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A roqueira do Brasil... Bianca!

November 21, 2020 by Jorge Wakabara in música

Todo mundo sabe: mulher pioneira do rock brasileiro é Rita Lee. OK, teve a Jovem Guarda antes, com Wanderléa e outras. OK, foi Nora Ney a primeira brasileira a gravar um rock (era um cover de Rock Around the Clock em 1955). Mas é Rita quem leva a faixa de “a roqueira do Brasil".

Só que em 1979, quando a própria Rita ia deixando seu som cada vez mais pop com aquele disco que tem Mania de Você, Doce Vampiro e Chega Mais, aparecia uma menina mineira de 15 anos, Cleide Domingues Franco, empunhando uma guitarra. O rock rejuvenesceu. E ela já assumia um nome artístico sem sobrenome, coisa pra poucos. Era a Bianca.

Quem descobriu Bianca foi Cléo Galante, que por sua vez já tinha discos lançados nos anos 1970 e tinha uma carreira até então bem calcada em samba rock.

A lenda é que Cléo viu Bianca se apresentando como crooner de uma banda ainda na cidade natal dela, Ituiutaba, e a levou para São Paulo para apresentá-la para sua gravadora, a RGE. Dizem que o nome, invenção do produtor Reinaldo Barriga, era uma referência à Bianca Jagger, mulher do vocalista dos Rolling Stones.
Os Tempos Mudaram é composição de Cléo. O lado B do primeiro compacto, Vou pra Casa Rever Meus Pais, é uma versão para o português de A Little More Love do repertório de Olivia Newton-John – assinada também por Cléo.

As duas músicas são ÓTIMAS e o segundo compacto saiu em 1980.

É interessante que os temas das letras dessa primeira parte da carreira de Bianca sempre são ligados ao sentimento adolescente de inadequação, problemas de relacionamento e angústia. Tudo moldado para o público-alvo, sem disfarçar! A cantora fala bastante dos pais – em Sou Livre (Agora Chega), ela diz que o pai é muito ocupado, a mãe sempre observa o lado dele e ninguém vê que ela cresceu; em Vou pra Casa Rever os Meus Pais, eles estão no título, logo de cara. E em Minha Maneira (Não Suporto Mais), Bianca entoa no refrão: “Assim não dá pra ser / Eu quero namorar sem ter que aceitar e nem obedecer”, e diz que o cara é tão possessivo e mandão que está parecendo mais… o pai dela.

(Aliás, Minha Maneira é uma versão de She's in Love With You, o rockão de Suzi Quatro, uma melodia deliciosamente abbaística que também cai bem em Bianca)

Ainda em 1980, o primeiro álbum chega com a supercozinha de Os Carbonos e produção artística de Hélio Costa Manso. Minha Amiga, uma das músicas de trabalho, chega no programa Geração 80 da Globo.

Minha Amiga é uma versão da original de Jennifer Warnes I Know a Heartache When I See One.

O disco em si é recheado de surpresas:

A segunda faixa, por exemplo, Comentário a Respeito de John, é de Belchior com José Luis Penna! E começa com citação a Happiness is a Warm Gun! A música foi gravada primeiro por Belchior um pouco antes, em 1979. Bianca já havia citado, em entrevista, a admiração por Elis Regina (que gravou Como Nossos Pais de Belchior em interpretação antológica e, por que não dizer, roqueira em 1976). Pelo disco inteiro, dá para notar uns toques de Como Nossos Pais espalhados – deve ter sido algo muito marcante para Bianca, ou um modelo muito desejado pelo pessoal da gravadora. Ou os dois!
Igual a Vocês é versão de Going My Way do Tax Loss, e é a única do álbum que conta com letra da própria Bianca. Mais versão? Lembrando os Rapazes de Liverpool é I Only Want to Be With You – primeiro de Dusty Springfield em 1963 (!!!) e depois na versão que provavelmente inspirou a inclusão para o disco de Bianca, a de Bay City Rollers em 1976. Só que quem inspira a letra obviamente são os Beatles. Sintomático: tem John Lennon na letra de Belchior, tem Beatles em uma música que originalmente é dos anos 1960… Bianca tinha traços de futuro, mas era muito apegada ao passado.

Porém… mas porém…

E Oh Susie? Sim: new wave em pleno 1980, em um disco brasileiríssimo. É versão em português da música de mesmo nome do Secret Service! Tá passada? Eu tô! A versão ficou bem pop, na verdade, meio disco music. Mas pop do bom.
Mais surpreendente ainda: um blues do Gilliard. Isso mesmo que você leu. É Gilliard quem assina Tempos Difíceis com Washington.

Bom, sobra espaço até para mais disco music (Não Tenha Medo, de Cléo Galante). Esse rock era uma frente ampla, para usar uma expressão em voga atualmente…

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E depois? Pois é, o depois.

O compacto de Faz de Conta saiu em 1982.

Também da safra de Cléo, meio hedonista demais, menos angustiada (e nesse sentido menos roqueira). Agora, imagina essa musiquinha dizendo "Vamos viver em festa / faz de conta que o mundo está lindo” concorrendo no rádio com Evandro Mesquita dizendo “aí você finalmente encontra o broto”, mandando descer dois, descer mais chopes, e comentando que realmente queria que ela estivesse nua? A Blitz e o BRock chegaram para atropelar Bianca. Ela ficou datada demais, e não havia versão de Loredana Bertè que a salvasse:

Eu particularmente AMO Non Sono Una Signora, composição de Ivano Fossati, e gosto da versão de Bianca, que saiu em compacto em 1983, mas enquanto Bertè se derrama inteira na música, Bianca dá uma mergulhadinha com pouca dimensão. Compara aí:

Quando Bianca foi tentar uma volta de verdade, anos depois, revelou-se a verdade: ela deixou de ser roqueira. Era só chuva de verão. O disco A Volta, de 1993, é inteiro sertanejo, daquele tipo mais pop que tinha invadido o Brasil de Fernando Collor. Não deu certo, não repetiu as vendas de antes.

E aí? O que rolou com a Bianca?
Bom, prepare-se para entrar num terreno mais arenoso.

Quando uma artista assim, que fez tanto sucesso, simplesmente evapora, começam a surgir boatos. E eles costumeiramente são bem criativos. Os mais maldosos eram de que ela tinha morrido de overdose ou suicídio. Mas parece que não: dizem que ela virou vocalista de banda de forró (o Destak do Forró da cidade cearense de Piquet Carneiro).

Ela seria essa de roxo no vídeo, agora loira.
Tem quem acredite, tem quem não acredite.
O esquisito: até hoje ninguém teve a manha de ir até lá e entrevistá-la? Ou achá-la pela internet, que seja?

Então, até segunda ordem… Bianca segue sumida.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
. A ópera-forró Trilogia da Rapariga
. As muitas versões de Diana
. Um jogo com trilha sonora (?) da banda da Rita Lee (??)

November 21, 2020 /Jorge Wakabara
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música
(Eu acho que é isso): Lolita Renaux, Alice Pink Pank, Julio Barroso, May East e Luiza Maria, as absurdettes originais com “o” cara no meio

(Eu acho que é isso): Lolita Renaux, Alice Pink Pank, Julio Barroso, May East e Luiza Maria, as absurdettes originais com “o” cara no meio

Quem são essas tais absurdettes?

November 13, 2020 by Jorge Wakabara in música, livro, TV

Essa história tem várias versões. As que sei vieram de:
. O livro Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes, de Jorn Konijn
. O livro Dias de Luta: O rock e o Brasil dos anos 80, de Ricardo Alexandre
. O documentário Julio Barroso: Marginal Conservador que passou no canal BIS
. Vídeos do canal de YouTube Vitrola Verde de Cesar Gavin
. O livro 50 Anos a Mil, autobiografia do Lobão
. O livro BRock: o rock brasileiro dos anos 80, de Arthur Dapieve (esse eu considerei bem naquelas, uma vez que ele comete pelo menos duas gafes: coloca Taciana Barros e Alice Pink Pank na mesma formação, coisa que nunca aconteceu; e identifica Taciana como Alice na legenda de uma foto da Gang 90)

A Gang 90 apareceu um pouco antes da Blitz, foi lançada em disco um pouco depois, mas não conseguiu virar a potência que a Blitz virou porque tinha na sua essência uma natureza caótica, personificada por Júlio Barroso. As pessoas dizem que o Júlio possuía esse tipo de loucura que só os geniais têm. Acontece que as absurdettes (figuras-chave nesse grupo maleável no qual mudavam-se os músicos e mantinha-se, naquelas, uma comissão de frente com Júlio e elas) também eram caóticas, loucas e geniais.
Como Júlio se inspirou, entre outras referências, em Kid Creole and the Coconuts pra criar a sua própria banda, ele queria um nome que tivesse esse &. E gostava das Coconuts em si: curtia mulheres bonitas e achava que elas davam uma energia ainda mais anárquica no palco.

