Por que não fiz nenhum texto sobre os desfiles internacionais até agora?

Achei a temporada internacional de moda masculina ruim?
Não necessariamente.
O desfile da Miu Miu de resort 2020 foi ruim?
Não tampouco.
Mas me empolgou? Hum…

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Miu Miu resort 2020

Subvertendo símbolos do conservadorismo no Hippodrome d’Auteuil em Paris

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Celine spring 2020

Foco no ícone David Bowie em O Homem que Caiu na Terra, filme de 1976 de Nicolas Roeg, e uma pegada anos 1970 londrina no geral

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Kenzo spring 2020

O último desfile de Carol Lim e Humberto Leon para a marca se inspira nas mergulhadoras japonesas ama. O documentário Ama-san, que passou nos cinemas daqui no começo do ano, falava delas!

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Thom Browne spring 2020

Uma mistura do esporte com referências ao século 18 e muitas bolas

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Dior Homme spring 2020

Esse trabalho de maquete têxtil do Kim Jones é simplesmente do caralho de tão maravilhoso

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Rick Owens spring 2020

Glam, futurismo à anos 1990 - um chic exótico. Essa fase do Owens me dá mixed feelings: usaria muito mais, acho as roupas incríveis, porém fico mais entediado sem as experimentações conceituais dele…

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Vetements spring 2020

Gótico anos 1990 no McDonald's da Champs-Élysées… Oh, OK

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Comme des Garçons spring 2020

Gênero fluido com joias em trompe-l’oeil, alfaiataria, babado e até vestido

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Louis Vuitton spring 2020

Para quem realmente gosta do monograma… O famoso utilitarismo que seria mais útil se fosse mais prático. No geral, um desfile cheio de flores, pipas e tons pastel

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Valentino spring 2020

Estampona, chapéu pescador, um ar surfistinha chic que eu acho legal & bonito e ao mesmo tempo muito estudadinho para o meu gosto

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Lanvin spring 2020

Estou adorando o trabalho do Bruno Sialelli na Lanvin. A maison de moda mais antiga em atividade andava patinando nas últimas diretorias criativas. Aqui o tema náutico acontece em águas doces!

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Craig Green spring 2020

Sabe aquelas bandeirinhas mexicanas?

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Versace spring 2020

Eu já disse anos 1990 nesse post? Prodigy na veia

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Saint Laurent spring 2020

Um dos meus preferidos dessa leva, rolou em Malibu. Anthony Vaccarello imaginou a Marrakesh de Yves Saint Laurent atualizada para a Los Angeles de hoje - mas eu duvido que as pessoas vão se vestir assim em Los Angeles…

Eu poderia continuar ad infinitum mas acho que com isso já vou conseguir meu ponto.
Já existe muita roupa no mundo. A maioria desses desfiles - mas a maioria mesmo - me parece mais um exercício de styling com roupa que poderia ser encontrada em brechó do que algo de fato novo.
Se é assim: por que a gente não se dedica mais ao exercício de styling com a roupa que a gente já tem ou que a gente encontra em brechó no lugar de comprar roupa nova?
O mercado de luxo e o varejo de moda em geral, ao meu ver, tem um cheiro forte de antigo. Não tenho mais vontade de falar dele no geral. Não me empolga. Penso na moda como um reflexo de referências da sociedade; não me parece que os desfiles têm feito isso de maneira contundente, como já fizeram.

Espero me empolgar com os desfiles da Casa de Criadores, que começa na próxima quarta-feira? Sim. Odeio gastar Uber com nada - coisa que tem acontecido bastante. #indiretas

E você, gostou da temporada? Do que você mais gostou? Também acha que a Vetements é uma bobagem?
Ops, falei.

