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Para entrar em Pânico

October 17, 2020 by Jorge Wakabara in cinema

Já estávamos quase na metade dos anos 1990 e parecia que os filmes slasher adolescentes era a coisa mais anos 1980 que existia. O Pesadelo Final (1991) com Freddy Krueger era uma piada (assisti no cinema, que eu me lembre, e na época achei legal principalmente por causa dos minutos em 3D no fim do filme – mas na verdade eu era uma criança kkkkkk). Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989) também é considerado o mais fraco da franquia pela maioria dos fãs. Jason Vai Pro Inferno – A Última Sexta-Feira (1993) só não foi pior nas bilheterias que o seu antecessor Sexta-Feira 13 – Parte VIII: Jason Ataca em Nova York (1989); amo esse de 1989 justamente por ele ser ruim demais kkkkkk

Aí o Wes Craven, que é o nome por trás do A Hora do Pesadelo original, teve uma ideia. Calma: ainda não era essa que você está pensando. Estou me referindo ao O Novo Pesadelo (1994).

De repente Freddie estava de volta pelas mãos (e rosto, e corpo, e tudo e tal) do inesquecível Robert Englund – que, diga-se de passagem, o Ryan Murphy está bobeando de não trazer pra turma dele

De repente Freddie estava de volta pelas mãos (e rosto, e corpo, e tudo e tal) do inesquecível Robert Englund – que, diga-se de passagem, o Ryan Murphy está bobeando de não trazer pra turma dele

Com O Novo Pesadelo, Craven deu uma credibilidade renovada pros slasher que todo mundo achava que eram coisa do passado e que nunca mais seriam lucrativos.

O filme é uma salada metalinguística que surpreendentemente dá certo e eu vou tentar resumir pra quem não viu: a história é do próprio Wes Craven no papel dele mesmo, fazendo um novo filme de Krueger no aniversário de 10 anos do primeiro. Heather Langenkamp, que está no Monte Olimpo das melhores final girls que já existiram por seu papel como Nancy, a protagonista do A Hora do Pesadelo original, também interpreta ela mesma. Heather está recebendo ligações telefônicas (PRESTENÇÃOOO) na vida real com uma voz assustadoramente parecida com a do personagem Freddie Krueger. O marido dela morre num acidente de carro muito parecido com uma morte de A Hora do Pesadelo, e o corpo é encontrado com rasgos.
Resumindo: uma força demoníaca usa da imagem de Krueger pra se manifestar de verdade, nada de filminho. Então a trama acompanha uma produção de um novo filme da franquia, mas onde coisas assustadoras estão acontecendo com a equipe na "vida real".
Entendeu? É complexo mesmo.

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A franquia já estava pra lá de Bagdá, então a bilheteria seguiu ruim pra essa nova tentativa, mas o pessoal viu que o filme em si era interessante. Dava um respiro. E principalmente não era tão besta quanto as sequências anteriores. Então Craven ganhou um tíquete de ouro… pra fazer Pânico.

Chegamos no que interessa: o ano de 1996

Sidney (Neve Campbell) e Tatum (Rose McGowan) em Pânico (1996)

Sidney (Neve Campbell) e Tatum (Rose McGowan) em Pânico (1996)

Craven não só foi o responsável por uma das maiores franquias do cinema como conseguiu fazer mais uma e, de quebra, ressuscitar o gênero slasher. Pânico juntava a ideia do telefone que foi explorada em O Novo Pesadelo e brincava com a metalinguística mas de forma diferente. É que estes adolescentes dos anos 1990 conheciam os filmes dos anos 1980, e o assassino em série, que na verdade é do convívio deles e não tinha nenhum superpoder místico, gostava de brincar com a ideia de seguir as regras de um filme slasher comum. Isso quer dizer matar quem vai sozinho pra algum lugar, matar quem transa, fazer charadas assustadoras antes de matar, matar todo mundo ao redor de uma final girl antes de chegar na final girl em si. E eventualmente… se revelar e ser morto pela final girl.

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Drew Barrymore em Pânico: tem algo mais anos 1990 que isso?

