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A formação clássica do Kid Abelha: Leoni, Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel

A formação clássica do Kid Abelha: Leoni, Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel

O incidente no Estádio de Remo da Lagoa

November 20, 2020 by Jorge Wakabara in música, política

No começo do BRock, quando as bandas começavam a despontar, algo aconteceu envolvendo dois destaques desse novo cenário de futuras celebridades. Era a Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, e Herbert Vianna, uma das pontas do trio Paralamas do Sucesso. Paula ainda namorava e morava com Leoni, companheiro de banda, quando rolou um clima com Herbert e um beijo.

Paula e Leoni no palco

Paula e Leoni no palco

Acabou que Leoni saiu de casa e Herbert e Paula começaram a namorar, em meados de 1984. Acabaram morando juntos, mas o paralama diz que ela era muito competitiva e a banda dele, que na época era menor que o Kid (!!!), começou a crescer. E aí chegamos em 23 de fevereiro de 1986, o dia do Cidade Live Concert, um show organizado pela Rádio Cidade que rolou no Estádio de Remo da Lagoa, no Rio.

O clima da gravação do segundo álbum do Kid Abelha, o Educação Sentimental, lançado em maio de 1985, já tinha sido meio esquisito. Nessa época, Leoni já namorava com ninguém menos que Fabiana Kherlakian, ela mesma, a filha do fundador da Zoomp. Diz Herbert, segundo publicado no livro Os Paralamas do Sucesso: Vamo Batê Lata do Jamari França, que Fabiana instigava Leoni a ter mais atitude na dinâmica da banda, a impor uma necessidade de cantar mais (ou seja, dividir os microfones com Paula).

Todas as músicas do Kid lançadas até aquele momento eram co-autoria de Leoni com mais alguém, sendo que Ele Quer me Conquistar (1984), Os Outros e Educação Sentimental em si (ambas de 1985) são só dele. No segundo álbum, Leoni assume o vocal principal em Conspiração Internacional e Educação Sentimental – ambas boas, e pelo que entendo não muito bem trabalhadas nas rádios. Existe um compacto promocional de Educação Sentimental, mas será que ele foi realmente promovido?

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Voltando ao show: Léo Jaime foi um dos artistas que se apresentaram. Ele chamou Paula e George Israel, outro integrante do Kid, para cantar Fórmula do Amor, e não chamou nem citou Leoni como um dos co-autores da música. Fez-se a confusão. Para Leoni aquilo foi a gota d'água: ele e Paula (que tomou o partido de Léo) começaram a discutir, ela gritou, ele a segurou, ela disse “me larga, me larga”, e quando ele largou… O pandeiro que estava na mão da Paula foi direto na cabeça dele. Herbert e Fabiana estavam presentes e, na briga, do lado dos então respectivos pares, claro.

Recentemente rolou uma live com Aquiles Priester e Gilson Naspolini mais os ex-bateristas do Kid Abelha Kadu Menezes, Cláudio Infante e Adal Fonseca (a banda terminou em 2016). Menezes contou que chegou no local da confusão minutos depois dessa pandeirada. Diz que Paula e Fabiana estavam berrando.

Ah, e uma curiosidade: Seu Espião e Por Que Não Eu?, dois dos maiores sucessos do primeiro disco de 1984 do Kid, são de autoria de Leoni, Paula e Herbert! Que trio…

Segundo Herbert, Paula e ele passaram a noite pós-show em claro, com todo mundo (menos Leoni e Fabiana, óbvio) reunido no apartamento que eles dividiam. A pauta: o Kid Abelha continuaria sem o seu principal compositor? Sim, porque Leoni decidiu sair!
(No dia seguinte, dizem que tinha foto de Leoni no Segundo Caderno com esparadrapo na cabeça. Não achei – se alguém achar me manda?)

Paula, George e Bruno Fortunato acabaram decidindo seguir em frente e soltaram um álbum ao vivo gravado em setembro de 1986 em São Paulo, ainda recheado de canções de co-autoria de Leoni (a única que não tem o dedo dele é Nada Por Mim, de Herbert e Paula, lançada antes por Marina Lima). Em 1987 viria o disco Tomate, com hits como Amanhã é 23 e No Meio da Rua (ambas de Paula e George).