Minissaia: quem inventou? No fundo... ninguém

Além de ter me apaixonado em definitivo por Mary Quant por causa da exposição que está em cartaz no Victoria & Albert Museum, estou muito-muito-muito envolvido com o tema (leia-se: comprei livros e não paro de pensar na trajetória dessa estilista-empresária incrível). Já estava lendo a biografia dela, Quant by Quant, antes de ir. Aliás já estava lendo essa biografia faz tempo. Acho que cabe uma breve explicação:

Geralmente quando estudo algo muito a fundo, acontece alguma coisa com esse algo. Ele de alguma maneira vira notícia. Tipo: começo a ler muito sobre o estilista dos anos 1920 Paul Poiret e, batata, a marca volta (sabe-se lá o porquê, veja aí se não estou mentido). Aí vou procurar saber mais sobre um artista japonês e ele inaugura exposição no MoMA. Coisas assim - talvez o que chamam de instinto jornalístico, mas para mim é algo muito misterioso. Não quero me vangloriar e sim, acredito que sejam apenas coincidências. Só que a partir do momento que percebi isso, fico morrendo de medo de ler uma biografia de quem ainda está vivo, acabar a biografia e… a pessoa morrer. É por isso que não terminei de ler Quant by Quant até hoje - Mary Quant está vivíssima, com 85 anos.

Mary na década de 1960, cabelo assinado por Vidal Sassoon - tá, querida?

Mary na década de 1960, cabelo assinado por Vidal Sassoon - tá, querida?

Um dos temas que me instigam a respeito de Mary Quant é a autoria da minissaia. Tem gente que defende que foi ela. Só que tem quem ache que foi a francesa Courrèges de André Courrèges.

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Courrèges

Clique de Willy Rizzo de 1966

E aí? A autoria é britânica ou francesa? As datas são praticamente iguais. Uma diferença de meses - isso se a gente levar em consideração a barra acima do joelho. Courrèges desfilou "saias curtas" em 1964. No Ginger Group de Quant, de peças mais baratas, existem registros de vestidos bem sessentinhas, acima do joelho, da mesma época. E é difícil, historicamente, encontrar peças da primeira metade da década de 1960 que não tenham sido alteradas (ou seja, encurtadas) pelas próprias donas posteriormente, para se adequarem à moda subsequente!

Só que não sejamos ingênuos. Imagine você, vivendo nos anos 1960. Surge a minissaia na vitrine da Bazaar de Quant ou no desfile de Courrèges. Você acha mesmo que isso foi uma invenção chocante; que as saias eram compridérrimas e de repente estavam curtas? Claro que existem registros anteriores a isso. A saia foi encurtando. Foi um processo!

Vamos para Yves Saint Laurent na Dior:

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O look da extrema direita…

Oi, joelhinho! Coleção Trapeze, fim de 1958

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Mais de Saint Laurent para Dior

Inverno 1960 - curtinho, hein?

E que tal Cristóbal Balenciaga?

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O vestido-saco

De 1950!

Mas se você não se impressionou tanto com a quantidade de perninha de fora dos looks de alta-costura, bem… eu tenho outro look para te mostrar. Algo que poderia ter inspirado Courrèges, Paco Rabanne, Pierre Cardin - essa turma do futurismo dos anos 1960. E, quem diria, o look vem pelas mãos da autora de um dos vestidos de noiva mais famosos do mundo, o de Grace Kelly. A figurinista Helen Rose!

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Olha a ousadia!

A vida é curta, mas esse vestidinho…

Rose criou esse look para a personagem de Anne Francis em Planeta Proibido, filme de 1956. Acontece que ele nunca foi visto na telona - a MGM vetou, porque o achou muito revelador! A própria Helen fala a respeito:

With exercise, dieting, health and beauty consciousness, the human body, especially the female body was getting more and more beautiful... I had been nurturing a costume idea for over twenty years, ever since I did the special show for (ballroom dancers) Fanchon and Marco when I painted the performers with gold paint. I thought this would be a good idea for the film Forbidden Planet, as I could easily imagine ‘sprayed -on-clothes’ in the year 2000, but no one wanted to go along with me. We settled for a very short, stylish dress that was to become the first ‘mini-skirt.’ My most favorite outfit was never seen.
— Helen Rose

Mas, Helen, outro look bem curto (se bem que não tão justo) aparece no trailer…

Não entendi!

