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Para entrar em Pânico

October 17, 2020 by Jorge Wakabara in cinema

Já estávamos quase na metade dos anos 1990 e parecia que os filmes slasher adolescentes era a coisa mais anos 1980 que existia. O Pesadelo Final (1991) com Freddy Krueger era uma piada (assisti no cinema, que eu me lembre, e na época achei legal principalmente por causa dos minutos em 3D no fim do filme – mas na verdade eu era uma criança kkkkkk). Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989) também é considerado o mais fraco da franquia pela maioria dos fãs. Jason Vai Pro Inferno – A Última Sexta-Feira (1993) só não foi pior nas bilheterias que o seu antecessor Sexta-Feira 13 – Parte VIII: Jason Ataca em Nova York (1989); amo esse de 1989 justamente por ele ser ruim demais kkkkkk

Aí o Wes Craven, que é o nome por trás do A Hora do Pesadelo original, teve uma ideia. Calma: ainda não era essa que você está pensando. Estou me referindo ao O Novo Pesadelo (1994).

De repente Freddie estava de volta pelas mãos (e rosto, e corpo, e tudo e tal) do inesquecível Robert Englund – que, diga-se de passagem, o Ryan Murphy está bobeando de não trazer pra turma dele

De repente Freddie estava de volta pelas mãos (e rosto, e corpo, e tudo e tal) do inesquecível Robert Englund – que, diga-se de passagem, o Ryan Murphy está bobeando de não trazer pra turma dele

Com O Novo Pesadelo, Craven deu uma credibilidade renovada pros slasher que todo mundo achava que eram coisa do passado e que nunca mais seriam lucrativos.

O filme é uma salada metalinguística que surpreendentemente dá certo e eu vou tentar resumir pra quem não viu: a história é do próprio Wes Craven no papel dele mesmo, fazendo um novo filme de Krueger no aniversário de 10 anos do primeiro. Heather Langenkamp, que está no Monte Olimpo das melhores final girls que já existiram por seu papel como Nancy, a protagonista do A Hora do Pesadelo original, também interpreta ela mesma. Heather está recebendo ligações telefônicas (PRESTENÇÃOOO) na vida real com uma voz assustadoramente parecida com a do personagem Freddie Krueger. O marido dela morre num acidente de carro muito parecido com uma morte de A Hora do Pesadelo, e o corpo é encontrado com rasgos.
Resumindo: uma força demoníaca usa da imagem de Krueger pra se manifestar de verdade, nada de filminho. Então a trama acompanha uma produção de um novo filme da franquia, mas onde coisas assustadoras estão acontecendo com a equipe na "vida real".
Entendeu? É complexo mesmo.

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A franquia já estava pra lá de Bagdá, então a bilheteria seguiu ruim pra essa nova tentativa, mas o pessoal viu que o filme em si era interessante. Dava um respiro. E principalmente não era tão besta quanto as sequências anteriores. Então Craven ganhou um tíquete de ouro… pra fazer Pânico.

Chegamos no que interessa: o ano de 1996

Sidney (Neve Campbell) e Tatum (Rose McGowan) em Pânico (1996)

Sidney (Neve Campbell) e Tatum (Rose McGowan) em Pânico (1996)

Craven não só foi o responsável por uma das maiores franquias do cinema como conseguiu fazer mais uma e, de quebra, ressuscitar o gênero slasher. Pânico juntava a ideia do telefone que foi explorada em O Novo Pesadelo e brincava com a metalinguística mas de forma diferente. É que estes adolescentes dos anos 1990 conheciam os filmes dos anos 1980, e o assassino em série, que na verdade é do convívio deles e não tinha nenhum superpoder místico, gostava de brincar com a ideia de seguir as regras de um filme slasher comum. Isso quer dizer matar quem vai sozinho pra algum lugar, matar quem transa, fazer charadas assustadoras antes de matar, matar todo mundo ao redor de uma final girl antes de chegar na final girl em si. E eventualmente… se revelar e ser morto pela final girl.

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Drew Barrymore em Pânico: tem algo mais anos 1990 que isso?

