Ai, a nostalgia... e a música descartável que tem vida eterna

Sim, eu fui no show novo da Xuxa.

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Kkkkk SIM #xuxaxou ❤️❤️❤️

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Foi, digamos, interessante.
Ela mesma afirma que não canta nada em mais de uma parte do show.
Minha relação com a Xuxa é meio estranha: eu fui um baixinho mas sempre preferi (segura essa) a Mara Maravilha. Ela era morena, baiana, mais solta já na minha visão infantil. E eu também já preferia as músicas da Mara, veja só. Bom, nitidamente a Mara cantava mais que a Xuxa - não digo que ela era uma ótima cantora mas é só perceber.

Enfim: tinha gente de toda a idade. É mais ou menos, só que em menor proporção, o mesmo fenômeno de Sandy & Junior, que estão aí com shows de retorno bombados e esgotados. Rolou um podcast da Folha Ilustrada sobre o assunto, confira:

Não concordo muito com o Thales de Menezes, que participa do podcast, no sentido que ele coloca o fenômeno Sandy & Junior como algo isolado e referente a apenas uma faixa de idade (ele joga para os 40 anos de idade atualmente, o que acho que foge bastante do que tenho observado).
Apesar de Maria Chiquinha, de 1991, ter sido um grande hit, o que percebo é que a grande maioria que vai nesses shows são os que escutaram As Quatro Estações, lançado 8 anos depois - e que não são, necessariamente, crianças que cresceram ouvindo Sandy & Junior. O que quero dizer é que a faixa de idade dos fãs da dupla, na minha percepção baseada puramente em observação, é bem maior. E grande parte está por volta dos 30, 35: ou seja, tinha 10 anos quanto As Quatro Estações foi lançado.

Vai uma pétala aí?

Vai uma pétala aí?

Mas voltemos a Xuxa, que é mais ou menos a mesma coisa - atravessou gerações, de Xou da Xuxa (que começou em 1986) ao Xuxa só para Baixinhos (já em 2000). São décadas! Um exemplo de longevidade pop. Diz o livro Pavões Misteriosos de André Barcinski que Paulo Massadas (da dupla com Michael Sullivan) teria dito para a gravadora RCA: "A Xuxa vai ser a nova Rita Lee". No sentido que Rita era um exemplo de maior vendedora de discos no país. Eles não botaram fé. E ela acabou fazendo carreira musical (pode-se chamar carreira musical, com ela mesma afirmando que não canta nada? Não sei!) na gravadora Som Livre, da Globo, e sim, se transformando na nova Rita Lee, vendendo muito.
Mas Xuxa era um pacote: ouça o disco, assista na TV, veja o filme. Onipresente. Com lendas, como a da boneca demoníaca, ou ouvir o disco tal na faixa tal de trás pra frente, a casa rosa, a relação dela com Marlene Mattos.

Sandy & Junior também tiveram sua parcela de histórias: da virgindade dela a boatos preconceituosos (e nunca confirmados) sobre homossexualidade dele. Tiveram filme (sem tanto sucesso quanto Xuxa) e TV (com sucesso sim). Ao se separarem, nunca alcançaram tanto sucesso quanto juntos.
Essa questão de fenômenos pops infantis é um babado. Assisti recentemente a um documentário na Netflix que falava do Parchís. Conhece?

É engraçado como a história se repete nesse tipo de grupo infantil. Eles nunca repetem o sucesso, tem o "traidor”, o que sai e depois parece um tanto arrependido, briga com empresário e gravadora, o assédio mesmo com meninas tão jovens, a filha de famoso do lado do garoto de origens humildes… Os clichês existem porque em algum momento foram reais. O espanhol Parchís acumula vários - e se você não quiser assistir, tudo bem, porque é meio por aí, você já sabe mais ou menos o roteiro, e ele segue quase sem surpresas.
Mas com tantos clichês, também existe série que tira sarro disso: da mesma Netflix, Samantha! (a exclamação não é minha, faz parte do nome!)

A atriz Emanuelle Araújo faz a personagem principal

A atriz Emanuelle Araújo faz a personagem principal

E sabe que Samantha! não é um grande roteiro mas é bem divertido? Se eu fosse você, dava uma chance. Na época do lançamento da primeira temporada a produção tentou negar a inspiração em Simony, integrante da Turma do Balão Mágico que depois posou para a Playboy, casou com um presidiário (o rapper Afro-X), tentou alcançar o mesmo sucesso e não conseguiu…
(confesso que gostava, corte para o vídeo do Xuxa Hits)

Superfantástica? Nem tanto, mas pop é pop, amore. Eu fui megafã da Turma do Balão Mágico e, mais ainda, da dupla Jairzinho & Simony

Siiiiiim, eu ouvi muito essa música (e talvez isso explique muita coisa).
Ainda sobre nostalgia e memória afetiva, também fui no show das Spice Girls, né? Meio que na mesma época em Londres ainda tava rolando a volta do Backstreet Boys e do Westlife. Eita! O pop, que é tão descartável, também é eterno.

