Wakabara

  • SI, COPIMILA • COMPRE MEU LIVRO
  • Podcast
  • Portfólio
  • Blog
  • Sobre
  • Links
  • Twitter
  • Instagram
  • Fale comigo
  • Newsletter
sugar-babe.jpg

Sugar Babe: o começo do city pop

September 22, 2021 by Jorge Wakabara in música, TV

Já falei muitas vezes aqui sobre meu amor incondicional pela banda japonesa Happy End e como eles foram o começo de tudo. TUDO é muita coisa, eu sei - mas do começo da música pop japonesa, foram mesmo. Tem a ver com a Yumi Arai, por exemplo, que virou Yumi Matsutoya depois de casar; tem a ver com o Haruomi Hosono, membro da banda que depois fez parte do Yellow Magic Orchestra e é, pra mim, um dos maiores artistas e produtores pop que o Japão tem; tem a ver com Eiichi Ohtaki, que também viria a ser um produtor e cantor solo.
E tem a ver com o "último" show do Happy End (entre aspas porque depois rolaram uns shows de comeback), que deu no álbum ao vivo Live Happy End. Quem participa desse show? O Sugar Babe, uma banda que meio que herdou esse público (que era escasso, vamos falar a verdade: Happy End era uma banda underground durante a sua existência que depois adquiriu um status cult, Sugar Babe idem).

Se o Happy End teve vida curta, com apenas três discos de estúdio lançados, imagine que o Sugar Babe teve apenas um! Songs, de 1975, conseguiu ainda assim ser uma pedra de Roseta. Lançado pela gravadora Niagara, tinha produção de… Ohtaki (aliás, é ele quem está com a banda nessa foto do topo).

Então vamos começar - e enquanto isso você vai ouvindo uma coisinha.

(Downtown é o único single de Sugar Babe. E já é BEM city pop, vamos combinar!)

Tudo começa com Taeko Onuki. Ela entrou na faculdade de artes, ficava desenhando, bem esforçada, mas isso piorou um problema que ela tinha nos ombros. O médico a proibiu de continuar desenhando assim. Ela já gostava de cantar, então continuou cantando, apesar de não levar aquilo a sério. Aí a chamaram para participar de uma banda folk, a Sanrincha. Ela foi, mas não combinava – as letras que ela escrevia não tinha a ver com o estilo da banda. Acabou que se separaram.

taeko-onuki.jpg

Enquanto isso, em 1972, um cara chamado Tatsuro Yamashita estava produzindo e lançando o álbum independente Add Some Music to Your Day, com covers de Beach Boys e outros roquinhos. A gravação era meio uma ação entre amigos, e contou também com Kunio Muramatsu.

Pelo que entendi, existia uma loja de discos que Onuki frequentava e que fazia showzinhos no porão toda quarta-feira, após o horário comercial. Yamashita levou esse disco, Add Some Music to Your Day, para vender lá. O dono (ou gerente? acho que na verdade gerente) Yoshiro Nagato ouviu o disco, gostou e meio que rolou um “vem aí que a gente tá tirando um som no porão e tem uma cantora, a Taeko Onuki, que tá fazendo uma fita demo".
(Não deve ter sido assim, os japoneses são mais formais, mas você entendeu a ideia)
Foi assim que Onuki e Yamashita se aproximaram.

Uma foto mais recente de Onuki e Yamashita segurando o álbum e o single de Sugar Babe

Uma foto mais recente de Onuki e Yamashita segurando o álbum e o single de Sugar Babe

Nisso, Yamashita já estava pensando em ter uma banda para tocar suas músicas próprias – a que foi formada para gravar o Add Some Music to Your Day já estava dissolvida. A primeira pessoa que ele chamou? Onuki. Ela, que queria gravar solo depois da experiência ruim com a Sanrincha, acabou convencida. E ainda mudou de instrumento: voltou para o teclado, que era algo que não tocava desde que era pequena, porque Yamashita achava que “em banda, mulher tocava teclado” (hum, que cheirinho de irmãos Dias Baptista, né?).
Muramatsu se uniu a eles na guitarra, assim como os membros que depois sairiam Kikuo Wanikawa (baixo) e Akihiko Noguchi (bateria – esse tocou com bastante gente conhecida depois, como Mariya Takeuchi).