A clássica primeira cena do filme traz a personagem Casey sendo assassinada – e depois, todas as sequências brincaram com esse começo

O primeiro Pânico foi um marco. Trouxe uma segunda onda de slashers – não tão forte quanto a oitentista mas impactante no imaginário pop. Ghostface, o disfarce do assassino, virou um personagem recorrente no Halloween e em paródias. A frase “Hello, Sidney” ao telefone com voz distorcida pegou. Courteney Cox, que já era a Monica de Friends, conseguiu um segundo personagem famoso pra se livrar do estigma da série-hit logo de cara. E também conheceu o futuro marido, David Arquette, no elenco (que depois virou ex-marido e a vida seguiu).

David, aliás, é o irmão mais novo de Patricia Arquette, cujo primeiro papel na carreira foi de scream queen: era A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (1987). A personagem de Patricia, Kristen, sobrevivia na história, mas Patricia passou a chance de revivê-la e outra atriz assumiu na sequência A Hora do Pesadelo 4 – O Mestre dos Sonhos (1988). A substituta foi Tuesday Knight (e é difícil pensar em algum nome tão maravilhoso quanto Tuesday Knight!).

A repórter Gale Weathers (Courteney Cox), o geek Randy Meeks (Jamie Kennedy) e a final girl Sidney Prescott (Neve Campbell)

A repórter Gale Weathers (Courteney Cox), o geek Randy Meeks (Jamie Kennedy) e a final girl Sidney Prescott (Neve Campbell)

Dizem que muitas estrelas recusaram o papel de Sidney, incluindo a própria Drew Barrymore, que escolheu Casey porque achou que ia ser chocante uma estrela morrer nos primeiros minutos do filme – achou certo, era chocante mesmo. Além dela, Reese Whiterspoon, Claire Danes, Brittany Murphy e Chloe Sevigny também foram cogitadas. Campbell, que já havia virado uma estrela de TV em O Quinteto, foi a escolhida – e antes deu uma passadinha em Jovens Bruxas, no mesmo ano, pra realmente solidificar seu status de nova it girl herdeira de Molly Ringwald e Winona Ryder que, estranhamente, não adquiriu o status cult das outras duas.
(Ah, e queriam que a própria Ringwald fizesse a Sidney. Ela já tinha 26 anos e achou que não tinha nada a ver. Mas imagina???)

Na minha humilde opinião, Campbell nunca mais conseguiu sair da pele de Sidney Prescott, é quase uma maldição pra ela.

Sidney e Dewey (David Arquette)

Sidney e Dewey (David Arquette)

Tudo isso está fresco na minha cabeça porque: 1. recentemente reassisti a todos os Pânicos; 2. falei a respeito no podcast da Bia Bonduki, Eu Tive Um Sonho, sobre A Hora do Pesadelo! Ouça abaixo!

Uma coisa que as pessoas esquecem sobre Pânico é que ele não é filho de um pai só. Craven dirigiu os quatro longas, mas o roteiro é de Kevin Williamson. O primeiro roteiro filmado de Kevin é Pânico. E depois disso ele surfou na onda: Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997), baseado em livro de Lois Duncan, é o segundo roteiro filmado dele. Prova Final (1998), que não é exatamente um slasher mas não deixa de ser um terror adolescente, é o quarto (Pânico 2 veio antes).

E o que eu acho mais legal de Pânico é que ele é um dos últimos suspiros dos early millennials antes de tudo ser tomado pela internet. Nós somos a última geração que interagiu na adolescência ainda sem a onipresença da rede. Pânico não seria possível nesses moldes em 2020 porque ninguém mais tem telefone fixo. E os adolescentes simplesmente perderam a intimidade com o telefone no geral – é sério, acredite, eu já trabalhei com estagiários e sei disso. Eles não sabem atender direito! Acham estranho.
Eu também acharia!

A sequência

Pânico 2, que veio no ano seguinte, 1997, era exatamente o que você poderia esperar de uma sequência de Pânico, e até brincava com isso, ainda no seu exercício de metalinguagem. As sequências dos filmes slasher têm mais mortes e é mais mirabolante. Alguns personagens que sobreviveram voltam e é até estranho que a maior parte deles não morresse aqui, porque geralmente era isso que acontecia.

Ah, e temos isso também.

