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Um curta muito bonito

August 18, 2021 by Jorge Wakabara in cinema

Não sei se vocês tão sabendo, mas nesse exato momento (e até 29/08) está rolando a Mostra Internacional Curta o Gênero, bem bacana, recheada de coisa boa para ver (curtas, como o próprio nome do evento já diz, que falam principalmente sobre gênero e sexualidade). É bom para a gente sair da nossa bolha e ver outras realidades e também para deixar descansar um pouco o catálogo de streaming (aliás, eu tô sentindo que estou pagando cada vez mais e me interessando cada vez menos pelos lançamentos, isso também está acontecendo com vocês?). Você acessa a mostra, que também inclui exibição de fotos, ilustrações, músicas, seminários e até programação infantil, nesse link.

Mas na verdade eu queria falar sobre um dos curtas que estão em exibição. Na verdade foi uma sugestão de pauta, coisa que é rara para esse site que vos fala (sem dramas, eu não tenho expectativas das assessorias incluírem meu blog nos seus mailings, está tudo bem kkkkkk). Mas o que foi muito instigante foi que eu recebi a sugestão de pauta, achei legal, fui me informando ali e… percebi só depois que conhecia aquele menino que aparece nas filmagens do documentário!

Esse é o Vicente bem novinho no doc

Esse é o Vicente bem novinho no doc

Não me lembro de ter conversado mais que cinco minutos com o Vicente, mas tem todo um círculo de amigos dele do qual eu sou bem próximo. Então esse curta, para mim, também teve esse lado interessante, meio BBB meio stalker, de conhecê-lo um pouco melhor.
Mas vamos ao curta porque esse texto não é sobre mim e sim sobre o curta: O Amigo do Meu Tio é uma narrativa construída com imagens caseiras da câmera filmadora do pai do Vicente Concilio, dirigida por Renato Turnes e narrada pelo próprio Vicente. É um documentário porque retrata a infância dele, a homossexualidade já presente ali, indisfarçável, e a paixonite no amigo do tio, o Chulé.
Eu não vou entregar tudo, mas é difícil porque o curta só tem oito minutinhos. Dá para assistir na hora do almoço, ou enquanto espera a roupa bater na máquina, ou enquanto o jantar do delivery não chega. Mas são oito minutos que ficam ecoando, principalmente para quem também foi uma criança viada. E especialmente para quem, como o Vicente, cresceu nos anos 1980 e 1990. Quando foi que você percebeu que se sentia atraído pelo mesmo sexo? Você sentia as expectativas da sua família para uma heteronormatividade? Você acha que crescer entre os anos 1980 e 1990 fez a sua vivência ser diferente da de outros LGBTQIA+ em que sentidos?

O Amigo do Meu Tio faz parte da sessão Muitas Outras Masculinidades da mostra. Já deixo o link aqui na mão para quem quer ir direto.
Bom filme! ;)

August 18, 2021 /Jorge Wakabara
Mostra Internacional Curta o Gênero, gênero, sexualidade, curta metragem, Vicente Concilio, O Amigo do Meu Tio, Renato Turnes, documentário, homossexualidade, anos 1980, anos 1990
cinema
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Punky Brewster: a nova série e o documentário

March 15, 2021 by Jorge Wakabara in TV

Estou escrevendo esse post com muito cuidado porque não quero soar como homens nerds heterossexuais que se revoltam com Ghostbusters reimaginado como um grupo de mulheres.
Isso posto, vou contar uma história.

Não tenho quase nenhuma lembrança da minha infância. É esquisitíssimo. Não lembro direito de como era na escola, de viagens inteiras, de coisas que eu falava e gostava. Minha irmã Ana Flavia acha que é bloqueio, porque sofri muito bullying quando era pequeno.
Meu pai guardava muita coisa, e minha mãe e minha irmã, remexendo nas coisas, recentemente me mostraram uns desenhos, umas cartas. Não lembrava de como eles foram feitos, apesar de reconhecê-los como meus.

Mas lembro de uma das minhas primeiras aflições.
Todos os dias, religiosamente, eu assistia aos episódios do Sítio do Picapau Amarelo e de Punky, a Levada da Breca. Eles passavam num certo momento do dia, então eu sabia que deveria estar em casa nesse horário para não perder.
Aí, acho que um dia a minha Tia Yoko estava comigo em algum lugar e deixou passar a hora, apesar de eu ter avisado para ela. O programa dela comigo, para piorar, era alguma coisa chata do tipo “comprar roupa”.
Pense numa criança brava e triste.

