Primavera-verão 2020 à milanesa: Semana de Moda de Milão

Já falei da Prada em um post só dela, também já falei da Gucci, agora vamos ao resto da temporada de Milão de primavera-verão 2020! Ei-la:

Bom, teve isso, né…

Uma recriação do vestido Versace usado por J-Lo no Grammy de 2000 que estimulou o Google a criar o Google Images fechando o desfile de primavera-verão 2020! A minha amiga Fernandaxa, mais conhecida como Kate Moss brasileira (pelo menos por mim), falou dele no seu canal Hollywood Forever TV do YouTube faz POUCOS DIAS (porque ela é meio bruxa e deve ter adivinhado que isso ia acontecer no desfile da Versace):

Chocado com a Fernanda. Mas ganhar a Mega acumulada e dar um pouquinho para a gente nada, né, garota???

Lenços mil

Vai de lenço que agora é moda: nas laterais Dolce & Gabbana (incluída com relutância por motivos de Stefano Gabbana idiota, mas achei os looks legais de verdade), no centro Missoni.

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Gosto dessa bolsa porque o desenho parece o… Crackinho

É da Plan C, a marca da Carolina Castiglioni (filha da fundadora da Marni)

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E também tem look bom na Plan C

Eu gosto, você gosta? Coletão grandão com calça verdona, look de fashionista doida. Adoro fashionista doida!

Inspirado em John Lennon & Yoko Ono? GOSTO!

Melhor ainda se for MM6 Maison Margiela! Que sonho esse paletozinhoooo!

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Nova Scarlett O'Hara

Essa usou a rede em vez da cortina. Mas eu gostei?! kkkk Look da MSGM

Momentinho pop

Direto da passarela da GCDS: kawaii (repara que as modelos usam uma lente que aumenta a íris!), Jurassic Park e Ursinhos Carinhosos. Adoro!!!

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Agora um minuto para a palavra da Benetton

Porque sim, desde que Jean-Charles de Castelbajac assumiu a Benetton, eu GOSTO. Olha esse Popeye, amore!

Castelbajac se inspirou em marinheiros e também teve um momentinho flashback com reproduções de campanhas do fotógrafo Oliviero Toscani para a marca, que são grandes clássicos da propaganda de moda. Agora, com licença, eu vou precisar me estender mais na Benetton por motivos de…

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amooooor!

Que amoooooooor!!!

Lembra da Gabriela Braga, que desfilou um tempo na Casa de Criadores com a sua Gabrielab? Então! Tá trabalhando com o Castelbajac na Benetton. Luxo. Ai!!! Nunca imaginei que ia amar o color blocking de novo!

Falando em cores… "Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelooooo"

Gosto? Nem um pouco; mas é o que tá teno. Pinceladas multicoloridas.

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Amando esse look

A modelagem, proporção, comprimento. Oversize delícia! Talvez mudaria as cores. Mas se quiser me dar dessa cor mesmo, eu digo YES TO THE DRESS! É Bottega Veneta

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E esse look?

Gosto da transparência no peito e na bolsa, da meia verde com o sapato marrom… direto do desfile da Fendi. E esse curto com abotoamento duplo me lembra os…

Looks de fofitas

Achei uma graça essa coisa trapézio curto e quepe. Looks da Sportmax.

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Pra quem é cabeçuda

Look pijamão Antonio Marras. Que tal?

Gucci: de volta ao sexy, mas agora com um toque cabeça

A Gucci dos anos 1990 ficou famosa por explorar a sensualidade como principal característica da sua imagem. A estética capitaneada pelo estilista Tom Ford e pela stylist Carine Roitfeld ficou conhecida como porn chic, para você ter ideia.

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Tira a calça jeans

bota um fio dental etc.

Aí a marca passou por Frida Giannini (lembra? Pois eu tenho certa dificuldade em lembrar de algo dessa época) e aí chegou em Alessandro Michele, num desfile masculino no qual ele mexeu profundamente no styling e consequentemente na imagem da marca. Saía a sensualidade e entrava o gênero: a questão agora eram a androginia, a expressão da personalidade e individualidade mais do que o sexo.