E aí decidiram o nome da banda, que veio de uma música do filme Zabriskie Point, de Michelangelo Antonioni. Não seria por falta de referências cult que eles fariam sucesso…

A partir daí, parece que Ohtaki (lembra? Lá do Happy End!) de alguma forma ouviu o disco de Yamashita, aquele Add Some… – e deve ter gostado porque começaram uma relação de amizade, com eles (Yamashita, Onuki e Muramatsu) visitando Ohtaki com constância. Foi aí que surgiu o convite para eles fazerem o coro naquele show do Happy End que citei no começo do post. Ao mesmo tempo, Onuki e Yamashita seguiram trabalhando em músicas próprias para o Sugar Babe.
Começaram a pintar mais shows ao vivo, para a própria banda. Foi um desses que Yumi Arai viu, o que resultaria também num convite para a banda participar de um disco dela.

Sobre essa coisa de todo mundo se conhecer e se cruzar, Onuki explicou em entrevista para o projeto Red Bull Music Academy:

“Like I mentioned, the dominant style in the mid-’70s was hard rock. There were a few people doing the poppier sound I was into, what ended up being called ‘new music’ in Japan, so when you’d hear someone doing something new, something I’d associate with what I was doing, you’d go out and gather together and play together. Looking back at it, something must have been blooming, based on all the names that started playing, many of whom are still active today.”
— Taeko Onuki na Red Bull Music Academy

Em 1974, no calor das criações do que viria a ser o disco Songs, Sugar Babe fez um show em Osaka que entrou para a história da banda. Mas não por ter sido um sucesso - eles foram vaiados! Onuki diz que o público gritava que eles soavam como um monte de cigarras.
Isso de alguma maneira me soa como um elogio? Enfim, não era um elogio. O som que Sugar Babe propunha era diferente, inclusive tecnicamente. Não entendo muito de música, porém me parece que eles usavam acordes de uma maneira que não era comum para bandas nipônicas de rock.
Ah, e isso é outro fator: o Sugar Babe era, mais do que rock, pop - coisa que não existia no Japão. Ou seja, provavelmente os jovens japoneses achavam que, entre os vendidos para o “inimigo capitalista estadunidense", o Sugar Babe era o mais vendido de todos!

sugar-babe-2.jpg

A gravação do Songs foi concluída em 7/03 de 1975. Em questão de meses – mais especificamente em julho – o Sugar Babes terminava seu contrato com o mítico selo Niagara, lar de vários álbuns que viraram clássicos raríssimos hoje em dia. A Niagara agora só iria ajudá-los nos shows.
Importante dizer que, na paralela, Yamashita ia fazendo outras coisas, tipo compor e arranjar Koibito to Yobarete, da cantora Mayumi Kuroki:

Também é em 1975 que uma estudante ouviu o Sugar Babe em uma apresentação ao vivo. Depois, ela virou cantora, casou com o band leader Yamashita e, produzida por ele, cometeu um hit que faria o City Pop voltar a ser conhecido nos anos 2000: Plastic Love. Sim: Mariya Takeuchi em si chegou a ver um show do Sugar Babe quando eles ainda existiam!

Se você observar a turma com quem esse pessoal tocava em shows , vai reparar em alguns outros nomes pulando por ali: Akiko Yano e Ryuichi Sakamoto (que depois casaram), o próprio Haruomi Hosono (ex Happy End e então futuro Yellow Magic Orchestra) e por aí vai.

Em janeiro de 1976, Yamashita reuniu Onuki e o resto da banda, tipo confraternização de Ano Novo, com uma má notícia: Yuata Uehara, que ficava a cargo da bateria, ia sair, e não havia substituto. O Sugar Babe acabou ali, apesar deles ainda terem participado de alguns shows. A sementinha, de qualquer forma, já estava plantada e ia dar muitos frutos…

Nesse mesmo ano, alguns outros discos começaram a aparecer. Um deles é o Niagara Triangle vol. 1, de Yamashita, Ginji Ito e Eiichi Ohtaki.

E no mesmo dia, 25 de março de 1976, saiu o álbum Flapper, de Minako Yoshida. Também é ligado ao Sugar Babe porque conta com vocais de Yamashita e Onuki em algumas músicas.

Uma coisa interessante dos integrantes do Sugar Babe é que o City Pop seguiu ligando-os. Yamashita, por exemplo, considerado o “rei do City Pop” por muita gente, lançou seu primeiro álbum solo em 1976 mesmo, o Circus Town. Hoje, toda a sequência que ele fez na década de 1970 é considerada um clássico (inclui o meu preferido Spacy de 1977, Go Ahead! de 1978, It’s a Poppin’ Time de 1978 e Moonglow de 1979). Em 1980, fez MUITO SUCESSO com Ride on Time, um álbum que teve a música homônima em trilha sonora de propaganda - acho que já falei por aqui sobre como isso é comum no Japão, músicas de comercial alcançarem o topo das paradas.