Cici (Sarah Michelle Gellar)

Cici (Sarah Michelle Gellar)

Onde está a sobrancelha dela? Não sei. Puro suco dos anos 1990. Depois, Sarah seguiria pro estrelato com Segundas Intenções (1999) e, claro, a série Buffy, A Caça-Vampiros (1997-2003)
Aqui Sidney já está na faculdade e a fantasia de Ghostface virou artigo pop. Existe um filme, Stab, sobre a história de Sidney e baseado em um livro de Gale. Aquela personagem de Drew Barrymore, Casey, é interpretada em Stab pela maravilhosa Heather Graham!

A Casey do filme dentro do filme: Heather Graham

A Casey do filme dentro do filme: Heather Graham

Sem esquecer o mais delicioso fato que a Sidney da ficção é interpretada por Tori Spelling.

Eu amo a tintura “marrom acobreado” HAHAHAHAHAHA

Eu amo a tintura “marrom acobreado” HAHAHAHAHAHA

Pânico 2 não supera o primeiro. O começo é maravilhoso, mas o fim é mais bobo. E tá tudo bem, ele não chega a ser ruim.

Pânico 3: tão metalinguístico que eu nem sei

Depois de Pânico 2 as coisas começaram a ficar mais complicadas no terror. Surgiu um elemento novo: o j-terror (ou j-horror). Ringu, ou Ring – O Chamado, saiu em 1998. A Bruxa de Blair apareceu em 1999. Um terror mais psicológico ficou na moda e o velho slasher parecia ultrapassado mais uma vez.

Mas Pânico preferiu seguir na sua linha metalinguística e ignorou essas novas ondas. Em 2000, aconteceu praticamente a refilmagem de O Novo Pesadelo em versão Pânico. Pânico 3 acontece nas filmagens de Stab 3, da franquia ficcional Stab. Ele se leva muito pouco a sério e talvez por isso consiga se manter divertido, ainda que nada assustador.
Pra variar, uma das coisas legais é descobrir que atores participaram.

Do que eu gosto mais, da minha histriônica preferida Parker Posey no papel de Jennifer Jolie, a atriz que interpreta Gale Weathers em Stab 3, ou ESSA FRANJA ABSURDA DA COURTENEY COX?

Do que eu gosto mais, da minha histriônica preferida Parker Posey no papel de Jennifer Jolie, a atriz que interpreta Gale Weathers em Stab 3, ou ESSA FRANJA ABSURDA DA COURTENEY COX?

Obs.: a minha histriônica preferida no exterior é Parker Posey. A minha histriônica preferida no mundo é Maria Luísa Mendonça, claro.

A Sidney ficcional infelizmente não é mais Spelling e sim Emily Mortimer. Gosto dela mas a atriz está meio mortinha em Pânico 3.
Ah, sim, tem isso também.

Hollywood royalty, baby: Carrie Fisher no papel-chave Bianca Brunette

Hollywood royalty, baby: Carrie Fisher no papel-chave Bianca Brunette

Bianca entrega tudo: tira uma onda quando as personagens fazem menção à sua semelhança com Carrie Fisher e resolve quase toda a trama em uma cena.

E bem, a trama… é meio rocambolesca. Impossível levá-la a sério. Quando chega o fim, ele é tão absurdo e perdido que você precisa mesmo rir. Parece uma novela mexicana.
Toda franquia de terror chega num momento que acaba inventando subtrama demais pra se desenvolver. Pânico 3 só dá pra assistir se for pra encarar como uma comédia.

De volta ao básico em 2011

Parece menos, mas já faz quase uma década que saiu Pânico 4. Como não dava mais pra sair cachorro daquele mato, a história voltou pra trás. Mais especificamente, pra Woodsboro, a cidade fictícia de Pânico. A sinopse: Sidney superou tudo e conseguiu ela mesma escrever um livro sobre sua história. Decide voltar pra cidade natal no meio da turnê de lançamento, e fica hospedada na casa da… tia. Vocês lembravam da tia? Nem eu, mas aí está.
E aí existe uma outra turma de jovens que inclui a prima de Sidney, Jill Roberts (Emma Roberts). E a matança recomeça pra eles…

Kirby (Hayden Panettiere) e Jill (Emma Roberts)

Kirby (Hayden Panettiere) e Jill (Emma Roberts)

Existia o que tirar de um Pânico 4? Não muito. O gênero já estava esgotadérrimo. Mas as sequências de Stab que aparecem são maravilhosas, especialmente pelas participações especiais.

