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Fábio, o amigo paraguaio do Tim Maia

February 16, 2021 by Jorge Wakabara in música

Ele foi interpretado na série e no filme sobre Tim Maia com Babu Santana por Cauã Reymond – uau. Na vida real ele é… Ah, não chega a ser um Cauã. Risos. Mas tudo bem! Fábio na verdade se chama Juan Senon Rolón, um paraguaio que chegou no Brasil já com uns 20 anos e caiu nas graças de Carlos Imperial.

Na sua biografia, Até Parece Que Foi Sonho - Meus 30 anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia, lançada em 2007, Fábio não disfarça nada: fala das drogas, fala que gastou tudo com mulher, é bem direto. Mas ele quase fala mais de Tim do que dele mesmo, e não devia. Para alguém que fez isso…

Imagina: em pleno 1968 da ditadura militar brasileira, um cara vai lá e lança um compacto com a sigla LSD bem grande na capa? Pois é. A música foi composta com Imperial, gravada com The Fevers e é divertida, fala de viagem alucinógena sem disfarçar numa pegada Lucy in the Sky with Diamonds. Esse foi o primeiro compacto dele. Mas Fábio ia estourar mesmo no ano seguinte, com Stella.

Feita com Paulo Imperial, irmão de Carlos, a canção tem uma pegada soul. Nessa época, ele já era amigo de Tim – que havia voltado dos EUA cheio de black music na cabeça e a apresentou para o amigão. Fez tanto sucesso que Fábio é conhecido e reconhecido como Fábio Stella – o hit virou sobrenome!
E Tim só gravaria o primeiro álbum em 1970, depois de Fábio! Não Vou Ficar, o primeiro grande hit composto por ele, foi lançado em 1969 por Roberto Carlos – que também se contaminou com o vírus da soul music de Tim e seguiria cometendo pérolas no começo dos anos 1970, essas de sua autoria com Erasmo Carlos, como Todos Estão Surdos e 120… 150… 200 Km por Hora.

Mas voltando ao Fábio…

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Esse aí de cima é o primeiro LP do Fábio, de 1969, que contava com diversas músicas escritas por ele e Paulo Imperial. Uma delas é uma homenagem para a cantora Vanusa, antes dela casar com o Antonio Marcos.

Em 1971, Fábio lançaria uma música em compacto bem, digamos, interessante! A Volta de Corisco, outra parceria com Paulo Imperial, oscila entre o nordeste e o soul e cita Corisco, o cangaceiro, numa pegada… romântica? Hoje a gente sabe o tratamento que os cangaceiros tinham com suas mulheres, e essa alegoria romântica não faz o menor sentido. Mas a música é boa, ouça:

Mais interessante ainda é o segundo LP de Fábio, de 1972. Os Frutos de Mi Terra é a pérola perdida de Fábio, ainda a ser descoberta, guarânia psicodélica folk. É lindo. Tem até Dorival Caymmi (a bela porém machista Marina, aqui em pegada balada roqueira) e Sueli Costa (com Tite Lemos, Encouraçado). E os maravilhosos Tom & Dito (em Cravo e Jasmim)! E Guantanamera (uma versão linda, sério)! E Menino de Braçanã! E… o Hino da República (!!!!! Era 1972, ainda pleno regime militar!). E uma versão de Cacá Diegues (???) para Father and Son de Cat Stevens (não confundir com Pais e Filhos da Legião Urbana, aqui é Pai e Filho).

A ficha técnica desse disco é chamativa: Nelson Motta na direção musical, Zé Rodrix no arranjo de cordas, Cesar Camargo Mariano no piano de Encouraçado… Mas não aconteceu e até hoje é obscuro, sei lá porquê. E apesar de eu dizer que ele ainda não foi descoberto, o fato é que já é item de colecionador – vai ver os precinhos no Mercado Livre… Coisa de R$ 500!

É engraçado que eu ainda goste dessa versão de Encouraçado do Fábio. Um cara que eu tive um caso adorava essa versão e me mostrou.
Ele foi um idiota. As músicas ficam… kkkkkkkkkkk

Em 1975, numa fase meio Raul Seixas (hahaha), Fábio lançou o EP As Aventuras de um Certo Capitão Blue.