A clássica primeira cena do filme traz a personagem Casey sendo assassinada – e depois, todas as sequências brincaram com esse começo

O primeiro Pânico foi um marco. Trouxe uma segunda onda de slashers – não tão forte quanto a oitentista mas impactante no imaginário pop. Ghostface, o disfarce do assassino, virou um personagem recorrente no Halloween e em paródias. A frase “Hello, Sidney” ao telefone com voz distorcida pegou. Courteney Cox, que já era a Monica de Friends, conseguiu um segundo personagem famoso pra se livrar do estigma da série-hit logo de cara. E também conheceu o futuro marido, David Arquette, no elenco (que depois virou ex-marido e a vida seguiu).

David, aliás, é o irmão mais novo de Patricia Arquette, cujo primeiro papel na carreira foi de scream queen: era A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (1987). A personagem de Patricia, Kristen, sobrevivia na história, mas Patricia passou a chance de revivê-la e outra atriz assumiu na sequência A Hora do Pesadelo 4 – O Mestre dos Sonhos (1988). A substituta foi Tuesday Knight (e é difícil pensar em algum nome tão maravilhoso quanto Tuesday Knight!).

A repórter Gale Weathers (Courteney Cox), o geek Randy Meeks (Jamie Kennedy) e a final girl Sidney Prescott (Neve Campbell)

A repórter Gale Weathers (Courteney Cox), o geek Randy Meeks (Jamie Kennedy) e a final girl Sidney Prescott (Neve Campbell)

Dizem que muitas estrelas recusaram o papel de Sidney, incluindo a própria Drew Barrymore, que escolheu Casey porque achou que ia ser chocante uma estrela morrer nos primeiros minutos do filme – achou certo, era chocante mesmo. Além dela, Reese Whiterspoon, Claire Danes, Brittany Murphy e Chloe Sevigny também foram cogitadas. Campbell, que já havia virado uma estrela de TV em O Quinteto, foi a escolhida – e antes deu uma passadinha em Jovens Bruxas, no mesmo ano, pra realmente solidificar seu status de nova it girl herdeira de Molly Ringwald e Winona Ryder que, estranhamente, não adquiriu o status cult das outras duas.
(Ah, e queriam que a própria Ringwald fizesse a Sidney. Ela já tinha 26 anos e achou que não tinha nada a ver. Mas imagina???)

Na minha humilde opinião, Campbell nunca mais conseguiu sair da pele de Sidney Prescott, é quase uma maldição pra ela.

Sidney e Dewey (David Arquette)

Sidney e Dewey (David Arquette)

Tudo isso está fresco na minha cabeça porque: 1. recentemente reassisti a todos os Pânicos; 2. falei a respeito no podcast da Bia Bonduki, Eu Tive Um Sonho, sobre A Hora do Pesadelo! Ouça abaixo!

Uma coisa que as pessoas esquecem sobre Pânico é que ele não é filho de um pai só. Craven dirigiu os quatro longas, mas o roteiro é de Kevin Williamson. O primeiro roteiro filmado de Kevin é Pânico. E depois disso ele surfou na onda: Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997), baseado em livro de Lois Duncan, é o segundo roteiro filmado dele. Prova Final (1998), que não é exatamente um slasher mas não deixa de ser um terror adolescente, é o quarto (Pânico 2 veio antes).

E o que eu acho mais legal de Pânico é que ele é um dos últimos suspiros dos early millennials antes de tudo ser tomado pela internet. Nós somos a última geração que interagiu na adolescência ainda sem a onipresença da rede. Pânico não seria possível nesses moldes em 2020 porque ninguém mais tem telefone fixo. E os adolescentes simplesmente perderam a intimidade com o telefone no geral – é sério, acredite, eu já trabalhei com estagiários e sei disso. Eles não sabem atender direito! Acham estranho.
Eu também acharia!

A sequência

Pânico 2, que veio no ano seguinte, 1997, era exatamente o que você poderia esperar de uma sequência de Pânico, e até brincava com isso, ainda no seu exercício de metalinguagem. As sequências dos filmes slasher têm mais mortes e é mais mirabolante. Alguns personagens que sobreviveram voltam e é até estranho que a maior parte deles não morresse aqui, porque geralmente era isso que acontecia.

Ah, e temos isso também.

