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Punky Brewster: a nova série e o documentário

March 15, 2021 by Jorge Wakabara in TV

Estou escrevendo esse post com muito cuidado porque não quero soar como homens nerds heterossexuais que se revoltam com Ghostbusters reimaginado como um grupo de mulheres.
Isso posto, vou contar uma história.

Não tenho quase nenhuma lembrança da minha infância. É esquisitíssimo. Não lembro direito de como era na escola, de viagens inteiras, de coisas que eu falava e gostava. Minha irmã Ana Flavia acha que é bloqueio, porque sofri muito bullying quando era pequeno.
Meu pai guardava muita coisa, e minha mãe e minha irmã, remexendo nas coisas, recentemente me mostraram uns desenhos, umas cartas. Não lembrava de como eles foram feitos, apesar de reconhecê-los como meus.

Mas lembro de uma das minhas primeiras aflições.
Todos os dias, religiosamente, eu assistia aos episódios do Sítio do Picapau Amarelo e de Punky, a Levada da Breca. Eles passavam num certo momento do dia, então eu sabia que deveria estar em casa nesse horário para não perder.
Aí, acho que um dia a minha Tia Yoko estava comigo em algum lugar e deixou passar a hora, apesar de eu ter avisado para ela. O programa dela comigo, para piorar, era alguma coisa chata do tipo “comprar roupa”.
Pense numa criança brava e triste.

Ou seja, Punky Brewster era parte muito importante da minha infância. Ela era o que eu queria ser (não órfão, calma: ela era esperta, engraçada e estilosa, assim como a boneca Emília do Sítio). Eu adorava muito.
Então vocês podem imaginar a minha empolgação quando eu soube que Punky Brewster ia voltar! (Caso você não consiga imaginar, tenho um post da época do anúncio)

Para quem está boiando: Punky, a Levada da Breca, era uma série que passava no SBT nos anos 1980 sobre uma garotinha que era abandonada pela mãe no estacionamento de um supermercado e ia parar num abrigo. Ela ficava fugindo do abrigo, ora para procurar a mãe, ora porque não gostava de lá. Num dia, ela acabava encontrando o Artur (George Gaynes), um fotógrafo mais velho, sozinho e sem filhos, meio rabugento.
Já sacou, né? Punky conquistava o coração do Artur e ele acabava virando seu pai adotivo.

Ela também era conhecida por… usar um tênis de cada cor.

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Aí, em 2021, eis que Soleil Moon Frye, a Punky original, voltou ao papel, agora como uma mulher de 40 anos divorciada e cheia de filhos. A temporada de dez episódios foi ao ar pelo Peacock, o streaming da NBC e CBS que não existe no Brasil. Mas eu fiz o sacrifício de assistir para dizer para vocês se essa pirataria vale a pena ou não.

Minha conclusão? Não sei. Depende do quanto que você gosta de sitcoms bobas e do quanto você gostava de Punky. Obviamente é um roteiro bem autorreferente, feito para quem sentia saudades, e tenho as minhas dúvidas sobre ele funcionar para quem não conhece a série original. As partes que eu mais gostei são as que de alguma maneira conversavam com a trama dos anos 1980.

Isso dito, cuidado, SPOILERS. Se não quiser saber, pule pare /SPOILER TERMINA/. Quem desistiu de assistir pode ler de boa.

/SPOILER COMEÇA/

Dois personagens antigos aparecem: Cherie (no Brasil, Cátia, a BFF da Punky interpretada por Cherie Johnson) e nada menos que… Margot (Ami Foster), a menina loira que era um entojo, metida que só ela.
Cherie é personagem fixo, acho que aparece em todos os episódios. E, segura essa… é lésbica.
Margot só faz uma participação especial (que, aliás, não faz jus a uma personagem tão icônica).
O ex-marido de Punky, que também é um personagem fixo, é interpretado por Freddie Prinze Junior. A sacada é legal, pegar um outro ator icônico para isso. Porém um pouco decepcionado que o Allen, outro amiguinho da Punky, não voltou – ele era interpretado por Casey Ellison, que, pelo que entendi, deixou de ser ator depois que cresceu.
O cachorro original, Brandon, foi substituído por uma cachorra, Brandy.
Os filhos de Punky são legais. E um deles brinca com estereótipos de gênero. É uma criança transicionando? Não, pelo menos por enquanto. Passa uma impressão de estar brincando, mesmo.
Pareceu muito moderno para você?
Bom, que bom, né? Estamos em 2021.

/SPOILER TERMINA/

BOM. Isso posto, preciso dizer que Frye também estreou um documentário sobre sua vida.
Kid 90, lançado no Hulu, parte de uma premissa interessante: mostrar a infância e adolescência de Frye nos anos 1990, pós-Punky, aproveitando o fato de que ela era muito fissurada em registrar tudo com uma câmera de vídeo e diários.

