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Como pode o Cornélius, né?

November 25, 2021 by Jorge Wakabara in música

Confesso que tem poucas coisas na música que não me atraem, e quando elas ainda não me atraíram, é provável que em algum momento eu enxergue o valor e comece a ouvir mais.
É o caso do hard rock cabeludo brasileiro dos anos 1970 e 1980 (e mesmo as bandas internacionais na mesma pegada). O tropicalismo segue sendo uma das minhas coisas preferidas do mundo; o BRock, em menor intensidade, também. Mas do recheio deles, curto Secos & Molhados (MUITO) e olhe lá.
Porém tem algo crescendo aqui. Uma pessoa, particularmente. E o nome dele é Cornélius.

Chamado Cornélio de Aguiar Neto, Cornélius acabou conhecido como Cornélius Lúcifer quando assumiu os vocais da Made in Brazil, banda longeva daqui, que começou lá em 1969 e, inspirada no glam rock de fora, começou a se maquiar no palco (diga-se de passagem, antes do Secos & Molhados).
Apesar de Cornélius volte e meia ter se apresentado com o Made in Brazil antes de morrer em 2013, só existe um disco da banda com seus vocais: é o disco da banana, de 1974 (é conhecido por esse codinome porque o disco tem uma bananinha estampada na capa).

A voz de Cornélius realmente chama a atenção, bem na escola hard rock, rasgada e com agudos. Ele mesmo já disse que, como os equipamentos eram ruins, gritava e nem sabia se cantava direito porque não se ouvia. A grande maioria das músicas desse primeiro disco é composta por Oswaldo Vecchione, baixista e um dos membros fundadores ao lado do irmão guitarrista Celso Vecchione.

“A gente vive desafiando padrões. Quando a gente não está satisfeito com o padrão vigente, a gente sempre desafia.”
— Cornélius em entrevista para o programa de rádio “Noites Futuristas” em 1988

Aí já chama a atenção uma história muito boa. Diz que Quando a Primavera Chegar, música dos irmãos Celso e Oswaldo que foi gravada no disco seguinte já sem a participação de Cornélius (substituído por Percy Weiss), já era apresentada em shows antes (com Cornélius). Mas a letra não era assim. Em vez de “tomar um sorvete”, ela provocava um pouco mais com “chupar um sorvete”. Ouça a versão já censurada do disco Jack O Estripador de 1976:

Ouviu?
Esse medo, esse receio, esse desejo de chupar (disfarçado aqui em tomar)…
Recado dado, né?

Enquanto o Made in Brazil lançava Jack o Estripador, Cornélius seguiu a vida e deu um tempo do rock com Santa Fé, um álbum solo lançado em 1976 cuja capa ainda trazia uma imagem andrógina. Ele mesmo passou a assinar como Cornélius Santa Fé - dando a impressão que queria deixar o demônio roqueiro para trás, tanto no nome artístico como na música, mais para MPB romântica e para funks nervosos. Ele já declarou em entrevistas posteriores que estava numas de desenvolver a espiritualidade. E uma das canções simplesmente se chama Você Jamais Irá Pro Céu! Ainda assim, rolam uns vocais rasgados, uns solos…

A coisa aqui começa a ficar mais suingada, mais dançante. O soul à Roberto Carlos e Tim Maia contaminou Cornélius, a ponto dele fazer uma música toda em inglês chamada Soul Tramp! É o início de uma mudança grande de carreira, em direção a algo que ainda estava surgindo na época mas que iria estourar.

Fala sério, olha esse look? AFFFF que ícone

E aí, em 1978, a febre disco music chegou. Cornélius foi um dos que entraram de cabeça. Injustamente, depois ele chamou isso de “prostituição”, renegando essa fase de sua carreira.

Eu Perdi Seu Amor virou hit de programa de auditório e tudo. Um dos compositores é Paulinho Camargo e, para mim, Eu Perdi Seu Amor faz parte da trilogia de hits discoteca dele ao lado de A Noite Vai Chegar de Lady Zu e Amor Bandido de Sarah Regina. Todas perfeitas.
Quanto à capa do single, bem, quem vem ao glam não degenera. É como se fosse um desenvolvimento da capa de Santa Fé, o mesmo biquinho, o chapéu pintoso, mas agora com muito brilho!
Acontece que Cornélius não chegou a lançar um disco inteiro de disco music. O que rolou foi um EP, com as mesmas músicas desse single mais Fugindo de Mim (de Paulinho com Dalila Camargo) e Se Você Quiser Transar Comigo (de Hébano).

(Já deu para perceber que Cornélius SERVIA nas capas, né?)

Ainda houve uma última tentativa de emplacar em mais um single no ano seguinte, dessa vez com Paulinho Camargo se unindo ao dream team Lincoln Olivetti e Robson Jorge para compor a música Enquanto Houver Amor. Menos disco, mais funk cheio de groove. E quer saber? É bom demais.

O que aconteceu para não acontecer? A voz era ambígua demais e já bastava um Ney? Não teve investimento de divulgação? Mistérios do pop.

Deixa, a faixa do outro lado desse single de 1979 e de composição de Frankye Arduini (da incrível dupla Tony & Frankye), entrou para a coletânea Disco É Cultura de 2020 da Mad About Records, que há pouco tempo estava no Spotify (e é ÓTIMA) e sumiu. Talvez porque era pirata. Rsrsrsrs!

Cornélius nunca mais teve um registro próprio em disco depois de 1979. Como já disse, ele participava de show da Made in Brazil esporadicamente. Cornélio quis “assassinar” o Cornélius, após se “prostituir” na disco music (e ganhar muito dinheiro com isso, como reconhecia), porém não emplacou uma “nova era” antes de morrer.

