A criança que ainda existe dentro de mim está em festa: você viu o catálogo da Amazon Prime Video?!

Sim.
SIM.
SIIIIIIIM.

As tardes da Manchete voltaram. É como se nada tivesse mudado.
Changeman, Flashman, Jiraya e Jiban agora fazem parte do catálogo da Amazon Prime Video e eu estou tão feliz quanto vocês ficaram quando coisas bobas como Friends e Glee entram no catálogo da Netflix.
<3

Não sei muito bem qual é a faixa etária que acompanha esse bloguinho então me sinto obrigado a explicar o que raios é tudo isso.

"Vamos explicar para os novinhos, gente!"

"Vamos explicar para os novinhos, gente!"

Primeira lição: tokusatsu é um gênero japonês que se conecta a efeitos especiais. Tudo que tem efeito especial pode ser considerado tokusatsu. Godzilla, por exemplo, é um tipo de tokusatsu: chama-se kaiju, de monstros gigantes (lembra quando eu contei das trilhas do Godzilla?). Kaiju é tão influente e faz tanto sucesso no Japão que acabou virando um mote de séries de outros gêneros - os heróis derrotam o vilão, ele de alguma maneira cresce (gyodaaaai), e aí os heróis precisam de um mecha (outro gênero do tokusatsu, significa robô gigante, te falei disso nesse post aqui sobre a Hello Kitty) para derrotâ-lo.

Falamos então de kaiju e de mecha. Mas existem gêneros específicos e mais infantis (para dizer a verdade, cada vez mais infantis) que passam na TV japonesa, séries de anos e anos. São eles: Kamen Rider (de onde vem o nosso Black Kamen Rider, que lá no Japão era Kamen Rider Black), Super Sentai (inclui Changeman, Flashman - daqui a pouco falo mais detalhadamente) e Metal Hero (em sua maioria heróis relacionados a serviços políticos ou militares, com armadura de metal, às vezes ciborgues ou andróides - incluindo Jiban e Jaspion; Jiraya é uma exceção, metal hero porém ninja e com armadura com menos aparência de rigidez).
As séries Metal Hero não existem mais - começaram em 1982 com Gavan e terminaram em 1998.
Kamen Rider continua sendo produzido até hoje - e começou em 1971!

Breve parêntese: você sabia que um filme do Jaspion está em pré-produção?
Pois é, o metal hero mais querido do Brasil (e que na verdade nem fez tanto sucesso no Japão) vai ganhar longa metragem feito pela Sato Company. Isso mesmo - apesar do nome, a Sato Company é brasileira! A produção é brasileira! E eu espero que essa bagunça com a Ancine não atrapalhe todos os nossos planos.

Voltando do parêntese: eu diria que sou um fã de nível médio porque tem gente muito, mas muito mais fanática que eu, que assiste as séries novas, acompanha tudo. Ao mesmo tempo, sou fã a ponto de ir no museu da Toei Studios

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Só de lembrar cai uma lágrima.

A Toei é quem produz esses tokusatsus infantis.

“Olha lá, agora ele vai começar a explicar o que é Super Sentai!"

“Olha lá, agora ele vai começar a explicar o que é Super Sentai!"

Tem Super Sentai novo todo ano (assim como tem Kamen Rider e tinha Metal Hero). Isso movimenta o mercado de licenciamento e mantém as crianças ligadonas, já que essas séries têm décadas de existência.
O Super Sentai geralmente é formado por 5 heróis (mas as variações têm sido tantas nesses últimos tempos que essa regra caiu); eles vestem uniformes parecidos onde o que muda são as cores e detalhes, e geralmente trazem temáticas: animais mitológicos, piratas, elementos da natureza, ninjas, veículos de transporte… e até dinossauros. Hum. Lembrou de uma coisa, né?

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Sim, os Power Rangers usavam imagens de Super Sentai e costuravam com outras produzidas nos EUA e com atores americanos. É por isso que todo ano o uniforme deles muda. No Japão, muda tudo: personagens, história, vilões. Às vezes as coisas conversam, tipo um Super Sentai no qual os principais podiam se transformar em heróis dos Super Sentai do passado - é o Gokaiger.

Eu AMO Gokaiger.

Mas vamos falar de Changeman e Flashman? As duas passaram uma seguida da outra na finada Rede Manchete. Changeman começou a ser transmitida no Japão em 1985. Por aqui, depois da primeira exibição em 1988, ficou reprisando ano após ano durante muito tempo. Flashman rolou na TV japonesa em 1986 e chegou aqui em 1989 - reprisando do mesmo jeito. Eu prefiria Changeman, mais clássico e achava mais carismático.

