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Sekai Kayōsai, ou o Festival Mundial da Música Popular, teve Brasil e uma representante da família Jackson em 1985

October 20, 2021 by Jorge Wakabara in música

Essa aí de cima é a argentina Valeria Lynch (nenhuma ligação com David Lynch, o nome real dela é María Cristina Lancelotti). Ela foi a ganhadora da edição de 1985 do Sekai Kayōsai, o Festival Mundial da Música Popular que aconteceu entre os anos 1970 e 1980 em Tóquio e trazia músicas do mundo todo para a competição.
Nessa época, Valeria passava por uma das fases mais prolíficas e bem sucedidas de sua carreira. Uma latino-americana no meio de artistas de vários continentes, ela conseguiu vencer dois prêmios: o de Melhor Intérprete e o Grand Prix internacional do júri (tinha um outro Grand Prix específico para concorrentes japoneses).
Valeria dividiu o prêmio de Melhor Intérprete com uma europeia, a italiana Lena Biolcati. No mesmo ano de 1985, Lena participou do tradicional Festival de Sanremo na sua terra natal e começou a fazer bastante sucesso por lá. Em Tóquio, ela concorreu com a música C’è Ancora Cielo.

Mas por que tudo isso foi um pouco, digamos, inesperado?
Bem, existia uma outra promessa ali entre os concorrentes. Outra mulher. Nada mais, nada menos que… LaToya Jackson. Ela apresentou Baby Sister, que depois foi lançada no álbum Imagination de 1986.
Em 1985, Michael Jackson estava com Off the Wall e Thriller na bagagem e, para dar uma noção, o single de We Are the World saiu em março daquele ano. O festival rolou em outubro. Imagina? Michael já era o rei do pop.

LaToya em si não era exatamente uma principiante. Em 1984, saiu o Heart Don’t Lie. Apesar de não ser um disco superbem-sucedido em vendas, ele é considerado uma das melhores coisas que a cantora já fez. No Sekai Kayōsai, com uma música que tinha a palavra “sister” no título, o intuito de ligá-la à imagem de sucesso do irmão me parece claro.

MAS PORÉM
Para você que não é tão especialista na árvore genealógica dos Jacksons, como eu, te digo logo: LaToya na verdade é mais velha que Michael por dois anos. A mais nova da família é Janet Jackson.
E a letra da música em si não fala de LaToya como se ela fosse a irmã mais nova. Bem pelo contrário: o que ela canta é que foi trocada pela irmã mais nova!
But everybody's seen you sneakin' around
You and baby sister thinkin' you're so cool
You used to love me till you met my baby sister

Ou seja, Baby Sister soa como uma profecia. Em 1986, Janet lançou Control e se transformou na irmã mais famosa de Michael, alcançando patamares de venda e um lugar no panteão do pop que LaToya nunca atingiu.
E LaToya? Bem, quem conhece a história sabe: Jack Gordon assumiu a gerência da carreira dela e virou seu marido, afastou-a da família e, ao que tudo indica, dominou sua vida de maneira bem tóxica. LaToya se transformou numa mistura doida de conservadorismo e sensualidade, foi abusada fisicamente por Gordon, se posicionou contra o irmão no caso de abuso sexual e pedofilia em 1993 (ao que tudo indica, forçada ou pelo menos influenciada por Gordon)… O resultado: a mídia pintou LaToya como a ovelha negra da família e celebridade B, uma pecha da qual ela nunca conseguiu limpar.

(Esse é um momento adequado para eu incluir aqui um dos meus vídeos favoritos que circulam na internet: o encontro de LaToya e Bubbles em 2010)

Volta a fita. No Sekai Kayōsai de 1985, todo mundo achava que LaToya seria um dos grandes destaques por motivos óbvios de DNA.

Até foi, de mídia. Mas Baby Sister levou apenas o Outstanding Song Award (Melhor Música), que era quase um prêmio de consoloção. Para você ter uma noção, mais 4 músicas também ganharam o mesmo prêmio naquela edição. Pois é, não era só uma que levava esse título anualmente! Além da C’è Ancora Cielo que já citamos, ganhou a bonita e xarope Hold Tight de outro americano, o David Pomeranz…

Sobre Thrill of the Chase, nunca ficou claro para mim: El DeBarge não foi para o festival cantar? Outra pessoa cantou em seu lugar? Consegui achar poucas referências, mas parece que quem defendeu a música no palco foi um de seus compositores, Alan Scott (que não, não é o Lanterna Verde, é apenas um homônimo do personagem da DC). A estadunidense Thrill of the Chase também ganhou Outstanding Song Award, de qualquer forma, e foi gravada por El DeBarge no disco de estreia dele, em 1986.

Por fim, uma britânica. Vikki Benson fez sucesso (sucesso?! Hum, enfim) com Easy Love, um dancezinho bem fubangueiro e gostoso do começo dos anos 1980. E é como se ela fosse um daqueles grandes mistérios que a gente adora: não tem Wikipedia, não tem informação, só tem capas de discos que ela lançou. Que loucura, né?

No Sekai Kayōsai, a música que Vikki apresentou, Fire, Fire, é outra que ganhou o Outstanding Song Award. Mas pelo visto não era muito outstanding: foi lançada apenas em um single e só no Japão. Não encontrei nem imagem para mostrar!