O primeiro desfile de Alessandro Michele na Gucci, em 2015

O primeiro desfile de Alessandro Michele na Gucci, em 2015

Nessa primavera-verão 2020 recém-apresentada em Milão, Michele volta e reflete sobre essa herança cheia de sexo da Gucci. Só que ele o faz tanto explorando looks extremamente sensuais quanto refletindo sobre o papel da moda enquanto supressora da expressão individual, exercendo o seu poder para uniformizar a todos. Very Foucault of him, especialmente porque no seu caso essa sensualidade parece mais uma expressão individual também do que uma tentativa de normatização & padronização do sexo. No começo do desfile, entram 60 looks entre brancos e beges, afastados do corpo, com tiras afiveladas e amarrações, entre o utilitário e a camisa de força. Sabe a questão sobre uniformização que eu disse que a Gucci discutia no post imediatamente anterior a esse? Sobre Midsommar? Pois é.

ATUALIZAÇÃO 23/08/2019: A alusão à camisa de força não agradou todo mundo. A modelo Ayesha Tan-Jones escreveu um protesto na própria mão:

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Ela ainda declarou que essa referência à camisa de força e looks que se referem a pacientes de sanatório é "sem-imaginação e ofensiva". Veja mais no site da CNN.
Minha opinião? Acho que não é o meu lugar de fala, na verdade, mas superentendo. Também ficaria ofendidíssimo, e não tinha pensado nisso. Foda ver que coisas que fogem à sua realidade realmente te escapam e você pode ser insensível a respeito.
Fim da atualização!

 

Depois da sessão branca, blecaute e começa o desfile "de verdade". E aí, meu bem, é sexy na cabeça, com direito à ressuscitação daquele mesmo fio dental que você viu no começo desse post.

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Primeiro look: de peito aberto

Ele subverte o decote das costas com renda da foto clássica da musa de Yves Saint Laurent, Marina Schiano, que morreu nesse mês

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Essa aqui

Foto de Jeanloup Sieff da coleção de outono-inverno 1970 de Saint Laurent

Várias outras transparências disputam a atenção com fendas absurdas, decotes reveladores, looks levíssimos que propõe, por causa do casting de magérrimas sem curvas mais para exóticas que para beleza padrão, uma sensualidade diferente. Nas mãos, de vez em quando, pinta um chicotinho fetichista. Na trilha, aliás, aparece Madonna e sua Justify My Love!

A falta de diversidade de corpos me incomoda demais. Mas gosto da ideia dessa turma geek-hipster de Michele agora querendo sensualizar.

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A etiquetona na manga do paletó avisa:

Gucci Orgasmique! É também o nome da coleção

O vestido coluna com recorte estratégico: na esquerda o de hoje; na direito o do passado.

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E esse look?

Super Gucci e super Michele: encontro de imagens! E eu adoro esse verde claro <3

Mais uns outros lookinhos, não tão sensuais mas que amei, abaixo:

Assista ao desfile abaixo:

Midsommar: como um filme tão perturbado pode ser tão bonito?

Vi que o diretor Ari Aster, o mesmo de Hereditário, disse que Midsommar: O Mal Não Espera A Noite na verdade não é bem um terror, mas um filme sobre término de relacionamento disfarçado de terror.
Bom, não é bem assim: ele usa diversos elementos do terror, mas é um terror, digamos, diferente. Lembra que falei do pós-terror aqui?

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O filme que estreou essa semana em SP traz como protagonista Dani (Florence Pugh), que logo de cara passa por um trauma absurdo. Ela namora Christian (Jack Reynor), e ele está infeliz no relacionamento mas ao mesmo tempo não consegue se desvencilhar e terminar principalmente porque sabe que Dani está num momento difícil. E aí surge a oportunidade de uma viagem para a Suécia: Pelle (Vilhelm Blomgren), um amigo da universidade de Christian, chama o pessoal para participar do festival de solstício de verão na sua comunidade natal, a fictícia Hårga.
Não quero dar spoilers, então vou ficar mais na superfície e comentar o que achei do filme em linhas gerais.
Vou fazê-lo em formas de tópicos.

. A justificativa de que uma prática é cultural e portanto devemos respeitá-la é válida até que ponto? Vou usar um exemplo que não tem nada a ver com o filme: existe a lei islâmica de que a sentença do ladrão é cortar-lhe a mão. Uma prática horrorosa. Mas não é parte da cultura? Quem delimita o que pode ou não ser praticado na cultura de um povo?
Outra questão relacionada: as semelhanças entre um culto contemporâneo e o povo que a gente vê retratado em Midsommar são inegáveis, do alucinógeno ao isolamento do resto do mundo. Mas por que uma visão mente aberta e antropológica insistiria em ver isso como algo diferente, só porque é em um país "diferente"? Digo isso porque logo no começo do roteiro já fica claro que os personagens americanos homens estudam antropologia.