Ou seja, Punky Brewster era parte muito importante da minha infância. Ela era o que eu queria ser (não órfão, calma: ela era esperta, engraçada e estilosa, assim como a boneca Emília do Sítio). Eu adorava muito.
Então vocês podem imaginar a minha empolgação quando eu soube que Punky Brewster ia voltar! (Caso você não consiga imaginar, tenho um post da época do anúncio)

Para quem está boiando: Punky, a Levada da Breca, era uma série que passava no SBT nos anos 1980 sobre uma garotinha que era abandonada pela mãe no estacionamento de um supermercado e ia parar num abrigo. Ela ficava fugindo do abrigo, ora para procurar a mãe, ora porque não gostava de lá. Num dia, ela acabava encontrando o Artur (George Gaynes), um fotógrafo mais velho, sozinho e sem filhos, meio rabugento.
Já sacou, né? Punky conquistava o coração do Artur e ele acabava virando seu pai adotivo.

Ela também era conhecida por… usar um tênis de cada cor.

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Aí, em 2021, eis que Soleil Moon Frye, a Punky original, voltou ao papel, agora como uma mulher de 40 anos divorciada e cheia de filhos. A temporada de dez episódios foi ao ar pelo Peacock, o streaming da NBC e CBS que não existe no Brasil. Mas eu fiz o sacrifício de assistir para dizer para vocês se essa pirataria vale a pena ou não.

Minha conclusão? Não sei. Depende do quanto que você gosta de sitcoms bobas e do quanto você gostava de Punky. Obviamente é um roteiro bem autorreferente, feito para quem sentia saudades, e tenho as minhas dúvidas sobre ele funcionar para quem não conhece a série original. As partes que eu mais gostei são as que de alguma maneira conversavam com a trama dos anos 1980.

Isso dito, cuidado, SPOILERS. Se não quiser saber, pule pare /SPOILER TERMINA/. Quem desistiu de assistir pode ler de boa.

/SPOILER COMEÇA/

Dois personagens antigos aparecem: Cherie (no Brasil, Cátia, a BFF da Punky interpretada por Cherie Johnson) e nada menos que… Margot (Ami Foster), a menina loira que era um entojo, metida que só ela.
Cherie é personagem fixo, acho que aparece em todos os episódios. E, segura essa… é lésbica.
Margot só faz uma participação especial (que, aliás, não faz jus a uma personagem tão icônica).
O ex-marido de Punky, que também é um personagem fixo, é interpretado por Freddie Prinze Junior. A sacada é legal, pegar um outro ator icônico para isso. Porém um pouco decepcionado que o Allen, outro amiguinho da Punky, não voltou – ele era interpretado por Casey Ellison, que, pelo que entendi, deixou de ser ator depois que cresceu.
O cachorro original, Brandon, foi substituído por uma cachorra, Brandy.
Os filhos de Punky são legais. E um deles brinca com estereótipos de gênero. É uma criança transicionando? Não, pelo menos por enquanto. Passa uma impressão de estar brincando, mesmo.
Pareceu muito moderno para você?
Bom, que bom, né? Estamos em 2021.

/SPOILER TERMINA/

BOM. Isso posto, preciso dizer que Frye também estreou um documentário sobre sua vida.
Kid 90, lançado no Hulu, parte de uma premissa interessante: mostrar a infância e adolescência de Frye nos anos 1990, pós-Punky, aproveitando o fato de que ela era muito fissurada em registrar tudo com uma câmera de vídeo e diários.

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Pensei comigo: “Que legal! Tudo a ver! A minha infância e adolescência também foram nos anos 1990, vai ser muito legal assistir! Ainda mais com a atriz de uma das minhas séries da infância!"

Doce ingenuidade. Não é bem assim.

A sinopse que eu vi de Kid 90 esqueceu de explicar que:
. O documentário é cheio de gatilhos. REPLETO.
. O documentário é muito centrado em Frye e nas experiências dela como criança prodígio em Hollywood. Não funciona como retrato de uma geração inteira e sim como o retrato de uma geração de artistas mirins, com experiências muito específicas.
. Achei que Frye fica procurando um significado muito espiritualizado nas coisas, talvez por causa da quantidade imensa de gatilhos, o que leva o documentário para uma onda de "lições de vida". Acho meio sacal, ficou melodramático. Já é cheio de histórias tristes, não precisava carregar as tintas.