E tinha AHAMES, que PISA DEMAIS na Rita Repulsa.

Se você não está CHORANDO nesses looks é porque sua sensibilidade estética precisa de revisão.

Ahames era diva e eu posso provar com esse vídeo que assisto pelo menos uma vez ao ano.

O Sr. Bazoo era mesmo um insensível - quem não ouviria esse apelo maravilhoso?
Essa cena está na temporada 2, capítulo 26, A Vingança de Ahames - não sei porque raios a Amazon Prime Video dividiu Changeman em duas temporadas porque isso nunca existiu originalmente mas taí.

Sem contar a personagem Shima, que era uma mulher com voz de homem.

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Chiquérrima

Shima tinha uma voz grossa que simbolizava o mal que a dominava; quando ela fica boazinha sua voz vira feminina!

No fundo acho que eu gostava tanto dos vilões quanto gostava dos heróis de Changeman! Aqui, da esquerda para direita, Buba, Giluke e Shima

No fundo acho que eu gostava tanto dos vilões quanto gostava dos heróis de Changeman! Aqui, da esquerda para direita, Buba, Giluke e Shima

E dos heróis? Gostava também. Inclusive sem uniforme!

Anos 1980 só que minimalista!

Anos 1980 só que minimalista!

"Mas Wakabara, você queria ser a Change Mermaid? Você queria ser a Change Fênix? A Ahames? A Shima??"

Nada disso. Eu queria ser a NANA.

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Não essa

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Essa aqui

A Nana é uma alienígena que chega na Terra garotinha. E linda. Olha esse cabelo!

Nana é tudo, parece uma integrante asiática da Turma do Balão Mágico

Nana é tudo, parece uma integrante asiática da Turma do Balão Mágico

Os vilões a enganam por um tempo e o Changeman consegue libertá-la. Ela decide ficar na Terra para aprender mais sobre o lugar e é adotada por uma família terrestre. Só que a espécie dela tem uma vida enquanto criança muito rapidinha - ela então vira uma adolescente de uma hora para outra!

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E é uma adolescente superestilosa

Com isso me pergunto: quem não queria ser a Nana?!
Ai ai, dá licença que eu vou rever Changeman agora mesmo!

O KFC fez um chapéu-balde inspirado no seu balde

É mais ou menos só isso mesmo o post…

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Tá bom, vai, vou dar mais informações.

O que é conhecido como chapéu pescador por aqui (ou chapéu do Chorão do Charlie Brown Jr - saudades) lá fora é chamado de bucket hat, ou chapéu-balde. Ele está na moda, dizem.

Aí a KFC Rússia (nem um pouco surpreso por ser na Rússia, e você?) fez uma parceria com uma marca de streetwear russa, a Мам, купи (ou Mam Cupy).
Agora sim, é isso o post.

Vai um frango?

Vai um frango?

O meu livro preferido do momento é sobre um disco

Para começo de conversa, adivinha: esqueci de mais um disco naquele post dos "10 discos que me fizeram ser quem sou hoje". É esse aqui:

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(para quem não soube, esse nem é o primeiro disco que lembrei que devia estar lá - explico sobre o disco da Evinha aqui)

A Tábua de Esmeralda foi lançado em 1974 e muita gente o considera o melhor álbum de Jorge Ben. Outros preferem o África Brasil, que eu também gosto, e tem gente que fala de outros tipo Negro é Lindo. E tem gente que junta esse com Solta o Pavão, que também fala bastante da alquimia - como se fosse uma sequência. Em comum, eles possuem uma reafirmação da negritude: é a valorização da positividade e do ser humano no geral mais o resgate e revalorização de uma mitologia negra que na verdade permeia toda a obra de Jorge. Em A Tábua de Esmeralda, cujo nove se refere a artefato lendário que conteria regras herméticas e teria sido escrito pelo próprio Hermes Trimegisto, o artista usa a figura do alquimista como um herói, um exemplo de perseverança, e em várias músicas a negritude fica mais na metáfora do que no plano concreto das palavras. Em outras, é concreta sim: como no exemplo máximo Zumbi.

Existem muitos textos por aí que especulam sobre os significados por trás de A Tábua de Esmeralda. Ele, com outros como Tim Maia e Raul Seixas, buscaram inspiração na espiritualidade para fazer suas músicas nessa época.

