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Plastic Love: a música japonesa que o algoritmo do YouTube fez virar a tradução de pop perfection no mundo

December 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Descobri um pecado meu. Com todo esse tempo do blog, eu nunca falei sobre uma das minhas músicas preferidas da VIDA por aqui. Nem sobre sua autora e cantora, Mariya Tekeuchi. Nem sobre o marido dela, o também cantor Tatsuro Yamashita, que produziu a faixa. Nem sobre City Pop em si!
Na verdade, eu falei sobre Plastic Love lá no segundo episódio da primeira temporada do Quatrilho, programa do meu podcast!

Quem já ouviu já sabe de quase tudo que eu vou falar aqui. Quem não ouviu tem as duas opções: ouvir ou ler esse post! Vamos?

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Uma breve introdução: o que é City Pop?

Acho que eu também nunca expliquei essa evolução da música pop japonesa até chegar ao j-pop por aqui.

Teve uma hora, tipo anos 1970, que o pop com cara de folk apareceu no país. Mas ele ainda era meio de protesto. E também tinha a turma do rock adolescente, muito na onda do mítico show dos Beatles no Budokan em 30/06/1966. Muita banda surgiu dessa apresentação – um movimento que também pintou em vários lugares do ocidente como no próprio Brasil, com a Jovem Guarda.

Só que existia o mito que a língua japonesa não podia ser a do rock: era impossível de combinar. Rock tinha que ser em inglês. E também tinha a turma que olhava o rock como música alienada: bom mesmo era o folk mais cabeçudo. Ou o enka, estilo japonês de música que emula melodias tradicionais e temas nostálgicos com orquestração ocidentalizada.

E aí surgiu o Happy End, sobre o qual já falei aqui, que fazia uma espécie de folk rock – ou seja, era rock – em japonês. O Happy End não foi sucesso de vendas (ele só virou um hit depois, numa pegada cult). A banda faz parte da gênese do que se convencionou chamar por lá de new music: uma espécie de soft rock nipônico. Com o fim do Happy End (sem trocadilhos! kkkk), dois integrantes, Shigeru Suzuki e Haruomi Hosono, foram para a Tin Pan Alley com Masataka Matsutoya e Tatsuo Hayashi. Chegaram a gravar discos sob esse título. Olha:

Mas antes de ser o Tin Pan Alley, esse mesmo grupo assinava como Caramel Mama. E fizeram a cozinha de nada menos que o disco de estreia de Yumi Arai.

Yuming (o apelido de Yumi Arai) é uma das peças-chave para entender a new music pois é um dos seus principais nomes. Depois de alguns álbuns, Yuming passou a assinar como Yumi Matsutoya porque casou com o Masataka, integrante da Tin Pan Alley. Ele produziu os álbuns dela e, assim, os dois formaram um dos pilares desse novo estilo que conquistava as paradas.

Da new music, apareceu outra coisa: o City Pop.
Em contraponto do enka e da tradição em geral mas também se afastando do folk e do rock, o City Pop era assumidamente comercial, amava sintetizadores e naipe de metais, e gostava muito de falar sobre elementos da vida urbana moderna: compras, carro, telefone, barzinho, boate…
Lembra algo? Algo que rolou no Brasil, mais especificamente?
Sim, estou falando dele mesmo e vou usá-lo para exemplificar.

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O inglês Ritchie fez no Brasil, guardadas as diferenças culturais, a mesma coisa que Anri, Taeko Ohnuki, Junko Ohashi, Eiichi Ohtaki, Tatsuro Yamashita e, claro, Mariya Takeuchi, entre tantos outros, fizeram no Japão.
O primeiro disco solo de Ritchie, Vôo de Coração, saiu em 1983 e era City Pop para japonês nenhum botar defeito. A segunda faixa, A Vida Tem Dessas Coisas, é sobre um ex-casal que fica preso no elevador. Apartamento, interfone, relacionamentos fugazes – tá tudo ali.