MAS, dito isso… me entreteve. E me entreteve mais pela pororoca absurda que foi a vida de Frye nos anos 1990. Vou fazer um name dropping e você também vai ficar meio abalado:
. Charlie Sheen
. House of Pain (aquela do Jump Around, a música de festa mais hétero que existe)
. Perry Farrell (que eu tenho a impressão que adora aparecer; ele não tinha muito motivo para dar depoimento aqui)
. Kids, o filme

Que tal? Resumindo, Frye foi meio um Forrest Gump dos anos 1990.

Bom, é isso. Nada imperdível por aqui. Circulando.

Quem gostou desse post também vai gostar de:
. O bizarro reboot de Barrados no Baile
. Heathers: o filme que inspirou Ryan Murphy e virou série muito inspirada em Ryan Murphy
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March 15, 2021 /Jorge Wakabara
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TV
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Akihiro Miwa icônica demais

February 25, 2021 by Jorge Wakabara in cinema, livro, música

Nossa senhora, isso que é MUSA.

Assisti ao filme Kurotokage com Akihiro Miwa, a versão de 1968 (existe uma de 1962), e depois Kuro Bara no Yakata, de 1969. É surreal como, no fim dos anos 1960, o Japão cheio de regras em relação a gênero apresentaria uma transformista como musa.
Ah, sim: Akihiro Miwa não é exatamente uma mulher trans. No lugar de determinar seu gênero, ele parece achar mais interessante a via do não-binário, do constante passeio entre gêneros. E isso parece que atrai ainda mais a atenção (e o deslumbramento) dos japoneses!

Mas vamos voltar para começo, quando Miwa ainda era artista de cabaré e, em 1957, gravou Me Que Me Que, um clássico da música francesa originalmente lançado por Gilbert Bécaud naquela mesma década.

A versão em japonês, malandrinha, fez sucesso. Miwa bombou. E parece que foi nessa época que o escritor Yukio Mishima, um machão de direita que surpreendentemente tinha muita sensibilidade nas suas obras, elogiou Miwa, dizendo que era como um “uma beleza dos céus", ou seja, um anjo. A comparação faz sentido no que eu já pesquisei e ouvi dizer sobre a homossexualidade japonesa. Acho que vale abrir um parênteses aqui para falar sobre isso – e um pouco mais sobre Mishima também.

Os rapazes prostitutos do Japão antigo

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O livro O Belo Caminho: História da Homossexualidade do Japão, de Gary P Leupp, explica bem que a homossexualidade não é algo "novo” ou "que os brancos trouxeram” para o Japão. Longe disso. O shudo, que se refere a uma estruturação específica de prática homossexual um pouco parecida com a da Grécia antiga, em que existe a figura do homem mais velho mentor e deflorador e o rapaz jovem, passivo, inocente e aprendiz, foi uma realidade em monastérios budistas com presença exclusiva masculina, e também nas relações entre samurais. Para mim também tem a ver com uma relação de dominação e submissão que, pelo pouco que sei e posso estar falando bobagem, é recorrente na sexualidade nipônica.

Com o tempo, meninos começaram a virar michês para sobreviver, muitos deles relacionados ao teatro kabuki, uma tradição dramatúrgica que não permite atrizes. Esses atores especializados em papéis femininos atraíram fãs e cobravam por sexo, alguns viravam amantes de homens ricos. Depois, existiram bordéis que já nem disfarçavam sob a fachada do teatro, só com rapazes. Eles se vestiam e se enfeitavam como moças.

A imagem do rapaz afeminado e submisso não ficou no passado. O filme Morte em Veneza (1971) foi uma grande referência no Japão – a figura de Tadzio (Björn Andrésen, que para quem não sabe é o ancião do sacrifício no recente Midsommar de 2019) era tudo que os japoneses achavam lindo. Androginia e mistério. Isso corre até os idols do j-pop, apresentados como sensíveis e com traços mais delicados, e respinga também no k-pop.

O próprio Andrésen virou uma celebridade no Japão. Quando ele visitava o país, as mulheres iam à loucura! A ponto de, bem… ele mesmo gravar músicas em japonês, tal qual um idol. Olha que loucura?

Yukio Mishima: um homossexual de direita?

