagem Mr. Hankey em South Park. Sei lá, não me peça para explicar isso, realmente foge à minha compreensão. Aliás, isso me lembra um outro post que vai sair em breve, sobre o lado dark do kawaii - segura aí que vem daqui a pouco!

Voltando: aí começaram a aparecer coisas fofinhas com o cocô.

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Não se engane

Cocôs não são cor-de-rosa

Vi com meus próprios olhos coisas fofas de cocô rosa ou lilás em Primark, H&M, essas lojinhas.

Mas aí, meu bem, essa moda colidiu com outra.

Abre um parêntese. Você conhece a LOL Surprise, né?
Um brinquedo e uma sigla para Lil Outrageous Littles, a LOL junta aquela coisa da surpresa do Kinder Ovo só que a multiplica por 500 porque é todo um negócio abrir uma embalagem de LOL, cheio de etapas.

Você conseguiu não se irritar assistindo a isso? Eu não consegui!

Bom, a LOL gerou uma grande onda de brinquedos do mesmo tipo, tem umas embalagens enormes e carérrimas.
Fecha parênteses - porque chegamos na Pooey Puitton, que junta essas duas coisas e… a mania de slime, aquela meleca que dizem que acalma! Afff!

Confere aí:

Bom. *suspiro*

Achou essa bolsa-cocô estranhamente familiar? Claro: ela se inspira na…

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Linha Multicolore da Louis Vuitton

A parceria colorida com o artista Takashi Murakami era para ser uma edição limitada mas foi tão bem sucedida que continuou sendo produzida por anos!

A Pooey Puitton, que até faz uma paródia em seu nome com a casa de luxo francesa misturando-a com a palavra poo (cocô em inglês), é um brinquedo da MGA Entertainment Inc. Trata-se da mesma fabricante das Bratz e, adivinha… da LOL Surprise. Well: not surprised!

Não demorou muito para Louis Vuitton e MGA começarem a brigar na justiça. Mas a surpresa foi quando a MGA entrou com um processo contra a Vuitton nos EUA - eles alegaram que a marca francesa estava prejudicando seus negócios e infringindo o direito à paródia e sátira… Risos!
Recentemente a justiça americana decidiu que a MGA estava errada, pelo menos nesse processo. Ufa!

O que parece? Que na verdade a MGA está querendo chamar a atenção para o brinquedo que é uma grande pororoca do pop, surfando na onda do slime, da surpresa, da Vuitton, do cocô... Loucura que, confesso, me deixa fascinado. Hahahahahaha! E ao mesmo tempo, será que ela não está fazendo um favor para a Vuitton, já colocando na cabeça da criança que esse monograma é legal? Só que a criança pode crescer achando que o monograma não precisa ser exatamente o original… Oh-oh.

Sinceramente? Gosto de algumas coisas da Vuitton mas, em termos de monograma… fico com a Puitton. Menos perua, mais irônico, quase hipster!

Uma evolução da cordinha de óculos

Bom, não sei quase nada da Ariane Theunissen - mas acho que ela mora em Paris, trabalha ou trabalhava com o Esteban Cortázar, faz frilas de styling e tem uma marca homônima de acessórios.

O importante é que ela inventou uma evolução daquela cordinha de óculos que virou modinha entre os hipsters faz um tempo, lembra? Achei interessante - Theunissen usa couro e metal e o negócio tem alguns jeitos de usar, com a parte do couro pendurada ou encaixada.

Legal, não? Ariane tem um site para comercializar essas lindezas. Bacana!

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Pimp my glasses! Eu usaria!

Moda, essa ditadora - mas será mesmo?

Esse post está ligado a outros dois: O que é moda? e A febre de 36º do country. É uma continuação dessas reflexões que faço sobre a moda - quase sempre chego mais em perguntas do que em respostas, então não espere muitas conclusões! Vamos?

A moda é uma ditadora horrorosa e gritalhona que manda em todo mundo, uma cúmplice do malvado sistema capitalista, uma vilã. É mesmo? Sempre que penso na moda assim, imagino a Úrsula de A Pequena Sereia.

“Mandei usar ombreiras, querida. Onde você pensa que vai com os ombros caídos?”

“Mandei usar ombreiras, querida. Onde você pensa que vai com os ombros caídos?”

