Casos de família: dois filmes MUITO bons

Assisti nessa semana dois filmes que eu achei ÓTIMOS e estou juntando num post só. É porque ambos são asiáticos? Podia ser, mas não. Eles têm muito mais em comum: são sobre família e sobre, voilá… luta de classes! Vamos a eles: Assunto de Família (2018) e Parasita (2019), os ganhadores das Palmas de Ouro em Cannes do ano passado e desse ano, respectivamente.

Qual é o conceito de família?

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Parece uma família feliz na foto, certo? E é mesmo. Assunto de Família, aliás, tem um título melhor em japonês e em inglês: Manbiki Kazoku (família de ladrões) e Shoplifters. São pessoas marginalizadas no Japão (quem diria!) e eu não queria dar spoilers, então vou só dar perguntas:
. Essa não é spoiler porque acontece bem no começo do filme: se você acha uma criança com sinais de maus-tratos, você devolve ou fica com ela?
. Nessa mesma pegada: o conceito de família precisa ser atrelado a laços sanguíneos?
. Família, mesmo que seja relacionada a laços sanguíneos, não é uma convenção social? Será que estamos atrelados e organizados socialmente assim, nesse tipo de núcleos, porque faz sentido… economicamente? Ou faz sentido econômica e emocionalmente?
. Numa economia cada vez mais fdp para quem não é milionário, será que o sentido de família está mudando por motivos econômicos?
. É mais interessante para uma sociedade capitalista que a gente tenha laços desse tipo ou que sejamos sozinhos, moremos sozinhos, vivamos sozinhos?
. O que é moralmente aceitável quando a sociedade capitalista falha com uma (grande) parcela da sociedade? É aceitável roubar? Se sim ou se não: até que ponto? É aceitável roubar de uma lojinha de um pequeno empreendedor, de uma franquia de uma grande cadeia de lojas, ou dos dois, ou de nenhum? Qual é o parâmetro?
. É aceitável a prostituição? Ou apenas a exibição do corpo sem contato físico? Ou a exibição do seu corpo com contato físico mas sem penetração? Se a exibição é aceitável mas a prostituição não, por quê? Se a exibição não é aceitável - por que biscoitar nas redes sociais ou mandar nudes é normal e ganhar dinheiro com isso não seria?
. A convivência gera o laço amoroso?

O filme é triste. Ele não cai no melodrama, e por isso dá uma sensação mais amarga ainda. Acho que principalmente porque a gente não se coloca no lugar de algum membro da família - talvez das crianças, mas é rápido. Na verdade a gente se coloca no lugar de espectador daquilo. E é assim que a gente age na vida real: assiste. Como mero espectador.

Em cena, os atores Sakura Andô, Miyu Sasaki e Lily Franky (sim, o nome dele é Lily Franky)

Em cena, os atores Sakura Andô, Miyu Sasaki e Lily Franky (sim, o nome dele é Lily Franky)

O diretor Hirozaku Koreeda também é o nome por trás de Boneca Inflável (2009), o filme absurdinho no qual uma boneca inflável cria vida e alma. Nunca assisti, mas agora fiquei com mais vontade! Assunto de Família está disponível na Netflix.

O meu quinhão primeiro

Ki-jung (So-dam Park), Ki-woo (Woo-sik Choi) e Chung-sook (Hye-jin Jang): a família Kim é um babado

Ki-jung (So-dam Park), Ki-woo (Woo-sik Choi) e Chung-sook (Hye-jin Jang): a família Kim é um babado

Eles vivem em um semiporão em condições péssimas e se viram nos 30 para sobreviver, por exemplo dobrando embalagens de pizza. E como o próprio nome do filme sugere, enxergam uma oportunidade de funcionarem como parasitas. Eles são malandríssimos e agarram essa chance.
O nome é chocante mesmo: o que é enxergado como parasita da sociedade tem uma conotação ruim e precisa ser eliminado. Só que o parasita, nesse caso, é o ser-humano, que por estar à margem é considerado descartável, mão de obra barata, um incômodo necessário.
Mas o longa não tem mais de duas horas à toa: Parasita surpreende porque é um roteiro intrincado, bem feito, que vai se desenrolando e te surpreendendo. Em termos culturais, pelo fato de ser sul-coreano, ele é quase ocidental. Dá para entender porque ele ganhou Cannes: bem universal, apesar de ter uma trama muito particular e original.
E eu adorei a atriz So-dam Park, principalmente. A filha é apenas maravilhosa.