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Lucy Hale, Anna Paquin e Kristen Bell.
Na turminha jovem fora dos filmes, ainda temos Nico Tortorella novinho como o perturbado namoradinho de Jill! Hahahahahahaha!

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Acho Pânico 4 OK, mais realista (na medida do possível) porém menos engraçado que o terceiro. Então sei lá, ambos estão juntos lá no pé da lista em questão de qualidade.

Mas e Pânico 5, hein?

Sim: Pânico 5 foi confirmado. Craven infelizmente morreu em 2015, então Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, a dupla de diretores que acumula mais letras duplas que todas as outras em seus nomes e que dirigiu Casamento Sangrento (2019), assumem a cadeira. Neve Capbell está confirmada, assim como Courteney Cox e David Arquette.

De lá pra cá existiu Corra! (2017) e Nós (2019). Existiu Hereditário (2018) e Midsommar: O Mal Não Espera A Noite (2019). Muitas águas rolaram no gênero. Pânico já virou uma caricatura de si mesmo.

Espero alguma coisa boa? Não! kkkk
Vou assistir mesmo assim? SIM! KKKKKKKKKKKK

Ai ai, a gente gosta de perder tempo com bobagem, né?
A estreia de Pânico 5 está marcada pra nada menos que 14 de janeiro de 2022, o meu aniversário de 41 anos.
Afffff! kkkk

“Alô, Sidney… Você gosta de sequências de filme de terror? Pelo jeito, sim, né?"

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October 17, 2020 /Jorge Wakabara
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cinema

Shibuya-kei sem ser no Japão: de Swing Out Sister a outros deliciosos pastiches

July 22, 2020 by Jorge Wakabara in música

Ah, o zeitgeist…

Você sabe o que é Shibuya-kei? Eu dei uma explicação bem completa no terceiro episódio da primeira temporada do programa Quatrilho no meu podcast, quando falei do Pizzicato Five. Mas para quem está com preguiça de ouvir, segue aqui: Shibuya é um bairro de Tóquio e, lá no começo dos anos 1990 começou a despontar por ali uma espécie de movimento. É que os xóvens estavam gostando de certo tipo de som, uma coisa nostálgica revisitada com eletrônica, um pastiche irônico de Burt Bacharach, Phil Spector, Serge Gainsbourg, Beach Boys… No Japão, faziam parte Pizzicato Five, Flipper's Guitar, Original Love e outras bandas (também tem esse post no qual falo mais).

Acontece que o movimento era mundial – muita gente também inclui Dimitri from Paris, April March e até o Pato Fu entre os representantes do Shibuya-kei. Esse interesse pelas músicas dos anos 1960, pelo retrofuturismo e pela orquestração à moda wall of sound do Spector já estava pintando desde os anos 1980. Enxergo vários pontos de partida longe de Tóquio. Muitos deles aconteceram em outra ilha, no Reino Unido.

Dusty Springfield & Pet Shop Boys

O ano era 1987 e o álbum era Actually, dos Pet Shop Boys. Eles decidiram resgatar um ícone vivo que naquele momento estava injustiçado, bem longe das paradas de sucesso. Nada menos que Dusty Springfield.

Não tem como deixar de enxergar a combinação entre pop eletrônico e as canções arranjadas por Spector aqui. Dusty, que tinha uma história muito particular com o soul mesmo sendo branca, era símbolo dessa memorabilia que o Pet Shop Boys curtia e queria reverenciar. Dusty in Memphis, o álbum de 1969, segue como um dos maiores clássicos da música pop.

Depois do sucesso que foi What Have I Done to Deserve This, feita especialmente para a participação de Dusty, a dupla e a cantora colaboraram em Nothing Has Been Proved. Mais referente aos anos 1960 ainda, a música foi uma encomenda do produtor Stephen Woolley para o filme Scandal de 1989, sobre o caso Profumo de 1963 que abalou a política britânica na época. Nothing cita nomes envolvidos e fala que Please Please Me, canção dos Beatles, estava no topo das paradas. A gente quase não se toca ao ouvir a música descompromissadamente, mas ao colocá-la no contexto do Shibuya-kei, conseguimos enxergá-la como uma faixa dos primeiros discos do Pizzicato Five!