Cici (Sarah Michelle Gellar)

Cici (Sarah Michelle Gellar)

Onde está a sobrancelha dela? Não sei. Puro suco dos anos 1990. Depois, Sarah seguiria pro estrelato com Segundas Intenções (1999) e, claro, a série Buffy, A Caça-Vampiros (1997-2003)
Aqui Sidney já está na faculdade e a fantasia de Ghostface virou artigo pop. Existe um filme, Stab, sobre a história de Sidney e baseado em um livro de Gale. Aquela personagem de Drew Barrymore, Casey, é interpretada em Stab pela maravilhosa Heather Graham!

A Casey do filme dentro do filme: Heather Graham

A Casey do filme dentro do filme: Heather Graham

Sem esquecer o mais delicioso fato que a Sidney da ficção é interpretada por Tori Spelling.

Eu amo a tintura “marrom acobreado” HAHAHAHAHAHA

Eu amo a tintura “marrom acobreado” HAHAHAHAHAHA

Pânico 2 não supera o primeiro. O começo é maravilhoso, mas o fim é mais bobo. E tá tudo bem, ele não chega a ser ruim.

Pânico 3: tão metalinguístico que eu nem sei

Depois de Pânico 2 as coisas começaram a ficar mais complicadas no terror. Surgiu um elemento novo: o j-terror (ou j-horror). Ringu, ou Ring – O Chamado, saiu em 1998. A Bruxa de Blair apareceu em 1999. Um terror mais psicológico ficou na moda e o velho slasher parecia ultrapassado mais uma vez.

Mas Pânico preferiu seguir na sua linha metalinguística e ignorou essas novas ondas. Em 2000, aconteceu praticamente a refilmagem de O Novo Pesadelo em versão Pânico. Pânico 3 acontece nas filmagens de Stab 3, da franquia ficcional Stab. Ele se leva muito pouco a sério e talvez por isso consiga se manter divertido, ainda que nada assustador.
Pra variar, uma das coisas legais é descobrir que atores participaram.

Do que eu gosto mais, da minha histriônica preferida Parker Posey no papel de Jennifer Jolie, a atriz que interpreta Gale Weathers em Stab 3, ou ESSA FRANJA ABSURDA DA COURTENEY COX?

Do que eu gosto mais, da minha histriônica preferida Parker Posey no papel de Jennifer Jolie, a atriz que interpreta Gale Weathers em Stab 3, ou ESSA FRANJA ABSURDA DA COURTENEY COX?

Obs.: a minha histriônica preferida no exterior é Parker Posey. A minha histriônica preferida no mundo é Maria Luísa Mendonça, claro.

A Sidney ficcional infelizmente não é mais Spelling e sim Emily Mortimer. Gosto dela mas a atriz está meio mortinha em Pânico 3.
Ah, sim, tem isso também.

Hollywood royalty, baby: Carrie Fisher no papel-chave Bianca Brunette

Hollywood royalty, baby: Carrie Fisher no papel-chave Bianca Brunette

Bianca entrega tudo: tira uma onda quando as personagens fazem menção à sua semelhança com Carrie Fisher e resolve quase toda a trama em uma cena.

E bem, a trama… é meio rocambolesca. Impossível levá-la a sério. Quando chega o fim, ele é tão absurdo e perdido que você precisa mesmo rir. Parece uma novela mexicana.
Toda franquia de terror chega num momento que acaba inventando subtrama demais pra se desenvolver. Pânico 3 só dá pra assistir se for pra encarar como uma comédia.

De volta ao básico em 2011

Parece menos, mas já faz quase uma década que saiu Pânico 4. Como não dava mais pra sair cachorro daquele mato, a história voltou pra trás. Mais especificamente, pra Woodsboro, a cidade fictícia de Pânico. A sinopse: Sidney superou tudo e conseguiu ela mesma escrever um livro sobre sua história. Decide voltar pra cidade natal no meio da turnê de lançamento, e fica hospedada na casa da… tia. Vocês lembravam da tia? Nem eu, mas aí está.
E aí existe uma outra turma de jovens que inclui a prima de Sidney, Jill Roberts (Emma Roberts). E a matança recomeça pra eles…

Kirby (Hayden Panettiere) e Jill (Emma Roberts)

Kirby (Hayden Panettiere) e Jill (Emma Roberts)

Existia o que tirar de um Pânico 4? Não muito. O gênero já estava esgotadérrimo. Mas as sequências de Stab que aparecem são maravilhosas, especialmente pelas participações especiais.