Assim como Kid Creole & the Coconuts, a Gang 90 tinha essa coisa artsy, bagunçada, um coletivo no qual qualquer um podia chegar… Uma gangue. Uma gangue onde cabiam 90 integrantes, ou mais. Uma gangue que olhava pro futuro, pra década seguinte, os anos 1990. E finalmente uma gangue que adorava a figura do velho guerreiro, o Chacrinha, e as suas chacretes. Absurdo?
Absurdettes, portanto.

Recorte da revista Manchete de 1983

Recorte da revista Manchete de 1983

Então vamos começar pela que ficou menos tempo na banda… Luiza Maria.

Luiza Maria, a que não mudou de nome

Diz a lenda, ou melhor, o livro de Jorn Konijin, que Júlio Barreto conheceu Luiza Maria como secretária de Nelson Motta. Luiza era a namorada de Guilherme Arantes (já separado da primeira mulher, Márcia) e eles tiveram um filho mais ou menos nessa época, o Gabriel. Depois eles ainda teriam mais dois, Pedro e Tiago.

Guilherme é o parceiro de Barroso na composição Perdidos na Selva, a primeira original a ser gravada pela Gang 90.
Sabendo dessa informação, a gente ouve Perdidos na Selva e fica chocado em perceber como a música é a cara do pop de Arantes, principalmente no refrão, né? Ou será que foi o pop de Arantes que virou isso a partir de Perdidos na Selva?

Nesse vídeo dá pra ver Luiza Maria no canto esquerdo, a quarta absurdette.
Na gravação de Perdidos, a Gang 90 ainda estava tão, er, perdida no quesito musicalidade que Arantes deu uma enorme mão pra deixar tudo minimalmente gravável. Inclusive ele canta junto com Barroso no refrão.
E por que o artista não foi creditado oficialmente como um dos compositores? Porque a música ia concorrer no Festival MPB Shell de 1981. E Planeta Água, de Arantes, também! O regulamento do festival só permitia a inscrição de uma música por compositor, então Arantes abriu mão de assinar Perdidos na Selva. Resultado: Planeta Água em segundo lugar (a ganhadora foi Purpurina com Lucinha Lins, vaiadíssima, um horror). Perdidos ficou pelo caminho, não chegou entre as primeiras posições.

E Luiza no grupo? É o famoso “tava ali dando sopa". Como Barreto amava arrebatar todo mundo para o palco para fazer aquela zona, deve ter sido levada pelo turbilhão. Mas também foi uma das primeiras a sair: antes mesmo da gravação do primeiro álbum, ela já estava fora (de acordo com o livro de Konijn).

Com a morte trágica e misteriosa de Júlio em 1984 (ele caiu ou se matou?) e o consequente baixo astral que eles acabaram conectando com São Paulo, Arantes e Luiza mudaram para o Rio. O casal se separou na primeira metade dos anos 1990.

Por onde anda Luiza Maria? Alguém sabe? Ela fez alguma coisa depois da Gang tipo canto ou composição? Pelo que entendi, nem chegou a ser entrevistada para o livro do Konijn.

Existe uma homônima, maravilhosa, a Luiza Maria que gravou Eu Queria ser um Anjo em 1975 e Tarântula em 1993. A voz certamente não corresponde à ex de Arantes, as histórias também não. Se for a mesma pessoa, por favor me avisem pra eu ficar chocadíssimo.

Lonita (ou Lolita) Renaux, a irmã

Ela era a irmã de Barroso, muito próxima dele. A mais fiel escudeira. Denise Barroso estava lá desde sempre.

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O primeiro compacto da Gang 90, o com Perdidos na Selva, tinha outra música do lado B. Lilik Lamê, a versão de Christine do Siouxsie and the Banshees por Júlio, Antonio Carlos Miguel e Katy, é cantada por Lonita Renaux. A música acabou não entrando no primeiro álbum.

Depois do irmão morrer, em 1984, Denise chegou a compor música. Ela é co-autora de duas faixas do álbum Declare Guerra do Barão Vermelho lançado em 1986, o primeiro sem o Cazuza na formação da banda. As músicas são Não Quero Seu Perdão com co-autoria de Júlio e Roberto Frejat e Maioridade com Frejat, Cazuza e Guto Goffi.

Imagino que ela tenha continuado fazendo parte dessa turma Baixo Gávea mesmo depois da partida de Júlio. Trabalhava para o onipresente Nelson Motta no Noites Cariocas, o projeto que rolava no Morro da Urca.

Em 1991, ainda como grande bastiã da memória do irmão, Denise organizou o livro A Vida Sexual do Selvagem, com textos, manuscritos, fotos e desenhos dele mais depoimentos de amigos. Está obviamente esgotado e os que você encontra por aí de segunda mão custam aquela nota.

Se você encontrar um por um preço OK, compre: é praticamente um investimento!

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Denise também já morreu em 1993, oficialmente de insuficiência renal. Em 2019, a irmã caçula deles, Andrea Barroso, falou abertamente ao jornal O Globo que Denise foi vítima da Aids. Quem soube, depois dela fazer exame, foi ela e o outro irmão, David, que é infectologista. Mas na época preferiram não divulgar essa causa mortis.

Denise tinha um marido, o jornalista Okky de Souza. Okky trabalhou nas revistas nacionais Pop e SomTrês. Segue como fonte de matérias sobre Júlio e a Gang 90, já que acompanhou tudo muito de perto. Não entendi se Okky foi com Denise para o Rio depois que Júlio morreu, porque ele sempre foi muito ligado à cidade (inclusive é coautor do livro São Paulo 450 Anos Luz: A Redescoberta de uma Cidade com Gilberto Dimenstein). Mas que eu saiba eles não se separaram, então não sei.

Menina morango, banana split lady, menina sorvete <3 Viva Denise!

May East, a loira

Maria Elisa Caparelli Neto era a videoartista do coletivo TVDO que namorava Nelson Motta e acabou entrando na Gang 90. A origem desse seu codinome May East tem versões: no livro de Konijn, fala-se da referência mais óbvia, May West, a atriz de Hollywood que era bem modernex nos anos 1930. Mas a própria May puxa para o fato de que ela ficava no East Side em NY aqui nesse vídeo do Vitrola Verde. Júlio ficava no West Side e achava muito cool ela morar no East Side, e a chamava de May East Side no começo, segundo ela mesma. Com o tempo, abreviou-se: apenas May East.

A ideia de cantar Lili Marleen no começo dos shows da Gang era na verdade de May, apesar das pessoas ligarem isso à Alice – as duas dividiam o número.

A versão aqui, com Marlene Dietrich, é em inglês – mas May diz que elas cantavam em alemão.

May decidiu sair da banda depois de uma viagem antológica que eles fizeram pelo nordeste do Brasil com shows, mais especificamente em Alagoas. Essa viagem ficou antológica porque, entre outras coisas, eles entalaram a kombi que levava banda e equipamentos no mar. Há controvérsias do que aconteceu a partir daí: May lembra deles fugirem porque a empresa de aluguel de veículos queria a kombi (ou o dinheiro). Outros dizem que conseguiram tirar a kombi de lá e devolvê-la. De qualquer forma, May saiu da Gang nessa bateria de shows pós-primeiro álbum, ainda antes da morte de Júlio.

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Uma curiosidade: May mudou o nome oficialmente para May East na sua identidade! Doido, né?

E em 1985 ela lançou seu primeiro disco solo, Remota Batucada.

Ela, que adorava esse lado antropofágico pós-tropicalista da Gang 90 (dá para perceber nas entrevistas), mergulhou ainda mais nesse Brasil profundo, buscando uma new wave ainda mais nativa. A música de trabalho do Remota Batucada chama-se Índio e foi composta por ela com Fernando Deluqui. No lançamento do álbum, acredito que ele e o tecladista Luis Schiavon, que também participou da gravação, já estavam bem envolvidos com o RPM.
(A última música do disco, Fire in the Jungle, também é parceria de May com Deluqui; fez parte da trilha do filme Areias Escaldantes de 1985, considerado o registro cinematográfico da cena BRock da época)
Aliás, Remota Batucada é praticamente um quem é quem de parte da new wave brasileira: tem Kodiak Bachine, da maravilhosa Agentss, na faixa Ideias de Brincar (composição dele); participação de Ted Gaz e Kid Vinil, da Magazine, na faixa Normal (composição de May); participação da Alice Pink Pank (a gente já fala disso nesse mesmo post, mais para frente). A divertidinha Night Club em Beirute é composição de Léo Jaime e Tavinho Paes (um dos poetas-letristas que circulavam nessa turma, Tavinho fez um monte de hit tipo Rádio Blá com Lobão e Arnaldo Brandão, Gata Todo Dia com o mesmo Léo e Marina Lima, e Sândalo de Dândi com Alec Haiat e Yann Laouenan, ambos do Metrô). Caim e Abel tem entre seus compositores Guilherme Isnard, do Zero (desconfio que a voz masculina na música também é dele) mais Alberto Birger, Nelson Coelho, Fabio Golfetti e Cláudio Souza (todos também do Zero e os dois últimos depois fizeram parte do Violetas de Outono).