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November 25, 2021 /Jorge Wakabara
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música
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A lista de backing vocals do disco Luar do Gilberto Gil

December 11, 2020 by Jorge Wakabara in música

Luar (A Gente Precisa Ver o Luar) é o disco lançado por Gilberto Gil em 1981. Sequência da festa de Realce de 1979, ele trazia o hit Palco, de autoria do Gil, que havia sido gravada anteriormente pelo A Cor do Som em 1980. Sinceramente? Apesar da citação a Here, There and Everywhere dos Beatles na versão do A Cor do Som, a de Gil é bem mais contagiante e ficou bem mais clássica.

Com produção de Liminha e uma incrível banda que inclui a superdupla Lincoln Olivetti e Robson Jorge, Luar me chama a atenção por algo muito específico, além do seu clima dançante delícia… os backing vocals. É que o time é muito incrível, é muito babado. Então vou dar a letra aqui. Segura essa lista!

Rosana

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Sim, ela mesma, como uma deusa. Rosana só gravaria seu primeiro álbum solo em 1983, e o Coração Selvagem, que tem O Amor e o Poder (que ficou conhecida por Como uma Deusa por causa do refrão) e Nem um Toque viria em 1987. Ela está no backing vocal de nada menos que 6 faixas de Luar, incluindo a faixa homônima, Palco e Cara Cara, a única composição que não é assinada por Gil (é de Caetano Veloso).

Loma

A gaúcha Loma Pereira já tinha participado do Grupo Pentagrama nessa época e gravaria seu primeiro álbum solo em 1985, o homônimo Loma. Ela é bem incrível: ouça o disco Mate por Ti de 1991 ou assista a essa live que aconteceu em 2020. Loma faz parte do backing vocal da música Axé Babá nesse disco de Gil. Uma curiosidade é que ela também fez parte do backing vocal de um clássico gaúcho: Deu pra Ti, a gravação original de Kleiton e Kleidir do mesmo ano de 1981. Amo!

Ronaldo Barcellos

Você lembra dessa pérola do pagode, de Ronaldo e os Barcellos? Pois é, mas se não lembra, com certeza de alguma outra música composta por ele você vai lembrar: Marrom Bombom, 1994, de Os Morenos (com Délcio Luiz). Ou Se Melhorar Estraga, 1997, do Karametade (também com Délcio).
Mas volta: como parte da turma do Lincoln Olivetti e Robson Jorge, Ronaldo também cometeu outras composições incríveis mesmo antes de participar do disco de Gil: o maravilhoso Black Coco do Painel de Controle, por exemplo, que misturava o coco com a música black em 1978. Olha:

Black Coco é de Ronaldo com Lincoln.
Ronaldo também chegou a lançar um compacto em 1977 chamado Hello Crazy People – sim, o bordão do DJ Big Boy! A música era uma homenagem a ele. É engraçado pensar que Nara Gil, a filha de Gil, faria uma outra homenagem ao DJ que fez história em Armação Ilimitada: ela interpretava a narradora-DJ Black Boy, com referência a ele.
Ronaldo canta nas mesmas 6 faixas que Rosana participou em Luar. Mas teve uma mulher que cantou em mais faixas ainda…

Lucinha Turnbull

Lucia Turnbull já tava circulando fazia um tempo. Havia feito parte da dupla Cilibrinas do Éden com Rita Lee, que não vingou, e da primeira formação do Tutti Frutti que acompanharia Rita na fase mais rock da carreira solo dela. Dizem que Esse Tal de Roque Enrow da Rita é inspirada na relação entre Lucinha e a mãe. Em 1980, um ano antes de Luar, Lucia lançou Aroma, seu primeiro e único disco solo. A música homônima é de Gilberto Gil. No álbum também tinha parceria com Rita: Bobagem e Perto do Infinito.
Lucinha é considerada a primeira guitarrista brasileira. Tsá, meu bem? Mas o vocal também é bom, tanto que Gil aproveitou em 8 músicas das 10 de Luar! Ela é uma das 4 mulheres do coro feminino de Se Eu Quiser Falar com Deus – nada mal, considerando as outras, sobre as quais falo em seguida…
Esse minidoc de Luiz Thunderbird e Zé Mazzei sobre Lucinha é bem bacana, vale o play:

Jane Duboc

Opa, pois sim!
Jane Duboc Vaquer já tinha participado do VI Festival Internacional da Canção da Globo cantando No Ano 83 de Sérgio Sampaio, em 1971. Já tinha gravado trilhas sonoras, sido crooner da Banda Veneno de Erlon Chaves. E também havia lançado seu primeiro álbum, Languidez, em 1980. Essa música de cima já é de 1988, do disco Feliz: De Corpo Inteiro (Luiz Fernando e Aécio Flávio), que fez parte da trilha sonora da novela O Salvador da Pátria.

Em Luar, Jane participa de Cores Vivas e Se Eu Quiser Falar com Deus.

Claudia Telles

Ela mesma! Fim de Tarde e Eu Preciso te Esquecer, dois dos maiores sucessos de Claudia Telles, já haviam saído no álbum de estreia da cantora, o homônimo Claudia Telles de 1977. E ela, assim como Jane, está no coro de Cores Vivas e Se Eu Quiser Falar com Deus. Claudia era especializada em coro de estúdio paralelamente à sua carreira solo: também fez backing para Miss Lene no disco dela de 1980, para Jorge Ben Jor em Benjor de 1989, para Biafra em Despertar de 1981, para Hyldon em Nossa História de Amor de 1977 e por aí vai.