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Lucy Hale, Anna Paquin e Kristen Bell.
Na turminha jovem fora dos filmes, ainda temos Nico Tortorella novinho como o perturbado namoradinho de Jill! Hahahahahahaha!

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Acho Pânico 4 OK, mais realista (na medida do possível) porém menos engraçado que o terceiro. Então sei lá, ambos estão juntos lá no pé da lista em questão de qualidade.

Mas e Pânico 5, hein?

Sim: Pânico 5 foi confirmado. Craven infelizmente morreu em 2015, então Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, a dupla de diretores que acumula mais letras duplas que todas as outras em seus nomes e que dirigiu Casamento Sangrento (2019), assumem a cadeira. Neve Capbell está confirmada, assim como Courteney Cox e David Arquette.

De lá pra cá existiu Corra! (2017) e Nós (2019). Existiu Hereditário (2018) e Midsommar: O Mal Não Espera A Noite (2019). Muitas águas rolaram no gênero. Pânico já virou uma caricatura de si mesmo.

Espero alguma coisa boa? Não! kkkk
Vou assistir mesmo assim? SIM! KKKKKKKKKKKK

Ai ai, a gente gosta de perder tempo com bobagem, né?
A estreia de Pânico 5 está marcada pra nada menos que 14 de janeiro de 2022, o meu aniversário de 41 anos.
Afffff! kkkk

“Alô, Sidney… Você gosta de sequências de filme de terror? Pelo jeito, sim, né?"

“Alô, Sidney… Você gosta de sequências de filme de terror? Pelo jeito, sim, né?"

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October 17, 2020 /Jorge Wakabara
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Ruas vazias na ficção – e uma peça de teatro via Zoom

June 22, 2020 by Jorge Wakabara in TV, livro, teatro

Uma coisa que sempre me fascinou são narrativas sobre cidades fantasma. Ou porque o tempo passou demais e ela foi abandonada. Ou porque a maior parte das pessoas desapareceu ou morreu devido a doença ou arrebatamento. Não importa: acho a imagem da cidade vazia impactante. Ruínas contemporâneas.

Tem um programa no History, acho, que não me lembro o nome mas que mostra o que aconteceria se a humanidade desaparecesse da face da Terra. Toda vez que reprisam eu tô lá, assistindo hipnotizado. Arranhas céus desabando depois de séculos de corrosão. Reatores nucleares explodindo por falta de resfriamento e espalhando radiação.

Acho que esse é um dos motivos pelos quais me atraía a ideia de ir para Chernobil (e consequentemente Pripyat, que é a cidade fantasma perto de Chernobil, abandonada após o acidente).

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Em #Pripyat tudo está desmoronando - esses são locais que crianças frequentavam. Crianças e adolescentes que ficaram expostos à radiação por muito mais tempo que o necessário porque o governo socialista demorou pra espalhar a notícia da explosão do reator pra não criar pânico. #chernobyl #chernobil #mckievinho

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Para quem ainda não sabe: sim, eu fui para Chernobil. Conto mais nesse post aqui.

Um dos livros da minha infância (já que estamos nessa fase, eu falei aqui sobre O Gênio do Crime, né?) é Blecaute de Marcelo Rubens Paiva.

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Nossa, é muito bom! Como eu queria esquecê-lo para ler de novo!
Aliás, vontade de reler todos os livros do Marcelo Rubens Paiva. São ótimos.

Blecaute fala sobre três jovens amigos que viajam para cavernas do Vale do Ribeira e, por causa de uma tempestade, ficam presos por lá uns dias. Quando saem e voltam para São Paulo, surpresa: eles são os únicos sobreviventes. Algo aconteceu e ninguém mais está vivo.
Esse é um dos livros mais adorados do Marcelo Rubens Paiva. Amo esse post, no qual um cara analisa as capas das edições de Blecaute. A minha preferida, assim como a dele, é a da Brasiliense.
(E por que ainda não existe nenhuma adaptação de Blecaute para o cinema ou para série de TV? Não sei. Tão marcando, para variar. E dessa vez não tem mesmo, pesquisei antes de dizer. Kkkkkkkk!)

Muitas outras ficções trazem ruas desertas. De cara me lembro de Noite Adentro, série recente da Netflix que me marcou demais – tanto que já falei dela algumas vezes. Tem também:

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A Dança da Morte

Livro do Stephen King que já foi adaptado para a TV em uma minissérie de quatro capítulos, em 1994 – falei sobre isso na minha última newsletter (por que você ainda não assina a minha newsletter?).