E o relacionamento de Herbert e Paula? A sequência da história é complexa. Ele fala em traição, sem citar nomes. Ela, em entrevista para a revista Trip em 2009, diz: “A gente ficou dois anos no máximo, e o ano da separação, que é um outro ano de vai e volta, sabe? Bem complicado...”. A verdade é que em 1987 ela casou com o cineasta Lui Faria – e segue com ele até hoje.

Herbert ficou arrasado na época. Teoricamente, alguns clássicos do Paralamas saíram desse coração quebrado. A gente imagina, por exemplo, que Uns Dias e Quase Um Segundo são para Paula Toller.

“Eu nem te falei
Que eu te procurei
Pra me confessar
Eu chorava de amor
E não porque sofria
Mas você chegou já era dia
E não estava sozinha
Eu tive fora uns dias
Eu te odiei uns dias
Eu quis te matar”
— Trecho da letra de Uns Dias, de Herbert Vianna

Hum, bem… contundente, né? Risos.
Em 1989, Herbert conheceria a mulher que ele considera o amor da sua vida até hoje: a inglesa Lucy. Mas isso é outra história.

Mas e o Leoni, hein?

A história de mais um hit maker

Eu sei, sou muito safado. Te prendi pela fofoca e de repente você está lendo a história de mais um hit maker brasileiro que na minha opinião ainda merece reconhecimento. Seu nome? Carlos Leoni!

Após sair da banda definitivamente naquela noite, Leoni partiu para outra. Mais especificamente para outra banda, onde de fato seria o líder. Era o Heróis da Resistência. O nome saiu de uma música que ele fez para Ney Matogrosso, e a primeira formação incluía Lulu Martin, Alfredo Dias Gomes (isso mesmo, o filho de Dias Gomes e Janete Clair, autores de novela highness!) e Jorge Shy. Em 1987, saía o primeiro álbum deles. Todas as músicas são do Leoni ou de co-autoria dele, incluindo o primeiro super hit, que ele divide com… Fabiana Kherlakian. Sim! Fabiana é co-autora de Só Pro Meu Prazer!!! Quando o disco foi lançado, eles já tinham se separado.

Outro sucesso do Heróis foi Doublê de Corpo. A parceria com o tecladista Martin também é do primeiro álbum e foi parar na trilha da novela O Outro. (Só pro Meu Prazer também era de novela – saiu na trilha de Hipertensão!)

Acho importante deixar claro aqui que, pra além de músico cantando e tocando em carreira solo ou em bandas, Leoni é compositor e sempre foi. Especializado em pop. Muita música boa, de ontem e hoje.
Para encurtar, vou deixar só uma listinha básica aqui.

. Cenas Obscenas (Yann Laouenan, Alec Haiat, Léo Jaime e Leoni), lançada pelo Metrô em 1985
. Exagerado (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni), lançada por Cazuza em 1985
. Diário de Mentiras (Leoni), lançado por Emilinha em 1986
. Dívidas de Amor (Leoni e Ney Matogrosso), lançada por Ney Matogrosso em 1986
. Pra Dizer Adeus (Wander Taffo, Ivan Busic, Andria Busic e Leoni), lançada por Wander Taffo em 1989
. SLA Radical Dance Disco Club (Leoni e Fernanda Abreu), lançada por Fernanda Abreu em 1990
. Clareiras (Leoni), lançada pelo 14 Bis em 1992
. Tudo Bem Com Você (Pepeu Gomes, Vinícius Cantuária e Leoni), lançada por Pepeu Gomes em 1993
. Diferenças (Leoni), lançada por Simony em 1995
. Glamour (Leoni e Luciana Fregolente), lançada por Thalma de Freitas em 1996
. Menos Carnaval (Leoni e Luciano Maurício), lançada pelas Sublimes em 1997 (e tem uma regravação mara da Belô Velloso de 2007)
. Melhor pra Mim (Leoni), lançada por Verônica Sabino em 1999
. Temporada das Flores (Leoni), lançada por Milena Monteiro em 2002 (e depois regravada em versão ao vivo por Daniela Mercury em 2003)
. Sempre por Querer (Alvin L, Leoni e Luciana Fregolente), lançada por LS Jack em 2004
. Três Dias de Ventania (Paulo Malaguti Pauleira e Leoni), lançada por Arranco de Varsóvia em 2005 (é um SAMBA! E é bem simpático!)
. Canção pra Quando Você Voltar (Leoni e Herbert Vianna), lançada por Leoni (com feat de Herbert) em 2005
. Fora de Lugar (Leoni e Herbert Vianna), lançada pelos Paralamas do Sucesso em 2005
. Soneto do Teu Corpo (Leoni e Moska), lançada por Mart'nália em 2006
. Intimidade Entre Estranhos (Roberto Frejat e Leoni), lançada por Frejat em 2008
. Melhor e Diferente (Thedy Corrêa e Leoni), lançada pelo Nenhum de Nós em 2011
. Sem Flores (Daniel Lopes e Leoni), lançada por Daniel Lopes em 2013
. Quem nos Dera (Leoni e Zélia Duncan), lançada pela Roberta Campos em 2018