Don Pi

Grande Don Pi! Deve ter agradado a Gil, já que ele participou do coro de Um Banda Um, o disco seguinte do artista de 1982. Não é só: também colocou backing em Sandra Sá, o clássico de Sandra de Sá de 1982, em Menestrel das Alagoas, faixa do álbum de Fafá de Belém de 1983…
Don Pi também é músico, fez muita coisa com Tim Maia no teclado. Ah, e sabe as cordas de Certas Coisas de Lulu Santos, de 1984? Direto do teclado de Don Pi!

Não existiriam vários clássicos se não houvesse Don Pi!
Assim como Rosana e Barcellos, Don Pi fez vocal de seis músicas.

Sônia Burnier

Maravilhosa! Já falei de Sônia Burnier aqui quando contei sobre a disco music brasileira. Sônia já tinha cantado dois temas de novela: Duas Vidas, para a novela homônima de 1977, e Te Contei?, da abertura da novela de 1978. Duas Vidas é esquisitíssima, tem uma vozinha de criança, eu hein. Depois ainda teve Belo Sentimento, da trilha de Feijão Maravilha de 1979. Reparou? Tudo isso antes de participar de Luar!
Sônia também participou de Cores Vivas e Se Eu Quiser Falar com Deus.

E é isso!
A gente precisa ver o luar!

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December 11, 2020 /Jorge Wakabara
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música

Pra você é Dr. Dalto

November 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Minha cara, pra que tantos planos?
Dalto, pra quem não sabe, é médico anestesista mas deixou de praticar a profissão quando resolver seguir a carreira de cantor e músico. Ele é filho de compositor – seu pai, o poeta Dalton Medeiros, fez Canção do Nosso Amor com Silveira, que foi gravada por bastante gente.

Mas Dalto foi por outro lugar. Nos primórdios, ele fazia parte da banda Os Lobos. Por si só, já acho a banda em si muito legal. Fanny, uma das primeiras músicas lançadas por eles (do primeiro compacto, de 1968), já é de Dalto e Cláudio Rabello, a dupla que seguiria trabalhando junta, um clássico apagado da história do pop brasileiro.

Mas o que quero mesmo é saber do lado hit maker de Dalto (quase sempre com Rabello). Então vou mostrar aqui algumas músicas que ele fez: uma na inconfundível versão dele e outras com outros intérpretes. Vem!

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Flash-back, de 1971, com Cláudio Rabello e Ralph Guedes

A primeira versão saiu num compacto simples com o próprio, a primeira investida numa carreira solo de Dalto. Até vendeu bem, 50 mil cópias, mas ele não quis largar a faculdade de medicina que ainda cursava. Essa versão do Neguinho da Beija-Flor é irresistível, um pop quase pagode de 1995. Mas também tem a do Ira! do disco de covers da banda de 1999, Isso É Amor.

Morena, de 1973, com Cláudio Rabello

A primeira música desse disco de estreia da Simone, veja só, era de Dalto com Rabello! Mas ainda acho que ela tem um resquício muito forte de bossa nova e MPB, longíssimo do pop deles que consagraria hits. Sei que Carmen Costa regravou em 1980 mas não consegui achar a regravação pra linkar aqui. Nesse mesmo disco da Simone ainda tem Charada, uma das raras músicas de composição solo de Dalto, e Caminho do Sol, de Dalto e Mário Jorge.

Correção: Essas músicas não são do Dalto e sim de Daltony Nóbrega. Ele assinava, na época, domo Daltom ou Daltô. Por erro de digitação, saiu Dalto.
De qualquer forma, Simone já gravou Dalto: Muito Estranho nos anos 2000 e Leão Ferido em 1995.

Bem-Te-Vi, de 1981, com Cláudio Rabello

Quem lançou primeiro foi Renato Terra, no segundo álbum dele, o homônimo Renato Terra. Terra também é compositor e Bem-Te-Vi era a única do disco que não tinha dedo dele. Virou um sucesso: Chitãozinho & Xororó regravaram em 2014 em versão banquinho e violão numa dessas coletâneas; Leandro & Leonardo regravaram antes, em 1987; e também teve a versão de Yahoo em 1996. Acho um clima tão… Beto Guedes. Não?

Leão Ferido, de 1981, com Biafra

Queria que a Bethânia tivesse regravado, mas ainda não rolou – alô, Bethânia, grave essa música!
Foi lançada no terceiro álbum do Biafra, Despertar, de 1981. Essa música é TUDO, tanto que já foi regravada por Simone em 1995, versão chiquezona do álbum Simone Bittencourt de Oliveira – tá vendo, Bethânia, tô falando que é pra gravar, cara!
Biafra já tinha colocado a voz dele numa música de Dalto: Cigana, composição com Mentor, e Coração Vadio, parceria com o próprio Biafra. Ambas foram lançadas em 1980 no álbum homônimo Biafra. “Ciganaaa, me enganaaa"!

Vinho Antigo, de 1981, com Biafra

Outra da parceria entre Dalto e Biafra que saiu no disco Despertar de 1981, depois foi regravada por Célia nesse álbum de 2010 dela, O Lado Oculto das Canções. Já falei da Célia aqui no blog, eu adoro.
E sabe quem também já gravou, em 1982? Altemar Dutra, no disco Estranho Amor. <3
É bem abolerada, bem seresta de puteiro, ou seja: MARAVILHOSA.

Relax, de 1982, com Cláudio Rabello

É uma graça, e que eu saiba ninguém regravou, só existe a versão original de Dalto lançada no disco de 1982, Muito Estranho. Tem um coro bem popzinho, bem a cara do Dalto. Deixa a canção nascer bem antes do sol!