Em 1951, Mishima lançou o livro Kinjiki, uma expressão que é um eufemismo para homossexualidade. Um trocadilho entre “cores proibidas” e “amores proibidos". A história, considerada autobiográfica por muitos, traz a relação entre um escritor mais velho e um rapaz jovem que confessa que vai casar com uma mulher por motivos financeiros, mas que não se sente atraído por ela nem por ninguém do sexo feminino. Críticos apontam uma misoginia forte enraizada no texto – um discurso de ódio contra as mulheres. Mas virou um clássico.
Acontece que Mishima foi casado com uma mulher, Yoko Sugiyama. E ela, por sua vez, odiava e negava os rumores sobre a homossexualidade do marido, mesmo que fosse público que ele, por exemplo, frequentava bares gays. Eles tiveram um par de filhos, inclusive.
Existe um livro não-autorizado, de 1998, de Jiro Fukushima. Ele alega que teve uma relação com Mishima em 1951. Foi um escândalo que acabou com Fukushima e a editora processados pela família de Mishima.

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Mishima tentou fazer um golpe de estado no Japão em 1970. Sério. Isso porque, antes de casar com Yoko, ele quase casou com Michiko Shoda, que depois virou imperatriz porque se casou com o príncipe Akihito! A tentativa de golpe não deu certo e ele cometeu seppuku, o suicídio ritualístico japonês, aos 45 anos de idade.

Voltemos para Akihiro Miwa.

Uma baita história

Miwa nasceu em Nagasaki e, sim, estava na cidade quando a bomba atômica explodiu em 1945, quando tinha 10 anos. Como outros sobreviventes, ele sofre com os efeitos da radiação.
Ainda na época de Me Que Me Que (ou Meke Meke), saiu do armário publicamente, declarando-se homossexual. Para quem não está familiarizado com a cultura japonesa: ser homossexual afeminado no Japão contemporâneo é um pouco diferente. Existe preconceito, mas também existe uma maior aceitação – a rejeição maior acontece justamente quando você não é afeminado e, na cabeça do povo, “confunde". Celebridades homossexuais que se travestem são famosas na TV e amadas, por exemplo (é o caso de Miwa, que nos anos 2000 virou uma celebridade televisiva de muita fama).

O boom desse primeiro hit arrefeceu e Miwa ficou mais apagadinho. Seu segundo hit só viria em 1965: Yoitomake no Uta. Composta por ele mesmo, tem uma pegada bem enka na sua temática, falando do esforço do trabalhador rural e como ele é digno (pelo menos acho que é isso, me desculpem se entendi errado!).

De volta ao sucesso, Miwa lançou sua autobiografia em 1968 e começou a atuar em peças de teatro. Uma delas, Kurotokage, foi baseada em um livro policial de Ranpo Edogawa e adaptada para o teatro por Yukio Mishima. A peça já havia sido montada com outras atrizes no papel principal da bandida Lagarto Negro (ou, em japonês, Kurotokage), mas foi com Miwa que ela chegou naquele ponto sublime de petardo pop. Tanto que… virou filme!

Miwa como Kurotokage no filme de 1968

Miwa como Kurotokage no filme de 1968

A história é um embate entre Kurotokage, essa bandida que gosta de roubar "coisas bonitas”, e o detetive Kogoro Akechi (Isao Kimura). Miwa está simplesmente magnética, arrebatadora, com figurinos babadeiros.

Incautos podem colocar o filme naquela caixa de “o queer sempre é o vilão, o errado". Mas acredito que Kurotokage é mais que isso. Kurotokage, a personagem, é bela, hipnotizante, e se deixa levar pela obsessão por tudo que é bonito. Também não vê o mundo como binário: enxerga a beleza nos homens e mulheres. Sua própria beleza está ligada à androginia. Mais do que camp, o filme é cheio de nuances, esteticamente instigante, transbordando pulsão de morte e sexo. Para mim, um dos filmes mais legais que já vi nos últimos tempos, sem exagero.

Vou dar um spoiler para explicar uma coisa muito importante, quem não quiser saber pode pular para / SPOILER TERMINA /.

/ SPOILER COMEÇA /

A criminosa Kurotokage tem uma coleção muito, er, peculiar. São corpos humanos bonitos, empalhados. Eles aparecem no filme, em seu covil, quando ela os exibe para a sequestrada Sanae (Kikko Matsuoka), que depois se revela ser uma sósia de Sanae contratada para se passar por ela.
A curiosidade: o homem empalhado que Kurotokage beija na boca é ninguém menos que… Yukio Mishima.
É um selinho apenas, OK. Mas é babado.
Isso alimentou os rumores de que Mishima e Miwa teriam tido um caso em algum momento da vida. Miwa já chegou a declarar que "Mishima não era um homossexual de verdade". Bicurioso, então? Enfim. O artista também se colocou contra o livro de Fukushima de 1998.
Como já contei lá em cima, Mishima morreu dois anos depois do filme lançado.