E ainda tem Bumba Meu Boy, uma co-autoria de May com Nico Rezende – nada menos que o cara que fez Perigo, o megahit da Zizi Possi (entre várias outras canções). Bumba Meu Boy é uma tentativa de choro eletrônico, não curto muito não…

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May seguiu gravando mais álbuns. Mas o próximo, Tabapora, de 1987 (ou 1988? Varia de acordo com a fonte), já começa a namorar um som mais new age, mais world music. O de 1990, Charites, tem os dois pés nessa onda. Hoje May é diretora executiva da Gaia Education, uma ONG voltada para educação com foco em design ecossustentável.

Alice Pink Pank, a holandesa

Mito vivo do BRock. Reza a lenda que recentemente Alice Vermeulen estava muito tranquila na Holanda, de vez em quando recebendo ligações do Lobão e um dinheirinho de royalties. Aí o Konijn a localizou e assim conseguiu fazer o livro sobre a Gang. É uma das histórias mais doidas do rock nacional, mas ela nem tinha muita noção do legado que havia deixado aqui. E mesmo na época, a família dela e o pessoal da sua cidade, Tilburgo, não conseguiam entender que ela fazia parte de uma banda que dava shows gigantes, depois fez parte de outra banda que também era grande, participou de programas de auditório e até posou para a Playboy!

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Alice já tinha gravado com o U2 antes de chegar ao Brasil. Pois é, bizarro, e ela fala sobre o assunto como quem vai para a padaria. Mas enfim: o U2 ainda não era uma das maiores bandas do mundo. Na verdade, não era nada: a participação foi no primeiro álbum deles, lançado em 1980, o Boy, na última faixa, Shadows and Tall Trees. Ela faz o backing vocal, dá até para ouvir a voz de Alice bem claramente em algumas partes.

Como essa loucura aconteceu? Bom, ela estava viajando pela Europa, foi parar em Dublin e fez amizade com o U2. O empresário, Tim, e ela acabaram tendo um teretetê que não deu em nada. Gravou e pronto.

Depois, Alice encontrou a brasileira Rosana Pires Azanha, que também fazia uma viagem pela Europa na época. Ficaram amicíssimas. Rosana disse que a nova amiga devia visitá-la no Brasil. E Alice fez que fez que… foi.

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Já disseram por aí que o encontro de Alice com Júlio foi em NY ou no exterior, mas segundo a própria foi em São Paulo mesmo, no Paulicéia Desvairada, o clube noturno que tinha essa pegada new wave e contava com Júlio Barroso nas picapes. Ele, recém-chegado de NY, trazia discos de bandas novas, modernas. Rosana, descolada, levou a amiga turista para dançar lá. Da parte dele, ao que tudo indica, foi amor à primeira vista. Ela pediu pra ele tocar Psycho Killer do Talking Heads, ele a chamou para subir na cabine de DJ. Daí para levá-la para cama e chamá-la para uma banda que ainda nem existia (não necessariamente nessa ordem) foi um pulo.

May, Lonita, Alice (com a luva) e Júlio: a comissão de frente mais clássica da Gang 90

May, Lonita, Alice (com a luva) e Júlio: a comissão de frente mais clássica da Gang 90

May fala sempre que, das quatro absurdettes do começo, Alice era quem cantava melhor porque tinha um background (a participação no disco do U2). Acho que era mais talento nato, mesmo porque a experiência anterior dela foi muito pequena (a última faixa do disco de estreia do U2, que podia ter dado em nada).

Alice namorou Júlio por um tempo considerável. A origem do seu nome artístico é Liesel Pink-Pank.

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Liesel Pink-Pank

era uma bailarina alemã dos anos 1930. A própria Alice gostava do nome, gostava de dançar e escolheu a alcunha

Alice chegou a compor duas músicas do primeiro álbum da Gang 90 – na verdade foi a única absurdette a fazê-lo nessa estreia. Eram as menos conhecidas e nem por isso menos incríveis Românticos a Gô-gô e Jack Kerouac, ambas parcerias com Júlio.

Românticos a Gô-gô é tão neotropicalista que nem sei. A letra é um name dropping de nomes incríveis: de Cartola a Jimi Hendrix, de Brigitte Bardot a Pagu, de Yoko Ono a Marcel Duchamp, de Arto Lindsay a Vaslav Nijinsky. Uma delícia.

Já Jack Kerouac é bem spoken word.

Mas essas, na minha modesta opinião, nem são as melhores contribuições de Alice para a nossa música.

Nesse meio tempo, Júlio começou a beber mais e ficar violento com ela, como é narrado no livro de Konijn. E Alice, num show na Urca, conheceu um baterista que Júlio chamou na amizade para substituir Gigante Brazil, que não conseguiu chegar a tempo.
Era o Lobão, na época tocando na banda da Marina Lima e ex-Blitz (lembra que eu disse que a Blitz lançou disco antes da Gang?).
Ambos se apaixonaram. Ficaram.
De uma conversa entre Júlio e Lobão, na qual descobriram que ambos estavam apaixonados pelas mesmas mulheres (Alice e Marina), saiu a composição Noite e Dia.

Lobão também gravou. E Marina também, antes dele, no mesmo ano de 1982! Imagino que, se existe essa divisão na música, Alice seria a musa dos primeiros versos e Marina (por causa dos olhos negros) seria a musa da segunda parte.

Em 1983, saía Será Que o King Kong é Macaca?, composição de Toinho com Tavinho Paes, para o especial infantil de TV Plunct Plact Zum! E dá para ver Alice ali, entre as absurdettes. Não sei quando foi gravado, mas me parece que essa deve ter sido uma das últimas coisas que Alice fez com a banda.

Acabou que Alice saiu da Gang e da casa de Júlio – foi morar com o Lobão e acabou entrando para a banda que ele tinha na época e que atendia por Lobão e os Ronaldos. Júlio, enquanto isso, achou outra absurdette para manter o número de três mulheres no palco (calma que eu já conto essa parte!).
Nesse meio tempo, a holandesa fez uma participação num disco muito especial: a estreia de Léo Jaime.

Phodas "C” saiu em 1983 e Alice é a backing vocal que canta junto com ele em Ora Bolas!, a voz feminina mais destacada. Em teoria, May East também participou desse disco em outra música – no encarte, está creditada para Eu Vou. Mas o detalhe: não existe música chamada Eu Vou nesse álbum. Entendeu? Nem eu.
(May namorou Jaime nessa época)

Bom, então vamos para Ronaldo Foi pra Guerra, o disco do Lobão e os Ronaldos que não só traz Alice nos vocais e teclados mas também como compositora.

Um clássico do BRock direto de 1984, Ronaldo Foi pra Guerra é bem perfeitinho. Quem só conhece os maiores hits devia dar uma revisitada nele, vale a pena. As músicas das quais Alice participou da composição são as ótimas Tô à Toa Tokio (com Lobão), Abalado (idem), a minha preferida Bambina (com Lobão, o baterista dos Ronaldos Baster Barros e o poeta-letrista Bernardo Vilhena) e Inteligenzia (com Vilhena).

Pelo que entendi, a versão de Alice para a saída dela dos Ronaldos é que Lobão arrumou outra mulher (Daniele Daumerie, prima dele que posou nua na capa do primeiro disco solo do Lobão, O Rock Errou, de 1986). A versão dele é que ela entrou numas de se lançar em carreira solo. Enfim!

E lembra que em 1985 a May East lançou seu primeiro disco solo? Falei que tinha participação especial de Alice nele, né? Era na faixa Maraka.

Maraka é meio protoaxé, fala de Oxum numa pegada de toque das religiões de matriz afro. Eu adoro! O mais esquisito: só May aparece no clipe. Cadê Alice? Só a voz…

Bom, talvez Alice estivesse ocupada tentando armar a própria carreira solo.

Amo essa música. DE VERDADE.
E olha a surpresa: os compositores, além da própria Alice, eram Leoni e Liminha.

O compacto contou com Baby Love de lado A e 24 Frames Per Second do lado B. 24 Frames é de Alice com Guto Barros (dos Ronaldos) e… Isabella. Não sei quem é Isabella!

O compacto contou com Baby Love de lado A e 24 Frames Per Second do lado B. 24 Frames é de Alice com Guto Barros (dos Ronaldos) e… Isabella. Não sei quem é Isabella!

Foi Liminha quem produziu o compacto de Alice. Mas quando eu digo que é uma surpresa ver Leoni entre os compositores, é porque o compacto saiu pela mesma gravadora da banda de Leoni na época, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. O Kid lançou, em 1985, o disco repleto de hits Educação Sentimental. E diz a história extraoficial que a gravadora preferiu focar no Kid, que tinha Paula Toller à frente, do que em Alice Pink Pank. Morria aí a carreira solo dela.
(E aí rolaria aquela história bizarra do Leoni brigando com o Léo Jaime no palco e a ex-namorada, Paula, e o Herbert Vianna, então atual namorado dela, se metendo no meio, e aí a filha do fundador da Zoomp… Vish, isso é assunto para outro post, né?)

