Estou muito confuso a respeito do termo streetwear

Estava tudo bem. Eu usava o termo streetwear (e usava streetwear em si) livremente. Sempre liguei isso à geração millennial, mais informal, menos apegada a regras sociais de dresscode. Teve essa coisa de Karl Lagerfeld ter colocado tênis na alta-costura da Chanel de spring 2014, e aí as ricas todas começaram a usar tênis mas eu mesmo já usava tênis antes e continuei usando depois - a oferta aumentou e tudo bem.

Mas aí veio esse artigo da Vogue UK: Why we need to rethink the therm “streetwear”?

A coleção da parceria entre Louis Vuitton e Supreme de 2017

A coleção da parceria entre Louis Vuitton e Supreme de 2017

O artigo explica que o termo muitas vezes pode ser ligado à raça:

(...) the involvement of people of colour (either designers or models) is ultimately not the determining factor of whether something is “streetwear”. The always-shifting category, which grew out of skate, surf and hip-hop subcultures, has historically done what it says on the tin – represented the way that those resisting the fashion mainstream have worn comfortable, everyday garments outside in the real world.

Fiquei bem incomodado comigo mesmo. Será que eu acabo usando desse mecanismo para apontar o que é streetwear e o que não é sem perceber, inconscientemente, por conta de um racismo estrutural que, not surprised, nunca me dei conta?

Pode ser que, em alguns momentos, não (conscientemente, streetwear para mim tem a ver com jeanswear, moletom, tênis, roupa informal; não necessariamente hip-hop, e sem juízo de valor porque para falar a verdade prefiro streetwear do que alfaiataria). Mas inconscientemente, talvez, sim. Um grande exemplo é o trabalho de Virgil Abloh na Louis Vuitton. Será que eu chamaria esses looks de streetwear se eles fossem feitos por um cara branco que veio de um outro contexto?

A resposta: é provável que não.

Acredito que não dá para demonizar o termo, mas ao mesmo tempo é importante refletirmos sobre a questão.
E você, já pensou no jeito que você usa o termo streetwear hoje?

Manobras orquestrais nas sombras... e um monte de coisa que amo em um só post

Tem uma coisa que não gosto nesse post, mas apenas uma. O camuflado dazzle.

Isso é um navio da Primeira Guerra Mundial com a camuflagem dazzle

Isso é um navio da Primeira Guerra Mundial com a camuflagem dazzle

Nunca gostei de camuflado. Ele está voltando à moda e eu * apenas observo * porque acho bélico, acho bizarro ter se transformado em algo da moda, e resumindo acho feio. Já devo ter usado camuflado em algum momento da minha vida, mas hoje acho sem cabimento.
Sei que a camuflagem tem esse subtexto de proteção, de se esconder na paisagem. Mas isso é para fins bélicos. Para mim é o bastante para não curtir.

Mas esse camuflado dazzle é algo bem peculiar, né? Um cara chamado Norman Wilkinson que inventou: ele acreditava que, sob a ótica de um periscópio, essa pintura meio cubista confundiria o inimigo em alto mar. Diz que intuitivamente ele mudou tudo: redefiniu a camuflagem, que até então era ligada ao conceito de baixa visibilidade, e incluiu uma altíssima visibilidade, o extremo oposto. Esse P&B todo modernoso deixaria o cálculo do disparo de um torpedo difícil e salvaria um navio que, do contrário, seria difícil de simplesmente esconder naquele tamanhão.
A zebra já sabia disso faz tempo…

Uma exposição que esteve em cartaz até abril em um museu em Tucson, Arizona, foi mais a fundo no camuflado dazzle e pensou a sua influência na arte, na moda e na cultura pop. Ela se chamava Dazzled: OMD, Memphis Design and Beyond.

Memphis Design

Cadeira Bel Air de Peter Shire na exposição do Moca (Museum of Contemporary Art Tucson)

Cadeira Bel Air de Peter Shire na exposição do Moca (Museum of Contemporary Art Tucson)

Uma parte dessa exposição trazia exemplos do movimento de design italiano da década de 1980 chamado Memphis e fundado por Ettore Sottsass, cheio de cor e geometria. Diz esse post aqui de 2018 do My Modern Met que o Memphis está voltando. Nossa, eu acharia o máximo se isso acontecesse! Ei, Alessandro Michele: tudo a ver com a Gucci, hein? Fica a dica básica para o Salone del Mobile do ano que vem…

Na mesma exposição em Tucson tinha uma instalação. Essa aqui:

dazzle-ships-instalacao-omd.jpg

A ideia era fazer uma imersão em um álbum de uma dupla, a Orchestral Manoeuvres in The Dark, o chamado Dazzle Ships. Esse aqui:

Não entendeu nada dessa primeira música do álbum? Pois bem: é porque ele é um dos mais conceituais da banda que começou na mítica Factory Records.
E sabe quem desenhou essa capa? Bom, se você conhece um pouco da história da Factory Records, deve desconfiar…

Peter Saville

Não sei nem como começar a descrever o quão influente o designer gráfico Peter Saville é. Nesse artigo do Guardian ele fala das suas capas preferidas que criou para Joy Division e New Order, apenas duas das bandas com as quais colaborou.