Se você reparar bem, as pessoas oscilam entre achar que a moda não tem mais esse poder ditador e reclamar justamente da ditadura da moda. Elas são profundamente indecisas - e doidas, e descompensadas. “Hoje a coisa é diferente, cada hora podemos usar uma coisa, isso é liberdade fashion”, e no momento seguinte “mas agora a moda está obrigando a gente a usar essa coisa horrenda chamada papete!!!”

Quem está obrigando o quê?
Para começar, binarismo is so last season.
Mas enfim, falamos da moda como se ela fosse uma entidade única e coerente. Não é bem assim: existe a indústria, e mesmo ela é um conjunto de entidades que não pensam as mesmas coisas e não têm os mesmos objetivos.

A tendência é uma palavra que muitos não gostam mais porque dizem que ela não faz mais sentido. Na minha opinião a tendência certamente continua em vigor mas não é tão simples de ser identificada. Antes, a saia ficava mais curta e valia para todas. Hoje, existem vontades. Por exemplo: a moda estava caminhando para uma coisa cada vez mais casual até a temporada internacional passada, agora as passarelas querem que tudo fique mais sério e formal, com alfaiataria, cores sóbrias (especialmente na cartela de terrosos), camisaria. Quase não se vê mais tênis, sendo que o tênis foi a coisa mais bombada há duas temporadas.
Isso é um indício. Vai pegar mesmo? Precisamos acompanhar para saber. Isso porque, voilá: nem sempre a passarela consegue nos convencer das coisas. Às vezes, basta um desfile influente. Às vezes, desfile com figurino de filme mais figurino de clipe e 3 influencers usando em street style simplesmente não bastam.

Vamos para outro exemplo: a hot pant. Já tentaram fazer essa peça pegar em pelo menos dois momentos da história da moda recente. Não rolou na vida prática: reveladora demais, provocante demais para um contexto urbano. Agora, parece que a possibilidade é concreta: virou uma pequena mania entre influenciadoras e seguidoras de influenciadoras usar hot pant preta com saia semitransparente longa por cima.

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Assim, ó

Essa é da ASOS, mas quem anda fazendo bastante em desfile é a Dior

Pegou mesmo? Olha, não cheguei a ver em corredor de shopping ou em vitrine da C&A, mas vi em primeira fila de desfile e em balada moderna. Então não é uma coisa que alastrou, sabe? A moda não é assim tão poderosa - ela adoraria, mas não é mais ditadora, superinfluente. A novidade que as pessoas querem nem sempre é a novidade que a indústria quer empurrar para elas.

E às vezes (ou quase sempre?) elas não querem novidade alguma em matéria de roupa: estão mais preocupadas em gastar dinheiro com gadgets e experiências. Pelo menos é isso que os estudos de consumo apontam. Uber e Netflix são o novo fast fashion? Fora o fato de que comprar uma roupa nova virou algo datado. Chique é brechó, customização, upcycling, feira de troca.

Mas me permitam: adoro imaginar um mundo alternativo e louco em que a moda é sim, a Úrsula, e ela de repente faz coisas assim…

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Moschino outono-inverno 2018/19

Essa é a Kaia Gerber vermelha na campanha da marca

E aí a Zoë Saldaña vira o ícone fashion mais influente do mundo e as pessoas vêem isso:

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Avatar (2009)

Com você tudo fica blue

E mais isso aqui:

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Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017)

Gamora, a filha de Thanos

E de repente o povo decide que isso aqui é legal:

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Blue Man Group

Já foi legal? Nunca achei, mas até tenho amigos que gostavam… (não, isso não é um publi da Tim)

E tem isso aqui agora, né?

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Aladdin (2019)

Will Smith bombado e azul

Isso porque nem falei da Mística do X-Men.
Então todas as paleterias que depois viraram barbearias e esmalterias finalmente virariam salões de pintura corporal; e um empresário inventaria uma máquina tipo bronzeamento artificial mas na qual você poderia escolher todo um pantone e a pele azul seria a mais bombada, os diferentões prefeririam verde ou vermelhão e…

Viu? Que bom que a moda não é a Úrsula.

Fica aqui aquele beijo da Rebecca Romjin - quem quiser assistir a esse programa, tem na Netflix!

Fica aqui aquele beijo da Rebecca Romjin - quem quiser assistir a esse programa, tem na Netflix!