Alice acabou cansando de esperar que alguém lhe desse mais alguma chance e voltou para a Europa. Mas antes… Sim, ela deixou mais uma música para o pop nacional.

É muito doido quando as histórias se cruzam. Lembra que eu falei da Emilinha aqui? Lembra que ela fez parte do Afrodite se Quiser? Pois é.

Talk Tales, do primeiro álbum delas, é de Alice com uma pá de gente: Paulo Sauer, Luis Casé, Sérgio Santos, Pedro Brandão, Isabela Lago, Flávia C e Claudia Niemeyer (que já foi da Blitz e da Gang 90). Soa como algo da Blitz, aliás.

Alice ainda tentou seguir carreira artística na Holanda mas essa história não rendeu. Virou um capítulo dos mais interessantes da história do BRock, apesar de desconhecida na sua terra natal (e hoje, no Brasil, também quase esquecida).

Taciana Barros, a resistência

Parte da formação da Gang 90 pós-lançamento do primeiro álbum: Júlio Barroso, May East, Taciana Barros, Lonita Renaux e Herman Torres

Parte da formação da Gang 90 pós-lançamento do primeiro álbum: Júlio Barroso, May East, Taciana Barros, Lonita Renaux e Herman Torres

Taciana tocava numa banda de garotas em Santos, litoral de SP, quando Júlio a viu. Não fica claro nas histórias orais que a gente ouve se nessa época Alice já tinha saído ou estava para sair da Gang 90, mas o convite rolou ali no meio de um show, com Taciana no palco e Júlio na plateia, gritando "passa seu telefone".
A gente não sabe se ele ligou 3 horas da manhã com um papo poesia, mas logo Taciana era uma das absurdettes no lugar de Alice. De cabelo curto (como Alice) e roupas moderninhas (idem), ela é tratada como “a substituta" até hoje, por mais que já tenha provado pelo resto da carreira que é muito mais que isso.
Mas algo que pode ter colaborado para essa visão do povo é o fato dela ter participado do clipe de Telefone dublando, mesmo não tendo gravado a música.

(E repare que estranho: Lonita não aparece aqui)

Quando Júlio morreu, em 1984, ele e Taciana estavam num estágio de composição avançado do segundo álbum da Gang. May já tinha saído, Herman Torres pelo que entendi também, Lonita não sei. Taciana decidiu levar a coisa para frente. A Gang 90 continuaria sem o seu nome principal, Júlio Barroso, e cortava o “absurdettes". Agora era uma absurdette que virava líder e o disco Rosas & Tigres saiu em 1985. Entre as composições, tem um monte de música com co-autoria de Júlio (9 das 11). E também um monte da Taciana (8 das 11).

Rosas e Tigres, a primeira faixa, é a música que o povo fala que Júlio estava empolgado a respeito, antes chamada Kamikaze Coração. A voz principal virou da Taciana. De Júlio, Taciana e Roberto Firmino (que fazia parte dessa nova formação), é ótima. Entrou para a trilha sonora da Armação Ilimitada. Mas não "aconteceu" nas paradas, assim como o resto do álbum.

Sexismo? Não sei, porque Paula Toller era a voz do Kid Abelha e tudo bem ela fazer sucesso, né? Será que duas já eram demais?

Curiosidade: em 2015, o disco de Filipe Catto Tomada trouxe uma gravação de Do Fundo do Coração, música de Taciana e Júlio, a última desse álbum Rosas & Tigres. Adoro demais a original, e esse remake é legal também.

Pedra 90, que saiu em 1987, é o terceiro e derradeiro disco da Gang, ainda com Taciana à frente. Dessa vez, só uma música contava com Júlio Barroso na autoria (Junk Favela). E, no lugar de Roberto Firmino, quem assume a composição de várias músicas aqui é Gilvan Gomes (5 das 8).

A curiosidade é que tem dois ícones do BRock escondidos aqui entre os compositores, ambos em parcerias com Taciana. Arnaldo Antunes, na época parte dos Titãs, é co-autor em Vida Dura. E Edgard Scandurra, do Ira!, é co-autor de Coração de Alguém.
Edgard foi casado com Taciana e lá pelo fim dos anos 1980 tiveram um filho, Daniel. No verso do álbum Amigos Invisíveis, o primeiro trabalho solo do Scandurra (saiu em 1989), tem uma foto do Daniel.

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A música Bem Vindo Daniel é em homenagem ao bebê. Taciana é co-autora de Abraços e Brigas, Culto de Amor e Vou me Entregar Como Nunca.

Em 1989 apareceu a banda Solano Star – o nome é uma homenagem ao navio Solana Star, que estava traficando latas de maconha em direção de Miami em 1987. Ao descobrirem que o barco estava sendo procurado, a tripulação jogou as latas no mar… e eles estavam perto do litoral do Rio. Resultado: surgia o que ficou conhecido como verão da lata, de 1987-88, com o povo achando latas na praia e arrasando, se é que me entendes.
Faziam parte da Solano Star: Taciana nos vocais e Scandurra na guitarra, mais um povo. Gosto BASTANTE de Uma Vez Mais:

Não sei quando a Solano Star terminou, só tenho essa referência de data desse clipe: 1990.
No repertório da banda também tem Isadora, uma música feita por Taciana baseada em longas conversas entre ela e Andréa de Maio, personagem clássico da noite paulistana. Isadora é sobre travestis.

Também não sei exatamente quando começou o relacionamento de Taciana com Mitar Subotic, o Suba.

Suba, iugoslavo, veio para o Brasil na época do Collor com uma bolsa para estudar bossa nova. Acabou virando um dos responsáveis por divulgar o casamento entre a música brasileira e a eletrônica, trabalhando com gente como Marina Lima e Bebel Gilberto.
Suba e Taciana casaram, e dessa união saíram coisas maravilhosas. Em 1995, foi lançado o Janela dos Sonhos, primeiro e por enquanto único disco solo de Taciana.

Uma coisa interessante é que continuou (e continua) tudo em família: Scandurra participou desse álbum, por exemplo. E a primeira música, Qualquer Gesto, é uma nova versão para Qualquer Gesto do disco Rosas & Tigres, o segundo da Gang 90, composição de Taciana com Júlio Barroso e Roberto Firmino. E é muito boa!!!

O álbum solo do próprio Suba, São Paulo Confessions, saiu em 1999 e trazia a participação de algumas vocalistas – entre elas, Taciana em Você Gosta, composição dele, dela e de Marcelo Rubens Paiva.

É interessante porque essa neo bossa, ou seja, mistura da eletrônica com bossa nova, samba jazz e congêneres, estava pelo mundo (vide meu post sobre Shibuya-kei) nos anos 1990. Com Suba no Brasil, ela chegou no seu ponto mais burilado, mais refinado. O auge.

Suba morreu num incêndio no mesmo ano de lançamento desse disco, 1999. Seguia casado com Taciana mas eles já estavam morando separados.

Imagina que loucura para ela? Júlio, depois Suba.

Em 2008, surgia o projeto que provavelmente foi o mais bem sucedido comercialmente de Taciana. Era o Pequeno Cidadão, de música infantil, ao lado dos comparsas Arnaldo Antunes, Antonio Pinto e mais uma vez Scandurra.
Pequeno Cidadão é MUITO LEGAL. E não precisa ser criança para gostar! Eu juro!

E assim termina – por enquanto – a história das absurdettes.
Todas maravilhosas.
Obrigado para elas. <3

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November 13, 2020 /Jorge Wakabara
Jorn Konijn, Ricardo Alexandre, documentário, Vitrola Verde, Cesar Gavin, Lobão, Arthur Dapieve, Júlio Barroso, Gang 90, Kid Creole and the Coconuts, Luiza Maria, Nelson Motta, Guilherme Arantes, Festival MPB Shell, São Paulo, Lonita Renaux, Denise Barroso, Siouxsie and the Banshees, Antonio Carlos Miguel, Barão Vermelho, Cazuza, Roberto Frejat, Guto Goffi, Baixo Gávea, Noites Cariocas, Morro da Urca, A Vida Sexual do Selvagem, Andrea Barroso, Aids, Okky de Souza, May East, Maria Elisa Caparelli Neto, TVDO, videoarte, East Side, NY, Lili Marleen, Marlene Dietrich, Alagoas, tropicalismo, new wave, Fernando Deluqui, Luis Schiavon, RPM, Areias Escaldantes, BRock, Kodiak Bachine, Agentss, Ted Gaz, Kid Vinil, Magazine, Léo Jaime, Tavinho Paes, Arnaldo Brandão, Alec Haiat, Yann Laouenan, Metrô, Guilherme Isnard, Zero, Alberto Birger, Nelson Coelho, Fabio Golfetti, Cláudio Souza, Violetas de Outono, Nico Rezende, chorinho, world music, Gaia Education, sustentabilidade, Alice Pink Pank, Alice Vermeulen, Holanda, rock, Tilburgo, Playboy, U2, anos 1980, Europa, Dublin, Rosana Pires Azanha, Paulicéia Desvairada, Liesel Pink-Pank, spoken word, Gigante Brazil, Marina Lima, Blitz, Plunct Plact Zum!, Lobão e os Ronaldos, Ronaldo Baster Barros, Bernardo Vilhena, Daniele Daumerie, axé music, Oxum, religião, Leoni, Liminha, Guto Barros, Kid Abelha, Paula Toller, Herbert Vianna, Emilinha, Afrodite Se Quiser, Claudia Niemeyer, Taciana Barros, Santos, Herman Torres, Roberto Firmino, Armação Ilimitada, Filipe Catto, Gilvan Gomes, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Ira!, Titãs, Solano Star, Solana Star, maconha, verão da lata, Andréa de Maio, travesti, Suba, Mitar Subotic, bossa nova, música eletrônica, Bebel Gilbert, Marcelo Rubens Paiva, anos 1990, Pequeno Cidadão, Antonio Pinto
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O russo amarelo que virou popstar: Viktor Tsoi

