Mas a gente sabe que a burguesia fede desde 1989, Slimane...

Aiai, lembra quando a gente amava o Hedi Slimane?
Era na longínqua primeira década dos anos 2000. Ele assinava a Dior Homme e Kate Moss, ícone fashion de mulheres, homens, cachorros, papagaios e alienígenas, decidiu usar as roupinhas da Dior Homme.
(Aliás, breve adendo: você já parou para pensar que existem seres maiores de idade hoje que talvez não tenham muita noção de quem é Kate Moss? O escândalo do uso de cocaína em capa de tablóide aconteceu em 2005 - as pessoas com 18 anos hoje tinham 4 aninhos…)

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Kate Moss de Dior Homme por Hedi Slimane

Foto de Willy Vanderperre para Another Man em 2005

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De novo, Kate de Dior Homme por Slimane

Tipo Marlene Dietrich. Foto de Mert & Marcus para Vanity Fair em 2006

Dizem que foi Raf Simons quem "reinventou” a skinny mas que Hedi Slimane que popularizou. É que o universo imagético de Slimane tinha timing: era época de Last Nite dos Strokes; era o namoro de Kate Moss com Pete Doherty; o rock americano pedia a benção de Iggy Pop e Ramones e invadia o espaço da primeira onda do britpop de Oasis e Blur. E a roupa? Paletozinhos ajustados com camiseta, jeans skinny, botinha ou Converse. Very Slimane (e se você pensar bem, também é super Zezé di Camargo). Androginia fazia parte da sua cartilha, assim como magreza extrema, o resquício da era heroin chic de maneira um pouco mais velada. Kate, de skinny e coletinho, se confirmou como ícone de estilo de toda uma época que não era muito sexy (muito osso, né? A gente gostava na época, hoje temos vontade de dar um x-burguer para a pessoa se alimentar), mas sem dúvidas tinha drogas e rock 'n’ roll.

O estilista saiu da Dior Homme em 2007 e, durante 5 anos, se dedicou a uma outra coisa que também faz com sucesso: fotografia. Sabe aquela capa de The Fame Monster? É dele. Lady Gaga é uma grande entusiasta de Hedi Slimane e não dá para culpá-la: ela era uma adolescente no auge de Kate Moss, então deve ter visto naqueles looks skinny tudo o que a gente também via, ou seja, referência de moda e estilo.

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The Fame Monster, 2009

Cabelo de Rei Kawakubo só que loiro, foto de Hedi Slimane

Então, na primeira década dos anos 2000, Slimane era o que havia de hype, de contemporâneo, de fashion.

Aí veio 2012 e as máscaras começaram a cair…
Ele entrou na então Yves Saint Laurent, tirou o Yves do nome da marca e o povo já começou a pensar: “ih, o que que esse cara tá pensando??”

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A camiseta mais pirateada da virada de 2012 para 2013

A “original", da marca What About Yves, foi parar nas lojas mais cool da época, tipo a Colette e a Maison Kitsuné, mas deu ruim: a Saint Laurent abriu processo

Mas o que mais deixou o povo ressabiado é que o tempo havia passado - e como - e Slimane parecia continuar batendo na mesma tecla. A calça era skinny, tinha o paletozinho, o clima era meio Pete Doherty. Pete Doherty was very last decade e o pessoal tentava entender. Diziam: "essa roupinha tem cara de fast fashion!” Defendiam: “é cara de fast fashion mas com uma qualidade muito maior, quem viu de perto e tocou sabe." Bem esnobe, né, do tipo "chora querida, se você não foi na loja em Paris não sei porque está dando sua opinião.”
A verdade verdadeira? Tinha qualidade muito maior mas tinha cara de fast fashion mesmo. Imprimia algo que, na visão dos especialistas (e inclusive na minha) tinha tudo para dar errado.
E não deu. As vendas aumentaram. Na época a Saint Laurent virou queridinha do grupo Kering. Você sabe, né, isso foi um pouco antes de Alessandro Michele começar a sua pequena revolução na Gucci. É, meu bem, o tempo passa voando…

Só que hoje, se você compara o que Hedi Slimane fez e o que Anthony Vaccarello vem fazendo na Saint Laurent, é nítida a diferença. Não é que Vaccarello tenha mudado tudo - pelo contrário, ele não ignorou o que Slimane fez mas foi além e deu, na minha modesta opinião, mais originalidade e espetáculo para aquilo. A androginia agora tem doses calorosas de uma sensualidade adulta, um jogo de sedução que sempre fez parte da história da maison Saint Laurent. Slimane já era sensual, mas um sensual um tanto raquítico, um tanto jovem demais a ponto da gente questionar se aquilo era… saudável.