Perguntam: quem é o namorado da viúva? Que viúva? E a Magnólia? Estudam Hermes Trimegisto e Paracelso, que é o tal homem da gravata florida, para tentar explicar as coisas.

E aí chegamos ao livro, que é daquela coleção O Livro do Disco, e que não faz exatamente isso.

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Essa coleção tem outros títulos

É inspirada em um projeto gringo e já lançou livros sobre As Quatro Estações do Legião Urbana, Clube da Esquina e outros

Paulo da Costa e Silva não se limita ao A Tábua de Esmeralda, apesar de esmiuçá-lo bem. Ele faz toda uma trajetória para entender a época em que ele foi feito, o contexto em que se insere Jorge, o porquê de Jorge ser tão diferente dos seus contemporâneos (e ao mesmo tempo tão complementar).

Posso estar exagerando, mas aconteceu comigo: na leitura desse livrinho, que é bem pequeno mesmo, você começa a pensar sobre coisas que não esperaria, questões filosofais, as mesmas que o próprio Jorge Ben deve ter pensado na época (ou talvez pense até hoje). Foi bem intenso e interessante lê-lo.

Então, fica essa dica: leia o livro e ouça o disco.

Mas a gente sabe que a burguesia fede desde 1989, Slimane...

Aiai, lembra quando a gente amava o Hedi Slimane?
Era na longínqua primeira década dos anos 2000. Ele assinava a Dior Homme e Kate Moss, ícone fashion de mulheres, homens, cachorros, papagaios e alienígenas, decidiu usar as roupinhas da Dior Homme.
(Aliás, breve adendo: você já parou para pensar que existem seres maiores de idade hoje que talvez não tenham muita noção de quem é Kate Moss? O escândalo do uso de cocaína em capa de tablóide aconteceu em 2005 - as pessoas com 18 anos hoje tinham 4 aninhos…)

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Kate Moss de Dior Homme por Hedi Slimane

Foto de Willy Vanderperre para Another Man em 2005

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De novo, Kate de Dior Homme por Slimane

Tipo Marlene Dietrich. Foto de Mert & Marcus para Vanity Fair em 2006

Dizem que foi Raf Simons quem "reinventou” a skinny mas que Hedi Slimane que popularizou. É que o universo imagético de Slimane tinha timing: era época de Last Nite dos Strokes; era o namoro de Kate Moss com Pete Doherty; o rock americano pedia a benção de Iggy Pop e Ramones e invadia o espaço da primeira onda do britpop de Oasis e Blur. E a roupa? Paletozinhos ajustados com camiseta, jeans skinny, botinha ou Converse. Very Slimane (e se você pensar bem, também é super Zezé di Camargo). Androginia fazia parte da sua cartilha, assim como magreza extrema, o resquício da era heroin chic de maneira um pouco mais velada. Kate, de skinny e coletinho, se confirmou como ícone de estilo de toda uma época que não era muito sexy (muito osso, né? A gente gostava na época, hoje temos vontade de dar um x-burguer para a pessoa se alimentar), mas sem dúvidas tinha drogas e rock 'n’ roll.

O estilista saiu da Dior Homme em 2007 e, durante 5 anos, se dedicou a uma outra coisa que também faz com sucesso: fotografia. Sabe aquela capa de The Fame Monster? É dele. Lady Gaga é uma grande entusiasta de Hedi Slimane e não dá para culpá-la: ela era uma adolescente no auge de Kate Moss, então deve ter visto naqueles looks skinny tudo o que a gente também via, ou seja, referência de moda e estilo.

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The Fame Monster, 2009

Cabelo de Rei Kawakubo só que loiro, foto de Hedi Slimane

Então, na primeira década dos anos 2000, Slimane era o que havia de hype, de contemporâneo, de fashion.

Aí veio 2012 e as máscaras começaram a cair…
Ele entrou na então Yves Saint Laurent, tirou o Yves do nome da marca e o povo já começou a pensar: “ih, o que que esse cara tá pensando??”