Vôo de Coração foi o disco que mais vendeu no seu ano de lançamento. Ultrapassou as vendas até de Roberto Carlos. Seu sucesso foi também sua sina: acabou considerado popular demais. De moderno, passou a ser encarado como brega. Ritchie, a figura mais bem sucedida do BRock, caiu em desuso em seguida.

E se a gente analisar agora, com distância, Ritchie realmente foi o precursor do som que caracterizou o neo-sertanejo do fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990 – não só por ter sua Menina Veneno regravada por Zezé di Camargo & Luciano, mas porque o neo-sertanejo também tem um pouco de City Pop (POLÊMICAAAA!). O estilo deixa os temas rurais e parte para o romantismo cheio de sintetizadores: afoga as lágrimas num copo de cerveja, veste um paletó (com um fio de cabelo), usa o telefone (ligando para mim, não, não liga para ele – ou no toque do seu telefone… Você vai ver!)… O êxodo rural e a urbanização do Brasil ganhavam uma trilha sonora um tanto tardia, mas avassaladora em termos de vendas.

Digressão feita… Vamos para ela?

I know it's Plastic Love

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Essa é uma história sobre o mistério que ronda o algoritmo.

Em 2017, alguém fez um upload da música Plastic Love, originalmente lançada em 1984, no YouTube. O usuário PlasticLover, que não existe mais, usou um remix mais longo da canção com uma imagem que na verdade não correspondia a ela: realmente era uma foto de Mariya Takeuchi, a cantora, mas a foto saiu na capa do single de outra música, Sweetest Music.

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

E aí, alguma coisa aconteceu com o algoritmo. Será que todo mundo que via esse meio sorriso, esse movimento jogando o cabelão e o nome do vídeo, Plastic Love, ficava tentado a clicar? E o YouTube foi entendendo que aquele vídeo era irresistível? Não sabemos o motivo real, mas essa publicação passou a aparecer entre os recomendados da coluna da direita (para quem usa desk) ou embaixo do vídeo (para mobile) para um monte de gente, do nada. Gente que nem ouvia música japonesa, que não tinha demonstrado o menor interesse pela cultura do Japão. E aí essa música ganhou mais de 22 milhões de views!!!

Plastic Love na verdade faz parte do álbum Variety, que Takeuchi lançou depois de uma pausa de 3 anos na carreira dela. Ele é o primeiro que traz apenas composições dela, e vendeu mais que os seus anteriores – ou seja, era um degrau rumo ao sucesso. Mas, na época, era só um degrau mesmo: a consagração de vender mais de um milhão de cópias viria apenas no disco seguinte, Request, de 1987.

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Tatsuro Yamashita, o produtor de Plastic Love que aparece creditado na capa do single, também era (e é) marido de Takeuchi. Eles se casaram em 1982, ou seja, no intervalo de 3 anos da carreira dela. Yamashita é considerado um dos principais nomes do City Pop: é o "rei" deles. Não só produz mas também tem um trabalho próprio.
Um dos seus principais álbuns é Spacy, de 1977, considerado precursor do City Pop que explodiu nos anos 1980.

E Plastic Love em si? Acho que o mistério em torno dela colaborou ainda mais para o sucesso tardio. Veio casada com o vaporwave, virou sua trilha sonora mais querida e despertou memes, fan art, vídeos ilustrados com cenas retrô de animes. E a Vice chegou a chamar a canção de melhor música pop do mundo.

Clique aqui para ler o artigo completo

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O mais instigante é que a música fala sobre a artificialidade das relações amorosas. A letra é em japonês, mas quando quem não entende japonês traduz (via Google Translator ou sei lá), fica ainda mais fissurado: o significado da mensagem ressoa nas relações de hoje. Pouco, ou nada, mudou.

“A letra conta a história de uma mulher que perdeu o homem que ela amava de verdade e, não importa quantos outros caras a procurem, ela não poderia afastar o sentimento de solidão que essa perda criou.”
— Mariya Takeuchi para o Japan Times

E por que o tal vídeo com tantas visualizações não está mais no ar? Você pode achar que foi a gravadora japonesa que derrubou, mas está errado. A resposta está em Alan Levenson… o fotógrafo da foto que virou um clássico tardio.