A misteriosa Vikki Benson

Alguém tem alguma informação sobre a gata?

E o que mais teve no Sekai Kayōsai de 1985?
Quem levou o Grand Prix Japan foi … Yoko, interpretada por Kazuyuki Ozaki ao lado da banda Coastal City.
E sim, as reticências fazem parte do nome da música kkkkkkkkkkkk

Esse single … Yoko foi a estreia de Ozaki. Começou bem, hein? Em seguida, ele já se separou da Coastal City e seguiu em carreira solo.
(Particularmente, acho que … Yoko foi uma das melhores coisas que Ozaki fez, que mais merece destaque. Ele morreu cedo, em 2011, aos 52 anos.)

Tem outras coisas interessantes. Por exemplo a cantora indonésia Vina Panduwinata, que já tinha ganhado o Festival de Música Pop da Indonésia daquele ano com Burung Camar.

TUDO PARA MIM.
Vina é uma das cantoras mais famosas da Indonésia, tem looks e é closeira. Merece a nossa apreciação.

vina_citra-pesona.jpg vina_citra-ceria.jpg vina_cinta.jpg

Também tem a Luba (não confunda com o youtuber brasileiro). A canadense descendente de ucranianos é famosa na sua terra natal e talvez você já tenha ouvido alguma música com ela. Tem duas na trilha sonora do filme 9 1/2 Semanas de Amor (1986), aquele da Kim Basinger, Mickey Rourke e um pedaço de gelo… Lembra?

Entre Slave to Love de Bryan Ferry e You Can Leave Your Hat On com Joe Cocker, fica difícil se destacar, mas Luba conta com duas músicas na trilha.
Antes disso, em 1985, ela esteve no Sekai Kayōsai com How Many (Rivers to Cross):

(Sim, o sax é de Kenny G. Não dá para ficar mais anos 1980.)

Luba ganhou troféus no Juno, premiação de música do Canadá, mais de uma vez. Outras músicas famosas dela são Everytime I See Your Picture e uma versão de When a Man Loves a Woman.

Babadeira a capa, né? É nesse disco Between the Earth & Sky de 1986 que Luba incluiu How Many

Outra que participou do Sekai Kayōsai foi uma das maiores estrelas do México. Com vocês… Daniela Romo!

Es Nuestro Amor foi a música que Daniela interpretou no Sekai Kayōsai de 1985.
Daniela é uma artista multitalentosa: cantora, atriz de novelas, apresentadora de TV. Es Nuestro Amor foi lançada no seu terceiro álbum Dueña de Mi Corazón, no mesmo ano de 1985, produzido por Danilo Vaona, o italiano que está por trás de sucessos de muita gente bem sucedida como Miguel Bosé e Raffaella Carrá.

Agora segura essa: Es Nuestro Amor é uma música composta por uma… brasileira.

Já falei da paranaense Denisse de Kalafe aqui no blog no post sobre o Arnaldo Saccomani. Ela e ele fizeram parte da De Kalafe e a Turma, uma banda de rock contemporânea dos Mutantes. Tá boa? Denisse tem um vozeirão e, se o Brasil não a valorizou, tudo bem: no começo da década de 1970, ela migrou para o México e fez carreira como cantora por lá. Essa música aí de cima, Señora Señora, é o grande sucesso dela, lançada em 1981. Virou uma espécie de canção-tema não-oficial do Dia das Mães mexicano! E a história de Denisse, que poucos brasileiros conhecem, é linda. Ela se apaixonou por uma atriz e foi assim que também acabou virando uma compositora. Inspirada por uma paixão! Bonito, né?

Bom, eu disse que tinha uma representante brasileira no Sekai Kayōsai no título desse post. Mas eu não me referia a Denisse! Na verdade, teve uma música concorrendo pelo Brasil. E era da talentosíssima… Joyce!

Choque, né? Fã da Bahia saiu no disco daquele mesmo ano de Joyce Moreno, o ótimo Saudade do Futuro. Só chegou na semifinal do Sekai Kayōsai. Provavelmente não era tão pop e comercial para o gosto do júri.
Mas, afinal: Baby Sister era. Ou deveria.

Fico aqui pensando. Se Baby Sister e LaToya Jackson tivessem ganhado o Grand Prix internacional do festival, a história teria sido diferente?
E também fico aqui pensando…
Imagina esse backstage?

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October 20, 2021 /Jorge Wakabara
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música
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A primeira versão de Lady Marmalade (e as outras)

October 12, 2020 by Jorge Wakabara in música

Primeiro de tudo, vou precisar perguntar: por onde anda a Mya, hein?
Pois eu te respondo: ela lançou single em 2020 e tudo! Vixe!

Mas vamos voltar. É provável que você saiba que a versão de Lil’ Kim, Pink, Mya e Christina Aguilera (e Missy Elliot fazendo o rapzinho, né) para o hit Lady Marmalade, que entrou na trilha sonora de Moulin Rouge (2001), é uma versão.
E é provável que você ache que a primeira versão é a do grupo Labelle.

Mas… não. Não é!!!

Lady Marmalade é uma composição dos estadunidenses Bob Crewe e Kenny Nolan. Nolan tinha um grupo de disco music, The Eleventh Hour, que era produzido por Crewe. Nolan era o vocalista e o resto eram músicos de estúdio.