O disco de 1990 de Dusty, Reputation, ainda contaria com outras três faixas compostas e produzidas pelo Pet Shop Boys fora Nothing: In Private, Daydreaming e Occupy Your Mind, tudo isso no lado B. Mas também é interessante uma faixa do lado A do disco: Arrested by You, composta pela dupla Rupert Hine e Jeanette Obstoj, ganhou produção de Paul O'Duffy. Sabe quem é ele?

Swing Out Sister: tudo no último minuto

Corinne Drewery sempre diz em entrevista que tanto o nome, Swing Out Sister, quanto o primeiro sucesso deles, Breakout, foi resolvido de última hora, quando eles tinham que apresentar algo ou estavam fora. Pois sim: Breakout foi "resolvida” momentos antes de ser gravada no estúdio! Quando o single de Breakout saiu, em 1986, foi um, er, breakout. E quem era o produtor? Adivinha… Paul O'Duffy!

Paul, só para você saber, seria o dono do estúdio caseiro onde Amy Winehouse trabalharia em algumas faixas do que se tornaria o clássico Back to Black (2006). A faixa Wake Up Alone tem créditos para Paul e Amy.

Na época de Breakout o Swing Out Sister era um trio, com Corinne abandonando uma carreira de modelo e estilista para se juntar aos músicos Andy Connell (teclados) e Martin Jackson (bateria). Você quer mais paralelos com o Pizzicato Five? Bom, logo após esse primeiro álbum, Jackson sai (e vai trabalhar com ninguém menos que Frank Zappa) e o trio vira duo. Foi com essa formação que eles lançariam o próximo álbum, Kaleidoscope World, de 1989, e chegariam em Am I the Same Girl? em 1992 no disco Get in Touch With Yourself.

Am I the Same Girl? na verdade é uma regravação de Barbara Acklin de 1968. E teve uma outra pessoa que regravou a canção no ano seguinte ao lançamento de Barbara… Dusty Springfield! Dusty era referência de Drewery, de Winehouse… e certamente de Maki Nomiya no Pizzicato Five.

O mundo é do tamanho de uma azeitona, né?

A mistura de jazz e pop do Swing Out Sister ganhou um outro nome entre os críticos musicais: eles seriam conhecidos como um dos maiores representantes do sophistipop. Isso mesmo: SOPHISTIPOP. It's a thing, google it!

O Swing Out Sister existe até hoje e segue lançando álbum até hoje, mas sem chegar perto do sucesso que conquistou até 1992. O importante é que: eles seguem ótimos!!! E, não obstante, tem um séquito de fãs fiéis… no Japão.

Uma coisa que caracteriza o Shibuya-kei é a programação visual caprichada do material gráfico que seus "membros” apreciam. Swing Out Sister: check! Tem uma coisa retrô, fashion e divertida que as bandas japonesas também amavam

Uma coisa que caracteriza o Shibuya-kei é a programação visual caprichada do material gráfico que seus "membros” apreciam. Swing Out Sister: check! Tem uma coisa retrô, fashion e divertida que as bandas japonesas também amavam

Além de Dusty: Sandie Shaw e os Smiths!

Muita gente nessa década de 1980 compartilhava desse gosto pelo pop retrô com Neil Tennant e Chris Lowe. Um desses colegas era Morrissey, tanto é que ele convenceu Sandie Shaw, aquela que cantava (There's) Always Something There to Remind Me em 1964 e que ganhou o Eurovision em 1967 com Puppet on a String, a ouvi-lo numa proposta…

Morrissey tinha uma fascinação com cantoras pop de duas décadas atrás por influência do New York Dolls, dizem. E ele e Johnny Marr queriam ser respeitados como compositores, tanto quanto com a banda The Smiths em si. Então eles decidiram convencer Sandie a gravar uma música deles. Muito bem: depois de muito trabalho para ela aceitar, eles entraram em estúdio em 1984 para gravar Hand in Glove, que havia sido o primeiro single dos Smiths em 1983. Repare que os Smiths ainda estavam no começo da carreira! E Sandie diz que ficou chocada ao receber o single de Hand in Glove, que traz a bunda do ator George O'Mara em foto de Jim French. Ela teria dito para o marido: "He’s started sending me pictures of naked men with their bums showing!".
Bom, parece que no fim a bunda venceu…

Mandaram nudes para Sandie…

Mandaram nudes para Sandie…

Sandie lançou o álbum Hello Angel em 1988. O single Please Help the Cause Against the Loneliness foi escrito por Morrissey e o produtor Stephen Street. O disco ainda traz Cool About You, uma música inspirada nos hits de Phil Spector e composta por Jim e Willian Reid do The Jesus and Mary Chain. Outra regravação é A Girl Called Johnny, originalmente da banda The Waterboys e inspirada em Patti Smith.
Deu para perceber que esse disco da Sandie é ótimo?