E quem você gostaria que voltasse? Que você iria no show fácil? Vou dar minha lista de 3:

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ABBA

Eu simplesmente choraria sangue

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Metrô

Eles voltaram em 2016, eu fui. Se voltarem de novo, contem comigo!

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Secos & Molhados

Primeira formação. Paga-se bem. 3 shows? Iria nos 3. E compraria as camisetas!

(obviamente devo estar esquecendo bandas que mexem com o meu coração mas, é isso, esqueci, aguardem atualizações nesse post…)

A Calvin Klein continua fingindo que gosta de diversidade, mas é tão fake que a gente devia dar risada

Lembra que eu falei da Fluvia Lacerda? Então.
Lembra também que eu falei da Calvin Klein também?

A Calvin Klein acabou de lançar sua nova campanha de underwear com esse conceito #IRL (In real life, kkkkk). Entre os convidados magros e/ou sarados tipo Diplo, Naomi Campbell e Bella Hadid figura a querida Beth Ditto, cantora e vocalista do The Gossip.
Pensei: oba, que legal!
Aí vi a foto.

E é a única das fotos da campanha na qual não aparece a barriga!

E é a única das fotos da campanha na qual não aparece a barriga!

Parabéns, Calvin Klein!
Um beijo e que a gordofobia um dia acabe!

Susana Estrada, a Gretchen espanhola que veio antes da Gretchen

Você conhece?

Susana Estrada ficou famosa já em 1976, logo depois da morte do general Franco, responsável pela ditadura moralista que assolou a Espanha. Era uma época que Madri fervia: a capital queria recuperar o tempo perdido, sabe como é. Foi mais ou menos nessa época que rolou a Movida Madrileña da qual gente como Pedro Almodóvar, a cantora Alaska e a estilista Agatha Ruiz de la Prada são expoentes. Mas Susana era outra história. Era mais mainstream. E ao mesmo tempo era sexy como ninguém tinha ousado antes.
Historias de Strip-Tease, um espetáculo teatral, trazia Estrada fazendo exatamente o contrário que Rita Hayworth fez em Gilda, filme de 1946. Se Rita fez um strip-tease tirando apenas as luvas…

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… Estrada tirava TU-DO no palco. Menos… as luvas!

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Um tanto desinibida

É verdade…

Bom, Franco tinha morrido mas a Espanha continuava moralista: então imagina, né?
Mas o que era mais incrível era o discurso de Susana. Ela dizia que tirava a roupa porque curtia mesmo, e que a igualdade de gêneros passava pela liberdade sexual. Tá, meu bem?
A artista gostava mesmo duma confusão no palco: simula sexo com um robô em 1979, se masturba em 1981, usa uma cinta-caralha em 1987 (de verdade, usa mesmo, para comer um dos bailarinos!).

O caráter político de sua sensualidade desinibida que até hoje desperta rubor e críticas é confirmado quando ela ganha o prêmio de Personalidade do Ano do jornal Pueblo em 1978. Recebeu-o das mãos de Tierno Galván, prefeito de Madri. E o peito pulou para fora, segundo ela sem querer, naquele exato momento. Bom, a blusa era bem aberta. E ela também não fez muito esforço para cobri-lo, para alegria dos fotógrafos presentes. A lenda popular é que Galván teria dito: "Menina, se cobre, vai se constipar". kkkkk Mas segundo a própria Estrada, ele disse “Fica tranquila, filhinha, mas se cobre” e ela respondeu “Estou muito tranquila, professor" - segundo entrevista para a Vanity Fair espanhola.
A foto virou um símbolo. Esse peito aberto significava também a abertura pós-regime militar.
Acabaram tirando o passaporte de Estrada até 1987, proibindo-a de viajar para fora do país e de votar. Foi condenada pelo delito de escândalo público. Chegou a ter guarda-costas já em 1976 porque temia pela segurança.

Antes las feministas me ponían a parir porque una mujer que es un símbolo sexual, para ellas es una mujer objeto. Sin embargo, hoy en día ellas mismas recurren al desnudo para protestar. A mí no me importa lo que representes o la imagen con la que te vea la gente, sino cómo y por qué estás haciendo esa lucha. Muy mal no lo hecho, sino no estaríamos hablando de esto. Estábamos a años luz la sociedad de aquel momento y yo. El sentido del humor me ha salvado mucho.
— Susana Estrada para 20 Minutos

A entrevista toda de onde saiu a frase de cima está nesse link. Na ocasião, em 2017, estava sendo lançada uma coletânea com as músicas de Susana. Vem ouvir:

Destaque para a última música: sim. Un Sitio Bajo El Sol é uma canção que fala de um gay. "Solo los muchachos despiertan tu pasión, muchachos que conocen la forma de tu amor, la fuerza de tus brazos, lo dulce de tu voz, la piel de tus caderas, tus nalgas en tensión, el bosque de tu vientre, tu boca tu sabor!" Ui!