Saville também é o cara que fez, a convite do diretor criativo Riccardo Tisci, o novo monograma da Burberry.

burberry-2018-logo.jpg

Se eu gosto? Não muito…

Não é o meu trabalho preferido de Saville. Mas quem tem que gostar são os clientes e não eu - risos! Repare que a cor de fundo, que tem a ver com o cáqui tradicional do trench coat da marca, também é o gengibre sobre o qual comentei nesse post!

Saville ficou empolgado quando soube que existia uma banda com o nome Orchestral Manoeuvres in the Dark, que já tinha uma música chamada Electricity. Era tipo "descobri o Kraftwerk inglês"! Aí ele encontrou com a dupla Andy McCluskey e Paul Humphreys e disse:

You sound like the future but you don’t look like the future.
— Peter Saville para o OMD quando os conheceu

Que bom que ele resolveu dar uma ajuda, né? As capas são in-crí-veis!

Orchestral Manoeuvres in the Dark

McCluskey & Humphreys, a alma da banda

McCluskey & Humphreys, a alma da banda

Eles são da turma pioneira do synth-pop, com o single Electricity lançado em 1979 (para dar uma situada, Nag Nag Nag do Cabaret Voltaire saiu no mesmo ano; Warm Leatherette do The Normal é de 1978; o predecessor Kraftwerk lançou o primeiro álbum em 1970; o Yellow Magic Orchestra foi formado em 1978 em Tóquio; Depeche Mode sairia com seu Speak & Spell em 1981; Don't You Want Me do Human League chegaria nas paradas no fim do mesmo 1981).

O OMD conheceu seu primeiro hitzão em 1980, com esse petardo aqui:

Sim, é uma música sobre o Enola Gay, avião responsável por jogar a bomba atômica em Hiroshima em 1945. Meio bobinha (mas divertida), é uma música antiguerra - quem diria que a camuflagem no disco viria 3 anos depois?

Mas a minha preferida do OMD é essa daqui:

Tão chique quanto Roxy Music, na minha humilde opinião.

Mas e o Simple Minds, hein?
OK, o Simple Minds não é tão chique.
Sei que tirei eles do nada aqui nesse post, nem são synth pop, nem tem capa assinada por Saville (they wish!!), mas são contemporâneos do OMD e são do Reino Unido (mais especificamente de Glasgow).
Será que eles têm mais alguma coisa em comum com o OMD além disso?
Ah, mas pode apostar que sim: ambos fizeram músicas importantes nas trilhas de filmes de…

John Hughes

A música do Simple Minds espero que você já saiba, pois bem manjada:

Até tem uns trechos do ótimo Clube dos Cinco (1985) no clipe de Don't You (Forget About Me). O que você talvez não saiba é que essa mesma música foi usada como trilha base para uma outra cena final de um outro filme de Hughes, o megafashionista A garota de rosa-shocking, do ano seguinte.

O longa traz mais uma vez a musa adolescente Molly Ringwald, superestilosa no papel de Andie em suas peças garimpadas de brechó tipo stylist nata, e o melhor amigo Duckie (John Cryer, que depois voltaria a ver a fama em Two and a Half Men).
Esse artigo do Entertainment Weekly conta para a gente que o fim da trama seria Andie nos braços de Duckie e rejeitando o boy lixo Blane (Andy McCarthy, a pior cara de fuinha que o cinema já conheceu). Seria um sonho? No fim, em cima da hora, fizeram a Andie acabar com o Blane mesmo e perderam a chance de formar uma dupla (Andie e Duckie) que construiria um império fashion. Acontece.

Um dos melhores momentos com música do filme é esse aqui:

PURO AMOR.

Mas na verdade a música sobre a qual queria falar é a do fim. Como eles mudaram o roteiro em cima da hora, a música que já estava feita pelo OMD não fazia o menor sentido.
Sim, o Orchestral Manoeuvres in the Dark fez uma música para A Garota de Rosa-Shocking (que não foi usada) e aí teve que fazer outra com o andamento específico de Don't You (Forget About Me) para conseguir encaixá-la na cena - em 24 horas! E o resultado virou o segundo grande hit depois de Enola Gay!
Olha aí:

(Andie, sua trouxa)

E esse foi o post que saiu da Primeira Guerra Mundial e chegou em um vestido customizado incrível usado pela tonta da Andie que ficou com o boy errado.
Para quem quiser ouvir a canção If You Leave do OMD sem o áudio do filme, ei-la:

E um extra para quem gosta: Jon Cryer refazendo a cena de Try a little tenderness com James Corden. Aviso logo: não faz juz à original.

Fita adesiva vira arte!