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Saint Laurent de Slimane

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Saint Laurent de Vaccarello

E aí Slimane surpreendeu todo mundo quando assumiu a Céline no ano passado. A marca é do grupo LVMH. Em teoria, ele não saiu muito feliz do LVMH quando se desligou da Dior Homme. Mas o que é uma alma #chatyada quando o cheque é gordo, não é mesmo, meu bem?

A primeira coisa que Slimane fez foi tirar o acento do nome Celine. Começaram a surgir piadas do tipo "se o Slimane entrar na Forum vai colocar acento no nome e vai virar Fórum, né?” (essa piada eu inventei agora, é ruim, mas você entendeu o que eu quis dizer)
Quando ele fez o primeiro desfile a galera ficou pistola: a marca, que antes era superadulta sob a batuta elogiadíssima de Phoebe Philo, se rendeu mais uma vez à estética própria de Slimane. Inclusive com várias comparações espalhadas pela internet.

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Só que a temporada de fall 2019 chegou para desgraçar a cabeça. Primeiro porque Slimane estava fazendo algo diferente.
A arqui-inimiga de Slimane, a jornalista Cathy Horyn, que também não é bem quista por Gaga e por meio mundo (é sério), fez um supertexto sobre o fall 2019 da Celine. Ele basicamente diz que Slimane é esperto e sabe fazer negócio na moda, e não necessariamente o elogia enquanto um criativo. Por quê? Porque ele colocou ali na passarela uma alta dose de um estilo burguês à moda dos anos 1970 e 1980, quase que literal, o que deve atrair outra faixa de público - ou até o mesmo público seu que o acompanha, afinal todo mundo envelhece.

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Foi muito fácil, no calor da hora, a gente achar bacana Slimane mudar sua estética. Era um outro universo e é disso que a moda gosta: de mudança, de novo. Não é? No meu caso, pelo menos, é isso que gera assunto. Então ninguém se perguntou em implicações morais ou simplesmente no que significava uma marca de luxo explorar esse look e suas simbologias nessas alturas do campeonato. Em seu texto, Horyn sugere uma aproximação com o universo da Hermès, sinônimo de uma alta sociedade que tem tanto dinheiro que, adicional meu: pratica equitação.
Essa exploração de uma imagem burguesa, se referindo tanto à classe alta quanto à classe média que tem aspirações a ser classe alta e por isso se veste de acordo, me parece um tanto sombria em sua lembrança de exclusão, de clubinho onde só endinheirado entra, e principalmente: me parece muito careta. Ainda mais quando colocada lado a lado com a imagem anterior de Slimane, rock 'n’ roll, adolescentes prontos para fazer bobagem - não deixa de ser fútil, mas ao menos é mais liberada em todos os sentidos. Essa nova burguesinha de Slimane vai no cabeleireiro, no esteticista e, de imaginar um storytelling ali, ele é bem medíocre na minha modesta opiniãozinha…

É preconceito mas me diga com sinceridade: quantos livros parece que uma moça vestida assim lê por ano?

O look de saia na canela e bota, aliás, é o figurino da personagem de Molly Ringwald no filme Clube dos Cinco. Claire, a princesa mimada filhinha de papai, é rejeitada pelos colegas que estão presos no castigo com ela na biblioteca. Suas roupas são a imagem da burguesia classe média feita para o sistema, comezinha, pronta para casar com um menininho rico e fazer outra Claire.

Claire (Molly Ringwald) é a quarta da esquerda para a direita. O look podia ser Celine!

Claire (Molly Ringwald) é a quarta da esquerda para a direita. O look podia ser Celine!