A olhos nus: Sandie de novo

Ah, e lembra do sucesso (There's) Always Something There to Remind You da Sandie? Composta por Bacharach e Hal David, ela reapareceria em versão synthpop em 1982 com o Naked Eyes. No Brasil, acredito que essa versão acabou fazendo mais sucesso que a original principalmente pela sua inclusão da trilha sonora da novela Guerra dos Sexos! E de fato ela é ótima, aqueles sinos do começo são SHOW, as batidas do refrão idem.

Já que falamos deles: Psychocandy, do The Jesus and Mary Chain

A música que abre Psychocandy (1985), Just Like Honey, simplesmente empresta a bateria de um sucesso de 1963 das Ronettes: Be My Baby. Sim, Psychocandy prenunciou o sucesso de Be My Baby que viria na trilha do longa Dirty Dancing em 1987. O resto do álbum deles tem toques de Bacharach, sempre combinados com muita distorção. É como se o Shibuya-kei fosse guitarreiro e mais barulhento, menos eletrônico. Esse paradigma duraria até os anos 2000 entre as bandas de rock indie, que emulavam essa "fofura distorcida".

Melodia carismática & a onda mais doce da new wave: Since Yesterday

Uma das minhas músicas pop preferidas EVER, Since Yesterday não ficaria deslocada ao lado num disco de Merrilee Rush, de France Gall ou de Petula Clark. Ela RESPIRA anos 1960. O maior sucesso da dupla Strawberry Switchblade saiu em 1984 e é sobre… guerra nuclear. Quenda. Existe um motivo para ela ser tão docinha mesmo com as batidas da new wave: o Strawberry Switchblade na sua origem era uma banda folk-pop, e essa música foi o marco da virada, composta por uma das integrantes, a Rose McDowall, mas produzida de maneira diferente. A melodia do começo foi tirada do terceiro movimento da quinta sinfonia de Jean Sibelius – não acredito que acabei de falar de música clássica nesse blog.

O clipe acima também mostra o estilo característico delas, com maquiagem pesadona nos olhos e muita estampa de bolinha, muito acessório, uma coisa fofa-moderna pra época. Precursoras do kawaii. Adoro demais.

Um momento, maestro: Everything But the Girl em 1986

Eu sei, tudo é sempre uma desculpa para falar de Everything But the Girl e Pizzicato Five, mas eu não resisti.

Em 1986, o Everything But the Girl já tinha lançado dois álbuns: Eden, que é bem jazzy bossa nova, e Love Not Money, super new wave rockeirita. Aí eles cometeram Baby, the Stars Shine Bright, a coisa mais retrô que eles poderiam fazer na época.

Acho que eles chegam até a ultrapassar os anos 1960 e chegam nos anos 1950, com arranjos grandiosos orquestrados, uma loucura. A versão deluxe lançada em 2012 inclui um segundo disco que traz demos e outras delícias tipo a versão deles de Alfie, música de Bacharach e David, e Where's the Playground, Susie? de Jimmy Webb (com a voz de Ben Watts liderando, coisa que não acontecia com frequência). MUITO SESSENTA.
Alfie, da trilha do filme de 1966 estrelado por Michael Caine no papel do mulherengo Alfie, seria lançada por Dionne Warwick pela vontade dos compositores. Mas a Paramount preferia uma cantora inglesa. Chamou Sandie Shaw. Ela não quis. A escolhida acabou sendo Cilla Black, na época que ela ainda era agenciada por Brian Epstein. Foi gravada nos estúdios da Abbey Road – onde o EBTG gravou Baby, the Stars Shine Bright. E depois seria regravada por Warwick e Cher.

Depois desse álbum de 1986, o EBTG partiria para o… sophistipop. Sim.

Você quer? Don't You Want Me?

Ah, sim, tem o Human League.
O álbum Dare de 1981 foi um divisor de águas para eles, que começaram como uma banda de eletrônico experimental!