. Assim como Nós de Jordan Peele, Midsommar tem momentos de coralidade que esteticamente são muito atraentes e na metáfora dão uma sensação de estranhamento (coralidade no sentido de coral e coro). Só que em Midsommar o sentimento é mais misto: existe a questão da anulação do indivíduo em prol do coletivo, mas também da sensação de pertencimento, de acolhimento (coisa que a protagonista Dani não está sentindo da parte de Chris). O sofrimento é coletivo; a alegria também.

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. A direção de arte é impecável. A ressignificação da coroa de flores, caso o filme faça sucesso, vai ser um babado no próximo Halloween. Tem algo nesse terror psicológico de agora, novamente citando Nós e também The Handmaid's Tale, que trata o figurino com muito refinamento: o uniforme tanto como elemento da comunicação visual essencial da obra (aquela roupa vira um símbolo do filme ou da série) quanto como peça-chave da narrativa (nos 3, é importante essa identidade coletiva representada na roupa, forçada ou não). Dá para a gente começar a viajar nessa questão comparando com as blogueiras e seguidoras uniformizadas, mesma cara, mesmo cabelo, mesma roupa; e também de movimentos contrários a isso, valorizando o individual, como a passarela da Gucci e, recentemente, de Marc Jacobs.

. Não é só: o visual de Midsommar como um todo, a construção da vila… Muito bem feito. Aster criou toda uma mitologia sobre Hårga - até o alfabeto rúnico é na verdade inventado, assim como a língua, a ficcional Affekt. Para quem quiser saber mais, tem uns links bem legais, mas tudo com spoiler, cuidado: o Bustle se perguntou sobre o significado das runas; e o mesmo Bustle também quis saber mais sobre as pinturas nas paredes e tecidos, naïf e sinistras; enquanto o LA Times mergulhou em diversas perguntas, desde a criação de Hårga até elementos do roteiro.

. Vale a pena assistir? Para mim supervale, o meu marido achou chatíssimo. É um filme sobretudo muito caprichado do ponto de vista estético, e que acho que traz questões importantes em si.

Como é que vocês resistem às parcerias da Vivienne Westwood?

Quando era só com a Melissa eu nem ligava mas agora…
Primeiro veio a Asics deixando a gente completamente fissurado.

Tinha na Your ID que fica na Benedito Calixto mas não sei se tem mais; caso queiras, boa sorte!

Tinha na Your ID que fica na Benedito Calixto mas não sei se tem mais; caso queiras, boa sorte!

E hoje saiu a coleção da Vans com Vivienne em lançamento mundial. É de louvar de pé!

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Meu

Deus

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do

céu

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quero

todos

Especialmente esse último que cita a bota Pirates, um dos clássicos de Vivienne.

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A bota Pirates é essa aqui

Ela é meio horrorosa e eu a amo de paixão, tenho uma dois números menor que o meu pé e uso sofrendo porém me achando (é sério, é uma longa história)

E agora? Vamos falir juntos ou só eu e o meu marido, mesmo?
A coleção da Vans chegou em revendedores selecionados e nas lojas da marca que ficam nos shoppings de SP Ibirapuera, Bourbon e Morumbi. Arrasa!

Onde você estava em novembro de 1995?

Dependendo da sua idade você nem tinha nascido, né?
Eu ainda não tinha viajado para o exterior. Estava terminando a oitava série!!! O meu mundo era bem pequeno: mais especificamente consistia em Pinheiros. Meus amigos moravam em Pinheiros. Eu andava para lá e para cá em Pinheiros. A estação de metrô Clínicas ficava longíssimo - e ainda por cima era uma subida, eu hein. E certamente eu estava começando a fumar, ou prestes a: era L&M, que tinha a propaganda com o Evandro Mesquita e a rota 66 (!!!).
Bom, foi em novembro de 1995 que a Globo e Gloria Perez previram os relacionamentos via web. A webnamorada. Entre um empresário de nome pomposo, Júlio Falcão, e uma cigana, Dara. Era a novela Explode Coração. Chora, Tinder!

Júlio Falcão (Edson Celulari) entre Vera (Maria Luísa Mendonça) e Dara (Tereza Seiblitz)

Júlio Falcão (Edson Celulari) entre Vera (Maria Luísa Mendonça) e Dara (Tereza Seiblitz)

É um turbilhão de perguntas que surgem só de lembrar, não é mesmo? Por exemplo…

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O que aconteceu com o mundo desde então

para o Cigano Igor (Ricardo Macchi) hoje ser mais lembrado e conhecido que a Tereza Seiblitz?!