Quem não assistiu ao filme: tem plot twist… Só que isso não muda o fato do que aquela roupa precisava significar naquele contexto.

É certo direcionar a energia do hype para essa coisa tão desinteressante e conservadora, mesmo que seja um simulacro com provavelmente um grau de ironia? A patricinha, que é um público alvo desejável para uma marca de moda, precisa ir na Celine e sair uniformizada? Para a direção da marca, é provável que sim. Para quem curtia o trabalho de Philo, é uma morte horrível.
Resumindo: Slimane está fazendo roupa para a cliente que compra na Ralph Lauren e, um pouco mais recentemente, na Michael Kors?
Olha, é o que parece.

Olha bem nos meus olhos e me diz se isso não parece propaganda de Ralph Lauren.

No meu mundo fashionista, isso quer dizer roupa sem imaginação, sem tempero, medíocre.
E é isso. #militei um pouquinho, né?

"Às quatro da manhã para me falar de Slimane…”

"Às quatro da manhã para me falar de Slimane…”

10 (ou 20?) discos que te fizeram ser quem és - do Feici para o blog

A minha irmã Ana Flávia me desafiou no Facebook a participar dessa brincadeira de publicar 10 discos que te fizeram ser quem és, um por dia. Mas como não gosto do Facebook, decidi publicar aqui e tudo de uma vez - Ana, me perdoa? kkkk

Uma das coisas que achei bom é que não é para ter explicação, não é para ter resenha, nada. Só a capa. Eu vou incluir o título e o ano de lançamento por fins jornalísticos, vai que alguém quer ouvir, né?
Ah, e eu escolhi 20. O blog é meu, eu faço o que eu quero.
Segue:

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Made in USA (1994)

Pizzicato Five

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Fruto Proibido (1975)

Rita Lee & Tutti Frutti

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Jagged Little Pill (1995)

Alanis Morissette

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The Bodyguard (1992)

Whitney Houston

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Amplified Heart (1994)

Everything But The Girl

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Fa-tal - Gal a todo vapor (1971)

Gal Costa

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Urban Hymns (1997)

The Verve

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Pies Descalzos (1995)

Shakira

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As Quatro Estações (1989)

Legião Urbana

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Post (1995)

Björk

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Clube da Esquina (1972)

Um montão de gente

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I'm Breathless (1990)

Madonna

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Barulhinho Bom (1996)

Marisa Monte

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Kazemachi Roman (1971)

Happy End

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La voglia la pazzia l'incoscienza l'allegria (1976)

Ornella Vanoni, Vinícius de Moraes e Toquinho

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Flora é M.P.M. (1964)

Flora Purim

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Little Earthquakes (1992)

Tori Amos

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Parallel Lines (1978)

Blondie

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The Singles 86 > 98 (1998)

Depeche Mode

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The Fame Monster (2009)

Lady Gaga

Entre Kate & Katy, fique com as duas

Já assistiu ao clipe novo da Katy Perry, de Never Really Over?

Adorei - a música é bem boa, adoro esse clima anos 1970, curto a Katupiry tendo esses momentos palhacitos.
Já teve gente que falou de The OA por causa da coreografia e essa coisa meio terapia alternativa meio seita. Também acho que tem a ver. Agora, novinhas dirão que sentiram um toque de Florence Welch no look esvoaçante, no ar de diva-fada Stevie Nicks. Sim, também tem a ver. Mas houve uma outra cantora pop que, para mim, é a matriz desse tema. Menos rock e mais experimental que Stevie, uma das donas do meu coração - ladies and gentlemen, miss Kate Bush.