O diretor Joon-ho Bong já fez o hit vegan Okja (2017), o hollywoodiano Expresso do Amanhã (2013) e O Hospedeiro (2006), que nunca vi mas já me disseram que é bom (tem na Netflix).

“Qual é a senha do wi-fiiiii?"

“Qual é a senha do wi-fiiiii?"

Se a vida começasse agora, etc.

Pois é, quem diria, eu vou ao Rock in Rio. Só no outro fim de semana, é verdade, e apenas um dia, mas vou.
A primeira e última vez que eu fui, quenda, foi lá em 2001: eu trabalhava na assessoria de imprensa do Multishow e tentava ver se rolavam algumas aspas na cobertura que renderiam para os jornalistas.
Não rolaram, claro. Mas foi mais ou menos divertido. Como eu era muito mal humorado (mais ainda do que sou hoje), nem aproveitei para ver show.
Como sou uma pessoa educada e agradecida, vou contar para vocês nesse post o que a Natura vai fazer lá, pois foi ela que me deu convites! Obrigado, Natura <3
(Aliás, estou achando essa estratégia da Natura de patrocinar festivais de música muito legal, eles também estavam no Coala)

BOM, se eu entendi bem, a marca de beleza preparou uma experiência audiovisual imersiva nessa edição do Rock in Rio. São 14 sessões diárias de 14 minutos para 3.000 pessoas por vez, que vão acontecer no Velódromo nos dias do evento e trazem música especialmente gravada para a atração (Ritmo da Alma, composta por Zé Ricardo e que conta com vozes incríveis tipo Iza, Maria Rita, Elza Soares, Dona Onete, Gaby Amarantos e Rael) e até um cheirinho também exclusivo. Ou seja: experiência audiovisual e olfativa, e ainda uma cenografia com morros que as pessoas podem escalar, camas elásticas que as pessoas podem pular…

Cama elástica do espaço - foto de Gabriel Quintão

Cama elástica do espaço - foto de Gabriel Quintão

O espaço que se chama Nave – Nosso Futuro é Agora fica logo na entrada da Cidade do Rock. Devo passar lá - então você fica de olho nos meus stories lá no Instagram (@wakabara) que eu te mostro tudo!

A Natura também lançou produtos temáticos para a ocasião: são maquiagens da linha Faces (batons, pó compacto e caneta delineadora) e colônias da linha Humor. Pede para a sua consultora Natura para ver!

As colônias: a feminina é a da esquerda e a masculina a da direita

As colônias: a feminina é a da esquerda e a masculina a da direita

O lamenzinho é uma realidade

Sim, e ele se chama Lamenzinho.

Queria dizer que concordo com o Cup Man (o mascote do Cup Noodles): o Lamenzinho é chato.
A criação é da agência Dentsu Brasil, que cuida de outras marcas supernipônicas tipo Toyota, Ajinomoto…
Confesso que sou mais o Hiyoko-chan, pintinho mascote do clássico chicken ramen.

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Um clássico

Ainda vou tatuar Hiyoko-chan

E além de tudo Hiyoko-chan é satanista, olha que fofura:

É isso! Lamenzinho, você precisa de mais heavy metal para ficar mais legal.

Odair José & Diana: uma história bem atribulada

Um dos casais mais explosivos da história da música brasileira foi formado ainda nos anos 1960. Ana Maria Siqueira Iório e Odair José de Araújo estavam começando as carreiras artísticas como Diana e Odair José e se apaixonaram. Casaram-se oficialmente em 1973, quando paralelamente o sucesso para ambos chegou (Odair gravou seu clássico Vou Tirar Você Desse Lugar em 1972; Porque Brigamos e Ainda Queima a Esperança de Diana é do disco de estreia dela, também de 1972).

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Dizem que Diana pegou birra com jornalista e por isso é tão avessa a eles: o povo dava mais valor às histórias de brigas do casal do que ao trabalho artístico, principalmente o dela. Odair tem coisas incríveis em sua discografia (O Filho de José e Maria, por exemplo, do qual vamos falar daqui a pouco), mas Diana também, e a sensação é de que ele é muito mais incensado hoje que ela.
Justiça seja feita: a cantora Bárbara Eugenia resgatou Diana nessa década, cantando várias músicas do repertório dela e com ela! Foi Fernando Catatau quem apresentou Diana para Bárbara na discotecagem do aniversário da cantora em 2008.