/ SPOILER TERMINA /

O trabalho na imagem de Miwa como uma mulher misteriosa e sedutora é típica do filme noir, mesmo que Kurotokage não seja um noir – a relação vem da inspiração, pois o argumento vem de um romance policial com direito a um superdetetive, mas a cinematografia também ajuda, cheia de sombras, ambientes noturnos.
Também acho interessante o jeito que o detetive é construído. Akechi tem prazer em desvendar os casos. A relação dele com Kurotokage é de interdependência, com ambos precisando dessa nêmesis para existirem em sua melhor performance. Ninguém é inocente. Akechi não é um herói. Ele depende do crime para fazer o que faz da vida: desvendá-lo.

Às vezes, Kurotokage fala com Akechi usando o espelho de seu bar. Eles são o espelho um do outro? Dois lados de uma mesma moeda?

Às vezes, Kurotokage fala com Akechi usando o espelho de seu bar. Eles são o espelho um do outro? Dois lados de uma mesma moeda?

Mas Miwa assumiria um papel ainda mais misterioso em Kuro Bara no Yakata, ou Mansão da Rosa Negra: o lagarto negro agora vira uma rosa negra no filme de 1969.

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A história de Kuro Bara no Yakata é de uma mulher misteriosa, Ryuko (Akihiro Miwa), que sempre carrega uma rosa inteira preta. Ela diz que, quando encontrar o verdadeiro amor, a rosa ficará vermelha. Uma coisa meio Bela e a Fera, né? Ninguém sabe do passado de Ryuko e ela atrai a atenção de Kyohei (Eitarô Ozawa), o dono da Mansão da Rosa Negra. O local é uma espécie de clube da alta sociedade, no qual Ryuko passa a se apresentar cantando e encantando (kkkkk desculpa, não resisti a essa frase feita). Os homens caem de amores, um pouco pelo mistério, um pouco pela beleza.

Homens do passado de Ryuko começam a aparecer. Eles alegam que se casaram ou que namoraram a musa, que ela os enlouqueceu ou que era má, mas seguem apaixonados. Ainda assim, Kyohei, que é casado e já tem dois filhos criados, torna Ryuko sua amante.

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Tudo parece ir bem até que o filho mais novo de Kyohei, Wataru (Masakazu Tamura), reaparece. Desde o começo, fica claro pela fala dos outros personagens que ele é um rapaz problemático, ovelha negra. E adivinha? Ele se apaixona por Ryuko…

Aqui, a figura de Ryuko, apesar de ainda mais misteriosa que a Kurotokage, é menos dúbia. Ela é a vamp, a que leva os homens à ruína. O toque subversivo fica por conta dessa figura tão desejada ser interpretada por um homem: a audiência sabia, o elenco sabia, todo mundo sabia. Não é um filme tão bom quanto Kurotokage, mas gostei.

Curiosidade: o diretor de ambos os filmes é Kinji Fukasaku. Em 2000, ele fez o filme que muita gente diz que influenciou Jogos Vorazes: a fábula sinistra Battle Royale.

Miwa acabou dando um tempo nas telonas após essa dobradinha e se dedicou à carreira de cantor. Isso deu em clássicos, como isso aqui:

Em 2012, já como uma personalidade consagrada no meio artístico, Miwa se apresenta pela primeira vez no tradicional Kôhaku Uta Gassen, o festival de fim de ano transmitido pelo canal NHK. Na época com 77 anos, ele foi a pessoa mais velha a se apresentar pela primeira vez no Kôhaku. E pelo que entendo também foi o artista que apresentou a música mais longa na história do festival, que costuma ser bem rígido com o tempo de apresentação dos artistas participantes, geralmente em torno de três minutos. Olha aí:

Antes disso, Miwa dublou um personagem de anime muito querido de quem curte Studio Ghibli. É a bruxa com papeira, como diria meu marido, de O Castelo Animado!

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Miwa segue vivíssimo. Vai fazer 86 anos.

Bônus: OLHA. ESSE. CLOSE.