Muito Estranho (Cuida Bem de Mim), de 1982, com Cláudio Rabello

São tantas as versões que fiquei muito na dúvida sobre qual incluir aqui. Lançado originalmente em 1982 por Dalto, o superhit talvez seja a sua música mais famosa. Essa gravação da Martinha saiu em 1986. Também teve KLB em 2000; Roberta Miranda em 1994; Ângela Maria em 2011; Fábio Jr também em 2011; Simone em 2001; Nando Reis no disco Bailão do Ruivão (Ao Vivo) de 2001. Eita! Puro creme pop. Zuza Homem de Mello já disse que ela foi a música brasileira que passou mais tempo nas paradas. Não duvido – óbvio, não duvidaria do Zuza, né?! Um dos maiores jornalistas de música que o nosso país já teve, tá doido?
A minha versão preferida é a do próprio Dalto, com a da Simone logo depois e a do Fábio Jr (pois é!) em terceiro!

Brilho Novo, de 1982, com Cláudio Rabello, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Ronaldo

Escondida num álbum do grande Dudu França e com uma cara de Alpha FM maravilhosa (o arranjo é de um dos compositores, o mestre Lincoln Olivetti), essa música tem um refrão chicletão. É engraçado que nem Dalto regravou, só existe essa versão do França em registro fonográfico. Esse disco tem outras músicas de Dalto e Rabello, como Pernas pro Ar. Infelizmente não encontrei link pra mostrar!

Pessoa, de 1983, com Cláudio Rabello

Talvez seja a segunda música mais conhecida do Dalto hoje, justamente por causa dessa regravação de Marina Lima para o disco O Chamado de 1993. Marina encarnou a intérprete, pegou a canção e a fez eternamente sua – tanto que muita gente acha que é composição dela, mesmo! Dalto a lançou no seu segundo álbum, Pessoa, de 1983. E depois de Marina, nunca ninguém ousou regravar!

Espelhos d’Água, de 1983, com Cláudio Rabello

Essa versão da Patrícia Marx de 1994, do álbum Ficar Com Você, é POP NA VEIA, MERMÃO. Não tem como. É perfeita. Lançada primeiro pelo Dalto no disco Pessoa de 1983, é hit irresistível de karaokê e… de outros cantores, como Preta Gil em 2003, Beto Guedes em 1998 e… Frank Aguiar em 2007. Por que não, né?
Marx gravaria outra de Dalto em 1996, no álbum Quero Mais. É a música que dá título ao disco, composição dele com Nelson Motta.

Anjo, de 1983, com Cláudio Rabello e Renato Correa

Chega perto e diz…
Eu sei, se você tem uns 45 anos pra mais, você completou a frase automaticamente com ANJOOOO.
Sucesso da trilha sonora da novela Guerra dos Sexos na interpretação do Roupa Nova, teve versão da Deborah Blando no remake de Guerra dos Sexos de 2012 e também… a de Robinson Monteiro, que tinha o apelido de Anjo no programa Raul Gil. Sim, te lembrei disso. A dele é de 2001. De nada!

Veneno, de 1983, com Cláudio Rabello… versão em espanhol & inglês de Gretchen!

Sim. Tá passada?
Eu tô!
E o pior: agora que você sabe que é do Dalto e do Rabello, você vai ouvir e vai pensar… Não é que é, mesmo?

Onde é que a Gente Vai?, de 1984, com Cláudio Rabello

Música de novela e gravada apenas por Dalto no disco homônimo Dalto, de 1984 – fica a dica pros intérpretes kkkkk É meio safadinha, bonitinha, juro que acho que tem potencial de regravação.

Calor Humano, de 1986, com Ronaldo Bastos e Beto Guedes

Participação especial de Dalto no disco de Beto Guedes de 1986, Alma de Borracha, a música foi composta por Guedes, Dalto e Ronaldo Bastos. Dalto, que é de Niterói mas que eu sempre achei muito mineiro em sua musicalidade, faz aqui a ponte concreta pra Minas. Podia ter mais!

Maçãs de Vitrine, de 1986, com Cláudio Rabello

Você quer versatilidade? Toma. Cida Moreira cantando essa composição de Dalto e Cláudio Rabello com uma interpretação toda própria, tanto que nem parece algo da dupla! Pop oitentista, but make it cabaré bretchiano.

Extravios, de 1989, com Antonio Cícero

Sim, existe essa coisa chiquíssima: uma parceria de Dalto com o poeta Antonio Cícero, interpretada pela irmã de Cícero, Marina Lima.
Coro, sax e tudo. Saiu no Próxima Parada de 1989 e depois ainda teve versão de Léo Jaime no disco bem legal dele de 1995, Todo Amor. A versão do Léo Jaime é com violãozinho, ainda mais bonita que a da Marina, menos oitentista.
Marina ainda viraria parceira de Dalto e Rabello com Notícias, lançada por ela em 2001.

Não me Deixe Mal, de 1989, com Cláudio Rabello

É bem linda essa música, não sei porque não é mais conhecida. E eu amo o título desse álbum da Zizi Possi: Estrebucha Baby! É o título da primeira faixa do lado A, dos irmãos Garfunkel. Tudo, tipo prima da Não Vale a Pena gravada por Maria Rita.

De Volta pro Interior, de 2000, com Cláudio Rabello

Sim, José Augusto.
Sim, a música dá nome para o álbum que ele lançou em 2000, com músicas sertanejas tipo Beijinho Doce e No Rancho Fundo.
Sim, é a única gravação dessa música. E juro que acho boa!

Fecha a Porta, 2001, com Cláudio Rabello

Adoro – do mesmo disco que tem Mais Um Na Multidão, o hit de Erasmo Carlos com Marisa Monte. Essa do Erasmo é a primeira versão da música, romântica como quase tudo de Dalto. Depois teve uma versão da Gil Melândia (lembra??) de 2005, boa também, uma levada… samba-canção-reggae? No mesmo disco de 2005, Gil também gravaria Notícias, aquela que a gente já comentou, de Dalto, Rabello e Marina! Bem linda.