Apropriação cultural da China? Um olho bem grande? Já estava tudo na capa do primeiro álbum de Kate Bush, The Kick Inside, de 1978

Apropriação cultural da China? Um olho bem grande? Já estava tudo na capa do primeiro álbum de Kate Bush, The Kick Inside, de 1978

Demorou 3 anos entre Bush gravando demos para uma gravadora e de fato lançando esse álbum. Nesse meio tempo, preparava-se o terreno para a nova estrela. Ela cantou ao vivo com a KT Bush Band em pubs, teve aulas de dança com Lindsay Kemp e se inspirou numa adaptação de O Morro dos Ventos Uivantes, livro de Emily Brontë, para a TV. Foi mais especificamente uma cena desse filme que bateu na artista: a que mostra Catherine voltando do mundo dos mortos para encontrar com Heathcliff! Tudo isso na cabeça da menina de 18 anos (!) deu no improvável hit homônimo Wuthering Heights (é assim que a obra se chama no original em inglês). E os clipes? Sim, são dois, e em ambos Bush mostra que prestou atenção nas aulas de Kemp.

O olhão arregalado de Bush, de fazer inveja nas coreanas, fica entre o bonito e o assustador. A canção conhecida pelos seus agudos (percursora da música brasileira linda e subvalorizada Escrito nas Estrelas da Tetê Espíndola) vai falando do ponto de vista da personagem Catherine, batendo na janela de Heathcliff e dizendo “abre aí, tô com frio, more!” Sendo que, como eu disse: ela está morta…
Guess it’s never really over…

Bush serve de matriz para tanta gente que nem sei, de Tori Amos a Lady Gaga - ela regravou um dueto que Bush fez com Peter Gabriel, Don’t Give Up, tipo música de auto-ajuda bem bonitinha. A história é de um homem desempregado que está bem na pior, e a voz feminina tenta animá-lo. O clipe da versão com Gaga, que é do The Midway State, é bem parecido com o original.

Mas quando eu digo que Bush é matriz de Gaga, estou me referindo mais a isso…

Madonna nunca imaginou esse grau de histrionismo!
A música Babooshka é do 3º álbum de Bush, Never for Ever. É uma história rocambolesca: uma esposa decide testar a fidelidade do marido mandando bilhetes fingindo ser outra pessoa. Mas o marido, lembrando nesses bilhetes de como a mulher era quando a conheceu, realmente se apaixona. Ou seja, ela mesma estraga o próprio casamento.

Já deu para perceber que Bush curte um caminho lírico mais tortuoso, né?

E tem a música Kashka from Baghdad.

Reparou na letra? Fala desse homem, Kashka, que está em um relacionamento gay mas precisa mantê-lo em segredo - mas ao que tudo indica todo mundo sabe. E ela… quer entrar nesse relacionamento! Alguém disse TRISAL? Essa música é de 1978 - Bush tinha 20 anos!

A babadeira The Tour of Life, turnê de Bush que rolou em 1979, ficaria marcada para sempre na história do pop. Um dos motivos é que ela foi superinovadora na época. E se todo mundo conhece aquele microfoninho tipo telemarketing como o “microfone da Madonna”, ele apareceu mais de uma década antes, em Bush nesses shows, porque ela insistia em cantar e dançar ao mesmo tempo.

Alô, alô. Testando. Um, dois…

Alô, alô. Testando. Um, dois…

Só que Bush não curtia muito o palco. Isso quer dizer que ela nunca mais fez uma turnê - até 2014. E quando a cantora voltou não foi bem uma turnê, e sim uma residência de 22 shows em Londres. Que esgotaram em 15 minutos!

Para terminar, queria deixar com vocês alguns minutos de pop perfection: o lado A do álbum Hounds of Love, o melhor de Bush na minha opinião.

“And if I only could
I'd make a deal with God
And I'd get him to swap our places
Be running up that road
Be running up that hill
Be running up that building“

E antes de acabar, um extra: Björk fala de Kate Bush.

A rainha do kawaii - e a embaixadora

Esse post é intimamente ligado a outros dois: o sobre memória afetiva e o sobre o que é kawaii. Não leu? Então acho importante que você pare, abra os links, leia-os antes e aí sim volte para cá!

Segundo Kazuo Tomatsu, o relações públicas da Sanrio, contou para o livro Kawaii - Japan’s Culture of Cute, seis porta-moedas de vinil no mesmo formato foram produzidos pela empresa e lançados em março de 1975. Só que um deles, o que trazia uma estampa de uma gatinha criada por Yuko Yamaguchi, vendeu melhor. Era esse aí debaixo!

