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Márcia Pantera em clique de Ivan Erick para a Vogue Brasil

Márcia Pantera em clique de Ivan Erick para a Vogue Brasil

A drag music "do meu tempo"

December 22, 2020 by Jorge Wakabara in música

No que você pensa quando eu falo em drag music? Pabllo Vittar? RuPaul? Adore Delano? Gloria Groove?

Bom, primeiro deixa eu te falar uma coisa. Teve RuPaul e Supermodel em 1993, OK. Mas antes de Pabllo, Gloria e as outras, teve… Dicesar Ferreira, o ex-BBB. Ou Dimmy Kieer. Antes de ir para a casa mais vigiada do Brasil (deveria ser a casa do Wassef, mas não era), Dimmy gravou algumas musiquinhas. E sim, elas são algumas das drag music do meu tempo…

Eu amo demais KKKKKKK
(Aproveita e ouve Mafuá das Bunitas, já que você está no clima! Um beijo para Johnny <3)

Voltando: o que é a minha época? Bom, tô vivo, então teoricamente minha época é hoje, mas quando falo “minha época”, me refiro a quando eu era jovem como vocês e minha profissão era “frequentador de boate”. Aliás, eu era menor de idade, então
1. Não podia entrar na boate, só que um xerox bem tosco resolvia…
2. Isso era trabalho infantil, não? KKKKKKKK

Enfim: na “minha época”, leia-se 1997-98, a gente falava drag music quando queria dizer house com vocal feminino bom para as drags fazerem show e dublarem. Ou seja, basicamente era o que tocava o tempo todo em boate gay. Não tinha essa de tocar pop – se tocasse Mariah Carey ou Madonna, era um remix. E, bom, imagino que na The Week continue sendo assim, é que nunca frequentei.
Então era a época dos shows de Márcia Pantera e Veronika. A gente assistia as duas e ficava imitando quando tocava a mesma música na pista. Quer dizer, não imitava literalmente, porque Márcia sempre subia nas coisas, pulava no meio do povo, era uma loucura; e Veronika, então, era chique demais e também afrontosa, girava tanto o rabo de cabelo que a gente se perguntava: “Como o pescoço dela aguenta?"

Quem ficou curioso pode ver essa thread ótima da Duda Dello Russo no Twitter:

Thread: Conheça as Drag Queens e Transformistas que pavimentaram o cenário LGBTQIA+ e estão na cena a décadas.

— Duda Dello Russo (@dudadellorusso) June 21, 2020

Hoje, a drag music que eu ouvia me traz um sabor nostálgico. Não sei o que aconteceu com o house depois, se “a cena” melhorou ou piorou; deixei de frequentar lugares de música eletrônica lá por 2000. Também não era ligado em nome de DJ, sabia por cima dos mais famosos: Victor Calderone, Frankie Knuckles, Junior Vasquez. E ainda assim, só porque apareciam na coluna da Erika Palomino na Folha – eu não saberia dizer quem era o DJ de cada um dos remixes.

Estava arrumando meus CDs um dia desses (não, não me desfaço deles, e você ficaria chocado ao saber quantos deles não estão no Spotify nem no YouTube) e comecei a lembrar da drag music do meu tempo. Fui publicando no Twitter e, quando vi, era uma thread. Aproveito para transformá-la em post agora. Eis a lista!

Power (Michael T. Diamond's Power Extention Remix) – Joi Cardwell

Um hino contra o racismo que virou um hino LGBTQ na época que a gente falava GLS. Lançada em 1998, Power é uma música composta por Joi Cardwell com Brinsley Evans. Engraçado que Cardwell tem toda uma carreira, mas eu só me lembro de ouvir (e amar) Power. Será que músicas dela continuam tocando na boate e eu não sei?

Heaven's What I Feel (Victor Calderone Club Mix) – Gloria Estefan

Duas coisas:
1. Em 1996, vi Gloria Estefan ao vivo. Mas não foi exatamente num show. Foi no ensaio da abertura das Olimpíadas de Atlanta! HAHAHAHAHAHA Ou seja, ela só cantou Reach, que era a música-tema das Olimpíadas daquele ano, e era um ensaio técnico no qual ela nem estava com o figurino que usou de fato. Mas foi legal!
2. Não sei porque eu nunca fui fã de verdade de Estefan, porque tinha tudo para ser, ela é ótima, tem músicas ótimas. Simpatizo super. Mas me escapou, sei lá. O disco que tem Reach (Destiny, de 1996) era o único que eu tinha dela. Esse remix de 1998, por exemplo, eu ouvia na boate mas não me lembro de escutar a versão original! E gostava quando ouvia na boate. Vai entender…

This Joy (Razor N’ Guido Extended) – Vernessa Mitchell

Nossa, só de ouvir eu já me senti bêbado.
Foi o Junior Vasquez quem ouviu as músicas de Vernessa Mitchell, uma cantora gospel, e começou a remixá-las, trazendo-as para a pista. Sim: Rajadão da Pabllo faz parte de uma tradição. This Joy foi considerada uma das músicas eletrônicas mais influentes de 1999 e, se você ouvir com atenção, é louvor puro. E é provavelmente o maior hit da carreira de Mitchell.