Um Tempo de Paixão, de 2001, com Cláudio Rabello

A musicalidade, a letra: tudo que marca a dupla Dalto e Rabello taí. Por que não fez sucesso? Não faço a menor ideia. Em 2001 isso já estava meio datado? Sei que é bom demais, ainda mais cantada por Daniela Mercury. Tudo!

Lição de Amor, de 2016, com Fernando Brant

Essa é toda especial: é a última composição com letra de Fernando Brant antes dele morrer, em 2015, segundo o próprio Dalto. E ganhou registro lindo na voz de Evinha, que digo e repito: é uma das maiores vozes vivas da nossa música. Melhor: só com o piano do marido dela, Gérard Gambus. Ficou ainda mais delicada sem os eventuais sintetizadores e saxofones que estamos acostumados a ouvir nas composições de Dalto. Linda, linda.

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November 07, 2020 /Jorge Wakabara
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Um elo perdido de estrela pop: Emilinha

September 07, 2020 by Jorge Wakabara in música, TV

Acho que a gente pode começar essa história lá atrás. Mais para trás. Bem mais. Em 1954. O ano da vitória de Martha Rocha como Miss Brasil e da polêmica das duas polegadas a mais de quadril que a teriam desclassificado no concurso de Miss Universo. Essa polêmica, dizem, foi inventada por um jornalista para que os brasileiros não ficassem tão tristes – estavam todos muito confiantes da vitória de Martha. Acabou entrando para a posteridade como verdade, e o concurso de Miss ficou mais famoso do que já era por essas praias.
Pois bem. E quem ganhou o título de Miss Brasil no ano seguinte? Emília Barreto, representando o estado do Ceará.

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Emília Barreto Corrêa Lima

Millôr Fernandes disse, comparando-a com a antecessora: “A mulher, para ser bonita, precisa ter nariz. Martha Rocha não tem, e o de Emília dispensa qualquer elogio".

Emília se casou no ano seguinte do seu "reinado” com o oficial do exército e engenheiro Wilson Santa Cruz Caldas. Com ele, teve três filhos. Nélson. Marília. E… Emilinha.

Agora vou contar uma outra história.
No fim da década de 1970, tinha um cara que era um gênio da guitarra mas que não conseguia ganhar uma grana boa com o seu trabalho. Já tinha tocado com Fagner, já tinha tocado com Gal, já tinha tocado nos EUA. Em 1981, ele decidiu fazer um disco mais comercial. Surgia Satisfação de Robertinho de Recife. E olha quem estava na contracapa…

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Essa mulher sentada é a Emilinha, a filha da Miss Brasil de 1955. Repare na ficha técnica: participação especial de Emilinha no vocal e guitarra.

Só para dar um contexto, em 1979 saía o primeiro disco de Rita Lee depois de uma sequência de lançamentos com a banda Tutti Frutti. Na contracapa, aparecia seu novo comparsa, Roberto de Carvalho, e a barriga de grávida. Surgia um novo conceito no pop brasileiro: a família do rock!

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Emilinha e Robertinho também eram um casal.

Em Satisfação, Feliz com Você é composição de Robertinho com Emilinha. Romântica, bem bonitinha. Tem também a música Emilinha Dançando, referência clara a ela, composição solo de Robertinho instrumental e curta, de menos de um minuto. Será que a última, Mina de Ouro, de Robertinho com Aninha Bird, é para Emilinha? Acho que não porque fala de uma loira (kkkkk guarda essa informação para daqui a pouco). Mas o grande babado é O Elefante, com a voz dela, um dos grandes hits da carreira de Robertinho, composta por ele e Fausto Nilo.

Era isso, nos primórdios do BRock, mas nem cá, nem lá. Robertinho era um estranho entre a juventude carioca que começava a despontar, e também muito moderno para os medalhões da MPB. Porém incrível, com repertório pop nos trinques.

E se Rita Lee assumiu a parceria com Roberto de Carvalho (que rolava fazia um par de anos) na capa do álbum de 1982, chamado Rita Lee e Roberto de Carvalho e também conhecido como Flagra, Robertinho trouxe Emilinha para a capa de Robertinho de Recife e Emilinha também em 1982.

Identificando-se de vez com a turma new wave (As Aventuras da Blitz saiu em 1982 e um monte de estreias de banda em disco rolariam em 1984), o álbum da dupla traz essa Dominó Dominó de Robertinho e Nilo como carro-chefe e ainda tem uma da dupla de cantores, Estou Débil (meio tosquinha, pra falar a verdade, e politicamente bem incorreta). Sem contar muita coisa legal ali pelo meio, tipo A Onda, outra de Robertinho e Nilo, new wave com toques árabes!

Também adoro Vem Cá Neném, mais uma de Robertinho e Nilo, com a voz de Robertinho no destaque. A produção do disco era de Lincoln Olivetti, que também assina duas composições em dupla com Robertinho (Nas Luzes da Noite e Alguém Especial).

O próximo disco de Robertinho, Ah, Robertinho do Mundo de 1983, ainda trazia mais uma composição em parceria com Emilinha, a última do disco Vou-me Embora. Mas o tom de new wave já vai dando lugar a algo bem centrado na guitarra e a dupla com Emilinha cantando evapora da capa e conteúdo. Não deixa de ser um disco muito bom: traz a versão gravada dele para Bachianas Brasileiras nº 5 de Heitor Villa-Lobos e o hit Babydoll de Nylon, composição de Robertinho com Caetano Veloso, encaixada ali em penúltimo, quase com receio do possível sucesso que ela viria a conquistar (Robertinho sempre disse em alto e bom som que achava O Elefante, por exemplo, um lixo comercial).