E, na verdade, tem um outro filme anterior a esse, mais obscuro, com look curtérrimo:

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Vôo para Marte (1951)

A personagem Alita, de Marguerite Chapman, e sua minissaia azul

Não existe registro sobre quem seria o visionário que fez esse look de Alita. Na verdade, dizem que esse longa foi filmado a toque de caixa, em questão de dias.

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Adoraria saber quem fez esse lookinho

Modernosaaaa! Se o Elon Musk me chamar para um rolê, já sei onde vou me inspirar (mentira, imagina eu de minissaia, que horror???)

Agora, atenção - menção honrosa para uma visionária:

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Josephine Baker!

É mais um adereço que uma saia, mas meu bem, eram os anos 1920! Imagina?!

Resumindo, gosto em particular da frase de Mary Quant, mais uma vez ela:

It wasn’t me or Courrèges who invented the miniskirt anyway—it was the girls in the street who did it.
— Mary Quant

Foram as próprias mulheres que encurtaram seus looks. Não foi um estilista, um figurinista, um criador que inventou isso. A moda é viva, ela não acontece só da indústria para o pessoal. Nesse link você fica sabendo mais sobre o que acho desse movimento mais "para todos os lados” da moda.

Para terminar: a que rua Mary se refere? Do que é que ela está falando?
Hummmmm… Are you ready, steady, go?
Enquanto eu preparo esse novo post, vai fazendo o esquenta com um outro que fala muito sobre a moda que nasce na rua: o de Harajuku! <3 Stay tuned!

Harajuku, a meca do kawaii

Nossa, faz tanto tempo que prometi esse post que nem sei! Acontece!

Hoje vamos falar de um dos bairros mais famosos do MUNDO. Harajuku! Mas antes, para o caro leitor ficar mais contextualizado, recomendo a leitura dos seguintes posts anteriores:

Memória afetiva
O que é kawaii?
A rainha & a embaixadora do kawaii
O lado dark do kawaii

Leu tudinho? Amou? Então vamos começar a contar essa história - grande parte dela saiu do livro Style Deficit Disorder: Harajuku Street Fashion da Tiffany Godoy que eu estou aceitando de presente, viu, pode me dar, agradeço!

Essa imagem saiu desse post do site Tokyo Dandy - coisa fina!

Essa imagem saiu desse post do site Tokyo Dandy - coisa fina!

Um distrito internacional batizado de Washington Heights e inaugurado em 1946 tinha moradias para oficiais norte-americanos no pós-guerra na capital japonesa de Tóquio. Ele ficava na região de Shibuya, mais para o lado de onde hoje fica o Yoyogi Park. A juventude toquiana, ou pelo menos os jovens daquela região, viram e gostaram do estilo cool ocidentalizado de quem morava por ali. Essa foi a sementinha plantada - depois, nas Olimpíadas de 1964, Washington Heights voltou a ser de domínio japonês, as famílias norte-americanas foram embora e ali virou a Vila Olímpica. Atraiu comércio.

Pula para a década de 1970. Estilistas precisavam de um aluguel mais barato para seus estúdios e lojas. E lojas próprias, sim - eles já acreditavam nessa coisa de sentir o sucesso direto da fonte, porque assim conseguiam saber o que os clientes mais gostavam, o que não vendia tanto etc. E sabe um endereço que encaixava nessas necessidades e era entre Shibuya e Shinjuku, bem central?
Resposta: a Takeshita Dori, rua que fica praticamente na frente do Yoyogi Park e que hoje é o “centro turístico” de Harajuku! Um manual popular na época chamado em tradução livre Como ser bem sucedido em fashion business dizia que um dos passos tinha que ser alugar um espaço em Harajuku, simples assim.
Portanto, desde os anos 1970 que Harajuku é considerado um bairro fashion de Tóquio, bem antes do kawaii virar essa indústria que influenciou e influencia a moda.

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A Milk foi uma das primeiras lojas

E se hoje ela é reconhecida pelo estilo mais lolita, ela foi a que vendeu a moderna Comme des Garçons primeiro, lá nos anos 1970! Pah!

Aliás, sabe um cara que apareceu lá em Harajuku nessa época?