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A camiseta mais pirateada da virada de 2012 para 2013

A “original", da marca What About Yves, foi parar nas lojas mais cool da época, tipo a Colette e a Maison Kitsuné, mas deu ruim: a Saint Laurent abriu processo

Mas o que mais deixou o povo ressabiado é que o tempo havia passado - e como - e Slimane parecia continuar batendo na mesma tecla. A calça era skinny, tinha o paletozinho, o clima era meio Pete Doherty. Pete Doherty was very last decade e o pessoal tentava entender. Diziam: "essa roupinha tem cara de fast fashion!” Defendiam: “é cara de fast fashion mas com uma qualidade muito maior, quem viu de perto e tocou sabe." Bem esnobe, né, do tipo "chora querida, se você não foi na loja em Paris não sei porque está dando sua opinião.”
A verdade verdadeira? Tinha qualidade muito maior mas tinha cara de fast fashion mesmo. Imprimia algo que, na visão dos especialistas (e inclusive na minha) tinha tudo para dar errado.
E não deu. As vendas aumentaram. Na época a Saint Laurent virou queridinha do grupo Kering. Você sabe, né, isso foi um pouco antes de Alessandro Michele começar a sua pequena revolução na Gucci. É, meu bem, o tempo passa voando…

Só que hoje, se você compara o que Hedi Slimane fez e o que Anthony Vaccarello vem fazendo na Saint Laurent, é nítida a diferença. Não é que Vaccarello tenha mudado tudo - pelo contrário, ele não ignorou o que Slimane fez mas foi além e deu, na minha modesta opinião, mais originalidade e espetáculo para aquilo. A androginia agora tem doses calorosas de uma sensualidade adulta, um jogo de sedução que sempre fez parte da história da maison Saint Laurent. Slimane já era sensual, mas um sensual um tanto raquítico, um tanto jovem demais a ponto da gente questionar se aquilo era… saudável.

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Saint Laurent de Slimane

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Saint Laurent de Vaccarello

E aí Slimane surpreendeu todo mundo quando assumiu a Céline no ano passado. A marca é do grupo LVMH. Em teoria, ele não saiu muito feliz do LVMH quando se desligou da Dior Homme. Mas o que é uma alma #chatyada quando o cheque é gordo, não é mesmo, meu bem?

A primeira coisa que Slimane fez foi tirar o acento do nome Celine. Começaram a surgir piadas do tipo "se o Slimane entrar na Forum vai colocar acento no nome e vai virar Fórum, né?” (essa piada eu inventei agora, é ruim, mas você entendeu o que eu quis dizer)
Quando ele fez o primeiro desfile a galera ficou pistola: a marca, que antes era superadulta sob a batuta elogiadíssima de Phoebe Philo, se rendeu mais uma vez à estética própria de Slimane. Inclusive com várias comparações espalhadas pela internet.

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Só que a temporada de fall 2019 chegou para desgraçar a cabeça. Primeiro porque Slimane estava fazendo algo diferente.
A arqui-inimiga de Slimane, a jornalista Cathy Horyn, que também não é bem quista por Gaga e por meio mundo (é sério), fez um supertexto sobre o fall 2019 da Celine. Ele basicamente diz que Slimane é esperto e sabe fazer negócio na moda, e não necessariamente o elogia enquanto um criativo. Por quê? Porque ele colocou ali na passarela uma alta dose de um estilo burguês à moda dos anos 1970 e 1980, quase que literal, o que deve atrair outra faixa de público - ou até o mesmo público seu que o acompanha, afinal todo mundo envelhece.

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Foi muito fácil, no calor da hora, a gente achar bacana Slimane mudar sua estética. Era um outro universo e é disso que a moda gosta: de mudança, de novo. Não é? No meu caso, pelo menos, é isso que gera assunto. Então ninguém se perguntou em implicações morais ou simplesmente no que significava uma marca de luxo explorar esse look e suas simbologias nessas alturas do campeonato. Em seu texto, Horyn sugere uma aproximação com o universo da Hermès, sinônimo de uma alta sociedade que tem tanto dinheiro que, adicional meu: pratica equitação.
Essa exploração de uma imagem burguesa, se referindo tanto à classe alta quanto à classe média que tem aspirações a ser classe alta e por isso se veste de acordo, me parece um tanto sombria em sua lembrança de exclusão, de clubinho onde só endinheirado entra, e principalmente: me parece muito careta. Ainda mais quando colocada lado a lado com a imagem anterior de Slimane, rock 'n’ roll, adolescentes prontos para fazer bobagem - não deixa de ser fútil, mas ao menos é mais liberada em todos os sentidos. Essa nova burguesinha de Slimane vai no cabeleireiro, no esteticista e, de imaginar um storytelling ali, ele é bem medíocre na minha modesta opiniãozinha…

É preconceito mas me diga com sinceridade: quantos livros parece que uma moça vestida assim lê por ano?