Para terminar, um videozinho com várias imagens de Susana:

E um de 1977 também com ela sendo entrevistada:

50 anos da moda de Zandra Rhodes

Se você não conhece a Zandra Rhodes, eu nem sei se algum dia você já foi feliz.

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Muito close

Florence Welch mataria por um desses

Rhodes nasceu em 1940 na Inglaterra. Entre 1966 e 1969, em plena Swinging London, ela abriu a loja Fulham Road Clothes Shop com uma amiga - ela cuidava das estampas e Sylvia Ayton desenhava as roupas. A partir de 1969, com a sociedade desfeita, Rhodes foi brilhar sozinha. Suas roupas dramáticas e coloridas formam um universo todo particular, uma ponte entre o hippie e o punk que não é uma coisa nem outra e sim algo único. Fico alucinado hoje só de ver foto - imagina naquela época?

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Looks de 1977

A coleção, uma de suas mais clássicas até hoje, se chamava Conceptual Chic

A Conceptual Chic brincava de punk de boutique com alfinetes de segurança, correntes e furos tipo rasgos. Rhodes foi ao baile do Met em 2013 cujo tema era punk com um look vintage dessa coleção - ela conta a história no Huffington Post.

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Sim, é isso mesmo

Esse é Freddie Mercury usando Zandra Rhodes em 1974

Zandra nem sabia quem era o Queen nessa época - A Night in the Opera, que tem Bohemian Rhapsody, só sairia no ano seguinte. Ela contou a história em entrevista para a Another Magazine - Freddie foi o segundo homem que ela vestiu na vida. O primeiro foi Marc Bolan.

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Olha ele aí

Bolan no mesmo ano de 1974, usando Zandra Rhodes

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Bianca Jagger

Na Cosmopolitan de 1974. Entendi que esse vestido é da Shell Collection, de 1972/73

Dizem que a Shell Collection saiu inteira de uma cestinha coberta de conchas que Rhodes encontrou em um brechó em NY.

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1969

Um clique de David Bailey para a Vogue UK da primeira coleção solo de Rhodes

Olha o look de novo na própria Zandra Rhodes, arrumando uma modelo toda trabalhada no metalizado (acho que de 1981, a coleção Renaissance/Gold)! As peças da coleção knitted circle (de onde vem o casaco amarelo) eram circulares, o que fazia toda a di…

Olha o look de novo na própria Zandra Rhodes, arrumando uma modelo toda trabalhada no metalizado (acho que de 1981, a coleção Renaissance/Gold)! As peças da coleção knitted circle (de onde vem o casaco amarelo) eram circulares, o que fazia toda a diferença no look

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1975

Mais um clique de Bailey para a Vogue UK, 6 anos depois

Esse vídeo acima traz Zandra sendo entrevistada, além de looks de Ossie Clark, outro gênio que também bombava na época. Clark, aliás, foi um dos primeiros estilistões internacionais que Regina Guerreiro entrevistaria na sua carreira. Ela diz que quando o Clodovil leu a matéria, disse: “Olha como a Regina é boa, dá para ver que ele é doidão lendo a entrevista!” HAHAHAHAHA!!!

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Natalie Wood

Em 1970 com um look bem típico de Rhodes, ainda com a ideia circular da sua primeira coleção solo

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Dinosaur Coat, 1971

Enfeitado com os "botões” de flor. São estampas que parecem flores com botões no meio que Rhodes costurava na roupa tipo um enfeite!

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Detalhe de uma manga

Da coleção Elizabethan Slashed Silk: ela misturou modelagens dos nativo-americanos do século 16 com sedas rasgadas do mesmo período na Inglaterra, a era elizabetana. Look de 1971

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Mais do povo nativo da América do Norte

Esse look é bem típico de Rhodes, um clássico: estampas de penas da coleção Indian Feathers, de 1970

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A segunda coleção solo

Chevron Shawl, de 1970, é inspirada na estampa chevron dos xales vitorianos que ela viu no Victoria & Albert Museum

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Lady Di em 1989

O look é de 1985 e é coberto de estrelas egípcias. Princesa Diana usou-o no consulado britânico de Dubai

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High Gothic!

O lenço de Rhodes na capa da Queen em 1969

A própria Zandra Rhodes

A própria Zandra Rhodes

Entre 27/09 e janeiro do ano que vem, os 50 anos da marca própria de Zandra Rhodes são comemorados com uma exposição no Fashion and Textile Museum em Londres. Vai se chamar Zandra Rhodes: 50 Years of Fabulous. Eu vou - não sou nem doido de perder! <3
Ai, ai. Saudades do que eu nem vivi. kkkkkkkkk