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David fucking Bowie

Esse agachado é Kansai Yamamoto, um estilista japonês incrível que fez vários looks para Bowie nessa fase montadíssima do artista

Kansai veio antes de Rei Kawakubo (da Comme), Issey Miyake e Yohji Yamamoto. Não era “japonista” como eles, no sentido que a expressão ficou conhecida em Paris: os desconstruídos cabeçudos que adoram um look preto. Na verdade, seu universo era mais coloridão, e particularmente acho bem mais próximo de Kenzo Takeda, que abriu sua butique Jungle Jap em 1970 em Paris. Kansai desfilaria na mesma Paris em 1975, mas antes, 1972, já tinha apresentado roupas em Londres (um ano depois de inaugurar a marca!).
Em resumo: Kansai Yamamoto é um personagem riquérrimo que merecia um post só para ele, viu? Tudo indica que ele está voltando e tem tudo para ser redescoberto por uma nova geração: participou da coleção da Louis Vuitton de cruise 2018 de Nicolas Ghesquière apresentada em Quioto, fez pop-up recentemente em Harajuku (onde mais?), e organiza um evento anual chamado Nippon Genki Project que pelo que entendi é tipo um desfile-show. O último rolou faz pouquinho, 8/06:

(e pelo que vi não foi em Harajuku e sim em Roppongi)

Bom, o shopping mais legal (até hoje!) de Harajuku, o Laforet, abriu em 1978. É quase sempre lá que abrem pop-ups importantes - já teve da Michiko Koshino e de uma das vezes que fui tinha uma da Undercover de Jun Takahashi, por exemplo. Aliás, tanto Takahashi quanto o Nigo, o fundador da A Bathing Ape (Bape), marca super-super de streetwear, eram sócios. Eles abriram a loja Nowhere em 1993 em Urahara (que quer dizer ura-Harajuku, uma Harajuku escondida).

Olha aí a Nowhere - bem noventista mesmo, né?

Olha aí a Nowhere - bem noventista mesmo, né?

Eu sei, pulei uma década inteira: os anos 1980 marcaram ascensão e queda, o boom econômico e o crash da economia japonesa, a bolha imobiliária de Tóquio. Em 1989, acabava a era Showa (que começou em 1926) e começava a era Heisei. Harajuku se estabeleceu, e na década de 1990 viraria a meca do kawaii, do cyberpunk, das lolitas, do visual kei. Com uma ajudinha da Nowhere!

In many, and perhaps most, instances there is a total disconnect between what something is and what it’s supposed to mean. Punk can be cute. Mico-mini skirts aren’t sexy. Ghoulish makeup isn’t macabre. Hip-hop is a state of mind rather than a reference to a specific cultural experience. The extremes to which average youth use body piecing as personal adornment have nothing to do with tribal beats, sexuality, or counter-culturalism. Here, it is pure fashion.
— Do livro Style Deficit Disorder - Harajuku Street Fashion

Várias são as lojas clássicas de Harajuku.

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Hysteric Glamour

de Nobu Kitamura

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Baby, the Stars Shine Bright

O templo das lolitas de Akinori Isobe

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Cream Soda

uma das pioneiras, de Masayuki Yamazaki

Mas vamos voltar na Nowhere? Acho a história muito interessante. Foi lá que Takahashi começou a vender Undercover, uma das marcas mais legais do Japão, e o Nigo também começou a vender a Bape. Ambos se conheceram no Bunka, a lendária escola de moda japonesa. E na época Jun atendia por Jonio. Nigo & Jonio - uma boa dupla sertaneja, né? Mas eles estavam mais para Charlie Brown Jr, ligados na cultura do skate. E diz que eles deram um novo ânimo para Harajuku, que estava meio caída com o crash.

Nigo &amp; Jonio

Nigo & Jonio

Hoje acho que quem substitui um pouco esse espaço da moda masculina na região, sem o mesmo ineditismo mas com bastante charme, é a Beams.

Pode me dar tudo

Pode me dar tudo

A Beams é no fundo mais antiga que a Nowhere - ela foi inaugurada em Harajuku em 1976 e hoje em dia expandiu, virou uma rede que inclusive abriu pontos fora do Japão. O segredo é a curadoria: tem muita roupa legal. E pronto, fim de papo: você tem vontade de ter cada uma daquelas peças. Está mais para o japonês médio (que normalmente se veste muitíssimo bem) do que para o fashionista montado.

