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Akihiro Miwa icônica demais

February 25, 2021 by Jorge Wakabara in cinema, livro, música

Nossa senhora, isso que é MUSA.

Assisti ao filme Kurotokage com Akihiro Miwa, a versão de 1968 (existe uma de 1962), e depois Kuro Bara no Yakata, de 1969. É surreal como, no fim dos anos 1960, o Japão cheio de regras em relação a gênero apresentaria uma transformista como musa.
Ah, sim: Akihiro Miwa não é exatamente uma mulher trans. No lugar de determinar seu gênero, ele parece achar mais interessante a via do não-binário, do constante passeio entre gêneros. E isso parece que atrai ainda mais a atenção (e o deslumbramento) dos japoneses!

Mas vamos voltar para começo, quando Miwa ainda era artista de cabaré e, em 1957, gravou Me Que Me Que, um clássico da música francesa originalmente lançado por Gilbert Bécaud naquela mesma década.

A versão em japonês, malandrinha, fez sucesso. Miwa bombou. E parece que foi nessa época que o escritor Yukio Mishima, um machão de direita que surpreendentemente tinha muita sensibilidade nas suas obras, elogiou Miwa, dizendo que era como um “uma beleza dos céus", ou seja, um anjo. A comparação faz sentido no que eu já pesquisei e ouvi dizer sobre a homossexualidade japonesa. Acho que vale abrir um parênteses aqui para falar sobre isso – e um pouco mais sobre Mishima também.

Os rapazes prostitutos do Japão antigo

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O livro O Belo Caminho: História da Homossexualidade do Japão, de Gary P Leupp, explica bem que a homossexualidade não é algo "novo” ou "que os brancos trouxeram” para o Japão. Longe disso. O shudo, que se refere a uma estruturação específica de prática homossexual um pouco parecida com a da Grécia antiga, em que existe a figura do homem mais velho mentor e deflorador e o rapaz jovem, passivo, inocente e aprendiz, foi uma realidade em monastérios budistas com presença exclusiva masculina, e também nas relações entre samurais. Para mim também tem a ver com uma relação de dominação e submissão que, pelo pouco que sei e posso estar falando bobagem, é recorrente na sexualidade nipônica.

Com o tempo, meninos começaram a virar michês para sobreviver, muitos deles relacionados ao teatro kabuki, uma tradição dramatúrgica que não permite atrizes. Esses atores especializados em papéis femininos atraíram fãs e cobravam por sexo, alguns viravam amantes de homens ricos. Depois, existiram bordéis que já nem disfarçavam sob a fachada do teatro, só com rapazes. Eles se vestiam e se enfeitavam como moças.

A imagem do rapaz afeminado e submisso não ficou no passado. O filme Morte em Veneza (1971) foi uma grande referência no Japão – a figura de Tadzio (Björn Andrésen, que para quem não sabe é o ancião do sacrifício no recente Midsommar de 2019) era tudo que os japoneses achavam lindo. Androginia e mistério. Isso corre até os idols do j-pop, apresentados como sensíveis e com traços mais delicados, e respinga também no k-pop.

O próprio Andrésen virou uma celebridade no Japão. Quando ele visitava o país, as mulheres iam à loucura! A ponto de, bem… ele mesmo gravar músicas em japonês, tal qual um idol. Olha que loucura?

Yukio Mishima: um homossexual de direita?

Em 1951, Mishima lançou o livro Kinjiki, uma expressão que é um eufemismo para homossexualidade. Um trocadilho entre “cores proibidas” e “amores proibidos". A história, considerada autobiográfica por muitos, traz a relação entre um escritor mais velho e um rapaz jovem que confessa que vai casar com uma mulher por motivos financeiros, mas que não se sente atraído por ela nem por ninguém do sexo feminino. Críticos apontam uma misoginia forte enraizada no texto – um discurso de ódio contra as mulheres. Mas virou um clássico.
Acontece que Mishima foi casado com uma mulher, Yoko Sugiyama. E ela, por sua vez, odiava e negava os rumores sobre a homossexualidade do marido, mesmo que fosse público que ele, por exemplo, frequentava bares gays. Eles tiveram um par de filhos, inclusive.
Existe um livro não-autorizado, de 1998, de Jiro Fukushima. Ele alega que teve uma relação com Mishima em 1951. Foi um escândalo que acabou com Fukushima e a editora processados pela família de Mishima.

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Mishima tentou fazer um golpe de estado no Japão em 1970. Sério. Isso porque, antes de casar com Yoko, ele quase casou com Michiko Shoda, que depois virou imperatriz porque se casou com o príncipe Akihito! A tentativa de golpe não deu certo e ele cometeu seppuku, o suicídio ritualístico japonês, aos 45 anos de idade.