O Heróis lançou mais dois álbuns e acabou em 1992. Leoni assumiu a carreira solo e em 1993 lançou um álbum que continha a More than Words nacional, a canção que disputa lugar entre as da Legião Urbana nas rodinhas de violão. O clássico que dá sequência a uma das mais clássicas canções do Kid Abelha, Garotos, lançada em 1985. É Garotos II - O Outro Lado:

Respect!

E da treta, o que restou? Bom, Leoni chegou a dividir apartamento com Léo Jaime depois disso tudo. Eles voltaram a compor juntos. Herbert, como vimos, cantou com Leoni – a música Canção pra Quando Você Voltar começou a ser feita por Leoni quando Herbert entrou em coma, pós-acidente no qual Lucy morreu.

Fabiana Kherlakian, por sua vez, foi pra outra turma. Depois de Leoni, com quem ainda fez mais algumas músicas do Heróis (Sujeito Oculto e Narciso, do segundo álbum deles Religio), ela teve um relacionamento com ninguém menos que Supla. E sim, compôs músicas com ele também! Entre as parcerias, está Sai pra Lá Vudu, com Andria e Ivan Busic, Eduardo Aradanuy e o próprio Supla.

Só pra te dar uma noção de tempo: Uma Escola Atrapalhada, o filme com Supla e Angélica, saiu em 1990. O disco com Sai pra Lá Vudu é de 1991.
Vou confessar um negócio pra vocês… Eu gosto desse disco do Supla. Gosto bastante.

(Fabiana sairia no noticiário com uma nova treta já no novo milênio, em 2006. Era o fim do seu casamento com o ator Marcos Pasquim, com quem tem uma filha, Allicia. Ele a traiu publicamente beijando uma figurante na festa de encerramento da novela Bang Bang.)

Bom, tudo vai bem entre todos depois do incidente no Estádio de Remo da Lagoa, ao que tudo indica, né?

Eba! Amigos forever!

Eba! Amigos forever!

Mas ATENÇÃO. Não tão rápido, meu bem.
Faltou alguém aí, você sabe.
Sim, ela. A mulher da pandeirola.
E a Paula Toller?

O que a gente sabe: em 2018, Paula processou o PT e Leoni pelo uso indevido de uma versão da música Pintura Íntima, que é de autoria dela e Leoni, nas eleições. O partido e o músico perderam e tiveram que pagar indenização. E chumbo trocado pode não doer, mas pesa no bolso – Leoni também entrou na justiça em 2020 para impedir Paula de usar o título Como Eu Quero, outra música dos dois, para batizar sua turnê.