Ride on Time também traz uma música chamada My Sugar Babe, uma homenagem à banda!

E não estranhe os títulos em inglês de álbuns e músicas, isso é completamente normal no City Pop e algo que o j-pop herdou. Também é comum que as músicas tragam trechos das letras e/ou refrão em inglês.

E se Yamashita é o rei, Takeuchi é a rainha - já fiz um post bem extenso sobre ela e seu sucesso tardio do outro lado do mundo com Plastic Love, então leia lá!

Também em 1976, Taeko Onuki já saiu com um disco, o Grey Skies, que conta com guitarra de Hosono e teclados de Sakamoto. Mas é Sunshower de 1977, com seu som mais jazzy misturado ao pop, que viraria cult.

E Sunshower aparece num anime lançado recentemente. Isso mesmo, o disco em si.
Palavras que Borbulham como Refrigerante conta a história de um rapaz que odeio barulho e escreve haikais (aquelas poesias japonesas contemplativas com um número de sílabas contado) e de uma garota que é influencer e é complexada por ser dentucinha. Os dois se aproximam, mas aí surge uma história de fundo: a do Seu Fujiyama, que está numa procura incansável por um vinil que perdeu e só possui a capa.
Não vou dar spoiler, mas num certo momento da trama eles vão parar em uma loja de vinil e, entre os discos que aparecem, está o Sunshower.
A voz da música principal que toca no anime é de Taeko Onuki!

E também é importante dizer que a trilogia de destaque de Onuki é mais eletrônica do que o city pop costuma ser, com Romantique (1980), Aventure (1981) e Cliché (1982).

Acho importante dizer que Kunio Muramatsu, outro ex-integrante do Sugar Babe, também lançou discos solos na década de 1980, mas sem tanto destaque quanto Yamashita e Onuki.

Se você gostou desse post, acho que também vai gostar de:
. Plastic Love - a música que virou sucesso graças ao algoritmo do YouTube
. O bubblegum pop
. Babymetal e a lógica dos idols japoneses

September 22, 2021 /Jorge Wakabara
Happy End, Haruomi Hosono, pop, Eiichi Ohtaki, Sugar Babe, cult, Niagara Records, City Pop, Taeko Onuki, Tatsuro Yamashita, The Beach Boys, Kunio Muramatsu, Yoshiro Nagato, Kikuo Wanikawa, Akihiko Noguchi, Mariya Takeuchi, Zabrinskie Point, Michelangelo Antonioni, The Youngbloods, Osaka, rock, Mayumi Kuroki, Yellow Magic Orchestra, Yuata Uehara, Ginji Ito, Minako Yoshida, Japão, j-pop, Palavras que Borbulham como Refrigerante
música, TV
mariya-takeuchi-plastic-love.jpg

Plastic Love: a música japonesa que o algoritmo do YouTube fez virar a tradução de pop perfection no mundo

December 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Descobri um pecado meu. Com todo esse tempo do blog, eu nunca falei sobre uma das minhas músicas preferidas da VIDA por aqui. Nem sobre sua autora e cantora, Mariya Tekeuchi. Nem sobre o marido dela, o também cantor Tatsuro Yamashita, que produziu a faixa. Nem sobre City Pop em si!
Na verdade, eu falei sobre Plastic Love lá no segundo episódio da primeira temporada do Quatrilho, programa do meu podcast!

Quem já ouviu já sabe de quase tudo que eu vou falar aqui. Quem não ouviu tem as duas opções: ouvir ou ler esse post! Vamos?

city-pop.jpg

Uma breve introdução: o que é City Pop?

Acho que eu também nunca expliquei essa evolução da música pop japonesa até chegar ao j-pop por aqui.

Teve uma hora, tipo anos 1970, que o pop com cara de folk apareceu no país. Mas ele ainda era meio de protesto. E também tinha a turma do rock adolescente, muito na onda do mítico show dos Beatles no Budokan em 30/06/1966. Muita banda surgiu dessa apresentação – um movimento que também pintou em vários lugares do ocidente como no próprio Brasil, com a Jovem Guarda.