October 15, 2020 by Jorge Wakabara in música, cinema, política, arte

Desde que vi uma imagem de Viktor Tsoi pela primeira vez, pensei: ele é russo mas é amarelo. Ao mesmo tempo não tinha certeza, porque tem algo nele que estranhamente me lembra o meu amigo Ricardo Domeneck. ??? Então também achava que era algo que eu tinha inventado na minha imaginação fértil.

Mas surpresa, não era: Viktor Tsoi tinha ascendência coreana sim! E ele foi um dos responsáveis pela “trilha sonora da perestroika”. Como se não bastasse, teve um fim trágico, o que o transformou num daqueles ícones que morrem jovens (escapou da sina dos 27 anos: morreu com 28). É estranho que a gente saiba tão pouco dele, mas ao mesmo tempo… O que a gente sabe de cultura pop russa, né?

Pra escrever esse post, decidi assistir ao filme Verão (em russo, Leto), lançado em 2018. Ele não traz exatamente a história inteira de Tsoi mas sim um recorte específico, baseado nas memórias de Natalya Naumenko.

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Natalya, que era casada com Mike Naumenko, da banda russa Zoopark, e tinha um filho dele, observou a aproximação de Tsoi, ainda músico iniciante, na turma do rock de Leningrado (na época, São Peterburgo era Leningrado). Viktor e Mike, que era considerado um veterano, com mais experiência e conhecimento sobre o rock, se aproximaram. E Natalya, cujo apelido era Natasha, se apaixonou por Viktor. Acabou falando dessa paixonite pra Mike e chegou a beijar Viktor, mas tudo não passou de uma tensão sexual mal-resolvida, no fim das contas.

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

Ou seja, o recorte do filme está bem no começo da carreira de Viktor Tsoi. Eles retratam como era a cena rock da União Soviética na época – eu sei porque já vi em documentários. Tinha todo um esquemão controlado pelo governo de shows nos quais o povo tinha que ficar sentado paradinho assistindo, aplaudindo só no final das músicas (no longa, as apresentações acontecem no Leningrad Rock Club que abriu em 1981). As letras passavam por censuras prévias. Ao mesmo tempo que os roqueiros eram vistos com maus olhos (afinal, estavam se rendendo à música corrupta do inimigo capitalista), essas manifestações eram quase uma válvula de escape permitida pelas instâncias superiores – meio que um mal necessário, que acabaria existindo mesmo que fosse proibido. E de fato também existia de maneira ilegal, em festas particulares. Aos roqueiros não era permitido ganhar dinheiro com shows, então eles ganhavam em apresentações ilegais e alguns tinham empregos fixos – caso de Mike. Viviam bem pobres no geral e por isso eram quase que forçosamente punks.

Um clique de Viktor fazendo um clique

Um clique de Viktor fazendo um clique

Bom, chegou a hora da surpresa: como eu estava dizendo, meu intuito ao assistir ao filme era saber mais da história de Viktor Tsoi. Simples assim, sem grandes expectativas.
Caros leitores… Que filme.
Verão chegou a entrar em circuito nacional, distribuído pela Imovision, e está disponível pra aluguel via Google Play. O diretor Kirill Serebrinnikov foi condenado à prisão domiciliar em agosto de 2017, no meio da produção. Dizem que a motivação dessa prisão foi política. Ele não estava presente nas últimas filmagens e coordenou a edição do longa da sua casa.
Verão tem vários trechos musicais. E é musical mesmo, não estou falando só de ator interpretando músico cantando uma canção. Estou falando de pedestre e usuário de transporte público cantando. Estou falando de uma quase coreografia (quase porque na verdade é mais posicionamento e partitura de gestos do que danças). Quem me conhece sabe que não gosto de musicais, mas a partir de agora, quando me questionarem, vou dizer que não gosto de quase todos. Mas Verão, por exemplo, é exceção.
Fica fácil quando as músicas que pintam, fora as de Tsoi e Naumenko, são Psycho Killer (do Talking Heads), The Passenger (do Iggy Pop), Perfect Day (do Lou Reed) e citações declamadas de Call Me (do Blondie). E na verdade perdi tudo mesmo nesse trecho maravilhoso:

(Sim, isso é um trecho do filme)

Uma direção delicada e cheia de energia, umas horas Jules et Jim, outras clipe Bang da Anitta, consegue trazer essa energia da época, essa vontade de pop (e de americanização, vamos falar claro, né) que existia nos últimos anos de poder soviético. Irina Starshenbaum no papel de Natalya está um desbunde, Anna Karina atualizada (ou meio não-atualizada, já que o filme se passa nos anos 1980).

O longa também mostra o encontro de Tsoi com a sua primeira mulher, Marianna Tsoi. Na história do filme, Natalya, cujo apelido era Natasha, dá um empurrãozinho na relação.

Uma coisa que acho muito legal de Verão, uma vez que ele é baseado nas memórias de uma participante dos acontecimentos, é que eles propositalmente misturam realidade e fantasia. Um dos personagens, o Cético (Aleksandr Kuznetsov), faz questão de falar com todas as letras em diversos momentos: “Mas isso não aconteceu". Como nunca fica claro o que realmente rolou, é como se você estivesse acompanhando uma história oral, na qual foi acrescentada uma pimentinha aqui e ali… Do jeito que sempre acontece quando falamos de lendas musicais e turmas de amigos, né?

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Mas OK, voltando ao Tsoi: o filme termina no que parece ser a primeira apresentação oficial da banda que ficou mais conhecida de Tsoi, a Kino (em português, cinema).

A música Когда-то ты был битником ou Uma vez você foi um beatnik, que está no filme, faz parte do primeiro álbum do Kino, de 1982.

Uma espécie de new wave ainda sem elementos eletrônicos, ela é tosca, meio lou-reediana. Pós-punk raiz.

Tsoi não apenas compunha como chegou a participar de filmes. Em um deles, Assa, de 1987, que virou cult por trazer o rock russo que já pulsava no underground para o mainstream (ou seja, pra telona), Tsoi faz uma versão dele mesmo. Na cena abaixo, ele tenta um emprego como cantor num restaurante. Ao ouvir a lista de exigências da empregadora, ele se enche e literalmente sai andando até encontrar com a sua banda, Kino, e cantar Хочу перемен!
O significado do título da música? “Quero mudanças!” – ela virou uma espécie de hino jovem em meio da perestroika e glasnost.

Foi nas filmagens de Assa que Tsoi conheceu a assistente de direção Natalia Razlogova e se apaixonou. Ele acabou se separando de Marianna, mas eles não chegaram a se divorciar.

Outro filme, dessa vez com Tsoi interpretando o personagem principal, é Igla (1988), considerado o primeiro representante da new wave cazaque (ou seja, do Cazaquistão). Curioso? Segue no link. De nada!

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Em 1990, na Letônia, Tsoi morreu num acidente de carro. A investigação chegou à conclusão de que Tsoi dormiu no volante enquanto dirigia numa velocidade de 130 km/h. Não foram encontrados álcool ou drogas no organismo dele. Dizem que teve fã que chegou a se suicidar.
Tsoi já era cultuado – após a morte virou uma lenda. É relembrado nos países ex-soviéticos até hoje.

Encontrei pouca coisa a respeito da identificação de Tsoi enquanto amarelo. Sei que ele gostava de artes marciais e que se espelhava em Bruce Lee – devia ser uma identificação que passava pelo biótipo, claro. Tsoi chegava a ficar imitando movimentos do ator nos filmes pirateados. Em Verão, o personagem faz isso em uma cena.

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Tsoi também se arriscava nas artes plásticas. Gosto bastante das coisas que já vi.

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Essa moça que está aparecendo nessa penúltima obra é a Joanna Stingray, que foi mulher de Yuri Kasparyan, colega de Tsoi no Kino na guitarra. Stingray é californiana e foi uma das responsáveis pela divulgação do rock soviético fora da URSS na época.