Tudo é MUITO new wave. Mas ouça Open Your Heart, por exemplo. A melodia num crescendo soa bem retrô, e se tivesse uma big band por trás, poderia facilmente ser um hit produzido por Spector. Ela saiu antes do disco, como single, e nessa época os singles do Human League ganhavam selos azul ou vermelho para diferenciar o “estilo musical". Segundo a Susan Ann Sulley, uma das vocalistas, o vermelho era para os posers, os Spandy (fãs de Spandau Ballet, portanto fãs de… SOPHISTIPOP, oh, sim). E o azul, que era o selo do Open Your Heart?
"Para fãs de ABBA", respondeu o líder da banda Phil Oakey para a New Music Express em 1981.

Não sei vocês mas eu sou fã de ABBA.

Bom, e aí saiu o single Don't You Want Me desse álbum, uma música que Oakey considerava uma filler, a faixa mais fraca do álbum, tanto que é a última. HAHAHAHAHAHAHA! Foi o executivo da Virgin Simon Draper que insistiu no lançamento que seria o quarto single desse disco (os outros três foram lançados antes do álbum em si sair). Oakey defende que Don't You Want Me virou um sucesso graças à MTV, que passava o clipe toda hora.

O dueto, o refrão chiclete, o "ôô-ôô", a relação meio Pigmaleão "criador x criatura" encharcada de feminismo quando o textão da mulher entra. É tudo deliciosamente pop sessentista. MAS o visual do clipe é outro, que estava em voga nos anos 1980: new romantic (olha o make de Oakey, que tudo!), bem filme noir portanto anos 1940… que era a década da moda dos anos 1980, mesmo!
Também adoro a metalinguística no roteiro do clipe. A direção é de Steve Barron, um mestre que também cometeu Billie Jean de Michael Jackson em 1983, Africa do Toto em 1982 e Take on Me do A-ha em 1985! Dá um play que vale a pena.

Outra coisa que Susan Ann Sulley e Joanne Catherall, a outra vocalista, fariam pela cultura pop seria o visual retrô delas, construído em brechó. Por falta de grana? Também, mas a sensibilidade fashion delas gritava. Claro que elas não foram as pioneiras: já se fazia isso na cena jovem moderna do Reino Unido em geral. Mas elas divulgaram isso pelo mundo. Via MTV.

A ponte de tudo? Our Lips Are Sealed!

Jane Wiedlin e Terry Hall uniram forças em algum momento de 1980. Quer dizer… uniram os lábios mesmo. Wiedlin diz que eles tiveram uma coisinha rápida na turnê dos The Specials (de Hall) que a The Go-Go's (de Wiedlin) abria nos EUA. Era um caso secreto, pois Hall tinha uma namorada na Inglaterra. Nesse meio tempo, eles compuseram Our Lips Are Sealed, que acabaria saindo em 1981 no disco Beauty and the Beast das Go-Go's.

Enquanto banda de rock de mulheres, o The Go-Go's mantinha fortes laços com os anos 1960. Até demais: elas eram mais clássicas, e apesar de serem consideradas new wave (mais especificamente o começo da new wave, com esse disco Beauty and the Beast), para os meus ouvidos a coisa ainda está bem perto dos poucos acordes do punk e do ska, longe dos teclados e sintetizadores.

Só que Our Lips Are Sealed é muita perfeição pop sessentista. E aí apareceu a regravação de Hall, que já tinha saído do Specials, no trio Fun Boy Three. Esse foi o último hit deles, aliás, em 1983.

A música ficou mais dramática, combina uma certa ingenuidade sessentista com algo mais… O que a deixa, sim, muito mais Shibuya-kei, certo?

Claro que o Shibuya-kei RAIZ em si se aproveita dos avanços da eletrônica na música, e isso caracteriza demais o estilo, com samples e tal. O que eu quis mostrar é que tudo foi uma construção, que essa onda retrô já existia e que a revalorização do climinha lounge music não pintou do nada. Uma coisa que falta em tudo isso que citei e que o Shibuya-kei acrescentou com força no menu é a bossa nova.
Bom, se a gente for contar o Everything But the Girl… OH, WELL. Chega por hoje, vai.

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July 22, 2020 /Jorge Wakabara
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