Interessante? Hum. Acho meio ruim, sinceramente. No mesmo EP, tinha a roqueira Se o Rádio Não Toca, do próprio Raul com Paulo Coelho – foi trilha da novela O Rebu.

Mas o que eu gosto mesmo é do single de 1977!

Cadelinha de disco music brasileira, né, bilu? Eu mesma.

E em 1979 a gente chega no último hit de Fábio, com o próprio Tim Maia. Até Parece que Foi Sonho é bonita, do mega hitmaker Paulo Sérgio Valle com Diogo e o próprio Fábio.

Fábio continuou fazendo discos mas nunca chegou no mesmo estrelato. Entre as músicas… OUÇA:

Perfeita. Como que isso não continua tocando??? Olhe fundo pra miiiiim / Você não vai ver ninguém!

Ai, não resisto em colocar esse encontro aqui: Ronnie Von recebendo Fábio no seu programa Todo Seu. Detalhe: com Caçulinha no teclado!!! Tá passada???

E um bônus: Até Parece que Foi Sonho em 2011 na Cultura.

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February 16, 2021 /Jorge Wakabara
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música
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Pierre Cardin & Jeanne Moreau

December 24, 2020 by Jorge Wakabara in cinema, moda, música

A dupla mais conhecida de atriz e estilista que se tem notícia é Audrey Hepburn e Hubert de Givenchy – juntos, eles criaram um estilo, dentro e fora das telonas. Menos famoso mas com imagens icônicas, temos o duo Catherine Deneuve e Yves Saint Laurent: quem já assistiu A Bela da Tarde e Fome de Viver sabe. Só que Deneuve era bem menos fiel a YSL, apesar de adorá-lo, tanto que virou o rosto da campanha do perfume Chanel No. 5 e, assim, também ajudou a fragrância a virar um ícone eterno.

Mas existem outras duplas formidáveis por aí. Talvez a menos, digamos, heterodoxa e burguesa seja a formada por Pierre Cardin e Jeanne Moreau. Não digo isso na questão de imagens de moda criadas por eles (Moreau, assim como Deneuve, usava outros estilistas). Mas sim na relação entre eles: Cardin, homossexual que nunca esteve no armário, teve um relacionamento amoroso com Moreau. De fato. Ele já disse publicamente que eles transaram – um desses momentos, aliás, hilário, está no documentário O Império de Pierre Cardin, que abriu a edição desse ano da mostra de documentários fashion Feed Dog. A mostra já acabou, e de qualquer forma o filme só passou na abertura.

Já uma estrela de considerável fama, pós-Jules e Jim, Moreau encontrou Cardin enquanto experimentava uma de suas criações. Eles passaram cerca de cinco anos juntos e permaneceram amigos após o término. Dizem que Moreau, uma mulher que gostava de sexo e não escondia de ninguém (imagina isso nos anos 1960), devia ter ficado atraída pelo desafio de conquistar um homem gay. Acho que, na verdade, nenhum dos dois restringia suas possibilidades tampouco ligava para regras sociais, e assim se permitiram viver uma história juntos. Tem coisa mais chique que ser livre de amarras? Moreau, acima disso, já era (ao meu ver) uma atriz completa que não se contentava com o posto de musa que tantas outras se encaixaram na nouvelle vague. Nada contra musas, pelo contrário, amo todas. Mas Moreau tinha mais dimensões e imprimia profundidade.
Enquanto isso, Cardin não era um neófito no cinema. No começo de sua carreira, ele fez o figurino de nada menos que… A Bela e a Fera de Jean Cocteau, de 1946!

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Era natural que Cardin se envolvesse com figurino de cinema, porém sua verdadeira adoração é o teatro. Ele chegou a ser dono de um. E fez inúmeros figurinos para o palco.

A duplinha Moreau-Cardin aparece nas telonas pela primeira vez em A Baía dos Anjos (1963), de Jacques Demy, então um diretor ainda desconhecido, no qual a atriz interpreta Jackie, uma jogadora compulsiva.