Com a febre disco que assolou os EUA e o mundo, era comum que os grupos lançassem muitos singles, na ânsia de obter um superhit nas pistas ou nas rádios (mas, principalmente, nos dois) e conseguir ficar rico graças a essa onda. É por isso que o primeiro álbum do The Eleventh Hour, de 1974, é um… Greatest Hits. Ele junta alguns singles lançados anteriormente e inclui algumas inéditas – entre elas, Lady Marmalade.

E não me entenda mal, a versão original do Eleventh Hour é boa. Acontece simplesmente que ela não fez sucesso, e a do Labelle é melhor.

Diz a lenda que Crewe mostrou a música pra Allen Toussaint em Nova Orleans. E aí entra em cena THE ONE AND ONLY Patti LaBelle e seu grupo.

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Até então, as Bluebells ou Bluebelles tentavam a fama ao redor de tantos outros girls groups e não tinham conseguido se diferenciar, apesar da potente voz da vocalista principal. O tempo passava e Patti via que a coisa precisava mudar.

O quarteto virou um trio (uma delas, Cindy Birdsong, saiu pra se juntar às rivais Supremes, BABADO), elas estavam bem desesperançosas e parece que surgiu uma luz. “Ah, é pra mudar? Então vamos mudar.” Patti, Nona Hendryx e Sarah Dash se reinventaram, numa das reviravoltas mais deliciosamente doidas do pop, e se transformaram no Labelle, um trio que usava roupas futuristas no palco dignas de Lady Gaga e que cantava não só sobre namorinho de portão mas sobre preconceito, revolução e… sexo.

Os looks do Labelle são maravilhosos e absurdos até hoje

Os looks do Labelle são maravilhosos e absurdos até hoje

Falar sobre sexo nas rádios e nas pistas era um escândalo. A escandalosa I Feel Love de Donna Summer, com gemidos e sussurros, só sairia em 1977. Estamos falando de 1974, mesmo ano de lançamento do Lady Marmalade do Eleventh Hour. A canção que falava do ponto de vista de uma prostituta de Nova Orleans era puro escândalo, e Toussaint, o produtor de Nova Orleans que assumiu a gravação do novo álbum do Labelle chamado Nightbirds pela Epic Records, sabia que a pegada rock soul dançante com o tema tabu era explosiva. Em agosto daquele mesmo ano, a toque de caixa, surgia o primeiro megahit do Labelle em single, topo da parada de R&B e da parada principal.

Isso engatilhou o sucesso do Labelle e da própria Patti LaBelle, que seguiria pra ser uma das maiores divas dos EUA com seus cabelos absurdos e performances energéticas da carreira solo.

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Querida…

Eu disse QUERIDAAA… OLHA ESSE PICUMÃ, CARAIO!

O tempo passou… E quem resgatou a música mais de uma década depois, fora alguns covers insípidos, foi Sabrina, uma cantora italiana que tinha um inegável sex appeal, em 1987.

A música estava no álbum de estreia de Sabrina e fez sucesso localizado no continente europeu. Depois, em 1991, foi a vez da protegida do Prince: Sheila E.

A versão dela é bacana mas curiosamente é menos sensual.
Aí, em 1998, surgia a versão de um outro girl group, dessa vez britânico. Estou falando do All Saints! A Lady Marmalade delas já tinha rap e tudo, viu?

Uma versão remixada dessa do All Saints (por Timbaland!) fez parte da trilha sonora de Dr Doolittle (1998).

E sim: aí, em 2001, que Missy Elliot juntou aquele grupo de cantoras poderosas pra trilha de Moulin Rouge. A letra da música foi adaptada, de Nova Orleans pro Moulin Rouge em si, mantendo o toque francês do "Voulez-vous coucher avec moi?” – a origem dessa pegada bilíngue é que o quarteirão da prostituição de Nova Orleans nos anos 1970 era o French Quartier. E a curiosidade: a Patti LaBelle diz que só descobriu o significado da frase ("você quer ir pra cama comigo?”) depois de gravar! Risos!

O clipe de Pink, Aguilera, Mya e Lil’ Kim é um clássico, né? Acho que foi mais influente em matéria de figurino que o filme em si, pelo menos entre as jovenzinhas. Uma coisa lingerie & bordel com maquiagem carregada e cartola que conseguiu traduzir um pouco das roupas das lolitas japonesas mas deixou tudo mais, digamos… malandrinho.

Existe a história clássica que a própria Pink conta que Aguilera queria roubar todas as melhores partes da música (leia-se, as que demonstravam extensão vocal) e Pink não abriu mão da sua, o que teria gerado uma treta entre as duas. Outros detalhes jogam mais pimenta nesse caldeirão: Pink diz que elas foram pra uma boate e que Aguilera tentou bater nela; Aguilera diz que na verdade elas estavam brincando de "gire a garrafa" – aquela brincadeira adolescente feita em roda na qual quem cai nas duas pontas da garrafa tem que se beijar. Xtina conta que… queria beijar a Pink. Oi??? Outro capítulo dessa rinha de cantoras traz Aguilera chamando Linda Perry, parceira de Pink em composições, pra colaborar com ela – Pink levou pro pessoal e não economizou comentários em entrevistas posteriores…

Em teoria, elas fizeram as pazes em algum momento.