Alright (Hex Hector Club Mix) – Club 69 feat Suzanne Palmer

Esse remix também é de 1998. Hex Hector é outro superDJ e esse remix é cheio de climões dramáticos do jeito que a gente amava. Não sei se era exatamente esse que tocava sempre, mas se não for era um bem parecido. Club 69 era codinome de Peter Rauhofer, um austríaco que fez um monte de remixes por aí mas também tinha um trabalho de músicas próprias. Suzanne Palmer teve toda sua carreira bem focada em vocais de música eletrônica – um pouco antes de Alright, ela e Club 69 fizeram uma versão de Muscles, a música composta por Michael Jackson para Diana Ross nos anos 1980. Mais gay hedonista, impossível, né? Sempre preferi Alright do que Muscles, talvez por não ter muitos músculos para exibir…
Rauhofer infelizmente morreu em 2013 por causa de um câncer no cérebro.

I'm Beautiful (Victor Calderone Club Mix) – Bettle Midler

Um irresistível mantra para levantar a autoestima. Quando tocava, a gente ficava cantando para as outras bichas com cara de afrontosa! A música original faz parte do álbum Bathhouse Betty de Bette Midler e é divertidinha, um pop bom com cara de musical, mas o remix… Ficou ótimo. E sabe quem compôs I'm Beautiful? Brinsley Evans! Sim, o mesmo cara de Power! 1998-99 era a era de Evans: ele também compôs Back in your Arms Again, com voz de Judy Torres, que eu não me lembro de dançar naquela época e por isso não incluí aqui, mas é outro bate-cabelo do bom.

It's Over It's Under (Victor Calderone's Club Mix) – Dollshead

Aquela música que diz “aceita, bi, esse boy não te quer mais”. Dollshead era uma dupla e a música é de 1997. Porém lembro dela tocar bastante no ano seguinte (posso estar viajando, claro). A dupla consistia em Sierra Swan e Graham Edwards – ele fez (faz?) parte do The Matrix, um time de produtores que trabalhou bastante no pop do começo dos anos 2000.

Nobody's Supposed to be Here (Hex Hector Club Mix) – Deborah Cox

Deve ser a nonagésima vez que cito essa música nesse blog, mas tenho culpa dela ser tão boa? Obrigado, Deborah, obrigado, Hector. É isso. Lançado em 1998, esse remix continua me encantando até hoje. E a música original não me emociona, sabia? Acho o remix mais dramático e poderoso.

If You Could Read My Mind (Hex Hector Club Mix) - Stars on 54 (Ultra Naté, Amber, Jocelyn Rodriguez)

Da trilha sonora de 54, um filme que conta a história do Studio 54, essa versão house de If You Could Read My Mind de Gordon Lightfoot caminhou em 1998 para que Lady Marmalade pudesse correr em 2001. Não lembro se eu ligava uma coisa à outra na época, mas eu já gostava de Ultra Naté por causa de Free, uma música que estava tocando muito em 1997 em Londres quando fiz um intercâmbio de um mês por lá. Tinha a ver com as gays (Free é um hino de autoafirmação adotado pela comunidade) e foi em Londres que beijei um homem na boca pela primeira vez. O Stars on 54 só gravou essa música enquanto trio – 54 não fez o sucesso esperado, e talvez o hit tenha sido mais bem sucedido que o longa. Que eu me lembre a versão sem remix (mas que já era poperô) tocou no rádio.
Rolou uma sobrevida de If You Could Read My Mind recentemente por causa do Canada's Drag Race – foi a música escolhida para o lipsync entre Tynomi Banks e Kyne.

Bitch is Back (Product Vocal) – Urban Discharge

Do you remember what you call me?
Comecei com uma preferida e termino com outra. I am my own best revenge era uma frase muito poderosa para ser ignorada por alguém que sofreu bullying na infância – ou seja, 99% da pista de uma boate gay.
Quase não se encontra informação sobre o Urban Discharge na internet. Sei que era uma dupla, Jim Dyke e Steve Grittleman. E de quem é a voz? Seria de Heather Leigh West, que assinava na época como She e que já havia participado da faixa Drop a House com eles de 1995? Não me parece, a voz soa bem diferente.
Mistérios do house.