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February 25, 2021 /Jorge Wakabara
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Saudades de chorar com Pose? Assista a It's a Sin

February 17, 2021 by Jorge Wakabara in TV

A epidemia da AIDS começou a fazer notícia e ganhou volume de doentes e mortos primeiramente nos EUA. E, claro, a série Pose também tem o pano de fundo do ballroom e o voguing. Sendo assim, a comparação entre ela e a nova It's a Sin segue mais por duas semelhanças: o tema da AIDS em uma época em que se sabia muito pouco sobre ela e a maior representatividade na telinha. No caso de Pose, predominantemente de mulheres trans; no caso de It's a Sin, predominantemente de homens gays.

O protagonista Ritchie Tozer (Olly Alexander) no meio com Jill Baxter (Lydia West) do seu lado, sentada e boquiaberta

O protagonista Ritchie Tozer (Olly Alexander) no meio com Jill Baxter (Lydia West) do seu lado, sentada e boquiaberta

Só minorias sabem a importância da representatividade na ficção. A gente vibra com qualquer migalha. Eu vibrei com Queer As Folk, com O Segredo de Brokeback Mountain, com Sandrinho e Jefferson em A Próxima Vítima. Ainda assim, todos esses exemplos estavam longe do meu dia-a-dia (talvez Sandrinho surpreendentemente seja o mais próximo?!).

Aí tiveram duas séries que, apesar de um pouquinho atrasadas, bateram forte em mim: a britânica My Mad Fat Diary, com o amigo gay Archie (Dan Cohen), e a australiana Please Like Me, com o protagonista mais idiota-chato-burro e mesmo assim queríamos continuar assistindo Josh (Josh Thomas).

Coincidência que as duas falem de saúde mental de maneira bem gatilhada? Talvez não.

Enfim: ambas trazem gays que não são bombados nem maravilhosos como artistas de cinema. Já é um grande avanço. E dá para identificar também… a minha turma. Sabe? Aquela nossa turma. Aquela que ia nas festas indie e dançava ao som de britpop (no caso de My Mad Fat Diary, cuja história se passa nos anos 1990). Aquela que combinava que o café do Espaço Unibanco de Cinema seria o ponto de encontro daquela tarde (no caso de Please Like Me). Se você é/era dessa turma, você entendeu. Se você não é/era, fica difícil explicar… kkkkkkk

Enfim, tudo isso para dizer que cheguei a ler por aí nas internets que It's a Sin era bobo, reforçava estereótipos.
Jura?
Eu achei EXTREMAMENTE MINHA TURMA. Sem gordos, sem ursos, é uma pena, mas bem minha turma MESMO.

Colegas de quarto: Colin Morris-Jones (Callum Scott Howells) e Roscoe Babatunde (Omari Douglas)

Colegas de quarto: Colin Morris-Jones (Callum Scott Howells) e Roscoe Babatunde (Omari Douglas)

O protagonista Ritchie (interpretado pelo vocalista do Years & Years Olly Alexander) não me parece exatamente um padrão, apesar de ser branco. E o personagem passa longe de ser virtuoso – talvez seja o que possui mais dimensões. Homossexual no armário para a família, conservador e promíscuo ao mesmo tempo, humanamente egoísta, despertando julgamentos e compaixão.

Os outros, bem… Roscoe é de família nigeriana e literalmente dorme com o inimigo – nesse caso, um ministro do partido conservador que o banca. O pobre galês Colin é de uma timidez e de um provincianismo quase paralisantes, apesar de muito simpático (e de ser um dos mais empáticos, o "menino bom”). Ash (Nathaniel Curtis) é indiano e possui a história menos desenvolvida de todas.

E finalmente tem a Jill interpretada por Lydia West, que na minha cabeça é uma das atrizes mais legais da atualidade (assisti quase tudo que ela fez até agora: Years and Years, o novo Drácula da Netflix e agora It's a Sin; se ela estivesse em I May Destroy You era jackpot).
Eles dão um pouquinho mais de dimensão para Jill, mas infelizmente ela não consegue superar aquele velho papel: o da amiga do gay. É quase subversivo, porque na ficção geralmente quem existe é o melhor amigo gay da protagonista, e aqui, veja só, tchanan! Preciso dizer que isso acontece na vida real. Tanto quanto o amigo gay, há a figura da amiga hétero.
O fato: West é tão boa que você simpatiza com ela, mesmo que a maior característica da personagem seja a empatia gratuita. Ou sou eu que já a vi em outras séries e simpatizo de graça? Não sei.
Tentei refletir se ela não era a versão "mulher hétero para gays" do white savior. Straight savior, anyone? Olha, enquanto eu assistia à série, quis mais é que ela salvasse todos. Acho que faz parte da narrativa. Acho provável muitos gays terem negado a realidade na época, e talvez amigas tenham tentado abrir os olhos deles. Não os culpo, mas como culpá-las? Não dá, né?