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Paula, que conseguiu ser a mulher de maior destaque do BRock, front woman de uma banda longeva, foi ironicamente uma heroína da resistência. Mas nos anos 2000, ela vem sendo apontada como bolsonarista e de direita. Esse processo contra o PT só ajudou a alimentar tudo isso. Em entrevistas, ela diz que essa moda de cancelamento no seu caso é antiga, de antes de redes sociais – a imprensa sempre fez bullying com a sua pessoa.
Também aparecem cada vez mais comentários sobre o Kid Abelha ter acabado em 2016 porque queriam transformar Paula em diva solo – um roteiro velho e bem manjado. Só que acho importante ver os dois lados: será que o Kid Abelha não durou tempo demais? Será que não é natural que ela e os empresários realmente desejem uma carreira solo?
Longe de mim querer defender bolsonarista, mas sinto certo tom misógino nessa história. Ao mesmo tempo, fico achando que onde há fumaça (e como há fumaça, né?), há fogo.
Prefiro então me abster, sem tomar partido nessa treta toda. Meu time aqui é do pop bom, e isso essa longa trama tem de sobra.

Paula e Herbert quando ainda eram um casal e ela ainda era morena

Paula e Herbert quando ainda eram um casal e ela ainda era morena

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November 20, 2020 /Jorge Wakabara
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música, política
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Como teria sido o disco seguinte de Elis Regina?

June 26, 2020 by Jorge Wakabara in música, livro

Para começo de conversa: Elis Regina foi a maior cantora que o Brasil já teve. Se você ainda não se convenceu disso, faça uma coisa que minha amiga Mariana Tavares involuntariamente me mostrou:
1. Coloque o fone de ouvido.
2. Aumente o volume.
3. Ouça isso:

Elis era perfeita até na imperfeição. Extremamente técnica, sabia quando “errar" em prol da emoção. Não tem malabarismo, não tem truque. Tem timbre, tem dicção, tem musicalidade. Se você ouve com atenção, é um assombro. Gal é doce, Bethânia é espiritual, Elza é um milagre, Elizeth é divina, Baby é livre, Marisa é refinada (assim como Nara), Clara é solar, Nana é lunar, Maysa é o poço de emoção e… Elis é tudo.

Para quem não é familiarizado com a história: Elis morreu em janeiro de 1982. O último álbum dela havia sido lançado em dezembro de 1980 pela Odeon. A versão que está no Spotify não é exatamente a que chegou nas lojas:

Os últimos discos de Elis (Essa Mulher de 1979, que tem O Bêbado e o Equilibrista, o ao vivo Saudade do Brasil de 1980 e esse, mais um chamado apenas Elis) não venderam muito, o que é chocante tanto pela qualidade do repertório e interpretação quanto pelo fato deles conterem músicas que ficaram famosas. Do último, por exemplo, temos Aprendendo a Jogar, composição de Guilherme Arantes.

Elis de 1980 tem um medalhão entre o time de compositores (Gilberto Gil com Rebento) mas acima de tudo apostava em sangue novo: os irmãos Borges (O Trem Azul, Vento de Maio), Thomas Roth (SIM, aquele que era jurado no Ídolos, com Nova Estação ao lado de Luiz Guedes, primo de Beto Guedes), os irmãos Garfunkel (Calcanhar de Aquiles) e o próprio Arantes (além de Aprendendo a Jogar, com Só Deus é Quem Sabe). A cantora sempre foi reconhecida por ter lançado novos nomes durante toda a sua carreira. Dá para ver que ela estava bem na onda do Clube da Esquina: Milton Nascimento tinha lançado o álbum volume 2 com a turma em 1978.

No começo de 1982, Elis planejava um álbum novo. Já estava definitivamente separada de César Camargo Mariano, o pai de Pedro e Maria Rita, inclusive artisticamente. O disco, portanto, não seria produzido por ele.
Elis tinha anotações com uma lista de repertório, provavelmente pensando na nova empreitada.

Página do livro Furacão Elis, de Regina Echeverria

Página do livro Furacão Elis, de Regina Echeverria

Quem ajudava Elis a selecionar o repertório era Natan Marques e Ronaldo Bastos. Natan, guitarrista e compositor, fez Sai Dessa com Ana Terra, a primeira do disco de 1980 de Elis, e outras. Ronaldo Bastos era membro do Clube da Esquina – portanto Minas Gerais seguia forte na essência das criações da artista. Ronaldo na verdade nasceu em Niterói: mineiro honorário!