Mais especificamente nesse momento: no programa The Voice em 2017, quando se reencontraram, Aguilera como uma das juradas e Pink como treinadora convidada

Mais especificamente nesse momento: no programa The Voice em 2017, quando se reencontraram, Aguilera como uma das juradas e Pink como treinadora convidada

Minha versão de Lady Marmalade preferida? Aqui, a mais gritada de todas:

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October 12, 2020 /Jorge Wakabara
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Stephanie de Mônaco, aqui estou, inteiro ao seu dispor... pra ouvi-la

September 20, 2020 by Jorge Wakabara in música, livro, beleza

Em 1986, uma princesa empunhou um microfone e decidiu cantar. Era Stephanie de Mônaco, a filha caçula do Príncipe Rainier com a estrela de cinema Grace Kelly. Contei um pouco dessa história no sexto episódio da segunda temporada de Quatrilho, o programa sobre música do meu podcast, mas foquei na música em questão, a Rendez-Vous. Aqui eu quero falar sobre a carreira inteira de cantora da musa Stephanie!

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Grace morreu por causa de um acidente de carro em 1982 no qual estavam ela e Stephanie. Ela não faleceu na hora, mas ficou inconsciente, chegou no hospital ainda viva e morreu lá.

A menina ia começar suas aulas em Paris e ambas, mãe e filha, precisavam pegar o trem para ir pra escola. Grace encheu o banco de trás do carro que ia levá-las para a estação de vestidos e, quando percebeu, não poderiam ir ela, Stephanie e o chofer – não ia caber. Ela não gostava de dirigir, mas decidiu que, naquela hora, tudo bem. E foram apenas as duas.

A morte foi uma comoção mundial, claro. Stephanie ficou traumatizada: não pôde comparecer ao funeral da mãe porque ainda estava em recuperação e, dizem, só a avisaram da morte para ela dois dias depois! Depois, enfrentou a especulação de que seria ela, com 17 anos, que estaria dirigindo o carro no acidente, portanto era a culpada. A princesa sobrevivente só conseguiu comentar o assunto em entrevista em 1989 pra um livro, Rainier and Grace: An Intimate Portrait, de Jeffrey Robinson.

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Caroline de Mônaco, a irmã mais velha, teria sido a única da família a falar com Stephanie sobre o acidente. Pra ela, a caçula disse que a mãe, que estava dirigindo sim, seguiu falando: “Não consigo parar. O freio não está funcionando. Não consigo parar". Stephanie teria puxado o freio de mão e mesmo assim o carro não parou e caiu numa ribanceira.

Circulava também o boato de que Stephanie teria bloqueado o acidente de sua mente, tamanho o trauma. Ela negou: “Lembro-me de cada minuto dele", disse em entrevista gravada para Jeffrey, "é que só nos últimos anos que comecei a enfrentar os fatos. Tive ajuda profissional e especialmente nos últimos oito meses tenho aprendido a lidar com isso. Ainda não consigo ir por aquela estrada, mesmo que seja outra pessoa dirigindo. Sempre peço para que peguem a outra". Ela ainda explicou que não falava sobre o assunto com o pai porque sabia que isso o machucava.

Grace e Stephanie não estavam usando cinto de segurança. Técnicos não encontraram falhas mecânicas no carro. A explicação é que Grace teve um apagão dirigindo (ela vinha reclamando da saúde, especialmente de dores de cabeça) e, quando voltou a ficar consciente, estava desorientada. A perícia disse que Stephanie não estava no volante.

A ribanceira de onde o carro desgovernado caiu

A ribanceira de onde o carro desgovernado caiu

“Havia tanta magia envolvendo a mamãe, tanto daquele sonho, que de algumas maneiras ela quase parou de ser humana. Era difícil pras pessoas aceitarem que ela faria algo tão humano como causar um acidente de carro. Pensaram que eu devia ter causado porque ela era muito perfeita para fazer algo do tipo. Depois de um tempo você não consegue deixar de se sentir culpada. Todo mundo te olha e você sabe que estão pensando ‘como ela ainda está por aqui e Grace está morta?’. Ninguém jamais disse isso pra mim assim, mas sabia que era o que estavam pensando. Precisava muito da minha mãe quando a perdi. E meu pai estava tão perdido sem ela. Me senti muito sozinha. E simplesmente saí pra fazer as minhas coisas.”
— Stephanie de Mônaco para Jeffrey Robinson em 1989

Que coisas eram essas? Como Stephanie lidou com o assunto? Primeiro de tudo, ela caiu nos braços de Paul Belmondo (sim, isso, o filho do ator Jean Paul Belmondo), seu namorado na época, e disse pra família que não queria ir pra faculdade.

Amo o fato que ela também namorou Anthony Delon, o filho de Alain Delon

Amo o fato que ela também namorou Anthony Delon, o filho de Alain Delon

Em 1983, Marc Bohan, o estilista da Dior na época que já havia vestido Grace Kelly em diversas ocasiões, contratou Stephanie como estagiária. Ela também começou a fazer trabalhos de modelo – seu objetivo era financiar uma marca de moda praia, a Pool Position, com a amiga Alix de la Comble. Coisa que acabou acontecendo mesmo: a marca foi lançada em 1986.