É isso. Ouça Kino.

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October 15, 2020 /Jorge Wakabara
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Um elo perdido de estrela pop: Emilinha

September 07, 2020 by Jorge Wakabara in música, TV

Acho que a gente pode começar essa história lá atrás. Mais para trás. Bem mais. Em 1954. O ano da vitória de Martha Rocha como Miss Brasil e da polêmica das duas polegadas a mais de quadril que a teriam desclassificado no concurso de Miss Universo. Essa polêmica, dizem, foi inventada por um jornalista para que os brasileiros não ficassem tão tristes – estavam todos muito confiantes da vitória de Martha. Acabou entrando para a posteridade como verdade, e o concurso de Miss ficou mais famoso do que já era por essas praias.
Pois bem. E quem ganhou o título de Miss Brasil no ano seguinte? Emília Barreto, representando o estado do Ceará.

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Emília Barreto Corrêa Lima

Millôr Fernandes disse, comparando-a com a antecessora: “A mulher, para ser bonita, precisa ter nariz. Martha Rocha não tem, e o de Emília dispensa qualquer elogio".

Emília se casou no ano seguinte do seu "reinado” com o oficial do exército e engenheiro Wilson Santa Cruz Caldas. Com ele, teve três filhos. Nélson. Marília. E… Emilinha.

Agora vou contar uma outra história.
No fim da década de 1970, tinha um cara que era um gênio da guitarra mas que não conseguia ganhar uma grana boa com o seu trabalho. Já tinha tocado com Fagner, já tinha tocado com Gal, já tinha tocado nos EUA. Em 1981, ele decidiu fazer um disco mais comercial. Surgia Satisfação de Robertinho de Recife. E olha quem estava na contracapa…

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Essa mulher sentada é a Emilinha, a filha da Miss Brasil de 1955. Repare na ficha técnica: participação especial de Emilinha no vocal e guitarra.

Só para dar um contexto, em 1979 saía o primeiro disco de Rita Lee depois de uma sequência de lançamentos com a banda Tutti Frutti. Na contracapa, aparecia seu novo comparsa, Roberto de Carvalho, e a barriga de grávida. Surgia um novo conceito no pop brasileiro: a família do rock!

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Emilinha e Robertinho também eram um casal.

Em Satisfação, Feliz com Você é composição de Robertinho com Emilinha. Romântica, bem bonitinha. Tem também a música Emilinha Dançando, referência clara a ela, composição solo de Robertinho instrumental e curta, de menos de um minuto. Será que a última, Mina de Ouro, de Robertinho com Aninha Bird, é para Emilinha? Acho que não porque fala de uma loira (kkkkk guarda essa informação para daqui a pouco). Mas o grande babado é O Elefante, com a voz dela, um dos grandes hits da carreira de Robertinho, composta por ele e Fausto Nilo.

Era isso, nos primórdios do BRock, mas nem cá, nem lá. Robertinho era um estranho entre a juventude carioca que começava a despontar, e também muito moderno para os medalhões da MPB. Porém incrível, com repertório pop nos trinques.

E se Rita Lee assumiu a parceria com Roberto de Carvalho (que rolava fazia um par de anos) na capa do álbum de 1982, chamado Rita Lee e Roberto de Carvalho e também conhecido como Flagra, Robertinho trouxe Emilinha para a capa de Robertinho de Recife e Emilinha também em 1982.

Identificando-se de vez com a turma new wave (As Aventuras da Blitz saiu em 1982 e um monte de estreias de banda em disco rolariam em 1984), o álbum da dupla traz essa Dominó Dominó de Robertinho e Nilo como carro-chefe e ainda tem uma da dupla de cantores, Estou Débil (meio tosquinha, pra falar a verdade, e politicamente bem incorreta). Sem contar muita coisa legal ali pelo meio, tipo A Onda, outra de Robertinho e Nilo, new wave com toques árabes!

Também adoro Vem Cá Neném, mais uma de Robertinho e Nilo, com a voz de Robertinho no destaque. A produção do disco era de Lincoln Olivetti, que também assina duas composições em dupla com Robertinho (Nas Luzes da Noite e Alguém Especial).

O próximo disco de Robertinho, Ah, Robertinho do Mundo de 1983, ainda trazia mais uma composição em parceria com Emilinha, a última do disco Vou-me Embora. Mas o tom de new wave já vai dando lugar a algo bem centrado na guitarra e a dupla com Emilinha cantando evapora da capa e conteúdo. Não deixa de ser um disco muito bom: traz a versão gravada dele para Bachianas Brasileiras nº 5 de Heitor Villa-Lobos e o hit Babydoll de Nylon, composição de Robertinho com Caetano Veloso, encaixada ali em penúltimo, quase com receio do possível sucesso que ela viria a conquistar (Robertinho sempre disse em alto e bom som que achava O Elefante, por exemplo, um lixo comercial).

E em 1984, segundo entrevistas que o próprio Robertinho deu, ele pagaria um pedágio para cair de vez no metal com o disco Metal Mania. Era isso daqui:

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Sim: a versão original de É de Chocolate, de Miguel Plopschi e Michael Sullivan, é pré-Trem da Alegria, apesar de muita gente ligar o sucesso ao grupo infantil. Era com Patrícia Marx e Luciano Nassyn, ainda sem Juninho Bill, e participações especiais de Emilinha e Robertinho de Recife. A primeira voz que a gente ouve, portanto, é dela: Emília.

Enquanto deixavam Robertinho se enveredar pelo heavy metal depois do Chocolate que ele considerava um mico (mas bem que ele cairia no ultracomercial Yahoo com a sensual Mordida de Amor em 1988, então, ué, decida-se), Emilinha teve um filho dele, Eduardo Caldas, nesse mesmo ano de 1984. É esse aqui, ó:

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia mui…

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia muita coisa com a Tatyane Goulart na TV

(Hoje o Eduardo é roteirista e mudou o nome artístico, assina como Eduardo Albuquerque)

E sim, a própria Emilinha foi em busca do seu lugar ao sol. Surgia o disco "perdido” homônimo Emilinha, cuja capa abriu esse post, em 1986. Nele, seis músicas eram composições solo de Emilinha. Contava também com outras delícias, tipo isso:

Diário de Mentiras é de Leoni, e parece bastante com as músicas dele para o Kid Abelha, sua ex-banda (sinceramente, dá até para imaginar Paula Toller cantando). Leoni saiu do Kid justamente em 1986, brigado, e fundou a sua nova banda, Heróis da Resistência, naquele mesmo ano.
Numa reverência à desbravadora do pop rock nacional, nesse mesmo álbum Emilinha regravou Tratos à Bola, de Rita Lee com os Tutti Fruttis Lee Marcucci e Luis Carlini.

A versão original de Rita saiu em 1974, no álbum Atrás do Porto Tem Uma Cidade.

Mas isso foi apenas o começo. Em 1987, sairiam duas coisas. Primeiro vou mostrar a mais misteriosa, que tem a ver com o lado compositora de Emilinha.

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Não consegui localizar nenhum registro de som dessa belezinha, um girl group chamado Rosa Shok formado por, acho, Andréa, Luciany, Karen, Leila e Adriana. A segunda música do lado A, Todos os Tipos, é de autoria de Emilinha. Entre os compositores, a maioria é bem misteriosa. Mas tem o Papa Kid que já fez coisas com Luiz Melodia, com o próprio Robertinho, com Fausto Nilo. Olha esse compacto do Papa Kid de 1982, que maravilhoso:

E lembra que eu falei do Gastão Lamounier Neto sobre O Dono da Bola, a música do Mário Gomes? Ele também fez uma para a Rosa Shok, Moto Prateada, com Luis Mendes Junior. Gastão tem história com o pop nacional dos anos 1980: fez coisas para Neusinha Brizola (<3 <3), Sempre Livre, Sandra de Sá, Tim Maia, Banda Black Rio.
E Luis Mendes Junior? Bom, esse cara é o responsável por Piuí Abacaxi. Não finja que não sabe do que eu estou falando.

Se alguém achar o álbum da Rosa Shok por aí, me avisa?

O outro capítulo de 1987 na história de Emilinha é esse aqui.

"Não adianta. Por mais que eu tente, não dá pra entender. Como é que você pôde me trocar por essa… essa lôra horrorosa… E eu que dei tudo de mim. Dei o melhor de mim pra você. Mas tudo bem. Um dia você vai ver o que perdeu. Mas aí vai ser tarde demais porque eu é que não vou mais querer nada com você. Você é que vai ficar na pior… Babaca!"

O Que Que Ela Tem Que Eu Não Tenho é uma composição de Emilinha. A primeira formação de Afrodite Se Quiser é com ela, Karla Sabah (que é quem manda esse textão no começo da música) e Patrícia Maranhão. Elas lançaram um disco homônimo em 1987.