E adivinha quem estimulou essa união? Sim, ele mesmo: Odair José. Bárbara cantou uma das músicas do repertório de Diana, Porque Brigamos, no programa Som Brasil da Globo dedicado ao brega (não concordo com o rótulo mas que seja). Odair estava no backstage e elogiou, disse que ela tinha que gravar a música, que combinava muito.
Bárbara gravou no álbum É o que Temos (2013). E aí Diana a procurou!
Mas Bárbara poderia ter conhecido Diana antes: em 2006, a linda versão de Everything I Own, original da banda Bread, que virou Tudo o que eu Tenho com Diana, era a música que abria o longa O Céu de Suely de Karim Aïnouz. Everything I Own já foi regravada por Olivia Newton-John, Culture Club do Boy George e até *NSYNC! Sinceramente? Não sei se é por causa do filme, que é lindo e delicado, mas para mim a versão da Diana é a melhor de todas disparado.

Voltando ao Odair José com Diana: a filha do casal, Clarice, nasceu em 1976. Em 1977, se separaram. Odair diz que eles foram o quarto casal a conseguir obter o divórcio no Brasil, em 1981, logo após a lei sair. E a coisa mais esquisita: quando Clarice ficou muito doente e foi internada no Hospital Sírio Libanês, Odair conheceu o segundo grande amor da sua vida. Era Jane, que trabalhava na administração do hospital.

Odair e Jane se casaram em 1984. Essa foto é de 2014, quando eles comemoram 30 anos de casados!

Odair e Jane se casaram em 1984. Essa foto é de 2014, quando eles comemoram 30 anos de casados!

Ficou uma história de que Diana teria esfaqueado Odair em dezembro de 1973, por causa de uma manchete do jornal O Dia. Ela defende que não é isso: a notícia seria um clickbait da época, porque se tratava de uma facada… financeira. Ela explica que Odair acreditou que se essa história de que ela tinha o agredido fosse mais divulgada ele ia vender mais. Essa é uma das maiores mágoas de Diana, que hoje faz shows pelo interior do Brasil (dizem que são animadíssimos, eu infelizmente nunca consegui ir em um).

Não é estranho que as referências sobre Odair José hoje quase nunca citam Diana e tudo que sai sobre a Diana fala de Odair? E não posso deixar de pensar que o esgotamento do sucesso dela, que foi tão famosa um dia, é relacionado com o preconceito co…

Não é estranho que as referências sobre Odair José hoje quase nunca citam Diana e tudo que sai sobre a Diana fala de Odair? E não posso deixar de pensar que o esgotamento do sucesso dela, que foi tão famosa um dia, é relacionado com o preconceito contra a mulher separada

Queria falar mais do trabalho da Diana primeiro: um nome importante por trás dos sucessos dela é Raul Seixas. Ele produziu as primeiras coisas dela, na CBS, inclusive o mítico álbum de estreia, o chamado "disco azul". Também compôs, desse primeiro repertório pós-tentativa de vendê-la como jovem guarda numa época que a jovem guarda já tinha acabado, Estou Completamente Apaixonada e Ainda Queima a Esperança com Mauro Motta. A artista diz que ele a chamava de sua "maluca beleza". O álbum é MARAVILHOSO. E é roqueiro sim!

O álbum de 1973, Uma Vez Mais, também é produção de Raulzito, portanto é bom:

Em 1974, Diana mudava de gravadora e deixava a parceria com Raul. O disco Você Prometeu Voltar é legal sim, contava com Jairo Pires e o então marido Odair José como produtores e traz músicas incríveis como Foi Tudo Culpa do Amor e pérolas escondidas como Que Vontade Eu Sinto de Voltar:

Já Odair vive sendo redescoberto a cada cinco minutos, né? Ele renega o título de terror das empregadas, porque diz que nunca foi bonito. Parece que aceita mais o título de Bob Dylan da Central. Uma das coisas que eu mais adoro da discografia dele é O Filho de José e Maria, uma tentativa de ópera-rock que não deu certo na época e hoje é cult. Ganhou versão ao vivo em 2014 - mais ou menos a mesma época que Bárbara Eugenia resgatou Diana!