E em 1984, segundo entrevistas que o próprio Robertinho deu, ele pagaria um pedágio para cair de vez no metal com o disco Metal Mania. Era isso daqui:

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Sim: a versão original de É de Chocolate, de Miguel Plopschi e Michael Sullivan, é pré-Trem da Alegria, apesar de muita gente ligar o sucesso ao grupo infantil. Era com Patrícia Marx e Luciano Nassyn, ainda sem Juninho Bill, e participações especiais de Emilinha e Robertinho de Recife. A primeira voz que a gente ouve, portanto, é dela: Emília.

Enquanto deixavam Robertinho se enveredar pelo heavy metal depois do Chocolate que ele considerava um mico (mas bem que ele cairia no ultracomercial Yahoo com a sensual Mordida de Amor em 1988, então, ué, decida-se), Emilinha teve um filho dele, Eduardo Caldas, nesse mesmo ano de 1984. É esse aqui, ó:

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia mui…

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia muita coisa com a Tatyane Goulart na TV

(Hoje o Eduardo é roteirista e mudou o nome artístico, assina como Eduardo Albuquerque)

E sim, a própria Emilinha foi em busca do seu lugar ao sol. Surgia o disco "perdido” homônimo Emilinha, cuja capa abriu esse post, em 1986. Nele, seis músicas eram composições solo de Emilinha. Contava também com outras delícias, tipo isso:

Diário de Mentiras é de Leoni, e parece bastante com as músicas dele para o Kid Abelha, sua ex-banda (sinceramente, dá até para imaginar Paula Toller cantando). Leoni saiu do Kid justamente em 1986, brigado, e fundou a sua nova banda, Heróis da Resistência, naquele mesmo ano.
Numa reverência à desbravadora do pop rock nacional, nesse mesmo álbum Emilinha regravou Tratos à Bola, de Rita Lee com os Tutti Fruttis Lee Marcucci e Luis Carlini.

A versão original de Rita saiu em 1974, no álbum Atrás do Porto Tem Uma Cidade.

Mas isso foi apenas o começo. Em 1987, sairiam duas coisas. Primeiro vou mostrar a mais misteriosa, que tem a ver com o lado compositora de Emilinha.

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Não consegui localizar nenhum registro de som dessa belezinha, um girl group chamado Rosa Shok formado por, acho, Andréa, Luciany, Karen, Leila e Adriana. A segunda música do lado A, Todos os Tipos, é de autoria de Emilinha. Entre os compositores, a maioria é bem misteriosa. Mas tem o Papa Kid que já fez coisas com Luiz Melodia, com o próprio Robertinho, com Fausto Nilo. Olha esse compacto do Papa Kid de 1982, que maravilhoso:

E lembra que eu falei do Gastão Lamounier Neto sobre O Dono da Bola, a música do Mário Gomes? Ele também fez uma para a Rosa Shok, Moto Prateada, com Luis Mendes Junior. Gastão tem história com o pop nacional dos anos 1980: fez coisas para Neusinha Brizola (<3 <3), Sempre Livre, Sandra de Sá, Tim Maia, Banda Black Rio.
E Luis Mendes Junior? Bom, esse cara é o responsável por Piuí Abacaxi. Não finja que não sabe do que eu estou falando.

Se alguém achar o álbum da Rosa Shok por aí, me avisa?

O outro capítulo de 1987 na história de Emilinha é esse aqui.

"Não adianta. Por mais que eu tente, não dá pra entender. Como é que você pôde me trocar por essa… essa lôra horrorosa… E eu que dei tudo de mim. Dei o melhor de mim pra você. Mas tudo bem. Um dia você vai ver o que perdeu. Mas aí vai ser tarde demais porque eu é que não vou mais querer nada com você. Você é que vai ficar na pior… Babaca!"

O Que Que Ela Tem Que Eu Não Tenho é uma composição de Emilinha. A primeira formação de Afrodite Se Quiser é com ela, Karla Sabah (que é quem manda esse textão no começo da música) e Patrícia Maranhão. Elas lançaram um disco homônimo em 1987.

Além dessa, tem dedo de composição de Emilinha em Pega Leve (com Casaverde) e Peito e Bum-Bum (com Patrícia Maranhão).
Pega Leve é BEM LEGAL, de verdade, assim como Peito e Bum-bum. São meio… empoderadoras? "Pega leve comigo / que eu vou botar pra quebrar / Tudo que eu quero, eu consigo / Eu posso te arrasar" & "Seu desejo pra mim é só um / Mas eu não sou só peito e bum-bum".
Tudo Por Um Toque de Amor, da Patrícia, é bem delicinha oitentista também, com uma melodia cheia de agudos que elas seguram muito bem.

No lado B desse álbum tem um medley que a gente pode enxergar meio como as coisas que o Harmony Cats, grupo vocal feminino, fazia: juntar um monte de hits do passado dando uma nova roupagem, nesse caso mais para pop oitentista.

Em 1989, saiu outro disco de Afrodite se Quiser e uma outra formação: sem Patrícia Maranhão, agora elas contavam com Gisela Zingoni. Gisela chegou com tudo: grande parte das composições do álbum Fora de Mim tem o dedo dela.
O single, Papai e Mamãe, é de Gisela com Emilinha:

A curiosidade: a direção desse clipe é do Boninho!
De composições da Emilinha, o álbum ainda conta com Eu Não Vou e Já Tá Pegando Mal (ambas com Zingoni) e Fora de Mim (só dela).

Ainda em 1989, o trio gravou Canção Para Inglês Ver do Lamartine Babo para a novela Kananga do Japão, da Manchete.