Stephanie e um look da Pool Position

Stephanie e um look da Pool Position

Paralelamente a isso, o mesmo ano de 1986 viu um single chegar nas lojas. Era Ouragan, com a voz de Stephanie. Ali começava a carreira de cantora.

O clipe é uma superprodução, cheia de locações externas, figurantes, figurinos. Explora-se tanto situações de perigo (algo um pouco arriscado pra imagem pública de Stephanie, né?) quanto a sensualidade andrógina dela: o maxilar marcado e o look ora unissex, ora uma calcinha de biquíni enroladinha bem reveladora. No fim, a mensagem que eu entendi é… o mistério está nela mesma?

O resultado é que Ouragan é um dos singles mais vendidos de todos os tempos na França! Ela mesma disse, pro mesmo livro: “Não esperava que isso acontecesse assim. Nunca pensei que o disco fosse vender do jeito que vendeu. Mas quando me foi dada a chance de cantar, descobri que aquilo era o que eu realmente queria fazer. Cantar e atuar. Virou minha vida".

Inevitável que fosse feito um álbum inteiro. Besoin também saiu em 1986. A próxima música de trabalho era Flash.

Também foi um sucesso. As músicas de Stephanie eram assim: oitentistas, meio balada animada, pop descartável charmosinho sob a nossa lente nostálgica.
Nesse meio tempo, rolou isso aqui:

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Stephanie por

Helmut Newton

na capa da Vogue Paris de setembro de 1986. Caroline, a irmã mais velha, também foi clicada por Newton em fotos incríveis no mesmo ano

Aí, em outubro de 1986, Stephanie foi pra Los Angeles pra gravar um novo álbum. O que ela esquece de contar é que a mudança pros EUA talvez tenha tido outro incentivo. Ele tem nome e sobrenome: Rob Lowe.

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Que babado

de casal

Eles eram até meio parecidos?

Não durou muito tempo. Depois, em 1988, Lowe se envolveria num escândalo de sex tape com uma garota de 16 anos – como eu contei aqui nesse post. A carreira dele deslizou e só voltou mesmo anos depois.

Stephanie também seguiu a vida.

stephanie-perfume.jpg

Em 1989 saiu Stephanie, o perfume

Chique! Nunca senti. Será que é meio mediterrâneo?

O segundo álbum em si, o homônimo Stephanie, demorou cinco anos pra sair. E quando saiu, em 1991, talvez por essa falta de timing, ele flopou.

Acho injusto porque, inclusive, GOSTO.

No mesmo ano de 1991 foi lançado o álbum Dangerous, de Michael Jackson. A terceira faixa, In the Closet, seria a princípio uma parceria entre Michael e nada menos que Madonna! Mas ele achou que as ideias de letra dela estavam too much pra ele e desencanou. Acabou fazendo a música com Teddy Riley e, pro dueto, chamou… uma Mystery Girl. Pelo menos era assim que ela era creditada.

Depois de um tempo, finalmente revelaram que a Mystery Girl era Stephanie. E esse foi, por bastante tempo, o encerramento da carreira de Stephanie como cantora. Em 1992, ela teve seu primeiro filho, Louis Ducruet, fruto do relacionamento dela com o guarda-costas Daniel Ducruet. Nasceram mais duas meninas: Pauline, em 1994, e Camille, em 1998 (essa última filha de outro guarda-costas, Jean Raymond Gottlieb).

Em 2007, aconteceu um breve comeback da Stephanie cantora. A fundação dela Fight AIDS lançou um single com renda voltada pra causa e a participação de diversos artistas. Stephanie aparece no 1'53'':

E em 2008, saiu o que para mim é uma das Vogue Paris que me marcaram. kkkkkkkk Ainda era a Vogue de Carine Roitfeld, desculpa a emoção exagerada. E a edição, de dezembro de 2008, é essa aqui:

Vogue Paris com Stephanie como editora convidada

Vogue Paris com Stephanie como editora convidada

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Acima você confere uma mistura de Stephanie e de imagens inspiradas em Stephanie, incluindo Milla Jovovich encarnando a Stephanie oitentista superstar! AMO!

(Aliás, a Milla também já se arriscou como cantora, né? Mas esse é tema pra outro post!)

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September 20, 2020 /Jorge Wakabara
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Mara antes de ser Maravilha

August 21, 2020 by Jorge Wakabara in TV, música

Quem tem mais ou menos a minha idade e passou a infância no sudoeste lembra bem de Mara a partir de 1987, quando ela apareceu no SBT e recebeu o “Maravilha” do seu então novo patrão Silvio Santos. Mara era um contraponto às loiras Xuxa e Angélica – morena, baiana. E existia um detalhe: Xuxa vive declarando que não sabe mesmo cantar apesar de ser uma das maiores vendedoras de disco que o Brasil já teve. Angélica era um pouquinho melhor e o repertório mais jovem (no sentido de menos infantil) talvez soe mais interessante para os nossos ouvidos, mas também não era exatamente uma bela voz.

E Mara? O que pouca gente sabe é que, além de ter pérolas pop em seu repertório pós-1987 (Liga Pra Mim de 1989 do Mauro Motta e Carlos Colla, Curumim Iê Iê de 1991 do Robertinho de Recife e a incrível Não Faz Mal - Tô Carente Mas Eu Tô Legal de 1990 do Arnaldo Saccomani e Thomas Roth), ela já era cantora com compactos gravados antes!