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Pensei comigo: “Que legal! Tudo a ver! A minha infância e adolescência também foram nos anos 1990, vai ser muito legal assistir! Ainda mais com a atriz de uma das minhas séries da infância!"

Doce ingenuidade. Não é bem assim.

A sinopse que eu vi de Kid 90 esqueceu de explicar que:
. O documentário é cheio de gatilhos. REPLETO.
. O documentário é muito centrado em Frye e nas experiências dela como criança prodígio em Hollywood. Não funciona como retrato de uma geração inteira e sim como o retrato de uma geração de artistas mirins, com experiências muito específicas.
. Achei que Frye fica procurando um significado muito espiritualizado nas coisas, talvez por causa da quantidade imensa de gatilhos, o que leva o documentário para uma onda de "lições de vida". Acho meio sacal, ficou melodramático. Já é cheio de histórias tristes, não precisava carregar as tintas.

MAS, dito isso… me entreteve. E me entreteve mais pela pororoca absurda que foi a vida de Frye nos anos 1990. Vou fazer um name dropping e você também vai ficar meio abalado:
. Charlie Sheen
. House of Pain (aquela do Jump Around, a música de festa mais hétero que existe)
. Perry Farrell (que eu tenho a impressão que adora aparecer; ele não tinha muito motivo para dar depoimento aqui)
. Kids, o filme

Que tal? Resumindo, Frye foi meio um Forrest Gump dos anos 1990.

Bom, é isso. Nada imperdível por aqui. Circulando.

Quem gostou desse post também vai gostar de:
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March 15, 2021 /Jorge Wakabara
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TV
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Você conhece a NAU?

January 21, 2021 by Jorge Wakabara in música

Vange Leonel não começou na abertura da novela Vamp com Noite Preta. Aliás, muito pelo contrário.

Volta para 1980. Vange fez parte da banda Os Camarões, de ninguém menos que Nando Reis. E mais: Vange e Nando eram primos!

O primeiro registro em disco da voz de Nando é ao lado de Vange: era o LP Festival da Feira da Vila Madalena, com os participantes do dito festival de 1980 (e a gravação saiu no mesmo ano). A música, tocada pelos Camarões, é chamada O Cheiro de Beterraba e… é de autoria de Vange!

E olha o babado: a primeira faixa desse disco é Nêgo Dito, de Itamar Assumpção, que inacreditavelmente ficou em 3º lugar. Outro que concorreu foi Paulo Miklos, futuro colega de Nando nos Titãs, com Desenho, composição dele e de Arnaldo Antunes. Nem Os Camarões, nem Miklos levaram prêmio na Feira – mas eles estão lá, registradinhos no LP.
(Desenho é bem, mas bem, mas beeeem Arnaldo Antunes! Engraçado perceber isso.)

(Aliás, para fins de esclarecimento: costuma-se dizer que os Titãs se conheceram no Equipe, colégio de São Paulo. Errado: nem todos. Nando realmente fez Equipe, como Miklos e Antunes, mas os dois eram mais velhos. Quando Nando entrou, eles já tinham se formado! Portanto, na época do lançamento desse disco, eles não se conheciam!!!)

Ah, outro que participou do festival e do LP é Celito Espíndola, da família Espíndola. Ele é irmão de Tetê, Alzira e do resto do pessoal (que eu saiba são 6 irmãos) e fez parte da banda Tetê e o Lírio Selvagem.

Mas, certo. Então Vange começou ali na Feira da Vila.
E depois?
Diz que ela fez parte de uma banda chamada Estéreos Tipos que, apesar do nome bem sacado, não foi muito para frente.
E aí, bem…
Depois teve a NAU.

Meio pós-punk, meio heavy metal (na verdade, sinceramente eu acho BEM metal), a NAU foi fundada em 1985. Era formada por Vange (vocal e guitarra), Mauro Sanchez (bateria), Zique (guitarra) e Beto Birger (baixo). Eles gravaram uma fita demo que tocou na 89FM em SP e na Maldita no Rio. Nessa época, Vange também se aventurava como atriz no grupo XPTO.
Aí eles gravaram para uma coletânea da Baratos Afins de pós-punk que virou artigo cult maravilhoso, a Não São Paulo, lançada em 1986. Só que a coisa parece que atrasou e o primeiro volume da coletânea, que saiu em 1986, saiu sem NAU. Ou seja, entre o primeiro e o segundo volume da Não São Paulo (que, aí sim, tinha NAU), acabou rolando a gravação e lançamento do primeiro disco da banda em si, em 1987.