(Escrevi tudo isso deduzindo que ela é hétero, porém não me lembro de isso ter ficado exatamente claro na série. Acho que a sexualidade dela nem chega a ser debatida ou mencionada, e se foi, parece-me que foi bem de passagem, tanto que nem me recordo. Perdoem-me.)

"Adoro ser sua amiga!"

“Adoro ser sua amiga!"

O que mais ver em It's a Sin?

. Participações especiais: Neil Patrick Harris e Stephen Fry. Mara!
. Sexo. Não chega a ser um +18, mas é NSFW…
. Trilha sonora: virada dos anos 1980 para 1990 em Londres. Quer mais? Além da música dos Pet Shop Boys que dá título à série, tem Kate Bush, Orchestral Manoeuvres in the Dark, Eurythmics, Bronski Beat… Quero tudo.
. Russell T. Davies, o criador. Ele também é o nome por trás de Years and Years. É o Ryan Murphy do Reino Unido? Eu gosto!
Ah: Queer as Folk, a primeira versão, inglesa… é de Davies.

It's a Sin é da BBC e HBO Max, portanto infelizmente ainda não está disponível no Brasil em streaming.
Se vira.

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February 17, 2021 /Jorge Wakabara
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Você conhece a NAU?

January 21, 2021 by Jorge Wakabara in música

Vange Leonel não começou na abertura da novela Vamp com Noite Preta. Aliás, muito pelo contrário.

Volta para 1980. Vange fez parte da banda Os Camarões, de ninguém menos que Nando Reis. E mais: Vange e Nando eram primos!

O primeiro registro em disco da voz de Nando é ao lado de Vange: era o LP Festival da Feira da Vila Madalena, com os participantes do dito festival de 1980 (e a gravação saiu no mesmo ano). A música, tocada pelos Camarões, é chamada O Cheiro de Beterraba e… é de autoria de Vange!

E olha o babado: a primeira faixa desse disco é Nêgo Dito, de Itamar Assumpção, que inacreditavelmente ficou em 3º lugar. Outro que concorreu foi Paulo Miklos, futuro colega de Nando nos Titãs, com Desenho, composição dele e de Arnaldo Antunes. Nem Os Camarões, nem Miklos levaram prêmio na Feira – mas eles estão lá, registradinhos no LP.
(Desenho é bem, mas bem, mas beeeem Arnaldo Antunes! Engraçado perceber isso.)

(Aliás, para fins de esclarecimento: costuma-se dizer que os Titãs se conheceram no Equipe, colégio de São Paulo. Errado: nem todos. Nando realmente fez Equipe, como Miklos e Antunes, mas os dois eram mais velhos. Quando Nando entrou, eles já tinham se formado! Portanto, na época do lançamento desse disco, eles não se conheciam!!!)

Ah, outro que participou do festival e do LP é Celito Espíndola, da família Espíndola. Ele é irmão de Tetê, Alzira e do resto do pessoal (que eu saiba são 6 irmãos) e fez parte da banda Tetê e o Lírio Selvagem.

Mas, certo. Então Vange começou ali na Feira da Vila.
E depois?
Diz que ela fez parte de uma banda chamada Estéreos Tipos que, apesar do nome bem sacado, não foi muito para frente.
E aí, bem…
Depois teve a NAU.

Meio pós-punk, meio heavy metal (na verdade, sinceramente eu acho BEM metal), a NAU foi fundada em 1985. Era formada por Vange (vocal e guitarra), Mauro Sanchez (bateria), Zique (guitarra) e Beto Birger (baixo). Eles gravaram uma fita demo que tocou na 89FM em SP e na Maldita no Rio. Nessa época, Vange também se aventurava como atriz no grupo XPTO.
Aí eles gravaram para uma coletânea da Baratos Afins de pós-punk que virou artigo cult maravilhoso, a Não São Paulo, lançada em 1986. Só que a coisa parece que atrasou e o primeiro volume da coletânea, que saiu em 1986, saiu sem NAU. Ou seja, entre o primeiro e o segundo volume da Não São Paulo (que, aí sim, tinha NAU), acabou rolando a gravação e lançamento do primeiro disco da banda em si, em 1987.