Na verdade, Mara lançou pelo menos quatro compactos antes do álbum de orientação bem infantil Maravilha, de 1987. E o mais surpreendente: não é que eles são legais? Para quem gosta de música dos anos 1980, é o puro creme do oitentismo!

O primeiro compacto a sair foi o homônimo Mara, em 1982, com Seja Mais Você de Augusto César e Depois que Eu Perdi Você de Augusto com Carlos Colla. Uma curiosidade é que as fotos da capa são de Luiz Garrido, um superfotógrafo brasileiro.

Amo o cabelo repicado & amo que a letra é boba mas a música não pareceria estranha no repertório de qualquer banda BRock da época. E a segunda voz do refrão? Tudo!

O segundo compacto, em 1983, contaria com Se Você Fosse Esperto de Beto Ferreira, Julio Cesar e Rodrigo Otávio e Estou Amando Outra Vez assinada por Ronaldo Golden Boys – suponho, portanto, que seja Ronaldo Corrêa, o irmão de Evinha, Marizinha, Trio Ternura, integrante dos Golden Boys etc etc etc!

Para mim, Se Você Fosse Mais Esperto é boa de verdade. Melodia bacana, coro meio cafoninha mas esperto, letra divertida, guitarrinha e baixo charmosos. Quando ela diz "te vejo nos comerciais / e faço planos” é inevitável substituir por “e passo pano". <3

Estou Amando Outra Vez, surpresa, não é romântica. Na verdade, é ela dando uma bota num cara falando que está amando outra pessoa! Synth mara (desculpa o trocadilho) e, apesar de criada por Ronaldo, não tem arranjo de vozes, só no fim rola um "papaparapá"! Dá até para imaginar como seria com outras vozes no refrão.

E aí, meu caros, chegamos no hit.
Em 1984 saía Chega Stop Pare com Isso de Ruban e Sandra Pêra (ela mesma, a irmã de Marília Pêra) e Oitava Maravilha de Dalto e Cláudio Rabello (sim, a mesma dupla que fez Muito Estranho, sucesso na voz de Dalto).

Esta cena com Paulo Cintura é do filme As Aventuras de Sérgio Mallandro. Tem lugar que diz que o longa foi lançado em 1985, outros falam 1987. Acredito que a primeira data seja mais exata pela música que Mara apresenta – se fosse 1987, talvez ela mostraria outra.
O que importa: é TUDO. O look, a dança. TUDO.

"Não sou sua mina / nem seu robô!” Se Mara não tivesse virado apresentadora de programa infantil, ela seria uma artista pop jovem? É o que parece!

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E essa capa?!

Luz colorida, neon, meia calça rosa, brinco geométrico, telefone fora do gancho, escarpin jogado no chão. MY AESTHETIC!

Será que Oitava Maravilha foi a música que deu a ideia para o "sobrenome artístico” de Mara?
É bem Dalto, mesmo. E o “uou-uou” do refrão? Risos! Eu gosto!

Ainda existe um álbum "perdido” de Mara, que teria sido lançado entre 1984 e 1987 apenas em "esquema promocional", seja lá o que isso signifique, e nunca foi comercializado – depois, as faixas apareceram em coletâneas. Nem sei se ele tinha mais de uma versão porque já encontrei listas desencontradas de músicas. Trazia Por Um Olhar do repertório de Dalto (ele mesmo a lançou em 1986), Eu Quero Mais é Debochar de Géo Benjamin (que embarcava na onda axé que ia crescendo, com a politicamente incorreta Fricote de Luiz Caldas lançada em 1985, e é uma delícia), Um Grande Amor de Marcelo (fraquinha, o autor deve ter tido vergonha e nem incluiu seu sobrenome. Mas fala a palavra "tesão", ui!).

Outras versões que achei pela web desse compacto incluem ainda Amor Pirado, de Liu Salles com a própria Mara…

Baladinha boba, bonitinha. “Acariciar meu corpo com amor"… Parece que eles queriam sexualizar a Mara, né?

O próprio site da Mara coloca uma música chamada Smoke in Your Eyes nesse balaio. Faz sentido? O que encontrei foi uma versão de Smoke Get in Your Eyes chamada Sombra em Nosso Olhar na voz dela. A letra é de Aldir Blanc – sei disso porque Selma Reis lançou uma versão em 1991 que entrou na novela Salomé da Globo.
No vídeo abaixo, a imagem é do álbum Curumim de 1991. Mas a música não está no disco! Mistérios.

E Foi Assim: em 1987, Mara conquistaria uma parte do ibope infantil mas seguiria, eventualmente, lançando coisas com apelo pop adolescente. Ela sempre foi a melhor voz – não estou aqui discutindo a pessoa dela, que às vezes se envolve em polêmicas, e sim o talento vocal, que depois foi dedicado ao gospel.

#teamMara total na batalha de discografias, apesar dos clássicos da Angélica balançarem meu coração. Não tem como ignorar o poder de Bye Que Bye Bye Bye – versão de Light My Fire do Doors… Risos!