Aliás, bem lembrado: vamos falar de Harajuku hoje? E por que ele virou o sinônimo de kawaii?

Provavelmente quando você chegar em Harajuku vai começar seu passeio pela Takeshita Dori, o que faz sentido mesmo, é a rua mais turística e celebrada.

A entrada da Takeshita Dori

A entrada da Takeshita Dori

Acontece que a Takeshita hoje é turística demais, lotada demais, uma overdose. Tem toda aquela estética do kawaii, com várias lojas cheias de bugigangas, uma Daiso gigantesca para quem curte, crepes maravilhosos e instagramáveis (e meio sem gosto), multidões de curiosos. As lolitas às vezes dão uma pinta mas a verdade é que elas já não existem em tanta quantidade em lugar algum. O melhor jeito de ver como os modernos se vestem em Harajuku atualmente segue sendo a lendária revista FRUiTS - e agora, em vez da gente esperar algum contrabando da publicação como no começo dos 2000, dá para ver no Instagram:

E a meia da Marine Serre com blusa da Prada?
Eu morta vendo, né? Affff! (dispenso a bolsa da Chanel)

A FRUiTS era #lookdodia antes do look do dia, e é look do dia com informação e criatividade. Era a nossa digital influencer quase inacessível, rodava de mão em mão porque era cara e difícil de encontrar. Saudades!

Mas se você for a Harajuku e ficar um pouco decepcionado com a Takeshita, não desista. Recomendo ir no Laforet, que é bem grande e precisa de tempo e disposição, e atravessar a rua depois da Takeshita parecer ter acabado, em direção de Omotesando - que eu me lembre é por ali que fica a Beams e também cafés e lojinhas bacanas.

Toda essa história de Harajuku de lojas e marcas que viraram mitos, ruas que hoje estão no mármore eterno da memória da moda, me lembra outra história… que fica mais ou menos a 11 horas de avião de lá.
Já conto.
E também fico devendo mais uns dois posts relacionados ao kawaii: um especial de mascotes (e finalmente terei que encarar o horripilante Funassyi) e outro de uma banda que quer democratizar o kawaii. Oi? Pois é.
Enquanto isso você fica com esse especial do Google sobre moda streetwear japonesa de 1980 para 2017 e imagens kawaii típicas de Harajuku - porque afinal prometi isso no título!

Estou muito confuso a respeito do termo streetwear

Estava tudo bem. Eu usava o termo streetwear (e usava streetwear em si) livremente. Sempre liguei isso à geração millennial, mais informal, menos apegada a regras sociais de dresscode. Teve essa coisa de Karl Lagerfeld ter colocado tênis na alta-costura da Chanel de spring 2014, e aí as ricas todas começaram a usar tênis mas eu mesmo já usava tênis antes e continuei usando depois - a oferta aumentou e tudo bem.

Mas aí veio esse artigo da Vogue UK: Why we need to rethink the therm “streetwear”?

A coleção da parceria entre Louis Vuitton e Supreme de 2017

A coleção da parceria entre Louis Vuitton e Supreme de 2017

O artigo explica que o termo muitas vezes pode ser ligado à raça:

(...) the involvement of people of colour (either designers or models) is ultimately not the determining factor of whether something is “streetwear”. The always-shifting category, which grew out of skate, surf and hip-hop subcultures, has historically done what it says on the tin – represented the way that those resisting the fashion mainstream have worn comfortable, everyday garments outside in the real world.

Fiquei bem incomodado comigo mesmo. Será que eu acabo usando desse mecanismo para apontar o que é streetwear e o que não é sem perceber, inconscientemente, por conta de um racismo estrutural que, not surprised, nunca me dei conta?