Voltemos para Akihiro Miwa.

Uma baita história

Miwa nasceu em Nagasaki e, sim, estava na cidade quando a bomba atômica explodiu em 1945, quando tinha 10 anos. Como outros sobreviventes, ele sofre com os efeitos da radiação.
Ainda na época de Me Que Me Que (ou Meke Meke), saiu do armário publicamente, declarando-se homossexual. Para quem não está familiarizado com a cultura japonesa: ser homossexual afeminado no Japão contemporâneo é um pouco diferente. Existe preconceito, mas também existe uma maior aceitação – a rejeição maior acontece justamente quando você não é afeminado e, na cabeça do povo, “confunde". Celebridades homossexuais que se travestem são famosas na TV e amadas, por exemplo (é o caso de Miwa, que nos anos 2000 virou uma celebridade televisiva de muita fama).

O boom desse primeiro hit arrefeceu e Miwa ficou mais apagadinho. Seu segundo hit só viria em 1965: Yoitomake no Uta. Composta por ele mesmo, tem uma pegada bem enka na sua temática, falando do esforço do trabalhador rural e como ele é digno (pelo menos acho que é isso, me desculpem se entendi errado!).

De volta ao sucesso, Miwa lançou sua autobiografia em 1968 e começou a atuar em peças de teatro. Uma delas, Kurotokage, foi baseada em um livro policial de Ranpo Edogawa e adaptada para o teatro por Yukio Mishima. A peça já havia sido montada com outras atrizes no papel principal da bandida Lagarto Negro (ou, em japonês, Kurotokage), mas foi com Miwa que ela chegou naquele ponto sublime de petardo pop. Tanto que… virou filme!

Miwa como Kurotokage no filme de 1968

Miwa como Kurotokage no filme de 1968

A história é um embate entre Kurotokage, essa bandida que gosta de roubar "coisas bonitas”, e o detetive Kogoro Akechi (Isao Kimura). Miwa está simplesmente magnética, arrebatadora, com figurinos babadeiros.

Incautos podem colocar o filme naquela caixa de “o queer sempre é o vilão, o errado". Mas acredito que Kurotokage é mais que isso. Kurotokage, a personagem, é bela, hipnotizante, e se deixa levar pela obsessão por tudo que é bonito. Também não vê o mundo como binário: enxerga a beleza nos homens e mulheres. Sua própria beleza está ligada à androginia. Mais do que camp, o filme é cheio de nuances, esteticamente instigante, transbordando pulsão de morte e sexo. Para mim, um dos filmes mais legais que já vi nos últimos tempos, sem exagero.

Vou dar um spoiler para explicar uma coisa muito importante, quem não quiser saber pode pular para / SPOILER TERMINA /.

/ SPOILER COMEÇA /

A criminosa Kurotokage tem uma coleção muito, er, peculiar. São corpos humanos bonitos, empalhados. Eles aparecem no filme, em seu covil, quando ela os exibe para a sequestrada Sanae (Kikko Matsuoka), que depois se revela ser uma sósia de Sanae contratada para se passar por ela.
A curiosidade: o homem empalhado que Kurotokage beija na boca é ninguém menos que… Yukio Mishima.
É um selinho apenas, OK. Mas é babado.
Isso alimentou os rumores de que Mishima e Miwa teriam tido um caso em algum momento da vida. Miwa já chegou a declarar que "Mishima não era um homossexual de verdade". Bicurioso, então? Enfim. O artista também se colocou contra o livro de Fukushima de 1998.
Como já contei lá em cima, Mishima morreu dois anos depois do filme lançado.

/ SPOILER TERMINA /

O trabalho na imagem de Miwa como uma mulher misteriosa e sedutora é típica do filme noir, mesmo que Kurotokage não seja um noir – a relação vem da inspiração, pois o argumento vem de um romance policial com direito a um superdetetive, mas a cinematografia também ajuda, cheia de sombras, ambientes noturnos.
Também acho interessante o jeito que o detetive é construído. Akechi tem prazer em desvendar os casos. A relação dele com Kurotokage é de interdependência, com ambos precisando dessa nêmesis para existirem em sua melhor performance. Ninguém é inocente. Akechi não é um herói. Ele depende do crime para fazer o que faz da vida: desvendá-lo.

Às vezes, Kurotokage fala com Akechi usando o espelho de seu bar. Eles são o espelho um do outro? Dois lados de uma mesma moeda?