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August 21, 2020 /Jorge Wakabara
Mara Maravilha, SBT, Bahia, Mauro Motta, Carlos Colla, Robertinho de Recife, Arnaldo Saccomani, Thomas Roth, anos 1980, Augusto César, Luiz Garrido, rock, BRock, pop, Beto Ferreira, Julio Cesar, Rodrigo Otávio, Golden Boys, Ronaldo Corrêa, Ruban, Sandra Pêra, Dalto, Cláudio Rabello, Paulo Cintura, Sérgio Mallandro, Géo Benjamin, axé music, Liu Salles, sensualidade, Aldir Blanc, Selma Reis, gospel
TV, música
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Cicciolina e coisas que vão te surpreender agora (você era muito novo pra entender!)

July 27, 2020 by Jorge Wakabara in TV, arte, política

Não gostava da figura da Cicciolina quando era pequeno. Não sei se por moralismo – acho que não, eu era pequeno demais para entender e tinha coisas que eu gostava e eram bem, er, liberadas. Mas eu tinha uma aversão inexplicável. Tipo não ia com a cara, mesmo. Também não acho que era minha homossexualidade de criança viada escolhendo um lado… talvez. Será que a minha homossexualidade se sentia ameaçada? Risos!

Para resumir a questão, fui assistir ao documentário Os Escândalos de Cicciolina, disponível no GNT Play e no Now (para quem é assinante dos canais da Globosat). E descobri que na verdade eu sabia pouquíssimo sobre a Cicciolina, e que hoje eu acho a Cicciolina o máximo!
Claro que, influenciado pelo doc, me deixei levar por uma obra que é claramente favorável a ela. Pouca gente problematiza o alter-ego de Ilona Staller no programa (que tem menos de uma hora), e quem o faz tem a sua capacidade analítica discretamente colocada em xeque (leia-se: uma francesa que faz parte do Femen e paga de doida etc.).

Mesmo assim, decidi revisar minha opinião sobre Cicciolina com profundidade. Reduzida à atriz pornô, ela é certamente muito mais do que isso. Um ícone. Um mito vivo. Provocante e inocentemente dionisíaca com seu ursinho de pelúcia. Ela sabia tudo o que estava fazendo e promovendo? Era manipulada? Era dona de sua própria sexualidade ou reforçava a objetificação da mulher? Era vanguardista? Era feminista, apesar de ser odiada pelas feministas? Era uma vigarista?
Acho que ela era (e é, ainda está viva aos 68 anos) uma personalidade complexa, que a gente não consegue definir com poucos adjetivos.
Por exemplo: ela afirma que perdeu a virgindade aos 18 anos. Tá boa?

Segue aqui o meu quinhão.

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Pra começo de conversa

Amo os looks. Amo a era do make rosa na sobrancelha. Amo o eterno sorriso. Amo o loiro ultrablondor. Amo o eterno rosa millennial. Todo ícone precisa de simbologias: ela tinha as dela!

Cicciolina não é italiana

Pois bem. Ela é húngara. Nasceu em Budapeste numa Hungria dominada pelos soviéticos e portanto em regime comunista. Foi Miss Hungria. Casou (com um italiano). E isso tudo antes de virar a Cicciolina. Mais chocante ainda: Cicciolina foi espiã!!!

Cicciolina: a Mata Hari húngara

A própria Ilona conta em biografia que ajudou o governo da Hungria com informações sobre diplomatas americanos que se hospedavam no hotel de luxo onde ela trabalhava do meio para o fim dos anos 1960!

E não é só: ela também diz que fez o mesmo tipo de serviço, já na Itália, mas que tem medo de falar sobre o assunto e acabar assassinada ou com algum parente prejudicado.

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Marca registrada

Antes de Lana del Rey e todas as frequentadoras do Coachella: Cicciolina já usava coroa de flores. Era um símbolo do seu personagem!

Na Itália: um programa erótico… de rádio!

Ao se separar do marido mas já morando na Itália, Cicciolina encontrou com Riccardo Schicchi, o pornógrafo que a ajudou a construir sua imagem. E foi em 1973, já em Roma, que ela começou a fazer o programa de rádio Voulez-vous Coucher Avec Moi?, no qual ela dava dicas de sexo e falava de sexo, mas para ela, estava falando de amor. Assumiu o nome Cicciolina na rádio e posou em fotos hoje clássicas de Schicchi.

Cicciolina com Schicchi: eles chegaram a ser um par também amoroso

Cicciolina com Schicchi: eles chegaram a ser um par também amoroso

Uma influência para… Xuxa?

Olha, eu não sei, mas tem algo aí, viu.
Cicciolina, que é um nome inventado, se despedia dos ouvintes com "bacini bacini bacini", que é "beijinho beijinho beijinho” em italiano. Ela também batizou seus fãs de cicciolini, mais ou menos do mesmo jeito que a Xuxa falava dos seus baixinhos.
A beleza loira magnética, pouca roupa, esse ar de lolita.
Não tenho provas, mas tenho indícios…

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Cafona ou cult?

Cicciolina já foi musa de muita gente. Em 1976, um filme italo-iugoslavo de Miklós Jancsó chegava no Festival de Cannes e causava escândalo: era Vizi Privati, Pubbliche Virtù. Supererótico, ele trazia as aventuras de um herdeiro de um trono na virada do século 19 para o 20 e era bem visual, com orgias e nudez frontal. Cicciolina estava ali mas num papel secundário: era uma participante da orgia. Nudez nunca foi problema para Ilona Staller: tal qual Dercy Gonçalves, bobeou ela tava colocando a teta pra jogo – na rua, na TV, no restaurante…

A coisa já seria diferente em 1989, elevada de maneira polêmica ao status de arte. Casada com o artista Jeff Koons, Ilona participou da série Made in Heaven, na qual Koons investigava a estética pornô e tudo que a atriz construiu com Schicchi.