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. A drag queen de hoje é a conselheira da família
. A gente ama o pop sueco: de Abba a Roxette, passando por Robyn

Bônus: essa tocou um pouco antes de eu começar a frequentar a boate. Um sonho: dançar essa música na pista.
Call me in Miami! ;)

December 22, 2020 /Jorge Wakabara
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Drag queens: de artistas marginalizadas a conselheiras da família

November 22, 2020 by Jorge Wakabara in TV

Houve um tempo em que, para ver uma drag queen, você inevitavelmente era obrigado a ir a uma boate gay. Era ali e apenas ali o território delas. Não vivi essa época porque, quando me dei conta, RuPaul aparecia na MTV – pouco, mas aparecia. E eu também via drag queen na coluna Noite Ilustrada da Érika Palomino, que saía às sextas na Folha de S.Paulo.

Quando comecei a ir em boate gay, três figuras para mim eram o ápice de tudo que era mais legal: a onipresente Silvetty Montilla (se você não conhece Silvetty sinceramente não sei em que mundo você vive), a verdadeiramente hilária Thália Bombinha (quem nunca viu a dublagem dela de Supersonic ou de Atoladinha não sabe o que é rir) e a diva Veronika Top Drag (que morreu precocemente e virou mito).

Mais pros anos 2010, dois fatores sobre os quais vocês já estão carecas em saber aconteceram e mudaram o rumo da coisa, com mais algumas ajudas aqui e ali.
. RuPaul's Drag Race
. Pabllo Vittar
+
. Nany People na Hebe
. Batalha de Lip Sync no Comedy Central (affff kkkkk)
. Conquistas de direitos LGBTQ+

O RuPaul's Drag Race cresceu tanto que virou produto de exportação. O último, da Holanda, foi bem fraquinho – de concorrente completamente boa mesmo, só a que ganhou (sorry, Abby OMG, a gente gosta de você e no quesito carisma você ganha). Mas os outros foram surpreendentes, das supermontações tailandesas às impagáveis inglesas e às canadenses que nos deram, what's her name?

PRIYANKA!

PRIYANKA!

Ao mesmo tempo, com os reality shows se firmando como um dos formatos mais bombados da TV atual, um outro fenômeno aconteceu. O novo Queer Eye.

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São tantas temporadas (e agora até o anúncio de uma versão brasileira) que a gente supõe, mesmo com a Netflix sem divulgar muitos números, que o novo Queer Eye é um sucesso.

E já faz um tempo que alguém pensou: “Ué. Por que não juntar esse lado coach de autoestima do novo Queer Eye com drag queens?”
Foi assim que as drag queens se transformaram em conselheiras da família.

A pioneira por aqui foi Drag Me as a Queen do canal E! com Penelopy Jean, Ikaro Kadoshi e Rita von Hunty. A ideia por trás do programa é que uma montação drag consegue trabalhar questões relacionadas à autoestima do convidado (ou vítima?).

E agora estão no ar as ótimas Nasce uma Rainha com Gloria Groove e Alexia Twister na Netflix e Fadas Dragníficas com Alexis Michelle, BeBe Zahara Benet, Jujubee e Thorgy Thor no TLC.

Nasce uma Rainha é muito bem dirigido – podia ser mais curto, como tudo na Netflix, mas OK – e tem a sorte de contar com Gloria e Alexia. Elas são ótimas apresentadoras, ágeis, têm química. O mote também é bom: elas lapidam drags em começo de carreira. Não é uma montação de primeira viagem, mas também é uma jornada de aprimoramento e superação. E os convidados especiais? Silvero Pereira, Tiago Abravanel… Chique, hein?

Nasce uma Rainha com Gloria Groove e Alexia Twister

Nasce uma Rainha com Gloria Groove e Alexia Twister

E Fadas Dragníficas é praticamente a mesma coisa que Queer Eye, mas com drags: um make over de dentro e de fora. A supervantagem: a gente (digo a gente me referindo à nossa bolha) já conhece as drags porque elas são ex-concorrentes do RuPaul's. BeBe, inclusive, é a ganhadora da primeira edição do programa!

Jujubee, BeBe, Thorgy e Alexis: as Fadas Dragníficas

Jujubee, BeBe, Thorgy e Alexis: as Fadas Dragníficas

Assim como o novo Queer Eye em comparação ao antigo, já não basta mudar o guarda-roupa e tingir o cabelo. Esses programas injetam emoção no roteiro, com direito a lágrimas e tudo. Os comentários dos amigos e parentes dos convidados não é mais “ela ficou mais bonita” e sim “dá para ver que ela está mais feliz" ou “sabe quanto tempo faz que eu não a via sorrindo?".

Acho autoajuda um saco. Mas sempre que um desses está passando… eu paro e fico assistindo! Ah, o poder do caminho do autoconhecimento…
E só a título de esclarecimento: acho bom que as drags estejam populares, na TV, na rua, em plena luz do dia. Errado era o fato de ter que ir numa boate para vê-las. Mas elas, que gostam tanto de falar em “arte drag", precisam tomar cuidado com a pasteurização dessa arte. Quando você abre concessões demais, a sua arte vira entretenimento. Se você sabe e quer isso, bem... Tudo certo, né?

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November 22, 2020 /Jorge Wakabara
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