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Levenson era assistente de um outro fotógrafo, que era o profissional que a gravadora queria que fizesse os cliques de Mariya em Hollywood para o Miss M de 1980. O valor que a gravadora ia pagar era muito baixo, o fotógrafo não quis e Levenson se ofereceu. Levou Mariya para um estúdio e pronto: estava feito o ensaio.

Ele não foi creditado no upload do vídeo do PlasticLover e ficou bolado. Pediu para o YouTube derrubar por uso indevido de imagem. Mas aí o estrago já estava feito: Plastic Love já era um sucesso tardio e a foto também.
Hoje existem vários uploads da mesma Plastic Love espalhados pela rede (inclusive usando a mesma foto!). A versão original ainda não subiu no Spotify até hoje – o que você encontra por lá são versões de outros artistas. Vou deixar aqui uma das minhas preferidas: a da Chai.

Como eu já disse, Mariya viraria uma superartista, vendendo pencas, em 1987. Plastic Love é meio desconhecida pela maior parte dos japoneses.
E isso é apenas uma parte infinitamente pequena do City Pop, um estilo de música japonês que virou cult… entre não-japoneses! Kkkkkkkkkkkkkkkk!

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December 07, 2020 /Jorge Wakabara
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Miley Cyrus, cadê o AOR?

December 05, 2020 by Jorge Wakabara in música

A cantora Miley Cyrus vinha numa onda AOR. Sabe o que significa a sigla? É Adult-Oriented Rock (ou album-oriented rock, um conceito primo, rock feito para álbuns e não para singles, para ser ouvido num álbum inteiro). Isso é muito diferente das origens do rock: nos anos 1950 e 1960, o rock era a trilha sonora dos jovens, esse público que foi descoberto pela indústria como um mercado com potencial gigante na época. E era mesmo!

A minha teoria (que na verdade é bem lógica e nada inovadora, certeza que devem existir mil pessoas que pensaram a mesma coisa) é que esse público do rock cresceu, virou adulto e queria continuar escutando rock. Os roqueiros também cresceram e sua música, consequentemente, amadureceu. Normal. Os próprios Beatles, principalmente Paul McCartney e George Harrison, seguiram suas carreiras no AOR. É aquele soft rock Alpha FM: Carole King, Fleetwood Mac, America, Carly Simon, Bread… O tal rock de tio, sabe? Risos!

Muita gente acha bem pau molão – afinal, soft rock. Não tô nem aí: adoro e ouço muito. Aqui no Brasil, acho que um dos maiores exemplos é o Clube da Esquina, mas em maior ou menor grau quase todo mundo da MPB flertou com soft rock. O rock rural é bem AOR.
(E depois viria um cara chamado Ritchie, na minha modesta opinião o ápice tardio disso no país em relação a vendas, mas estou preparando um outro post que vai falar disso e de outras coisinhas, como o AOR japonês – que por lá se chama new music e City Pop. Aguarde!)

Bom, e aí chegamos em Miley.

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Miley teve uma carreira digna de estudo, é um case. Ex-act da Disney, cresceu sob escrutínio do público e, para a virada, precisava convencer as pessoas que não era mais criança e que podia ser cool ouvir sua música. Algo interessante é que ela já tinha um hit blockbuster no currículo antes da virada: era Party in the USA, que conseguiu furar o bloqueio do pop adolescente e foi ouvida-dançada-curtida por todo mundo. Virou, segundo Kendall Jenner, um clássico. Sério, olha aí:

Miley podia ter tentado convencer lá no começo dos anos 2010 fazendo um álbum cabeça, uma coisa conceitual, mas sem dúvida isso teria dado mais trabalho. Ela foi pelo caminho do impacto com Bangerz e o twerking (sobre o qual foi acusada de apropriação cultural, uma das primeiras vezes que uma discussão do tipo foi parar na grande mídia). Mas com um pezinho no AOR sim: Wrecking Ball era baladão de estádio, digno de Journey.