Esculturas, fotos: tudo bem gráfico em Made in Heaven

Esculturas, fotos: tudo bem gráfico em Made in Heaven

Desde 1983 Cicciolina tinha ido além de ficar pelada e insinuante em qualquer lugar que lhe desse na telha e começou a atuar em filmes pornô hardcore. Então Koons sabia bem o que estava fazendo. Quando se separaram, a briga foi feia e bem litigiosa – tanto que, dizem, Koons destruiu quase todas as obras que compunham Made in Heaven num acesso de raiva.

Imagina ser filho da Cicciolina com o Jeff Koons?

Ele existe. Ah, sim. E seu nome é Ludwig Koons.

Parece que ele fez harmonização facial mas ele é assim mesmo

Parece que ele fez harmonização facial mas ele é assim mesmo

Centro de uma disputa de guarda na separação, Ludwig acabou ficando com a mãe. Hoje, tem quase 30 anos, sonha com uma carreira por trás das câmeras de cinema e declarou em 2019 que, se fosse cidadão norte-americano, votaria no Donald Trump.
Putz…
E a mãe dele, hein? Bom…

O primeiro partido de Cicciolina era… ANARQUISTA

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Nem sei o que dizer! A fama pop de Cicciolina se deve muito a ela não ter se conformado só em ser uma celebridade da mídia, uma mistura de artista e pornógrafa. Ela entrou para a política e acabou eleita, ocupando uma cadeira no parlamento italiano entre 1987 e 1991. Muita gente acha tudo isso uma grande palhaçada, mas o mais, digamos, original é que esse partido com o qual Cicciolina conseguiu ser uma das mais votadas era o Partito Radicale, de raízes anarquistas!

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Faz sentido!

Entre os feitos de Ilona como deputada, o mais importante talvez seja o direito à visita íntima para a população carcerária. Depois, ela fundou o Partito dell’Amore. E uma das suas declarações políticas mais famosas foi se oferecer a transar com Saddam Hussein e Osama Bin Laden pela paz mundial!

Antes disso, Cicciolina diz que já se envolvia com política antes, inclusive com uma tentativa de fundação de um partido verde que não deu certo. Ela já afirmou, em entrevistas, que é de esquerda.

Cicciolina piu pop

Cicciolina já inspirou tantas que fica difícil enumerar. Miranda Kerr já posou como ela para a V Magazine em 2013. Fausto Fawcett compôs a música Cicciolina (O Cio Eterno), lançada no álbum dele de 1989. Em 1990, o grupo eletrônico Pop Will Eat Itself lançou a música Touched by the Hand of Cicciolina. E adivinha só onde uma música inspirada nela quase foi parar…

Erika Vikman concorreu com essa música à vaga finlandesa do Eurovision 2020. Tem coisa mais perfeita? Quase ganhou – ficou em segundo lugar. De qualquer forma, o Eurovision acabou não acontecendo nesse ano.

A própria Cicciolina já lançou discos

Não que isso seja estranho, né? Era comum que artistas que não cantavam nada gravassem discos mesmo assim para tentar capitalizar ainda mais em cima de sua fama (leia-se Xuxa… risos).
No primeiro disco que gravou, chamado Ilona Staller e lançado em 1979, tem uma faixa deveras interessante. Cavallina Cavallo foi composta por Ennio Morricone, ele mesmo, para o filme Dedicato al Mare Egeo (que pelo que entendi foi lançado apenas no mercado japonês). A versão que aparece no longa, que traz Cicciolina como uma de suas estrelas, não é essa e sim a com a voz da cantora Edda dell’Orso.

Olha outra faixa desse mesmo disco:

Existe um álbum lançado somente no Brasil, o Sonhos Eróticos (1988), que tem duas músicas de Cicciolina, Muscolo Rosso e Avec Toi, com outras interpretadas pela Erotic Dreams Band (provavelmente uma banda de estúdio assumindo esse nome) e La Prima Volta contendo trechos de falas de Cicciolina.
Muscolo Rosso se refere a ele mesmo. O pinto.

“Cicciolina è un sogno della società italiana. Dico “sogno” non nel senso di una realtà desiderata, ma nel senso di qualcosa di profondo che affiora involontariamente e con cui si devono fare i conti. Di questo tipo di sogno, che può essere terrificante, l’apparizione di Cicciolina ha l’aspetto trasgressivo, sacrilego.”
— Federico Fellini sobre Cicciolina

Cicciolina na TV brasileira

É! Cicciolina já participou de uma novela! Você não lembra?!

O babado era certo. Xica da Silva, que passou na Rede Manchete entre 1996-97, teve Cicciolina no papel de uma princesa de Gênova. Para quem não lembra, Xica da Silva tinha um certo ar de pornochanchada. Nada explícito, mas tudo muito… sugestivo!

Teve outro momentinho de Cicciolina na TV nacional. Esse aqui:

QUEM AMA UMA ENTREVISTADORA??? EU!

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July 27, 2020 /Jorge Wakabara
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