Pode ser que, em alguns momentos, não (conscientemente, streetwear para mim tem a ver com jeanswear, moletom, tênis, roupa informal; não necessariamente hip-hop, e sem juízo de valor porque para falar a verdade prefiro streetwear do que alfaiataria). Mas inconscientemente, talvez, sim. Um grande exemplo é o trabalho de Virgil Abloh na Louis Vuitton. Será que eu chamaria esses looks de streetwear se eles fossem feitos por um cara branco que veio de um outro contexto?

A resposta: é provável que não.

Acredito que não dá para demonizar o termo, mas ao mesmo tempo é importante refletirmos sobre a questão.
E você, já pensou no jeito que você usa o termo streetwear hoje?

Franquias de sucesso sempre lançam licenciamentos - mas eles nem sempre são tão legais

Nessa viagem que fiz para Londres fiquei reparando muito em licenciamento de franquias do mundo do entretenimento e como eles variam bastante em qualidade de design. E mais importante: os blockbusters (tipo Harry Potter, universos Marvel e DC, Star Wars) estão cada vez mais dividindo espaço com séries de TV e de serviços de streaming. Achei estranho não ter visto quase nada de Game of Thrones, porém, olha que bizarro: tinha várias coisas de Friends na Primark!

Achei simplesmente horroroso mas sou simplesmente muito suspeito pois faço parte do 0,03% da população que não vê muita graça em Friends. (sobe o volume da trilha, toca Sorry da Beyoncé ao fundo)

Aí, caso você não tenha acompanhado minha viagem nos stories do Instagram (ainda dá para ver no destaque chamado SpiceWood Mac, vai lá!), está rolando uma exposição de mangá no British Museum (interessante, por sinal, porém cara, quase £ 20). Não sei se por causa disso ou se é coincidência, mas a Uniqlo está com uma coleção de licenciamento de mangás.

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Legal, porém

não gosto de Bleach e não gostei das outras camisetas que vi

Na verdade, o que mais gostei na Uniqlo dessa vez foi essa camiseta…

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Sim, isso mesmo

É uma camiseta licenciada da maionese do Kewpie! A Uniqlo tem toda uma linha de camisetas da Kewpie Mayo! Chocado! Você lembra da história dessa maionese? Contei nesse post!

Tem toda uma linha de marcas de consumo - na Primark também, aliás. Para quem gosta de Super Mario Bros, a Uniqlo também está com várias coisas. Só que em matéria de mangá…

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A Primark ganhou

Achei bem mais legal #narutolover

As fast fashions brasileiras (leia-se C&A, Riachuelo e Renner) têm licenciamento mas acho que poderia desenvolver muito mais: Disney, Harry Potter, Marvel, DC, Simpsons, Justin Bieber, Pernalonga são alguns que me lembro de ter visto por essas praias. Mas imagina blusa da Carminha, do Tonho da Lua, da Ana Maria Braga, da Ludmilla, da Escolinha do Professor Raimundo? Ia ser tudo!

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Cacilda ícone

A original, per favore

E uma novidade quentinha é que daqui a pouco sai a coleção de Stranger Things 3 da Nike, que vai contar com tênis e roupa. No exterior começa a ser vendida dia 27/06; por aqui não se sabe se chega.

ATUALIZAÇÃO: chega sim, ou melhor, chegou, no dia 27/06 também, na Guadalupe Store em SP, e provavelmente já acabou mas vai saber, quem sabe correndo você acha algo?

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São relançamentos de modelos dos anos 80

Cortez, Blazer e Tailwind. Acho os 3 lindos, mas prefiro o clássico Cortez mesmo!

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Queria moletom e bruzinha escrito Hawkins?

Queria sim, e você também

Achei que a união da Nike com a Netflix é bem boa, hein? Será que vem mais coisa por aí?

Aliás, Stranger Things 3 chega no dia 4/07 na Netflix. Empolgados? Eu tô! Ainda mais que agora vai ter a maravilhosa Maya Hawke, filha de Uma Thurman e Ethan Hawke, no elenco. Acho a Maya incrível do tipo “pouco te vi, sempre te amei”. Portanto: Nike, lança uma camiseta com a cara da Maya Hawke, vai?

É uma cara linda. Fica aqui o meu apelo.

É uma cara linda. Fica aqui o meu apelo.