Às vezes, Kurotokage fala com Akechi usando o espelho de seu bar. Eles são o espelho um do outro? Dois lados de uma mesma moeda?

Mas Miwa assumiria um papel ainda mais misterioso em Kuro Bara no Yakata, ou Mansão da Rosa Negra: o lagarto negro agora vira uma rosa negra no filme de 1969.

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A história de Kuro Bara no Yakata é de uma mulher misteriosa, Ryuko (Akihiro Miwa), que sempre carrega uma rosa inteira preta. Ela diz que, quando encontrar o verdadeiro amor, a rosa ficará vermelha. Uma coisa meio Bela e a Fera, né? Ninguém sabe do passado de Ryuko e ela atrai a atenção de Kyohei (Eitarô Ozawa), o dono da Mansão da Rosa Negra. O local é uma espécie de clube da alta sociedade, no qual Ryuko passa a se apresentar cantando e encantando (kkkkk desculpa, não resisti a essa frase feita). Os homens caem de amores, um pouco pelo mistério, um pouco pela beleza.

Homens do passado de Ryuko começam a aparecer. Eles alegam que se casaram ou que namoraram a musa, que ela os enlouqueceu ou que era má, mas seguem apaixonados. Ainda assim, Kyohei, que é casado e já tem dois filhos criados, torna Ryuko sua amante.

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Tudo parece ir bem até que o filho mais novo de Kyohei, Wataru (Masakazu Tamura), reaparece. Desde o começo, fica claro pela fala dos outros personagens que ele é um rapaz problemático, ovelha negra. E adivinha? Ele se apaixona por Ryuko…

Aqui, a figura de Ryuko, apesar de ainda mais misteriosa que a Kurotokage, é menos dúbia. Ela é a vamp, a que leva os homens à ruína. O toque subversivo fica por conta dessa figura tão desejada ser interpretada por um homem: a audiência sabia, o elenco sabia, todo mundo sabia. Não é um filme tão bom quanto Kurotokage, mas gostei.

Curiosidade: o diretor de ambos os filmes é Kinji Fukasaku. Em 2000, ele fez o filme que muita gente diz que influenciou Jogos Vorazes: a fábula sinistra Battle Royale.

Miwa acabou dando um tempo nas telonas após essa dobradinha e se dedicou à carreira de cantor. Isso deu em clássicos, como isso aqui:

Em 2012, já como uma personalidade consagrada no meio artístico, Miwa se apresenta pela primeira vez no tradicional Kôhaku Uta Gassen, o festival de fim de ano transmitido pelo canal NHK. Na época com 77 anos, ele foi a pessoa mais velha a se apresentar pela primeira vez no Kôhaku. E pelo que entendo também foi o artista que apresentou a música mais longa na história do festival, que costuma ser bem rígido com o tempo de apresentação dos artistas participantes, geralmente em torno de três minutos. Olha aí:

Antes disso, Miwa dublou um personagem de anime muito querido de quem curte Studio Ghibli. É a bruxa com papeira, como diria meu marido, de O Castelo Animado!

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Miwa segue vivíssimo. Vai fazer 86 anos.

Bônus: OLHA. ESSE. CLOSE.

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February 25, 2021 /Jorge Wakabara
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cinema, livro, música

O que aconteceu com a Irene Cara?

June 06, 2020 by Jorge Wakabara in música, cinema

Irene Cara tinha o mundo na palma da sua mão em 1983. Ela começou sua carreira jovem, uma blatina (negra e latina) que tinha tudo para dar certo no showbusiness norte-americano. Começou como uma artista mirim e chegou a lançar um disco em espanhol com nove anos de idade, uma relíquia que pouca gente ouviu.

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Aos 12 anos, Irene fez parte de um programa educativo da TV pública, tipo Castelo Rá-Tim-Bum, e chegou a fazer outros papéis dramáticos em séries e filmes. Um exemplo é Sparkle (1976), uma história à Dreamgirls (2006) na qual Irene faz uma das irmãs de um grupo musical, a Sparkle do título, que acaba conquistando uma carreira solo. O filme foi mal recebido na época mas ganhou um séquito de fãs. Chegou a rolar um remake em 2012.

Mas se Sparkle acabou não sendo um veículo para mostrar para um grande público tudo o que Irene era capaz de fazer, em 1980 chegaria a chance dela: era Fame, o musical sobre os estudantes de uma escola de artes performáticas. Irene não só fez um dos papéis principais (com uma maravilhosa franjinha de quarentena) e é a protagonista de uma das cenas mais dramáticas do filme, mas canta 3 músicas originais da trilha sonora: Fame, Hot Lunch e Out Here on My Own. A primeira e a última garantiram um fato inédito na história do Oscar: foi a primeira vez que duas músicas de um mesmo filme concorreram ao prêmio de Melhor Música Original. E a primeira vez que uma artista apresentou duas músicas na mesma cerimônia da Academia.