Ficou uma coisa meio Frenéticas, né?

Karla foi a única do trio que seguiu carreira de cantora. Gisela acabou se especializando em edição de songbook e Emília Caldas passou a trabalhar com figurino.

O Afrodite faz parte de uma linhagem de girl groups do pop brasileiro que a gente chega a negligenciar, na minha modesta opinião. Citei alguns de maneira espalhada por esse post: Sempre Livre, Harmony Cats, Frenéticas. Tem também As Sublimes, Banana Split, SNZ, Pearls Negras, sem esquecer o que talvez tenha sido o mais bem sucedido de todos: Rouge.
Mas, acima de tudo, Emilinha fez história no pop brasileiro. É de Chocolate foi disco de platina (segundo consta, Robertinho chegou da cerimônia da entrega em seu apartamento no 12º andar e o jogou pela janela, imagina o perigo). O Que Que Ela Tem está no mármore eterno da memória de 10 entre 10 crianças, adolescentes e adultos dos anos 1980.

Qualquer coisa dessa discografia em vinil: EU QUERO.

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September 07, 2020 /Jorge Wakabara
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Cantoras brasileiras que a gente precisa enaltecer e ouvir

August 16, 2020 by Jorge Wakabara in música

Elas são incríveis e, no entanto, passam longe das páginas de jornalismo cultural – que de qualquer forma já são poucas. Acredito que é nosso dever enaltecer e exaltar essas mulheres que possuem um repertório maravilhoso mas ninguém comenta a respeito. De todas elas, só uma já morreu. Estão por aí, cantando, cheias de talento.
Ah, e elas possuem uma coisa em comum além do fato de serem cantoras: são negras.
Coincidência?

Vamos a elas:

Eliana Pittman

Já estava pensando em fazer esse post quando vi essa postagem da Flávia Durante:

Não vi uma linha sobre os 75 anos de Eliana Pittman na imprensa, alguém viu? Isso porque ela está em plena atividade na TV e na música, lançou disco ano passado e esse ano ao lado de outros dois ícones, Claudette Soares e Doris Monteiro. #etarismonamúsica

— Flávia Durante 🎶 (@flaviadurante) August 15, 2020

Ela tem toda razão.
E sim: Eliana Pittman completou 75 anos por esses dias.

Talvez você não saiba citar mais de três músicas de Eliana. E muita gente não citaria uma – especialmente o pessoal mais novo. Sendo que Eliana tem jazz maravilhosos, tem um repertório chocante de bom. Ela quem mostrou o carimbó para o resto do Brasil primeiro – sim, o carimbó de Belém do Pará que hoje virou modinha entre os universitários vilamadalenísticos…

(E essa maravilha de capa? Aliás, todas as capas que você vai ver nesse post são maravilhosas.)
Sinhá Pureza, que é do Pinduca, ganhou regravação em 2009 da Fernanda Takai.

Eliana começou a carreira com o padrasto, o músico de jazz Booker Pittman. Inclusive, o primeiro registro gravado dela, pela gravadora Mocambo e com orquestra pernambucana, é com ele. O-LHA-ES-SE-JAZZ:

Nessa gravação, Eliana tinha 16 para 17 anos. Sim. Pois é.

Quando Booker ficou doente, a cantora se viu na necessidade de ser o arrimo da casa. Saiu trabalhando. Tem vários discos gravados. É toda uma discografia a se descobrir, com uma qualidade absurda. E ela descascando Summertime nesse álbum abaixo de 1969, para depois seguir com Villa-Lobos em Estrela é Lua Nova? Aí sim! E uns arranjos de chorar de lindos. Nem sei o que dizer.
(Ainda vou ser ousado e dizer: prefiro essa interpretação dela de Se Você Pensa do que a da Elis Regina. Pronto, falei.)

“Sou intérprete. Canto o que acho bonito e canto o que acho que posso cantar.”
— Eliana Pittman em entrevista para Pedro Alexandre Sanches publicada no Farofafá
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Eliana continua produzindo coisas maravilhosas. Ano passado, lançou o disco Hoje, Ontem e Sempre, com base quase nua, praticamente só violão e percussão. Várias músicas conhecidas aparecem, mas são inéditas na voz dela – tipo Onde Estará o Meu Amor do Chico César e… Gamei. Sim, o pagode, aquele do Exaltasamba. Com ela, vira outra coisa (e nada contra pagode, Gamei já é genial no original, só para deixar claro).

Recentemente, a cantora lançou As Divas do Sambalanço ao lado de Dóris Monteiro e Claudette Soares. Ela também faz parte do elenco da segunda temporada de Coisa Mais Linda, série da Netflix.
A voz dela segue maravilhosa (aliás, de todas elas, então já aviso isso logo para não ficar repetindo).

Vale a pena ler essa entrevista de Eliana Pittman no blog Farofafá da Carta Capital – ela fala sobre essa dificuldade em não ser especializada em um estilo musical só e o preconceito que sofre por causa disso.

Sonia Santos

Uma leva de cantoras de samba fez bastante sucesso (e principalmente vendeu muito disco) a partir dos anos 1970, como Alcione, Beth Carvalho e Clara Nunes. Sonia Santos é conterrânea dessa galera, apesar de sua estreia mesmo ter sido com essa pérola aqui:

Porque é de Raul Seixas e Paulo Coelho – foi composta para a trilha sonora da novela O Rebu (1974). Você vai ter que me aturar é de Nei Lopes com Reginaldo Bessa, outro incrível músico e compositor que merecia mais atenção das massas. A ótima Tributo a Cassius Clay, em homenagem ao Muhammad Ali, também é de Bessa – a interpretação de Santos é fina, emocionada e precisa. Marraio é uma surpresa linda e funkeada.