O livro mostra os acontecimentos após uma mutação do vírus influenza desenvolvida como arma biológica, bem letal, vazar de uma instalação militar norte-americana e atingir todo o país (provavelmente o mundo, mas a gente não fica sabendo). Existem poucos sobreviventes, e eles começam a se reunir. A ideia de King era fazer um épico do tipo Senhor dos Anéis com tintas contemporâneas e também refletir sobre os valores da civilização norte-americana. É considerado uma das melhores criações de King.

Stu Redman (Gary Sinise), Frannie Goldsmith (Molly Ringwald) e Harold Lauder (Corin Nemec)

Stu Redman (Gary Sinise), Frannie Goldsmith (Molly Ringwald) e Harold Lauder (Corin Nemec)

Uma coisa que acho muito curiosa dessa adaptação é que ela traz integrantes do Brat Pack pós-anos 1980. Rob Lowe é o surdo-mudo Nick Andros, já pós-escândalo da sex tape com uma garota menor de idade. E Molly Ringwald é Frannie Goldsmith. Adam Storke, galãzinho pós-Brat Pack, é o músico Larry Underwood (ele é o Charlie em Três Mulheres, Três Amores ou, em inglês, Mystic Pizza, o filme de 1988 que marcou o começo da carreira de Julia Roberts). E ainda tem Corin Nemec como Harold Lauder – ele era Parker Lewis na série Parker Lewis Can't Lose, que é basicamente uma adaptação para a TV de Curtindo a Vida Adoidado sem pagar direitos autorais.

A belíssima surpresa é que Dança da Morte (em inglês The Stand) vai ganhar uma nova adaptação em série de TV logo menos. Ela já está gravada mas parece que eles estão segurando a estreia em respeito às vítimas de COVID-19, já que comparações serão inevitáveis. Mas é isso: comparações serão inevitáveis quando estrear. King está bem envolvido – tanto que desenvolveu um novo final para a história. E a produção, da CBS, conta com um grande elenco que inclui James Marsden (Westworld, X-Men) como Stu Redman, Amber Heard (Aquaman, Zombieland) como Nadine Cross, Whoopi Goldberg (ai, me poupe, não precisa de refs) como Mãe Abigail e Alexander Skarsgard (True Blood, A Lenda do Tarzan) como Randall Flagg.

Dança da Morte versão 2.0: Larry Underwood (Jovan Adepo) e Rita Blakemoor (Heather Graham)

Dança da Morte versão 2.0: Larry Underwood (Jovan Adepo) e Rita Blakemoor (Heather Graham)

The Leftovers

Ave, como eu amo. A série de Damon Lindelof (Lost, Watchmen) é ma-ra-vi-lho-sa. Ela é baseada num livro de Tom Perrotta e parte da premissa que 2% de toda a população desapareceu – DO NADA! Foi um arrebatamento bíblico perto do fim do mundo? Foi uma transferência para uma realidade paralela? Existem teorias (it's complicated), porém o foco é na reação de quem ficou, muito mais do que em quem sumiu. Religião e fé, a fronteira entre sanidade e loucura, confiança e traição. Tudo isso permeia as três temporadas e de perto ninguém é normal. E como nada é coincidência (ou melhor, você decide o que é coincidência e o que não é): Lindelof ficou sabendo sobre o livro de Perrotta numa resenha para o New York Times assinada por… Stephen King.

Nora Durst (Carrie Coon) e Kevin Garvey (Justin Theroux) em The Leftovers

Nora Durst (Carrie Coon) e Kevin Garvey (Justin Theroux) em The Leftovers

Agora você já está pensando que o título desse post foi um clickbait, né? Não. Chegou a hora de falar de…

A Arte de Encarar o Medo

Para começo de conversa, já digo logo: trabalhei com teatro mas morro de preconceito. E não é algo sem fundamento: tem muita peça ruim por aí. É caro, é difícil. Outras formas de arte, como o cinema, são mais práticas. Você consegue ver o trailer. Você tem a referência dos atores. Tem horários mais diversos. Você vai até um complexo de salas e escolhe qual te dá vontade de ver na hora. A impressão é a de que a garantia de aproveitamento é maior.