O look de saia na canela e bota, aliás, é o figurino da personagem de Molly Ringwald no filme Clube dos Cinco. Claire, a princesa mimada filhinha de papai, é rejeitada pelos colegas que estão presos no castigo com ela na biblioteca. Suas roupas são a imagem da burguesia classe média feita para o sistema, comezinha, pronta para casar com um menininho rico e fazer outra Claire.

Claire (Molly Ringwald) é a quarta da esquerda para a direita. O look podia ser Celine!

Claire (Molly Ringwald) é a quarta da esquerda para a direita. O look podia ser Celine!

Quem não assistiu ao filme: tem plot twist… Só que isso não muda o fato do que aquela roupa precisava significar naquele contexto.

É certo direcionar a energia do hype para essa coisa tão desinteressante e conservadora, mesmo que seja um simulacro com provavelmente um grau de ironia? A patricinha, que é um público alvo desejável para uma marca de moda, precisa ir na Celine e sair uniformizada? Para a direção da marca, é provável que sim. Para quem curtia o trabalho de Philo, é uma morte horrível.
Resumindo: Slimane está fazendo roupa para a cliente que compra na Ralph Lauren e, um pouco mais recentemente, na Michael Kors?
Olha, é o que parece.

Olha bem nos meus olhos e me diz se isso não parece propaganda de Ralph Lauren.

No meu mundo fashionista, isso quer dizer roupa sem imaginação, sem tempero, medíocre.
E é isso. #militei um pouquinho, né?

"Às quatro da manhã para me falar de Slimane…”

"Às quatro da manhã para me falar de Slimane…”

Buonasera Raffaella Carrà!

Você acha que o penúltimo melhor disco da Madonna é o Confessions on a Dance Floor? E o último melhor é o último mesmo, Madame X? Parabéns, você concorda com 99% dos críticos de música.
Sinceramente acho que o Rebel Heart tinha tudo para ser maravilhoso mas se perdeu na produção. A versão vazada da música que deu título ao álbum, por exemplo, é bem melhor do que a que foi lançada, meio ABBA, pop safado, bem delicioso.
Mas não é por causa disso que estou fazendo esse post, eu queria falar é do Confessions mesmo e da era disco music da Madonna.
A gente sabe que no clipe de Deeper and Deeper ela pensou em Marlene Dietrich em A Vênus Loura, que em Material Girl ela pensou em Marilyn Monroe no número Diamonds are a Girl's Best Friend de Os Homens Preferem as Loiras, Papa Don't Preach tem um arzinho de Jean Seberg em Acossado e Express Yourself tem algo, de novo, da androginia de Marlene Dietrich com o cenário de Metropolis de Fritz Lang.
Mas e Confessions, hein?

"Ah, é meio oitentaaaa… meio vídeo de ginásticaaaa… meio assim disco, né???"

Bom, você já viu o clipe de Rumore de Raffaella Carrà? Tem vários, na verdade, mas é desse aqui que eu tô falando:

Você não conhecia a Raffaella?
Ah, eu sei. Pois é, você acabou de encontrar sua nova música preferida.
Vou te dar um tempinho para você se recuperar.



Algo me diz que Madonna já conhecia Raffaella e a tinha como referência mesmo antes de Confessions. O clipe de Ray of Light tem algo desse clipe de Rumore: o chroma key, a dança meio frenética meio esquisita meio de corpo inteiro.

Mas chega de Madonna.
Raffaella começou sua carreira como atriz. Mas muito cedo também já cantava e dançava na maravilhosa TV italiana - e ficou bem famosa justamente nesse meio. Para quem não tem muita noção de TV italiana, recomendo um dia inteiro de RAI e o filme Ginger & Fred de Federico Fellini, que traz Giulietta Masina e Marcello Mastroianni como um casal que fazia cover de Ginger Rogers e Fred Astaire no passado e vão dançar como eles mais uma vez, já mais velhos, em um programa de TV.

Rumore nem é o maior hit de Raffaella. Ela é mais conhecida por músicas como Tanti Auguri (que eu acho meio farofa demais, então é bom ouvir em pequenas doses) e Far l’Amore (que está na trilha do filme A Grande Beleza de 2013). Inclusive, essa segunda é a única que foi sucesso em inglês - a versão se chama Do It Do It Again. Não chega a ter o charme de Rumore.

Depois do sucesso italiano, Raffaella mudou para Espanha. Também fez sucesso. Aí foi para Buenos Aires. Sucesso de novo. É por isso que ela é bem conhecida na Argentina e na Europa como um todo.
Em 2018, rolou uma exposição sobre os figurinos de Raffaella, colocando-a como ícone de estilo, na Itália. Veja o vídeo da Rai no link.