Só que existia o mito que a língua japonesa não podia ser a do rock: era impossível de combinar. Rock tinha que ser em inglês. E também tinha a turma que olhava o rock como música alienada: bom mesmo era o folk mais cabeçudo. Ou o enka, estilo japonês de música que emula melodias tradicionais e temas nostálgicos com orquestração ocidentalizada.

E aí surgiu o Happy End, sobre o qual já falei aqui, que fazia uma espécie de folk rock – ou seja, era rock – em japonês. O Happy End não foi sucesso de vendas (ele só virou um hit depois, numa pegada cult). A banda faz parte da gênese do que se convencionou chamar por lá de new music: uma espécie de soft rock nipônico. Com o fim do Happy End (sem trocadilhos! kkkk), dois integrantes, Shigeru Suzuki e Haruomi Hosono, foram para a Tin Pan Alley com Masataka Matsutoya e Tatsuo Hayashi. Chegaram a gravar discos sob esse título. Olha:

Mas antes de ser o Tin Pan Alley, esse mesmo grupo assinava como Caramel Mama. E fizeram a cozinha de nada menos que o disco de estreia de Yumi Arai.

Yuming (o apelido de Yumi Arai) é uma das peças-chave para entender a new music pois é um dos seus principais nomes. Depois de alguns álbuns, Yuming passou a assinar como Yumi Matsutoya porque casou com o Masataka, integrante da Tin Pan Alley. Ele produziu os álbuns dela e, assim, os dois formaram um dos pilares desse novo estilo que conquistava as paradas.

Da new music, apareceu outra coisa: o City Pop.
Em contraponto do enka e da tradição em geral mas também se afastando do folk e do rock, o City Pop era assumidamente comercial, amava sintetizadores e naipe de metais, e gostava muito de falar sobre elementos da vida urbana moderna: compras, carro, telefone, barzinho, boate…
Lembra algo? Algo que rolou no Brasil, mais especificamente?
Sim, estou falando dele mesmo e vou usá-lo para exemplificar.

ritchie-anos-80.jpg

O inglês Ritchie fez no Brasil, guardadas as diferenças culturais, a mesma coisa que Anri, Taeko Ohnuki, Junko Ohashi, Eiichi Ohtaki, Tatsuro Yamashita e, claro, Mariya Takeuchi, entre tantos outros, fizeram no Japão.
O primeiro disco solo de Ritchie, Vôo de Coração, saiu em 1983 e era City Pop para japonês nenhum botar defeito. A segunda faixa, A Vida Tem Dessas Coisas, é sobre um ex-casal que fica preso no elevador. Apartamento, interfone, relacionamentos fugazes – tá tudo ali.

Vôo de Coração foi o disco que mais vendeu no seu ano de lançamento. Ultrapassou as vendas até de Roberto Carlos. Seu sucesso foi também sua sina: acabou considerado popular demais. De moderno, passou a ser encarado como brega. Ritchie, a figura mais bem sucedida do BRock, caiu em desuso em seguida.

E se a gente analisar agora, com distância, Ritchie realmente foi o precursor do som que caracterizou o neo-sertanejo do fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990 – não só por ter sua Menina Veneno regravada por Zezé di Camargo & Luciano, mas porque o neo-sertanejo também tem um pouco de City Pop (POLÊMICAAAA!). O estilo deixa os temas rurais e parte para o romantismo cheio de sintetizadores: afoga as lágrimas num copo de cerveja, veste um paletó (com um fio de cabelo), usa o telefone (ligando para mim, não, não liga para ele – ou no toque do seu telefone… Você vai ver!)… O êxodo rural e a urbanização do Brasil ganhavam uma trilha sonora um tanto tardia, mas avassaladora em termos de vendas.

Digressão feita… Vamos para ela?

I know it's Plastic Love

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Essa é uma história sobre o mistério que ronda o algoritmo.

Em 2017, alguém fez um upload da música Plastic Love, originalmente lançada em 1984, no YouTube. O usuário PlasticLover, que não existe mais, usou um remix mais longo da canção com uma imagem que na verdade não correspondia a ela: realmente era uma foto de Mariya Takeuchi, a cantora, mas a foto saiu na capa do single de outra música, Sweetest Music.

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

E aí, alguma coisa aconteceu com o algoritmo. Será que todo mundo que via esse meio sorriso, esse movimento jogando o cabelão e o nome do vídeo, Plastic Love, ficava tentado a clicar? E o YouTube foi entendendo que aquele vídeo era irresistível? Não sabemos o motivo real, mas essa publicação passou a aparecer entre os recomendados da coluna da direita (para quem usa desk) ou embaixo do vídeo (para mobile) para um monte de gente, do nada. Gente que nem ouvia música japonesa, que não tinha demonstrado o menor interesse pela cultura do Japão. E aí essa música ganhou mais de 22 milhões de views!!!