Pensa que o disco foi lançado em 1977 e traz uma narrativa bombástica, tipo uma versão contemporânea de Jesus Cristo: diz que José e Maria não eram casados, que Jesus foi concebido tipo numa noite alegre e é isso aí, que o mesmo assume sua homossexualidade e usa drogas… E você achando Like a Prayer muito babado, né? A gravação contou com a guitarra de Hyldon (aquele da casinha de sapê!), piano de Robson Jorge (o parceiro de Lincoln Olivetti) e integrantes do Azymuth, o que garantiu um belo suíngue nas músicas.
Odair sofreu ameaça de excomunhão da igreja católica. Voltou para o repertório romântico mais popular, mas nunca mais alcançaria as mesmas vendagens de antes. Dele ainda recomendo o anterior Assim Sou Eu… (1972), o primeiro dele pela Polydor que conta com o instrumental da banda Azymuth, exceto a última faixa, Cristo Quem é Você, com arranjos de Zé Rodrix e acompanhamento luxuoso da banda Som Imaginário que fazia a cozinha de Milton Nascimento:

E claro, o clássico:

O curioso de Vou Tirar Você Desse Lugar é que ela foi um compacto lançado um pouco antes de Assim Sou Eu… e não entrou no álbum. Instigante!
Ah, e Odair jura que Vou Tirar Você Desse Lugar não é biográfica - ele explicou em uma edição de 2004 na revista Trip que nunca aconteceu de uma prostituta se apaixonar por ele. “Infelizmente não aconteceu. Porque se uma prostituta se apaixonar por você, ela será a mulher mais fiel do mundo. Se ela optar ficar com você, é porque encontrou o que quer."

Agora uma curiosidade mais instigante ainda. Não, não é a Sandy: Clarice Iório, a filha de Diana e Odair, cantando Bring me to Life. !!!!!! Filha de roqueira, roqueira é…

Uma reportagem pós-desquite (!): Clarice no colo de Diana. Na entrevista, Diana diz: “Elis é uma grande estrela; eu sou uma flor selvagem".

E é isso. Vou encontrar minha paz num mosteiro.
Ouçam Diana.

American Horror Story, nova temporada: uma bobagem

Sim, uma bobagem. O primeiro episódio de American Horror Story: 1984 não surpreende ninguém que viu os teasers e trailer. Ryan Murphy, o dono da coisa toda, parece estar mais preocupado e dedicado a outras coisas tipo The Politician da Netflix que vai estrear em breve (no dia 27/09) e Pose, que acabou de ganhar o prêmio de Melhor Ator de série de drama no Emmy para Billy Porter <3

Brooke (Emma Roberts) e Xavier (Cody Fern): no ritmo dos anos 1980

Brooke (Emma Roberts) e Xavier (Cody Fern): no ritmo dos anos 1980

São vários os defeitos, a começar por um ritmo meio estranho, muitos personagens de uma vez sem desenvolvê-los direito (geralmente o AHS é assim mesmo no primeiro episódio, mas nesse o climinha Malhação macabra se acentuou), e um ar de Scream Queens, a série de 2015 do mesmo Murphy que já abordava o terror adolescente com assassinato em série. Mas, como diriam os próprios assassinos - vamos por partes.

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A turma da aeróbica

Brooke, Chet (Gus Kenworthy) e Montana (Billie Lourd). Emma, desculpa, mas você é melhor quando você é má…

Enquanto Scream Queens se conectava mais à leva de terror adolescente dos anos 1990 (Pânico, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado…), portanto já era uma derivação da derivação, AHS: 1984 quer beber direto da fonte. Para isso, usa a temática do acampamento de verão (Sexta-Feira 13 total). Só que a narrativa parece corrida demais - talvez, sabendo como a cabeça do Ryan Murphy funciona, para uma reviravolta em breve. É provável que a trama não fique só no acampamento o tempo todo.
Fora isso, Murphy também aproveita para trazer uma outra temática que era subliminar nesse tipo de filme slasher, só que de maneira bem mais clara: o sexo. A menina mais pudica (que provavelmente não vai morrer, a menos que Murphy subverta essa lógica dos filmes originais), os gostosões e certo clima homoerótico (A Hora do Pesadelo 2 tem esse mesmo clima)… O primeiro episódio também contou com a releitura de um criminoso real, Richard Ramirez, apelidado Night Stalker - ele já tinha aparecido na temporada Hotel, a quinta, interpretado pelo mesmo ator, Zach Villa.

American Horror Story vem perdendo a mão faz um tempo. Eu até gosto da sétima temporada, Cult, apesar de muita gente já ter desistido de acompanhar justamente nesse ponto. A oitava, Apocalypse, foi uma besteira fan service com pouquíssimos bons momentos. Essa nona edição sofre com a falta de Sarah Paulson e Evan Peters, dois dos atores mais conectados com a série, praticamente “a cara” de AHS principalmente após a saída de Jessica Lange. Agora, se Murphy quer que essa sua criação viva até a décima temporada, é bom correr atrás. Tá fraco, viu? Fraco demais.

Richard Ramirez em AHS: 1984

Richard Ramirez em AHS: 1984