Recebi por e-mail: o Houssein Jarouche, que o povo moderno de São Paulo conhece bem (com a loja de móveis incrível Micasa e seu envolvimento intenso com arte), está para inaugurar uma exposição solo em Nova York de obras suas chamada Life Signs.

Ele pega geometria (especialmente da arte islâmica) e abstracionismo para fazer algo bem contemporâneo, que mostra vias e sinais de trânsito, tudo com… fita adesiva para reparos! Se você olhar bem atentamente, vai conseguir enxergar as emendas das fitas. Interessante, né?

A arte islâmica tem essa relação muito instigante com a geometria. Comprei um livro nessa última viagem para Londres, o Islamic Design: a Genius for Geometry, que é bem pequenininho mas me encantou porque fala desse mistério sobre os padrões islâmicos de repetição e perfeição que você encontra em mesquitas, mausoléus e palácios. A ideia de matemática sagrada, de repetição infinita e de mensagens misteriosas escondidas me fascina muito.

Aliás, acho que qualquer pessoa que trabalha com estamparia deveria estudar esses desenhos islâmicos.

desenho-islamico.jpg

Para quem se interessou na exposição do Houssein, ela inaugura 27/06 e vai até 15/07 na Taglialatella Galleries; na 229 Tenth Avenue. Tá em Nova York? Passa lá!

Franquias de sucesso sempre lançam licenciamentos - mas eles nem sempre são tão legais

Nessa viagem que fiz para Londres fiquei reparando muito em licenciamento de franquias do mundo do entretenimento e como eles variam bastante em qualidade de design. E mais importante: os blockbusters (tipo Harry Potter, universos Marvel e DC, Star Wars) estão cada vez mais dividindo espaço com séries de TV e de serviços de streaming. Achei estranho não ter visto quase nada de Game of Thrones, porém, olha que bizarro: tinha várias coisas de Friends na Primark!

Achei simplesmente horroroso mas sou simplesmente muito suspeito pois faço parte do 0,03% da população que não vê muita graça em Friends. (sobe o volume da trilha, toca Sorry da Beyoncé ao fundo)

Aí, caso você não tenha acompanhado minha viagem nos stories do Instagram (ainda dá para ver no destaque chamado SpiceWood Mac, vai lá!), está rolando uma exposição de mangá no British Museum (interessante, por sinal, porém cara, quase £ 20). Não sei se por causa disso ou se é coincidência, mas a Uniqlo está com uma coleção de licenciamento de mangás.

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Legal, porém

não gosto de Bleach e não gostei das outras camisetas que vi

Na verdade, o que mais gostei na Uniqlo dessa vez foi essa camiseta…

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Sim, isso mesmo

É uma camiseta licenciada da maionese do Kewpie! A Uniqlo tem toda uma linha de camisetas da Kewpie Mayo! Chocado! Você lembra da história dessa maionese? Contei nesse post!

Tem toda uma linha de marcas de consumo - na Primark também, aliás. Para quem gosta de Super Mario Bros, a Uniqlo também está com várias coisas. Só que em matéria de mangá…

naruto-primark.jpg

A Primark ganhou

Achei bem mais legal #narutolover

As fast fashions brasileiras (leia-se C&A, Riachuelo e Renner) têm licenciamento mas acho que poderia desenvolver muito mais: Disney, Harry Potter, Marvel, DC, Simpsons, Justin Bieber, Pernalonga são alguns que me lembro de ter visto por essas praias. Mas imagina blusa da Carminha, do Tonho da Lua, da Ana Maria Braga, da Ludmilla, da Escolinha do Professor Raimundo? Ia ser tudo!

cacilda-escolinha-professor-raimundo.jpg

Cacilda ícone

A original, per favore

E uma novidade quentinha é que daqui a pouco sai a coleção de Stranger Things 3 da Nike, que vai contar com tênis e roupa. No exterior começa a ser vendida dia 27/06; por aqui não se sabe se chega.

ATUALIZAÇÃO: chega sim, ou melhor, chegou, no dia 27/06 também, na Guadalupe Store em SP, e provavelmente já acabou mas vai saber, quem sabe correndo você acha algo?

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São relançamentos de modelos dos anos 80

Cortez, Blazer e Tailwind. Acho os 3 lindos, mas prefiro o clássico Cortez mesmo!

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Queria moletom e bruzinha escrito Hawkins?

Queria sim, e você também

Achei que a união da Nike com a Netflix é bem boa, hein? Será que vem mais coisa por aí?

Aliás, Stranger Things 3 chega no dia 4/07 na Netflix. Empolgados? Eu tô! Ainda mais que agora vai ter a maravilhosa Maya Hawke, filha de Uma Thurman e Ethan Hawke, no elenco. Acho a Maya incrível do tipo “pouco te vi, sempre te amei”. Portanto: Nike, lança uma camiseta com a cara da Maya Hawke, vai?

É uma cara linda. Fica aqui o meu apelo.

É uma cara linda. Fica aqui o meu apelo.