Plastic Love na verdade faz parte do álbum Variety, que Takeuchi lançou depois de uma pausa de 3 anos na carreira dela. Ele é o primeiro que traz apenas composições dela, e vendeu mais que os seus anteriores – ou seja, era um degrau rumo ao sucesso. Mas, na época, era só um degrau mesmo: a consagração de vender mais de um milhão de cópias viria apenas no disco seguinte, Request, de 1987.

plastic-love-single.jpg variety-album.jpg request.jpg

Tatsuro Yamashita, o produtor de Plastic Love que aparece creditado na capa do single, também era (e é) marido de Takeuchi. Eles se casaram em 1982, ou seja, no intervalo de 3 anos da carreira dela. Yamashita é considerado um dos principais nomes do City Pop: é o "rei" deles. Não só produz mas também tem um trabalho próprio.
Um dos seus principais álbuns é Spacy, de 1977, considerado precursor do City Pop que explodiu nos anos 1980.

E Plastic Love em si? Acho que o mistério em torno dela colaborou ainda mais para o sucesso tardio. Veio casada com o vaporwave, virou sua trilha sonora mais querida e despertou memes, fan art, vídeos ilustrados com cenas retrô de animes. E a Vice chegou a chamar a canção de melhor música pop do mundo.

Clique aqui para ler o artigo completo

Clique aqui para ler o artigo completo

O mais instigante é que a música fala sobre a artificialidade das relações amorosas. A letra é em japonês, mas quando quem não entende japonês traduz (via Google Translator ou sei lá), fica ainda mais fissurado: o significado da mensagem ressoa nas relações de hoje. Pouco, ou nada, mudou.

“A letra conta a história de uma mulher que perdeu o homem que ela amava de verdade e, não importa quantos outros caras a procurem, ela não poderia afastar o sentimento de solidão que essa perda criou.”
— Mariya Takeuchi para o Japan Times

E por que o tal vídeo com tantas visualizações não está mais no ar? Você pode achar que foi a gravadora japonesa que derrubou, mas está errado. A resposta está em Alan Levenson… o fotógrafo da foto que virou um clássico tardio.

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Levenson era assistente de um outro fotógrafo, que era o profissional que a gravadora queria que fizesse os cliques de Mariya em Hollywood para o Miss M de 1980. O valor que a gravadora ia pagar era muito baixo, o fotógrafo não quis e Levenson se ofereceu. Levou Mariya para um estúdio e pronto: estava feito o ensaio.

Ele não foi creditado no upload do vídeo do PlasticLover e ficou bolado. Pediu para o YouTube derrubar por uso indevido de imagem. Mas aí o estrago já estava feito: Plastic Love já era um sucesso tardio e a foto também.
Hoje existem vários uploads da mesma Plastic Love espalhados pela rede (inclusive usando a mesma foto!). A versão original ainda não subiu no Spotify até hoje – o que você encontra por lá são versões de outros artistas. Vou deixar aqui uma das minhas preferidas: a da Chai.

Como eu já disse, Mariya viraria uma superartista, vendendo pencas, em 1987. Plastic Love é meio desconhecida pela maior parte dos japoneses.
E isso é apenas uma parte infinitamente pequena do City Pop, um estilo de música japonês que virou cult… entre não-japoneses! Kkkkkkkkkkkkkkkk!

Se você gostou desse post, pode gostar desses outros também:
. A democratização do kawaii com a Chai
. Momoe Yamaguchi, rainha de TUDO
. Uma thread sobre uma das minhas músicas preferidas de todo o tempo – que vem a ser do primeiro disco de Yumi Arai

December 07, 2020 /Jorge Wakabara
Mariya Takeuchi, City Pop, Tatsuro Yamashita, folk, pop, anos 1970, anos 1980, enka, memória afetiva, Happy End, new music, soft rock, Shigeru Suzuki, Haruomi Hosono, Tin Pan Alley, Masataka Matsutoya, Tatsuo Hayashi, Caramel Mama, Yumi Arai, Yuming, sintetizador, Ritchie, Japão, BRock, neo-sertanejo, sertanejo, Zezé di Camargo & Luciano, romantismo, êxodo rural, algoritmo, YouTube, vaporwave, meme, fan art, retrô, Alan Levenson, Chai
música

Powered by Squarespace