Isso posto, às vezes, bem de vez em quando, consigo contornar o histrionismo de alguns atores, a fragilidade de muitos textos e certas montagens de gosto duvidoso e… até gosto de teatro.

Mas A Arte de Encarar o Medo me interessou por outra coisa: a iniciativa d’Os Satyros é experimental, uma alternativa para o teatro nos "novos tempos”. Existem coisas que não temos nela: a presença corpórea dos atores, por exemplo. A energia de uma sala com plateia e atores ali na sua frente, te mostrando uma história. Só que a montagem ganha outros elementos quando realizada na plataforma Zoom. E mais importante: ela foi concebida para uma plataforma como o Zoom. Usa recursos que não existem em uma sala de teatro, ou pelo menos que precisariam ser bem adaptados para chegarem no mesmo fim.

Logo de cara, você tem a possibilidade de contar com um elenco grande sem muita dificuldade. Basta que o ator tenha conexão com internet e câmera (de celular, de laptop, webcam, o que for), e que se familiarize com a tecnologia. Em A Arte de Encarar o Medo, existe uma atriz sueca (Ulrika Malmgren) que participa direto de Estocolmo. O ator Cesar Siqueira, por sua vez, não chegou a conhecer o resto do elenco pessoalmente!
O fator do “ao vivo” segue como a principal tônica. Você sabe que todas aquelas pessoas estão atuando e trabalhando naquele momento, com hora marcada, só que a noção de espaço é ampliada. Cada um está em um lugar. Existem momentos em que eles sobem escadas, batem em portas, saem de um cômodo para entrar no outro. Numa hora eles também usam o recurso de mudar o fundo da transmissão. Duas pessoas podem contracenar uma com a outra mesmo com uma distância de muitos mil quilômetros. Por aí vai.

Falando nem parece, mas o fato da peça trazer vários atores manipulando tecnologia para te contar uma história respeitando o distanciamento social traz uma emoção que pode ser diferente da do teatro tradicional, mas não deixa de ser crepitante. Também surge uma amplificação da intensidade dessa arte dramática. Fiquei me perguntando se algo da minha impressão mudaria se eu estivesse assistindo a algo previamente gravado e não apresentado ao vivo. E acho que sim. Existe um sabor no fato de eu fazer parte do grupo de pessoas que entrou naquele momento naquela sala virtual e assistiu ao que foi apresentado. Ninguém mais vai ver aquilo (a menos que a produção tenha gravado, para fins de documentação). É diferente das lives que ficam guardadas e podem ser acessadas posteriormente.
Esse "novo teatro” (que tem gente que não gosta de chamar de teatro, pois teatro seria outra coisa) se aproxima do Snapchat e dos stories de Instagram na sua efemeridade, e é efêmero de maneira ainda mais drástica!

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Com tantas questões a respeito da forma em si, você pode achar que não me ative tanto ao conteúdo. Está errado: a peça foi criada já durante a pandemia e é muito sensível em relação a ela. São 50 minutos de uma história que, sem ser linear com começo, meio e fim (adoro narrativas assim), apresenta um cenário em 2035 onde a humanidade não conseguiu vencer a doença e segue isolada, morando em cidades vazias, cada um trancado em sua casa. Esse futuro distópico que já não conta com emissora de TV e rádio estranhamente continua possuindo energia elétrica e internet, ninguém sabe como. E aí pessoas enlouquecem, criam novos códigos sociais, relembram o passado e, principalmente, sentem medo.

Tem uma entrevista com os próprios dramaturgos, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez (Rodolfo também é o diretor), no site d’Os Satyros. Recomendo a leitura.

E também recomendo a peça em si! São sessões de sexta, sábado e domingo. Não sei exatamente até quando a montagem vai estar em cartaz, então é bom garantir o ingresso para o próximo fim de semana. Ele custa R$ 20 mas quem quiser pode doar mais e quem não puder (porque está em dificuldades financeiras decorrentes da pandemia) consegue assistir de graça. Para ter um ingresso, acesse o site da Sympla.

Mesmo que você não se interesse pelo tema, acho interessante que as pessoas conheçam essas novas práticas. É um mundo de possibilidades que se abre. Dependendo da ideia e do desenvolvimento, assistiria a outras coisas nesse formato mesmo pós-pandemia.

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June 22, 2020 /Jorge Wakabara
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