Essa vida é certamente muito misteriosa…
O que eu sei é que em novembro de 1995 internet era um assunto MUITO MODERNO. E que Gloria Perez, digam o que quiserem, popularizou a internet no Brasil. Ela própria conta que foi ridicularizada quando propôs o tema.
Mas brasileiro adora uma novidade, então… por que não, não é mesmo?
No ano seguinte, no Ensino Médio, me lembro que uma amiga minha, a Luciana, ia na minha casa para conversar num chat do UOL (!) com um cara que morava sei lá onde (!!) e eles marcavam um horário para encontrar no chat do UOL (!!!). Aí trocaram endereço e começaram a se corresponder por CARTA (!!!!) com direito a fotos reveladas (!!!!!) provavelmente tiradas numa daquelas câmeras de filme que a gente costumava ter, MEU DEUS.

Bom, para quem não se lembra o Júlio Falcão era casado com a Vera, mas era um casamento que ia de mal a pior. O site Ashley Madison, que se dedica a puladas de cerca entre gente casada, só foi criado em 2001. Então o Júlio teve que apelar para o chat, mesmo. Essa novela deve ter tido sua parcela na responsabilidade pela popularização dos chats do UOL, Bol, Terra, IG e congêneres.
Já Dara era cigana prometida para o cigano Igor (adoro que ele sempre é chamado de "cigano Igor") mas ansiava por liberdade, acessava internet escondida (HAHAHAHA) e fazia cursinho pré-vestibular.

"Agora eu arrumo um boy!”

"Agora eu arrumo um boy!”

Dizem que Explode Coração foi uma novela encaixada às pressas no horário das 20h. Ela veio após O Rei do Gado de Benedito Ruy Barbosa e em seguida apareceria A Próxima Vítima de Silvio de Abreu, só que as duas tinham brigas entre duas famílias italianas e a Globo achou melhor separá-las por alguma outra trama. Inicialmente, seria a adaptação de Mar Morto de Jorge Amado por Aguinaldo Silva, que a princípio foi concebida para ser uma minissérie, só que a ideia flopou (em 2001 Mar Morto virou Porto dos Milagres em formato de minissérie mesmo).
Então apareceu Explode Coração, que contava com Tereza Seiblitz em seu único papel como protagonista, sabe-se lá porquê - a achava uma boa atriz, de verdade.

Agora atenção para a abertura que previa os shows com hologramas e a Ana Furtado como substituta de todos (no caso de Tereza Seiblitz). E o ritmo Gypsy Kings todo todo, né?

Aliás, era na trilha sonora dessa novela que tinha Macarena e Estoy Enamorado! Amo!

Dá para lembrar também que esse foi o primeiro papel na Globo de Leandra Leal. Ela fazia a pentelha Ianca, irmã da Dara, que sonhava em casar. Já que na cultura cigana a irmã mais velha precisa casar primeiro para depois a irmã mais nova ter essa permissão, imagina, né?
Quem era apaixonado por Ianca? Vladimir, o personagem de Felipe Folgosi!
E tinha o Serginho, que era o primeiro namorado de Dara e depois se envolvia com a primeira mulher do padrasto, vai vendo. Serginho era vivido por Rodrigo Santoro, ainda cabeludo, e a primeira mulher do padrasto era Renée de Vieldmond.

Tabu até hoje, né?

Tabu até hoje, né?

Outro assunto babado que a novela tratava era o desaparecimento de crianças. O agora famoso Caso Evandro aconteceu em 1992 no Paraná, 3 anos antes.

Isadora Ribeiro vivia Odaísa, uma mãe que via seu filho desaparecer

Isadora Ribeiro vivia Odaísa, uma mãe que via seu filho desaparecer

E ainda tinha a Sarita Vitti, que na época chamavam de drag queen mas hoje a gente veria como uma mulher trans que trabalha como drag à noite. Ela era interpretada por Floriano Peixoto.

Aqui Sarita se pergunta quantos assuntos Gloria Perez consegue incluir em uma novela só

Aqui Sarita se pergunta quantos assuntos Gloria Perez consegue incluir em uma novela só

Mas o que eu amava mesmo era…

Ai, ai… em pensar que Gloria Perez ainda ia fazer O Clone, Caminho das Índias, América
Babado. Os tempos eram mais simples quando o nosso maior problema era discutir a verossimilhança das tramas dela.