A história parece que foi a seguinte: Sanchez, o baterista, foi afastado por problema de saúde. Dany Roland, o baterista da Metrô, o substituiu às pressas. Não sei se isso foi antes ou depois da gravação do segundo álbum da Metrô (na prática o terceiro, se contarmos o lançado quando a banda se chamava A Gota Suspensa), que era o cult-misterioso-exótico A Mão de Mao de 1987.
Diz que foi Roland que intermediou o contato da NAU com Luiz Carlos Maluly. Sabe quem é? O cara que já havia produzido coisas do Rádio Táxi, a própria Metrô e… o RPM e suas Revoluções por Minuto de 1985, disco do BRock que vendeu mais que pão quentinho! Para a NAU, esse encontro com Maluly significou um contrato de três anos com a CBS.

No disco homônimo NAU, a música de abertura, Bom Sonho, é composição de Vange. Ela interpreta já como uma supercantora, cheia de personalidade, nos seus malabarismos vocais que viraram marca registrada – e que, estranhamente, estão quase ausentes em Noite Preta em si. Mas essa faixa é a única do álbum que ela assina sozinha: divide Corpo Vadio e As Ruas com Zique, Diva e As Barcas com Zique e Birger, e Novos Pesadelos com Zique, Birger, Sanchez mais Rosália Munhoz, das Mercenárias. A última música, Nada, é dos quatro integrantes.

Algo que a gente também precisa ressaltar: a única música do disco que não é de nenhum integrante é Linhas Esticadas. É meio valsa, romântica e esquisita – gosto da melodia do refrão, cheia de agudos.
As compositoras são Cilmara Bedaque e Laura Finocchiaro.

Cilmara foi a companheira de vida inteira da Vange, até a artista morrer em 2015. Compôs outras coisas com Vange na carreira solo dela. Não sei exatamente quando elas começaram um relacionamento, mas em 1995, quando Vange saiu do armário publicamente, elas estavam juntas.
Já Laura… Quem foi moderno ou candidato a moderno nos anos 1990 (ou seja, eu estou nessa lista) sabia quem era. Irmã da roqueira que chegou a ter fama underground Lory F, Laura ganhou um tremendo destaque quando ganhou um concurso para tocar no Rock in Rio II, em 1991, no mesmo dia de ninguém menos que Prince! A própria diz que ela não se inscreveu – quem mandou a fita foi um fã! Loucura, né?

Mas quando o disco NAU saiu, o ano ainda era 1987, pré-Rock in Rio. No velório de Vange, Laura fez um discurso lembrando que a amiga foi quem financiou suas primeiras gravações no início da carreira em SP.

Depois, Laura ainda ficaria famosa por outro motivo: ela assinava a trilha sonora maravilhosa do programa Casa dos Artistas, no SBT!
(Ah, e sim: ela se assumiu bissexual em 1992.)

Laura Finocchiaro nos anos 1990

Laura Finocchiaro nos anos 1990

A NAU se desfez em 1989. Vange partiria para carreira solo e o primeiro álbum, Vange, de 1991, é o que tem Noite Preta. Em 1996, ainda saiu o EP de Vange Vermelho, que não fez muito sucesso. Com isso, ela abandonou precocemente a carreira musical e focou na literatura. Escreveu livros, peças. E nos deixou muito cedo.

A música-título do EP Vermelho me lembra a NAU na levada.

Mas, AH, tem mais uma coisa!

Em 2018, surpresa: foi lançado o disco perdido da NAU, gravado 30 anos antes. Antes da banda acabar, houve uma tentativa de segundo álbum em 1988… e sim, a viúva de Vange, Cilmara, descobriu a fita dentro de uma caixa em 2017! Tadaaah! Ela disse que a fita estava melada, que não sabia se conseguiria recuperá-la. O milagre foi feito, e o álbum outrora rejeitado pela gravadora voltou à vida.

Eu gosto, viu? A NAU tem um ar meio banda do Café Piupiu (quem tem a referência sabe o que eu tô dizendo), mas que na época fazia total sentido.
Se a NAU tivesse continuado, o que faria hoje?

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January 21, 2021 /Jorge Wakabara
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Ruas vazias na ficção – e uma peça de teatro via Zoom

June 22, 2020 by Jorge Wakabara in TV, livro, teatro

Uma coisa que sempre me fascinou são narrativas sobre cidades fantasma. Ou porque o tempo passou demais e ela foi abandonada. Ou porque a maior parte das pessoas desapareceu ou morreu devido a doença ou arrebatamento. Não importa: acho a imagem da cidade vazia impactante. Ruínas contemporâneas.