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Vamos à lista?

Vida

Suponho que seja Vida de Chico Buarque. Mas poderia ser uma inédita, claro. Vida seria registrada em disco por Maria Bethânia em 1982, no ao vivo Nossos Momentos. Abria o disco do próprio Chico de 1980. Em 1993, seria a vez de Angela Ro Ro gravar a canção ao vivo no Jazzmania e lançar no álbum Ao Vivo - Nosso Amor ao Armagedon. Gosto de ambas, mas acho que a vida de Angela (vide esse post) leva a interpretações bem profundas! Quando ela canta que quer mais, vish, aleluia, arrepiei.

(Aliás, esse disco ao vivo da Angela é incrível!)

Nos Bailes da Vida

Elis foi uma das maiores intérpretes de Milton Nascimento – aliás, melhor que ela, só ele mesmo. Milton tinha lançado Nos Bailes da Vida, composição sua com Fernando Brant, fazia pouco: saiu no álbum Caçador de Mim, de 1981, com participação de Roupa Nova. A versão de Elis, segundo Natan, teria o solo da introdução de Something, dos Beatles, e citações à melodia de George Harrison ao longo da música. Isso me deixou completamente louco pois essa é uma das minhas músicas preferidas do mundo!
Joanna gravou Nos Bailes da Vida em 1981. E Fafá de Belém gravou em 1982.

(Em 1981, o 14 Bis também já tinha lançado sua versão de Nos Bailes da Vida)

Sonora Garoa

Passoca deve ter mandado uma fita para Elis. Isso porque o álbum que ele já tinha lançado, em 1979, não trazia Sonora Garoa. A música só sairia na voz dele em 1984, no disco homônimo. E quem lançou a música depois, que tem todo um acento caipira à Romaria, grande sucesso de Elis? Joyce, em Saudade do Futuro (1985). E depois Vânia Bastos no ao vivo Tocar na Banda em 2007, Eliete Negreiros, em 2014, no disco Outros Sons, e Monica Salmaso, em 2017, em Caipira. A minha versão preferida segue sendo a da Joyce.

Tudo que você podia ser

A primeira do disco do Clube da Esquina, de 1972. Mais uma de Lô Borges e Márcio Borges. E maravilhosa. Difícil imaginar uma versão que supere essa original, mas Elis talvez fosse a única que conseguiria. A música já havia sido gravada pelo Quarteto em Cy em 1972, por Simone em 1973 e pelo próprio Lô Borges em 1979 (mais moderna e até mais suingada, talvez mais próxima do que Elis ia fazer).

E atenção para o momento de choque, caso você não tenha reconhecido na lista escrita por Elis que eu reproduzi acima:

Quando te Vi

Dá um play. Dá logo.
É ela mesma.

A própria Elis falou da versão de Ronaldo Bastos para Till There Was You dos Beatles na última reunião de repertório que ela, ele e Natan fizeram. A música acabou gravada pela primeira vez em 1984 pelo Beto Guedes e como não imaginar que ela seria o próximo sucesso de Elis, trilha sonora de Sétimo Sentido ou de Sol de Verão?
Bom, você lembra: Quando te Vi acabou tema de novela mas na voz de outra pessoa. Simony gravou a versão no disco Certas Coisas, de 1996. A música apareceu em Salsa e Merengue.

Falando de Amor

Pelamor, Spotify, corrige isso.
Falando de Amor saiu no álbum Terra Brasilis de Tom Jobim de 1980. Ela também faria parte do repertório do show antológico do artista em 1986 em Montreal.
Tem quem a coloque entre as mais bonitas que Jobim criou. A letra é de Vinícius de Moraes, um dos maiores parceiros dele.
Mas quem gravou primeiro, antes de Tom? Ney Matogrosso!