O disco de estreia de Sonia, que levou seu nome e saiu em 1975, já traz uma preferência pelo samba. Mas também conta com chorinho (Brasileirinho num ritmo mais lento, por exemplo, valorizando a melodia sinuosa que é levada por ela numa boa) e até samba rock (Pátria Amada de Jorge Ben). Em Até Breve de Elton Medeiros e Cristóvão Bastos, fica clara a sua afiliação ao clube Elizeth Cardoso de interpretação:

Mas é o disco seguinte que eu me arrebento de amar. Tem Paulinho da Viola (O Filho de um Sambista), Noca da Portela (Afinal Eu Encontrei, com Délcio Carvalho), Mário Lago (Fracasso, um samba-canção bem triste). E ainda tem isso aqui, de autoria da própria Sonia com Ângela Soares:

Chocado que isso não é hit das intérpretes que adoram imitar Elis.
(Tô num momento sincero da vida, como vocês podem perceber).

Sonia acabou mudando para os EUA e construiu uma carreira por lá. Seguiu gravando, inclusive sem se prender só à música brasileira. Adoro Malcolm X (dela com Julinho de Palmares) e Speed, outra de Ben:

Márcia Maria

Ela tem um disco lançado no Brasil. Só unzinho. E basta. Mas sinceramente ele vale por vários:

Até a foto da capa é maravilhosa.
A música Gandaia, de Wando (!!!) com Luis Vagner é um luxo.
E Tambourine? É chique e dançante, envolvida e embrulhada com o timbre maravilhoso de Márcia. Na cozinha, a dupla Robson Jorge e Lincoln Olivetti vão fazendo aquela delícia toda deles.

Destaque, ainda naquele álbum de 1978, para Para Comigo Fazer de Djavan (lenta, meio Bethânia), Pensar de Martinho da Vila e a absurda Amigo Branco de Leci Brandão, que diz coisas do tipo: “Preconceito existe? Eu não sei! Meu amigo branco é de lei!". Ou seja, a música diz que ela, negra, não tem preconceito com o amigo branco dela. Justo! Acho uma inversão irônica, polêmica e, no mínimo, gostosa de balançar.

Márcia seguiu gravando fora do Brasil, presumo. Jazzística, aprontou coisas como Nada Será Como Antes do Milton Nascimento com Ronaldo Bastos e Desafio, que estranhamente parece saída do repertório de Milton mas nem de autoria dele é (achei algo indicando George Paulo e Paiva Marcos como autores).

Ah, e tem isso, de 2005…

Ouvi e disse “ARTISTA".

Marizinha (e Evinha) – que família abençoada

Já falei de Evinha por aqui: ela era do Trio Esperança e saiu em carreira solo.
Fui no show de lançamento do último disco dela, só com músicas de Guilherme Arantes acompanhadas pelo piano do marido Gérard Gambus. Garanto: a voz segue intocável, parece até mentira. Mesmo alcance, mesma afinação. Uma menina cantando.
Quando Evinha saiu do Trio em 1968, quem entrou foi a irmã mais nova, Marizinha. Para quem não está familiarizado, vou recapitular: o Trio Esperança trazia os irmãos Regina, Mario e Evinha. Eles já eram irmãos de outro trio com vozes deliciosas, o Golden Boys, de Roberto, Ronaldo e Renato mais um primo, Valdir.
Ave! Quanta voz linda!
Marizinha era a caçula. Ela logo também experimentou uma carreira solo.

A voz é EXTREMAMENTE PARECIDA com a de Evinha. O cheiro do hit (foi hit mesmo) também vem do trio compositor Mariozinho Rocha, Renato Corrêa e Paulo Sérgio Valle. Esse compacto saiu em 1977.

Marizinha não chegou a lançar álbum completo solo. Mas ainda tem outras coisas por aí na voz dela. Um exemplo de 1979…

Meio disco music (bem chupada de More More More, para falar a verdade), mas gostosíssima. A versão de Viola Enluarada modernizada é TUDO!!!

Volte e meia ela se apresenta com o Trio Esperança. <3 Ainda quero ver ao vivo.

Dila

Dila é um mistério: ela morreu em um acidente de carro. Só lançou um disco, esse de 1971 que coloquei abaixo.

O álbum era raríssimo até uma reedição mais recente. Ele é inteiro bom.

Mas possui uma única falha. Não inclui esta versão de Wave, que saiu só em um compacto. E que é, nem sei como descrever… É outra coisa.

Cátia de França

Cátia faz parte da turma de nordestinos tipo Sivuca, Amelinha e Zé Ramalho, que vieram tentar a sorte no sudeste. Ela é paraibana e na verdade começou a carreira um pouco antes deles, participando de banda e de festivais. Mas esse disco de estreia incrível, com o título estrondoso de Vinte Palavras ao Redor do Sol, saiu só em 1979.

As músicas nasceram da leitura de poesia do João Cabral de Melo Neto. Todas são dela, com ou sem parceiros. Exalam um misticismo sertanejo e por esse lado é meio primo da produção de Zé Ramalho. Ouve Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa) – é Secos & Molhados, é lindo, é tudo. Sou só eu que ligo essas coisas a Bacurau? É uma viagem pessoal? Risos. Para mim é maravilhosamente interligado.

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“Eu engravido dos livros que leio e tudo vira música.”
— Cátia de França em entrevista para a Trip

Uma pessoa que fala uma frase dessas simplesmente não merece esse mundo horroroso em que estamos vivendo.

Cátia também segue lançando coisas de tempos em tempos. Como essa música, de 1998, bem mística do jeito que a gente gosta:

Você incluiria mais algum nome nessa lista? Me conta!

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August 16, 2020 /Jorge Wakabara
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