Eu disse hi, ela disse hello! Fonte da foto: o blog Magnolia Preparatory Academy

Eu disse hi, ela disse hello! Fonte da foto: o blog Magnolia Preparatory Academy

A Hello Kitty foi criada em 1974 (ou seja, se o Tomatsu estiver certo, demorou um tempão para a bolsinha ser produzida). Pra quem só tinha um lacinho, uma garrafa de leite e um peixe (e nenhuma boca), a Hello ganhou toda uma história: ela pesa o equivalente a três maçãs e sua altura é a de cinco maçãs empilhadas; seu nome real é Kitty White e ela vive em Londres; ela tem um gato de estimação (ué!) e seu namorado se chama Daniel. Ela é muito kawaii. Muito mesmo. Tem um parque de diversão só dela em Tóquio (que eu não fui) chamado Puroland. E teve uma exposição dela que passou por Seattle, onde vi de perto esse moedeiro da foto! Lembra que contei que fui nessa exposição no post sobre museus?

A fonte da foto acima, aliás, fala justamente dessa mesma exposição, que trazia obras de artistas inspiradas em Hello Kitty junto com memorabilia. Confira no Magnolia Preparatory Academy!

E também já comentei no post sobre memória afetiva que Alexandre Herchcovitch foi um que já se inspirou nela!

Outono-inverno 2004 - fonte da foto: FFW. Herchcovitch misturou Hello Kitty com outro símbolo pop: Carmen Miranda!

Essa gata também já virou tema de desfile de Samuel Cirnansck, já foi inspiração para Herchcovitch de novo (junto com a Ellus), já inspirou Fila e Puma, já virou vestido de Lady Gaga…

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Camp!

O vestido de GK Reid faz par com esse make nos olhos bem anime de Gaga; o clique é de Markus Klinko & Indrani

O look da Gaga lembra o trabalho que Jean-Charles de Castelbajac fazia (ele começou com casaco de ursinhos de pelúcia e já fez uma capa de Caco, dos Muppets, para a própria Gaga). E também aquelas poltronas dos irmãos Campana, lembra?

(Surpreendentemente, Castelbajac nunca fez uma coleção da Hello Kitty, que eu me lembre. E olha que sou fã, então acho que lembraria!)

Recentemente quem lançou uma coleção temática da Hello Kitty foi a Furla, marca italiana de bolsas.

Achei uma graça, e você?

Achei uma graça, e você?

E ainda teve Melissa, Santa Lolla… a lista é interminável, e olha que estamos apenas na parte de moda, né?

Fico tão instigado que cheguei a ir conhecer uma supercolecionadora de Hello Kitty em Osasco - olha o vídeo abaixo:

Resumindo: isso quer dizer que a Hello Kitty é a embaixadora do kawaii no mundo, certo?

Errado.

Aoki Misako, há 10 anos, atendia pelo título de embaixadora do kawaii e vinha dar uma passadinha no Brasil.

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Cuidado:

alto teor de glicose

Hoje em dia acho que o contrato dela com o governo japonês acabou (sim, ela era contratada pelo governo para representar a cultura kawaii pelo mundo), mas em 2009 eu e a Aurea Calcavecchia fomos encontrá-la na Liberdade para fazer uma entrevista para o site Lilian Pacce que você pode ler nesse link. A experiência foi bem exótica - Misako era difícil de ler (como as japonesas em geral), não sabíamos se ela estava curtindo ou não a experiência. Mas quando passou por uma loja de esquina (onde hoje fica o 89º Coffee Station) e viu o preço da panela elétrica, riu. Achou muito cara. E provavelmente nos tirou de trouxas.

Misako, como a entrevista do link demonstra, é uma sweet lolita. Se a Hello Kitty fosse uma lolita, provavelmente também seria uma sweet lolita. Essa glicose na veia está meio indigesta para você? Bem… então vou te mostrar um lado mais obscuro do kawaii… em um outro post, em breve!

Obs.: Recomendo o episódio da série da Netflix Brinquedos que Marcam Época sobre a Hello Kitty (é o último), e esse vídeo abaixo da NHK com a Yuko Yamaguchi em si!