A história parece que foi a seguinte: Sanchez, o baterista, foi afastado por problema de saúde. Dany Roland, o baterista da Metrô, o substituiu às pressas. Não sei se isso foi antes ou depois da gravação do segundo álbum da Metrô (na prática o terceiro, se contarmos o lançado quando a banda se chamava A Gota Suspensa), que era o cult-misterioso-exótico A Mão de Mao de 1987.
Diz que foi Roland que intermediou o contato da NAU com Luiz Carlos Maluly. Sabe quem é? O cara que já havia produzido coisas do Rádio Táxi, a própria Metrô e… o RPM e suas Revoluções por Minuto de 1985, disco do BRock que vendeu mais que pão quentinho! Para a NAU, esse encontro com Maluly significou um contrato de três anos com a CBS.

No disco homônimo NAU, a música de abertura, Bom Sonho, é composição de Vange. Ela interpreta já como uma supercantora, cheia de personalidade, nos seus malabarismos vocais que viraram marca registrada – e que, estranhamente, estão quase ausentes em Noite Preta em si. Mas essa faixa é a única do álbum que ela assina sozinha: divide Corpo Vadio e As Ruas com Zique, Diva e As Barcas com Zique e Birger, e Novos Pesadelos com Zique, Birger, Sanchez mais Rosália Munhoz, das Mercenárias. A última música, Nada, é dos quatro integrantes.

Algo que a gente também precisa ressaltar: a única música do disco que não é de nenhum integrante é Linhas Esticadas. É meio valsa, romântica e esquisita – gosto da melodia do refrão, cheia de agudos.
As compositoras são Cilmara Bedaque e Laura Finocchiaro.

Cilmara foi a companheira de vida inteira da Vange, até a artista morrer em 2015. Compôs outras coisas com Vange na carreira solo dela. Não sei exatamente quando elas começaram um relacionamento, mas em 1995, quando Vange saiu do armário publicamente, elas estavam juntas.
Já Laura… Quem foi moderno ou candidato a moderno nos anos 1990 (ou seja, eu estou nessa lista) sabia quem era. Irmã da roqueira que chegou a ter fama underground Lory F, Laura ganhou um tremendo destaque quando ganhou um concurso para tocar no Rock in Rio II, em 1991, no mesmo dia de ninguém menos que Prince! A própria diz que ela não se inscreveu – quem mandou a fita foi um fã! Loucura, né?

Mas quando o disco NAU saiu, o ano ainda era 1987, pré-Rock in Rio. No velório de Vange, Laura fez um discurso lembrando que a amiga foi quem financiou suas primeiras gravações no início da carreira em SP.

Depois, Laura ainda ficaria famosa por outro motivo: ela assinava a trilha sonora maravilhosa do programa Casa dos Artistas, no SBT!
(Ah, e sim: ela se assumiu bissexual em 1992.)

Laura Finocchiaro nos anos 1990

Laura Finocchiaro nos anos 1990

A NAU se desfez em 1989. Vange partiria para carreira solo e o primeiro álbum, Vange, de 1991, é o que tem Noite Preta. Em 1996, ainda saiu o EP de Vange Vermelho, que não fez muito sucesso. Com isso, ela abandonou precocemente a carreira musical e focou na literatura. Escreveu livros, peças. E nos deixou muito cedo.

A música-título do EP Vermelho me lembra a NAU na levada.

Mas, AH, tem mais uma coisa!

Em 2018, surpresa: foi lançado o disco perdido da NAU, gravado 30 anos antes. Antes da banda acabar, houve uma tentativa de segundo álbum em 1988… e sim, a viúva de Vange, Cilmara, descobriu a fita dentro de uma caixa em 2017! Tadaaah! Ela disse que a fita estava melada, que não sabia se conseguiria recuperá-la. O milagre foi feito, e o álbum outrora rejeitado pela gravadora voltou à vida.

Eu gosto, viu? A NAU tem um ar meio banda do Café Piupiu (quem tem a referência sabe o que eu tô dizendo), mas que na época fazia total sentido.
Se a NAU tivesse continuado, o que faria hoje?

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January 21, 2021 /Jorge Wakabara
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