Dá para ver que a música é difícil: o registro precisa ter extensão para a pessoa conseguir cantar bem. Ney começa nitidamente num tom grave para ele e depois sobe na segunda parte. Elis provavelmente faria a mesma coisa.
Esse álbum de 1979 do Ney, aliás… Que pinta, que delícia. Antes de Falando de Amor, ele canta Encantado, a versão de Nature Boy.
Sabe em que ano que ele conheceu Cazuza?
Adivinha.

Caminhos do Coração

Não existe confirmação, mas faz sentido: Caminhos do Coração deve ser a do Gonzaguinha.

Ai, que vontade de ouvir a versão da Elis!!!
É dela a interpretação definitiva de Redescobrir do músico.

Ave, que coisa linda.
O registro em disco é justamente de Saudade do Brasil, de 1980, que também tem Mundo Novo Vida Nova do Gonzaguinha.
Queria ouvir um disco inteiro só de músicas do Gonzaguinha cantadas por Elis. Imagina? Grito de Alerta com Elis? (A versão da Bethânia é maravilhosa sim, mas IMAGINA com a Elis???) Ou É? Nossa. Ou Comportamento Geral? Aliás, essa última ganhou uma interpretação magistral de Elza Soares no disco mais recente dela, Planeta Fome.
Elba Ramalho gravou Caminhos do Coração em 1992.

Gema

Elis gravou composições de Caetano Veloso antes. Mas ele “era da Gal Costa", uma das maiores rivais no posto de melhor cantora da MPB. E de Bethânia também. Não estou criando rivalidade entre mulheres, não: ela existia mesmo. E lembremos que Elis encabeçou a infame passeata contra a guitarra elétrica, ou seja, contra a Tropicália e a Jovem Guarda. Depois, fez esse textão e cantou Irene:

Elis ainda gravaria Não Tenha Medo em 1970, Cinema Olympia e Os Argonautas em 1971. E não havia mais tocado em nada de Caetano desde então.
Se eu ficaria empolgado com Gema de Elis? Hum…
Bom, em 1980 Bethânia já tinha lançado Gema no disco Talismã. Mas não é uma versão incrível: o começo quase a capella é desnecessário.

Teresa Cristina já fez uma versão bem bonita, lançada em 2010.

Canção do Novo Mundo

Dá até para ouvir a voz da Elis cantando isso.
De Beto Guedes e Ronaldo Bastos, a música foi apresentada ao vivo por Milton Nascimento em 1983 – e a gravação do show foi lançada no mesmo ano. Mas essa versão de cima, do próprio Guedes, é de 1981, portanto a canção não era inédita na época que Elis pensou nela para um próximo repertório.

E mais

O livro Nada Será Como Antes, de Julio Maria, diz que Edu Lobo voltava ao convívio de Elis via Samuel MacDowell, o então namorado dela. Ronaldo Bastos, por sua vez, pediu para Arrigo Barnabé criar algo. Entre os arranjadores do novo álbum estariam Dori Caymmi e Lincoln Olivetti – ou seja, a coisa ia ser pop, mas com Arrigo, ia ter um toque bem inusitado! Dá para ouvir o disco de 1984 de Arrigo, Tubarões Voadores, e imaginar o que daquilo tudo poderia aparecer na voz de Elis. Eu não consegui, mas você pode tentar:

Uma entrevista com Elis feita em 1979 e recentemente republicada pela Folha de S.Paulo é reveladora. Elis fala de um plano de um disco com Milton, que sairia em 1980 (ou seja, não rolou), e também comenta a sua preocupação em descobrir novos compositores. “Está todo mundo contando as mesmas histórias, está um circo de elefantinho, todo mundo gravando as mesmas músicas ou uma mesma linha de composição, porque é tudo feito pelo mesmo compositor. Um pouco desse desinteresse de parte do público talvez seja por causa disso."
Vale a pena ler a entrevista inteira.
Em 2020, Elis completaria 75 anos caso estivesse viva.

Quem quiser continuar nessa vibe Elis, tem dois documentários (que são mais apresentações gravadas, na minha opinião) no Amazon Prime: Elis Regina – Na batucada da vida e Elis – Doce de Pimenta, ambos com direção de Roberto de Oliveira.

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June 26, 2020 /Jorge Wakabara
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