E uma coisa é inegável: assim como Madonna, Raffaella dança muitoooo!

Bom, se você precisa de mais motivos para gostar de Raffaella, vou enumerar alguns aqui.

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Ela sempre vota no comunista!

Revista Interview, versão espanhola, de 1977, número 55. Ela declara: "Siempre voto comunista". Tá, meu bem? Vermelhou!

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Ela escandalizou o papa antes de Madonna!

A sua dancinha Tuca Tuca, na qual o par fica pegando em partes um do outro (dá uma olhadinha no vídeo abaixo), teria deixado o papa escandalizado em seu lançamento, em 1971. Quem era o papa em 1971? Paulo 6º. Você sabe, na Itália essa coisa de papa é coisa bem séria. Bom, no Brasil também era, né?

Na passagem da turnê MDNA de 2012 por Florença, Madonna, mais uma vez ela, homenageia Carrà fazendo o Tuca Tuca durante o medley de Candy Shop e Erotica.

O babado do cropped

Diz que Raffaella foi a primeira a mostrar o umbiguinho na TV italiana. Não só isso - ela adorava mostrar o umbigo! Cropped para ela era tudo. Várias artistas também curtiam essa coisa da barriga de fora, por exemplo a Cher. Nesse vídeo abaixo tem a artista mostrando o umbigo no Milleluci, programa no qual ela dividia a apresentação com outro ícone: Mina. Existiram rumores de uma possível rivalidade nos bastidores; mas também dizem que Mina quis dar mais espaço para Raffaella. No que acreditar? Sei lá!

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Raffaella e Mina

no programa Milleluci, de 1974

A versão de Roberto e Erasmo Carlos!

Gente!!!

Uma versão de Cama e Mesa em italiano com Raffaella. O que mais queremos?
Sim, queremos mais: Raffaella cantando em português. Música de Jorge Ben, coisas assim.

E mais um vai, dela cantando o mesmo medley com Samba de uma Nota Só em italiano no começo:

Pedro Almodóvar disse que Raffaella Carrà não é uma mulher e sim um estilo

Aguardando ansioso pelo filme, amore!

É muito provável que ela tenha sido a inspiração de várias crianças viadas

Porque, afinal, imagina você criança ligar a TV em 1983 e dar de cara com isso:

A dublagem e a coreô certamente vão acontecer.
Melhor que Xuxa!

Remixadah

Para quem gosta de música eletrônica e remixes, Bob Sinclar fez umas coisinhas com as músicas de Carrà em 2011. Não gosto muito da versão de Far L’Amore, que veio na esteira do filme A Grande Beleza - se for para escolher, prefiro Forte.

Mas a original ainda é melhor, um baladão sexy cheio de climão italiano. Aliás, se alguém quiser me dar esse vinil…

Estou aceitando

Estou aceitando

Ícone gay sim

Raffaella já cantava sobre homossexualidade nos anos 1970. Lucas era o nome dele…

Um velho amigo? Ih, Lucas, onde você se meteu? Nunca vou saber…

Bom, Raffaella acabou coroada rainha do World Pride em Madri em 2017. Depois, declarou em entrevista:

Al recibirlo dije: Viva esta semana con alegría, pero las luchas no han terminado. Todavía hay que ‘hacer mucho fuego’ para romper prejuicios. Tendremos éxito. Mi frase favorita dice: ‘Puedes quitar todas las flores, pero no puedes quitar la primavera’
— Raffaella Carrà

Masturbação feminina

Antes de I Touch Myself de Divinyls; de Sexxx Dreams de Lady Gaga; de She Bop de Cyndi Lauper.
Ouve direitinho antes de achar que é uma mulher desesperada no telefone…
"Mi dedo está enrojecido de tanto marcar, se mueve solo, sobre mi cuerpo, y marca sin parar: 5-3 /5-3/ 4-5-6. Ya no vengas, que aquí no hay nada que hacer. Sin ti aprendí que hay muchas formas de poder vivir"

Rainha modesta

Veo a Madonna o a Lady Gaga y muchas veces me reconozco en ellas. La que me gusta mucho es Shakira. Me vuelve loca. Yo comencé antes, pero tengo más años y soy menos atrevida.
— Raffaella Carrá para a Vanity Fair espanhola

Essa entrevista é mara, aliás.

Para terminar, um vídeo de Raffaella… e Madonna.

É loucura minha ou a poderosa Madonna está ligeiramente nervosa?
Pode ser só viagem… mas sei lá…
Arrivederci!