Além dessa, tem dedo de composição de Emilinha em Pega Leve (com Casaverde) e Peito e Bum-Bum (com Patrícia Maranhão).
Pega Leve é BEM LEGAL, de verdade, assim como Peito e Bum-bum. São meio… empoderadoras? "Pega leve comigo / que eu vou botar pra quebrar / Tudo que eu quero, eu consigo / Eu posso te arrasar" & "Seu desejo pra mim é só um / Mas eu não sou só peito e bum-bum".
Tudo Por Um Toque de Amor, da Patrícia, é bem delicinha oitentista também, com uma melodia cheia de agudos que elas seguram muito bem.

No lado B desse álbum tem um medley que a gente pode enxergar meio como as coisas que o Harmony Cats, grupo vocal feminino, fazia: juntar um monte de hits do passado dando uma nova roupagem, nesse caso mais para pop oitentista.

Em 1989, saiu outro disco de Afrodite se Quiser e uma outra formação: sem Patrícia Maranhão, agora elas contavam com Gisela Zingoni. Gisela chegou com tudo: grande parte das composições do álbum Fora de Mim tem o dedo dela.
O single, Papai e Mamãe, é de Gisela com Emilinha:

A curiosidade: a direção desse clipe é do Boninho!
De composições da Emilinha, o álbum ainda conta com Eu Não Vou e Já Tá Pegando Mal (ambas com Zingoni) e Fora de Mim (só dela).

Ainda em 1989, o trio gravou Canção Para Inglês Ver do Lamartine Babo para a novela Kananga do Japão, da Manchete.

Ficou uma coisa meio Frenéticas, né?

Karla foi a única do trio que seguiu carreira de cantora. Gisela acabou se especializando em edição de songbook e Emília Caldas passou a trabalhar com figurino.

O Afrodite faz parte de uma linhagem de girl groups do pop brasileiro que a gente chega a negligenciar, na minha modesta opinião. Citei alguns de maneira espalhada por esse post: Sempre Livre, Harmony Cats, Frenéticas. Tem também As Sublimes, Banana Split, SNZ, Pearls Negras, sem esquecer o que talvez tenha sido o mais bem sucedido de todos: Rouge.
Mas, acima de tudo, Emilinha fez história no pop brasileiro. É de Chocolate foi disco de platina (segundo consta, Robertinho chegou da cerimônia da entrega em seu apartamento no 12º andar e o jogou pela janela, imagina o perigo). O Que Que Ela Tem está no mármore eterno da memória de 10 entre 10 crianças, adolescentes e adultos dos anos 1980.

Qualquer coisa dessa discografia em vinil: EU QUERO.

Quem gostou desse post pode gostar de:
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September 07, 2020 /Jorge Wakabara
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Shibuya-kei sem ser no Japão: de Swing Out Sister a outros deliciosos pastiches

July 22, 2020 by Jorge Wakabara in música

Ah, o zeitgeist…

Você sabe o que é Shibuya-kei? Eu dei uma explicação bem completa no terceiro episódio da primeira temporada do programa Quatrilho no meu podcast, quando falei do Pizzicato Five. Mas para quem está com preguiça de ouvir, segue aqui: Shibuya é um bairro de Tóquio e, lá no começo dos anos 1990 começou a despontar por ali uma espécie de movimento. É que os xóvens estavam gostando de certo tipo de som, uma coisa nostálgica revisitada com eletrônica, um pastiche irônico de Burt Bacharach, Phil Spector, Serge Gainsbourg, Beach Boys… No Japão, faziam parte Pizzicato Five, Flipper's Guitar, Original Love e outras bandas (também tem esse post no qual falo mais).

Acontece que o movimento era mundial – muita gente também inclui Dimitri from Paris, April March e até o Pato Fu entre os representantes do Shibuya-kei. Esse interesse pelas músicas dos anos 1960, pelo retrofuturismo e pela orquestração à moda wall of sound do Spector já estava pintando desde os anos 1980. Enxergo vários pontos de partida longe de Tóquio. Muitos deles aconteceram em outra ilha, no Reino Unido.

Dusty Springfield & Pet Shop Boys

O ano era 1987 e o álbum era Actually, dos Pet Shop Boys. Eles decidiram resgatar um ícone vivo que naquele momento estava injustiçado, bem longe das paradas de sucesso. Nada menos que Dusty Springfield.

Não tem como deixar de enxergar a combinação entre pop eletrônico e as canções arranjadas por Spector aqui. Dusty, que tinha uma história muito particular com o soul mesmo sendo branca, era símbolo dessa memorabilia que o Pet Shop Boys curtia e queria reverenciar. Dusty in Memphis, o álbum de 1969, segue como um dos maiores clássicos da música pop.

Depois do sucesso que foi What Have I Done to Deserve This, feita especialmente para a participação de Dusty, a dupla e a cantora colaboraram em Nothing Has Been Proved. Mais referente aos anos 1960 ainda, a música foi uma encomenda do produtor Stephen Woolley para o filme Scandal de 1989, sobre o caso Profumo de 1963 que abalou a política britânica na época. Nothing cita nomes envolvidos e fala que Please Please Me, canção dos Beatles, estava no topo das paradas. A gente quase não se toca ao ouvir a música descompromissadamente, mas ao colocá-la no contexto do Shibuya-kei, conseguimos enxergá-la como uma faixa dos primeiros discos do Pizzicato Five!

O disco de 1990 de Dusty, Reputation, ainda contaria com outras três faixas compostas e produzidas pelo Pet Shop Boys fora Nothing: In Private, Daydreaming e Occupy Your Mind, tudo isso no lado B. Mas também é interessante uma faixa do lado A do disco: Arrested by You, composta pela dupla Rupert Hine e Jeanette Obstoj, ganhou produção de Paul O'Duffy. Sabe quem é ele?

Swing Out Sister: tudo no último minuto

Corinne Drewery sempre diz em entrevista que tanto o nome, Swing Out Sister, quanto o primeiro sucesso deles, Breakout, foi resolvido de última hora, quando eles tinham que apresentar algo ou estavam fora. Pois sim: Breakout foi "resolvida” momentos antes de ser gravada no estúdio! Quando o single de Breakout saiu, em 1986, foi um, er, breakout. E quem era o produtor? Adivinha… Paul O'Duffy!

Paul, só para você saber, seria o dono do estúdio caseiro onde Amy Winehouse trabalharia em algumas faixas do que se tornaria o clássico Back to Black (2006). A faixa Wake Up Alone tem créditos para Paul e Amy.

Na época de Breakout o Swing Out Sister era um trio, com Corinne abandonando uma carreira de modelo e estilista para se juntar aos músicos Andy Connell (teclados) e Martin Jackson (bateria). Você quer mais paralelos com o Pizzicato Five? Bom, logo após esse primeiro álbum, Jackson sai (e vai trabalhar com ninguém menos que Frank Zappa) e o trio vira duo. Foi com essa formação que eles lançariam o próximo álbum, Kaleidoscope World, de 1989, e chegariam em Am I the Same Girl? em 1992 no disco Get in Touch With Yourself.

Am I the Same Girl? na verdade é uma regravação de Barbara Acklin de 1968. E teve uma outra pessoa que regravou a canção no ano seguinte ao lançamento de Barbara… Dusty Springfield! Dusty era referência de Drewery, de Winehouse… e certamente de Maki Nomiya no Pizzicato Five.

O mundo é do tamanho de uma azeitona, né?

A mistura de jazz e pop do Swing Out Sister ganhou um outro nome entre os críticos musicais: eles seriam conhecidos como um dos maiores representantes do sophistipop. Isso mesmo: SOPHISTIPOP. It's a thing, google it!

O Swing Out Sister existe até hoje e segue lançando álbum até hoje, mas sem chegar perto do sucesso que conquistou até 1992. O importante é que: eles seguem ótimos!!! E, não obstante, tem um séquito de fãs fiéis… no Japão.

Uma coisa que caracteriza o Shibuya-kei é a programação visual caprichada do material gráfico que seus "membros” apreciam. Swing Out Sister: check! Tem uma coisa retrô, fashion e divertida que as bandas japonesas também amavam

Uma coisa que caracteriza o Shibuya-kei é a programação visual caprichada do material gráfico que seus "membros” apreciam. Swing Out Sister: check! Tem uma coisa retrô, fashion e divertida que as bandas japonesas também amavam

Além de Dusty: Sandie Shaw e os Smiths!