Wrecking Ball tem nada menos que mais de um bilhão de views no YouTube.

Após o sucesso de Bangerz, veio Miley Cyrus & Her Dead Petz, uma doideira recusada pela gravadora e lançada de maneira mais independente, e Younger Now, um disco bacaninha e bem AOR mas carente de hits (Malibu não é um hit, desculpa aí, rapaziada).

E aí Miley começou a lançar músicas esporádicas por um tempo, que não foram para um álbum de carreira dela. A bela sequência começou com Nothing Breaks Like a Heart, AOR de primeiríssima, colaboração com Mark Ronson que flerta com a disco music e com o country mas que no fundo é uma balada meio inclassificável (é bom chamá-la de AOR porque o estilo inclui essa coisa híbrida, mesmo).

Nothing Breaks não virou o big hit que merecia mas deu para perceber que agradou um público mais velho (e talvez por isso não tenha virado um big hit).

O plano de Miley após isso era lançar uma sequência de 3 EPs: She is Coming, She is Here e She is Everything. Os três formariam o She is Miley Cyrus, seu novo álbum. Mas só o She is Coming saiu. Ele é bem bom, e bem AOR, mas para um EP de apenas 6 faixas podia ser ainda melhor. Enfim, vale ouvir.

Rolaram também umas bobeiras no caminho tipo a música do novo filme de As Panteras e as do episódio de Black Mirror do qual ela participou. Mas quando veio Slide Away (e com isso a gente percebeu que She is Miley Cyrus de fato não ia sair), pensamos: CARACA, ela é o AOR encarnado, o AOR não morreu, ela modernizou o AOR!

O single do que seria revelado seu próximo álbum meio que confirmou esse pensamento. Midnight Sky é prima de Nothing Breaks no clima, um pouco mais adolescente nas suas afirmações um tanto rebeldes e na sua vocação para a pista de dança. Mas ganhou até um mashup oficial com a rainha do AOR, Stevie Nicks!

Aí ela anunciou para os quatro ventos: o álbum vai ser de rock. O álbum vai ser de rock!!!

A gente acreditou, né? Ué, se ela estava falando. Vem aí o álbum mais AOR de Miley. Fazia o maior sentido na nossa cabeça.
E aí saiu… Prisioner. E a gente ficou meio… hã?

Miley's New Album Plastic Hearts is Available Now: https://mileyl.ink/PlasticHeartsGet Miley's new single "Prisoner" feat. Dua Lipa: https://mileyl.ink/Priso...

Não me entendam mal, eu gosto da Dua Lipa. Bastante, até. Mas esse resgate de um clima Bangerz me pareceu algo meio deslocado. Problema é meu, né, que criei expectativas.

E quando saiu o Plastic Hearts, ouvi e fiquei meio… Oi, é a Hannah Montana?
Não fui só eu.

E aí pessoal! Gostaram do Plastic Hearts? Achei que eu ia amar, mas ainda não bateu (exceção: Midnight Sky e Night Crawling). Por outro lado achei uma coisa meio rock do primeiro disco da Demi (que amo), mas esperava algo mais maduro (será essa a palavra)? Enfim, qq 6 acharam?

— Smile Lynn Phoenix (@FeBSoares) December 1, 2020

Tenho certeza que muita gente que era fã de Hannah Montana e cresceu com Miley Cyrus, acompanhando a carreira dela, deve ter curtido esse plot twist. Ou nem considerou isso um plot twist.
As músicas são um pop rock divertidinho e bem descartável. Definitivamente nada AOR. Até os feats confirmam: a postura adolescente de Billy Idol. Joan Jett, ex-The Runaways – tem coisa mais adolê que The Runaways ou que Bad Reputation?

Nunca fui fã de Hannah Montana. Mais uma vez: problema meu, né? WTF do I know…
Mas agora me conta: vocês gostaram do Plastic Hearts ou é meme?

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December 05, 2020 /Jorge Wakabara
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