Imagina o quão emocionante deve ter sido assistir a tudo isso?!
A música Fame levou o Oscar de Melhor Música Original. E a trilha também levou o prêmio da noite.

Com isso tudo, qualquer um poderia imaginar que Irene Cara continuaria sua carreira mas que esse era o ápice. Só que a letra de Fame era premonitória: You ain't see the best of me yet.
Na sequência rolou um leve baque: Irene tentou emplacar uma sitcom estrelada por ela e chamada Irene. Não passou do piloto. Mas OK, o piloto não é ruim, então seguia tudo nos conformes.

Ao ser convidada para fazer parte da série de TV spin off de Fame em 1982, ela recusou a oportunidade repetir o papel de Coco Hernandez. Teria sido esse um outro passo em falso? Acho que não, apesar da série ter feito muito sucesso… na Inglaterra. Sério: os ingleses AMAM a série Fame, sabe-se lá o porquê.

Mas Irene lançaria um álbum pela Epic em 1982, o Anyone Can See. A Epic na época já era babadeira: tinha alguns dos grandes nomes do pop como Michael Jackson e Luther Vandross. Era dona do passe de uma outra latina que despontava: Gloria Estefan, ainda na banda Miami Sound Machine. Em 1984, lançaria o Make It Big do Wham! de George Michael. Ou seja: fazia sentido que ela quisesse transformar Irene numa superestrela, certo? Na minha opinião, o álbum possui clássicos injustiçados, como a balada que dá nome a ele e essa aqui:

Irene não faz parte do time de compositores de Reach Out I'll Be There, mas participa da criação de todas as outras canções do lado A. O álbum não foi mal nem bem nas vendas – apenas OK. Ele foi produzido pelo Ron Dante, que vem a ser nada menos que a voz de Archie na superbanda ficcional The Archies, rainha do bubblegum pop! (Guarda essa info não pelo Dante, mas por quem o Dante… não é!)

E aí veio o ano de 1983.
Tudo começou quando Giorgio Moroder e Keith Forsey receberam a notícia de que Joe Esposito (co-autor de nada menos que Bad Girls da Donna Summer) não seria mais o cantor da faixa Flashdance… What a Feeling para a trilha sonora de Flashdance. Queriam uma voz feminina, que cairia melhor já que a protagonista era uma mulher – e Esposito poderia continuar na trilha com a balada Lady, Lady, Lady.
Resultado: chamaram Irene. Diz a lenda que ela mudou a letra no carro a caminho do estúdio de gravação e assim assumiu um posto no time de compositores. Sorte a dela: Flashdance se transformaria na primeira música gravada por ela a alcançar o topo da parada da Billboard, uma trilha que vendeu muito.

E com isso ela ganhou o Oscar de Melhor Música Original de 1984 - já que fazia parte do time de compositores. Que tal?
Irene era Oscar material. Em 1985 ela fez outra apresentação ao vivo, sem concorrer:

Aliás, ela nunca mais concorreu ao Oscar. O que aconteceu?

Existem teorias. A primeira vem logo no álbum de 1983.

Escolhas erradas?

What a Feelin' também é o nome do álbum seguinte de Irene Cara. Ele foi produzido pelo mesmo Giorgio Moroder da trilha de Flashdance, que era o Midas de outra estrela, Donna Summer. O chauvinismo de críticos de música ignorou o fato de que Irene era compositora (apenas duas músicas das onze que fazem parte do álbum não tem o seu dedo) e tratou-a como um fantoche bem-produzido. Veja bem: ela já tinha sucessos. Era uma artista completa e qualquer um podia ver isso em filmes e apresentações ao vivo. Mas foi isso que aconteceu, a crítica esnobou. E o ponto mais alto que o disco chegou foi em 77º na parada da Billboard.

E o álbum é o quê? ÓTIMO. São letras de Irene Cara produzidas por Giorgio Moroder, bitch! O que você quer mais?

Outra coisa que prejudicou o lançamento foi não ter pego carona na cauda do cometa: Flashdance, o filme, foi lançado em abril. A trilha do filme foi lançada em março. Esse álbum de Irene saiu em novembro, em pleno inverno norte-americano, quando o single Flashdance já tinha dado tudo de si. E 1983 foi um ano difícil de bater, com Billie Jean e Beat It do Michael Jackson, Every Breath You Take do The Police, Down Under de Men at Work e Total Eclipse of the Heart de Bonnie Tyler. Irene não teve uma segunda chance de brilhar com as outras ótimas músicas desse disco fora Flashdance – a que chegou mais alto, em oitavo nas paradas, foi Breakdance.