Muita gente nessa década de 1980 compartilhava desse gosto pelo pop retrô com Neil Tennant e Chris Lowe. Um desses colegas era Morrissey, tanto é que ele convenceu Sandie Shaw, aquela que cantava (There's) Always Something There to Remind Me em 1964 e que ganhou o Eurovision em 1967 com Puppet on a String, a ouvi-lo numa proposta…

Morrissey tinha uma fascinação com cantoras pop de duas décadas atrás por influência do New York Dolls, dizem. E ele e Johnny Marr queriam ser respeitados como compositores, tanto quanto com a banda The Smiths em si. Então eles decidiram convencer Sandie a gravar uma música deles. Muito bem: depois de muito trabalho para ela aceitar, eles entraram em estúdio em 1984 para gravar Hand in Glove, que havia sido o primeiro single dos Smiths em 1983. Repare que os Smiths ainda estavam no começo da carreira! E Sandie diz que ficou chocada ao receber o single de Hand in Glove, que traz a bunda do ator George O'Mara em foto de Jim French. Ela teria dito para o marido: "He’s started sending me pictures of naked men with their bums showing!".
Bom, parece que no fim a bunda venceu…

Mandaram nudes para Sandie…

Mandaram nudes para Sandie…

Sandie lançou o álbum Hello Angel em 1988. O single Please Help the Cause Against the Loneliness foi escrito por Morrissey e o produtor Stephen Street. O disco ainda traz Cool About You, uma música inspirada nos hits de Phil Spector e composta por Jim e Willian Reid do The Jesus and Mary Chain. Outra regravação é A Girl Called Johnny, originalmente da banda The Waterboys e inspirada em Patti Smith.
Deu para perceber que esse disco da Sandie é ótimo?

A olhos nus: Sandie de novo

Ah, e lembra do sucesso (There's) Always Something There to Remind You da Sandie? Composta por Bacharach e Hal David, ela reapareceria em versão synthpop em 1982 com o Naked Eyes. No Brasil, acredito que essa versão acabou fazendo mais sucesso que a original principalmente pela sua inclusão da trilha sonora da novela Guerra dos Sexos! E de fato ela é ótima, aqueles sinos do começo são SHOW, as batidas do refrão idem.

Já que falamos deles: Psychocandy, do The Jesus and Mary Chain

A música que abre Psychocandy (1985), Just Like Honey, simplesmente empresta a bateria de um sucesso de 1963 das Ronettes: Be My Baby. Sim, Psychocandy prenunciou o sucesso de Be My Baby que viria na trilha do longa Dirty Dancing em 1987. O resto do álbum deles tem toques de Bacharach, sempre combinados com muita distorção. É como se o Shibuya-kei fosse guitarreiro e mais barulhento, menos eletrônico. Esse paradigma duraria até os anos 2000 entre as bandas de rock indie, que emulavam essa "fofura distorcida".

Melodia carismática & a onda mais doce da new wave: Since Yesterday

Uma das minhas músicas pop preferidas EVER, Since Yesterday não ficaria deslocada ao lado num disco de Merrilee Rush, de France Gall ou de Petula Clark. Ela RESPIRA anos 1960. O maior sucesso da dupla Strawberry Switchblade saiu em 1984 e é sobre… guerra nuclear. Quenda. Existe um motivo para ela ser tão docinha mesmo com as batidas da new wave: o Strawberry Switchblade na sua origem era uma banda folk-pop, e essa música foi o marco da virada, composta por uma das integrantes, a Rose McDowall, mas produzida de maneira diferente. A melodia do começo foi tirada do terceiro movimento da quinta sinfonia de Jean Sibelius – não acredito que acabei de falar de música clássica nesse blog.

O clipe acima também mostra o estilo característico delas, com maquiagem pesadona nos olhos e muita estampa de bolinha, muito acessório, uma coisa fofa-moderna pra época. Precursoras do kawaii. Adoro demais.

Um momento, maestro: Everything But the Girl em 1986

Eu sei, tudo é sempre uma desculpa para falar de Everything But the Girl e Pizzicato Five, mas eu não resisti.

Em 1986, o Everything But the Girl já tinha lançado dois álbuns: Eden, que é bem jazzy bossa nova, e Love Not Money, super new wave rockeirita. Aí eles cometeram Baby, the Stars Shine Bright, a coisa mais retrô que eles poderiam fazer na época.

Acho que eles chegam até a ultrapassar os anos 1960 e chegam nos anos 1950, com arranjos grandiosos orquestrados, uma loucura. A versão deluxe lançada em 2012 inclui um segundo disco que traz demos e outras delícias tipo a versão deles de Alfie, música de Bacharach e David, e Where's the Playground, Susie? de Jimmy Webb (com a voz de Ben Watts liderando, coisa que não acontecia com frequência). MUITO SESSENTA.
Alfie, da trilha do filme de 1966 estrelado por Michael Caine no papel do mulherengo Alfie, seria lançada por Dionne Warwick pela vontade dos compositores. Mas a Paramount preferia uma cantora inglesa. Chamou Sandie Shaw. Ela não quis. A escolhida acabou sendo Cilla Black, na época que ela ainda era agenciada por Brian Epstein. Foi gravada nos estúdios da Abbey Road – onde o EBTG gravou Baby, the Stars Shine Bright. E depois seria regravada por Warwick e Cher.

Depois desse álbum de 1986, o EBTG partiria para o… sophistipop. Sim.

Você quer? Don't You Want Me?

Ah, sim, tem o Human League.
O álbum Dare de 1981 foi um divisor de águas para eles, que começaram como uma banda de eletrônico experimental!

Tudo é MUITO new wave. Mas ouça Open Your Heart, por exemplo. A melodia num crescendo soa bem retrô, e se tivesse uma big band por trás, poderia facilmente ser um hit produzido por Spector. Ela saiu antes do disco, como single, e nessa época os singles do Human League ganhavam selos azul ou vermelho para diferenciar o “estilo musical". Segundo a Susan Ann Sulley, uma das vocalistas, o vermelho era para os posers, os Spandy (fãs de Spandau Ballet, portanto fãs de… SOPHISTIPOP, oh, sim). E o azul, que era o selo do Open Your Heart?
"Para fãs de ABBA", respondeu o líder da banda Phil Oakey para a New Music Express em 1981.

Não sei vocês mas eu sou fã de ABBA.

Bom, e aí saiu o single Don't You Want Me desse álbum, uma música que Oakey considerava uma filler, a faixa mais fraca do álbum, tanto que é a última. HAHAHAHAHAHAHA! Foi o executivo da Virgin Simon Draper que insistiu no lançamento que seria o quarto single desse disco (os outros três foram lançados antes do álbum em si sair). Oakey defende que Don't You Want Me virou um sucesso graças à MTV, que passava o clipe toda hora.

O dueto, o refrão chiclete, o "ôô-ôô", a relação meio Pigmaleão "criador x criatura" encharcada de feminismo quando o textão da mulher entra. É tudo deliciosamente pop sessentista. MAS o visual do clipe é outro, que estava em voga nos anos 1980: new romantic (olha o make de Oakey, que tudo!), bem filme noir portanto anos 1940… que era a década da moda dos anos 1980, mesmo!
Também adoro a metalinguística no roteiro do clipe. A direção é de Steve Barron, um mestre que também cometeu Billie Jean de Michael Jackson em 1983, Africa do Toto em 1982 e Take on Me do A-ha em 1985! Dá um play que vale a pena.

Outra coisa que Susan Ann Sulley e Joanne Catherall, a outra vocalista, fariam pela cultura pop seria o visual retrô delas, construído em brechó. Por falta de grana? Também, mas a sensibilidade fashion delas gritava. Claro que elas não foram as pioneiras: já se fazia isso na cena jovem moderna do Reino Unido em geral. Mas elas divulgaram isso pelo mundo. Via MTV.

A ponte de tudo? Our Lips Are Sealed!

Jane Wiedlin e Terry Hall uniram forças em algum momento de 1980. Quer dizer… uniram os lábios mesmo. Wiedlin diz que eles tiveram uma coisinha rápida na turnê dos The Specials (de Hall) que a The Go-Go's (de Wiedlin) abria nos EUA. Era um caso secreto, pois Hall tinha uma namorada na Inglaterra. Nesse meio tempo, eles compuseram Our Lips Are Sealed, que acabaria saindo em 1981 no disco Beauty and the Beast das Go-Go's.

Enquanto banda de rock de mulheres, o The Go-Go's mantinha fortes laços com os anos 1960. Até demais: elas eram mais clássicas, e apesar de serem consideradas new wave (mais especificamente o começo da new wave, com esse disco Beauty and the Beast), para os meus ouvidos a coisa ainda está bem perto dos poucos acordes do punk e do ska, longe dos teclados e sintetizadores.

Só que Our Lips Are Sealed é muita perfeição pop sessentista. E aí apareceu a regravação de Hall, que já tinha saído do Specials, no trio Fun Boy Three. Esse foi o último hit deles, aliás, em 1983.

A música ficou mais dramática, combina uma certa ingenuidade sessentista com algo mais… O que a deixa, sim, muito mais Shibuya-kei, certo?

Claro que o Shibuya-kei RAIZ em si se aproveita dos avanços da eletrônica na música, e isso caracteriza demais o estilo, com samples e tal. O que eu quis mostrar é que tudo foi uma construção, que essa onda retrô já existia e que a revalorização do climinha lounge music não pintou do nada. Uma coisa que falta em tudo isso que citei e que o Shibuya-kei acrescentou com força no menu é a bossa nova.
Bom, se a gente for contar o Everything But the Girl… OH, WELL. Chega por hoje, vai.

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July 22, 2020 /Jorge Wakabara
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