O figurino não é estonteante mas é bonito. O look total loira é mara!

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Depois, viria Peau de Banane no mesmo ano de 1963, direção de Marcel Ophüls. Ela contracena com Jean Paul Belmondo.

A comédia traz Moreau como Cathy, que quer vingança dos sócios de seu pai que o roubaram. Ela se associa com três malandros, sendo um deles seu ex-marido, Michel, interpretado por Belmondo.

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Em 1964, Moreau encarnaria um mito histórico que já havia sido interpretado por outras – inclusive por outro mito, Greta Garbo. Era Mata Hari, agora vestida em looks Pierre Cardin. A direção era de Jean-Louis Richard.

Os looks de festa e de show (afinal, Mata Hari era uma espiã dançarina) são bem mais arrojados do que ele inventou anteriormente para Moreau. Gosto particularmente da transparência, o peitinho pra jogo e tals!

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Em 1965, saía Viva Maria!, a comédia de Louis Malle que juntava Moreau com Brigitte Bardot nos papéis principais.

A história é bem doida: em 1907, no México (?!), uma Maria (Moreau) é filha de um terrorista irlandês que morre. Aí ela encontra outra Maria (Bardot), uma cantora de um circo. Elas acabam formando uma dupla, inventam o strip-tease (?!?) e de repente se vêem no centro de uma revolução socialista (????) contra um ditador e a igreja.
Mais ou menos nessa época, o México realmente passou por uma revolução que o tirou de um regime ditatorial. E mais ou menos na época do lançamento do filme, países da América Latina viraram ditaduras militares (o México não). Ou seja, o filme era tanto uma paródia solta com certa referência leve à história quanto um comentário a respeito do que estava acontecendo no mundo naquele momento.

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O figurino de Cardin, claro, é de época. E uma curiosidade: Moreau ganhou o BAFTA de Melhor Atriz Internacional com Viva Maria!

O próximo filme com a dupla Moreau-Cardin é Le Plus Vieux Métier du Monde (1967), que na verdade é um conjunto de curtas que trazem histórias de prostitutas (na tradução, o título é “a profissão mais antiga do mundo”). A com Moreau (que é a única a usar looks Cardin no longa) é Mademoiselle Mimi, dirigida por Philippe de Broca. Conta com outras atrizes nos outros segmentos como Elsa Martinelli e Rachel Welsh.

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A colaboração derradeira para o cinema entre Cardin e Moreau é um filme brasileiro. Joanna Francesa, de 1973, é de Cacá Diegues, se passa nos anos 1930 e traz Moreau como a Joanna do título. Dona de uma casa de prostituição em SP, ela aceita ir com Coronel Aureliano (Carlos Kroeber) para o engenho dele no interior de Alagoas e lá conhece outra realidade.

Duas curiosidades:
. Cardin também participou do filme como ator. Ele é Pierre, o cônsul francês de São Paulo e ex-amante de Joana, de terninho branco.
. Moreau foi dublada para Joanna Francesa. A responsável por sua voz é ninguém menos que… Fernanda Montenegro!

Acho interessante o figurino de Joanna e do universo ao seu redor, bem setentista no começo, cheio de cores no bordel, e depois mais areia, mais terroso, tanto nela quanto nos alagoanos.

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Jeanne Moreau fez muitos outros filmes depois de Joanna Francesa, mas, ao que consta, nunca mais usou um look Cardin na telona. Eles seguiram amigos até o fim da vida dela, de qualquer forma. Moreau morreu em 2017.

Chico Buarque que fez a música tema do longa, como se sabe. Aqui, um vídeo dele falando sobre a composição:

Será que a voz do Cardin mesmo, nesse trecho??

Cardin segue vivo. Ele está com 98 anos.
Por que a dupla Cardin+Moreau não é tão reconhecida quanto Hepburn+Givenchy ou mesmo Deneuve+Saint-Laurent? Eu respondo: porque não é tão impactante visualmente falando. A história é melhor que as imagens. Eis, então, a história!

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December 24, 2020 /Jorge Wakabara
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