As comparações com Donna Summer em si chegaram, e ambas possuíam um registro parecido de voz. Mas dizem que a coisa não parou por aí. Cara lançou esse álbum pela Network Records, o que traria um tanto de problemas para ela no futuro…

O cara errado

A gente não sabe se essas escolhas de 1983 foram erradas para Irene Cara ou poderiam ser melhores, porém existem fofocas muito plausíveis que dizem que ela se envolveu romanticamente com um homem errado. Não necessariamente porque o cara era do mal – a gente nem sabe quem é ele. Mas ele também era o interesse amoroso de… outro cara. Nada menos que David Geffen.

Esses são Lou Adler, Britt Ekland, David Geffen, Cher, Jack Nicholson e Angelica Huston no Grammy de 1974

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Para quem não conhece a história de Geffen, isso vai soar como piada, mas eu juro que é verdade:
Geffen já era um executivo bem-sucedido com a sua própria gravadora nos anos 1980. Mas antes, em 1973, ele foi o homem de ninguém menos que Cher. Eles ficaram juntos por dois anos. A própria Cher diz que ela foi o primeiro relacionamento sólido dele.
Em 1992, ele finalmente sairia do armário. Mas todo mundo já meio que sabia que ele era gay.
(Sim, caso não tenha ficado claro: ele é um homem gay cujo primeiro relacionamento sólido na vida, antes de sair do armário, foi a Cher)

Em algum momento da primeira metade dos anos 1980, aquele interesse amoroso de Irene Cara que citei anteriormente era o mesmo de David Geffen – ou é o que as fofocas dizem…
”Mas e daí?”, você me pergunta. Bem…

A Geffen Records comprou a Network Records em 1984 e Irene não recebeu o dinheiro do What a Feelin'. Ou, segundo as fofocas, recebeu apenas US$ 183! É mole? Dizem que ela correu para assinar com a EMI. Não contente, a Geffen proibiu-a de assinar com a EMI ou qualquer outra gravadora pois a artista ainda estava sob contrato da Geffen! A gravadora (ou seja, David Geffen), não satisfeita, a impediu de participar de trilhas sonoras, de gravar e até de apresentar sua música por um par de anos.

Além de rancoroso, Geffen é bilionário. O que a gente acha? Que um imposto sobre grandes fortunas não cairia nada mal por ali <3

Além de rancoroso, Geffen é bilionário. O que a gente acha? Que um imposto sobre grandes fortunas não cairia nada mal por ali <3

Irene Cara só conseguiria gravar algo em 1987. Lançado pela Elektra, Carasmatic foi produzido por George Duke. Flopou.

Irene diz que foi boicotada, queimada no meio pela "gravadora" – ela não diz nomes, mas a gente consegue ler “DAVID GEFFEN” escrito em uma placa luminosa atrás dela quando fala do assunto.
Até onde vai a vingança para uma bicha machucada, né? Que horror!
Geffen também foi o responsável por engavetar um disco duplo de Donna Summer, olha ela aí de novo, num momento-chave da carreira dela.

Alguém disse racista e misógino? Hum… Não é por nada, só me vieram esses adjetivos na cabeça.

Ah, existe mais um outro fator.

Cocaína

Irene já reconheceu publicamente que foi usuária de cocaína e depois lutou pela sua sobriedade.
Mas sinceramente: isso já aconteceu com outras estrelas e não prejudicou a capacidade delas de fazer sucesso. Portanto, acho que isso é um problema grave e importante da vida de Irene Cara, mas que não é motivo substancial para sua carreira não ter crescido e aparecido e hoje ela não ser tão famosa quanto uma Whitney Houston ou uma Celine Dion.

Irene Cara segue sua carreira longe dos blockbusters e do Hot 100. A última coisa grande que fez foi uma banda de mulheres, a Hot Caramel, que gravou um álbum em 2011.

E antes disso… Lembra do DJ Bobo? Aquele da eurobaba “everybody move your feet to the rhythm of this beat”… Pois é, rolou um dueto em 2001.

oh dear

#justiceforirenecara

Quem gostou desse post precisa ouvir o programa Sessão da Tarde no meu podcast sobre o filme Flashdance, que gravei com a Bia Bonduki:

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June 06, 2020 /Jorge Wakabara
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