Tem um programa no History, acho, que não me lembro o nome mas que mostra o que aconteceria se a humanidade desaparecesse da face da Terra. Toda vez que reprisam eu tô lá, assistindo hipnotizado. Arranhas céus desabando depois de séculos de corrosão. Reatores nucleares explodindo por falta de resfriamento e espalhando radiação.

Acho que esse é um dos motivos pelos quais me atraía a ideia de ir para Chernobil (e consequentemente Pripyat, que é a cidade fantasma perto de Chernobil, abandonada após o acidente).

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Em #Pripyat tudo está desmoronando - esses são locais que crianças frequentavam. Crianças e adolescentes que ficaram expostos à radiação por muito mais tempo que o necessário porque o governo socialista demorou pra espalhar a notícia da explosão do reator pra não criar pânico. #chernobyl #chernobil #mckievinho

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Para quem ainda não sabe: sim, eu fui para Chernobil. Conto mais nesse post aqui.

Um dos livros da minha infância (já que estamos nessa fase, eu falei aqui sobre O Gênio do Crime, né?) é Blecaute de Marcelo Rubens Paiva.

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Nossa, é muito bom! Como eu queria esquecê-lo para ler de novo!
Aliás, vontade de reler todos os livros do Marcelo Rubens Paiva. São ótimos.

Blecaute fala sobre três jovens amigos que viajam para cavernas do Vale do Ribeira e, por causa de uma tempestade, ficam presos por lá uns dias. Quando saem e voltam para São Paulo, surpresa: eles são os únicos sobreviventes. Algo aconteceu e ninguém mais está vivo.
Esse é um dos livros mais adorados do Marcelo Rubens Paiva. Amo esse post, no qual um cara analisa as capas das edições de Blecaute. A minha preferida, assim como a dele, é a da Brasiliense.
(E por que ainda não existe nenhuma adaptação de Blecaute para o cinema ou para série de TV? Não sei. Tão marcando, para variar. E dessa vez não tem mesmo, pesquisei antes de dizer. Kkkkkkkk!)

Muitas outras ficções trazem ruas desertas. De cara me lembro de Noite Adentro, série recente da Netflix que me marcou demais – tanto que já falei dela algumas vezes. Tem também:

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A Dança da Morte

Livro do Stephen King que já foi adaptado para a TV em uma minissérie de quatro capítulos, em 1994 – falei sobre isso na minha última newsletter (por que você ainda não assina a minha newsletter?).

O livro mostra os acontecimentos após uma mutação do vírus influenza desenvolvida como arma biológica, bem letal, vazar de uma instalação militar norte-americana e atingir todo o país (provavelmente o mundo, mas a gente não fica sabendo). Existem poucos sobreviventes, e eles começam a se reunir. A ideia de King era fazer um épico do tipo Senhor dos Anéis com tintas contemporâneas e também refletir sobre os valores da civilização norte-americana. É considerado uma das melhores criações de King.

Stu Redman (Gary Sinise), Frannie Goldsmith (Molly Ringwald) e Harold Lauder (Corin Nemec)

Stu Redman (Gary Sinise), Frannie Goldsmith (Molly Ringwald) e Harold Lauder (Corin Nemec)

Uma coisa que acho muito curiosa dessa adaptação é que ela traz integrantes do Brat Pack pós-anos 1980. Rob Lowe é o surdo-mudo Nick Andros, já pós-escândalo da sex tape com uma garota menor de idade. E Molly Ringwald é Frannie Goldsmith. Adam Storke, galãzinho pós-Brat Pack, é o músico Larry Underwood (ele é o Charlie em Três Mulheres, Três Amores ou, em inglês, Mystic Pizza, o filme de 1988 que marcou o começo da carreira de Julia Roberts). E ainda tem Corin Nemec como Harold Lauder – ele era Parker Lewis na série Parker Lewis Can't Lose, que é basicamente uma adaptação para a TV de Curtindo a Vida Adoidado sem pagar direitos autorais.

A belíssima surpresa é que Dança da Morte (em inglês The Stand) vai ganhar uma nova adaptação em série de TV logo menos. Ela já está gravada mas parece que eles estão segurando a estreia em respeito às vítimas de COVID-19, já que comparações serão inevitáveis. Mas é isso: comparações serão inevitáveis quando estrear. King está bem envolvido – tanto que desenvolveu um novo final para a história. E a produção, da CBS, conta com um grande elenco que inclui James Marsden (Westworld, X-Men) como Stu Redman, Amber Heard (Aquaman, Zombieland) como Nadine Cross, Whoopi Goldberg (ai, me poupe, não precisa de refs) como Mãe Abigail e Alexander Skarsgard (True Blood, A Lenda do Tarzan) como Randall Flagg.

Dança da Morte versão 2.0: Larry Underwood (Jovan Adepo) e Rita Blakemoor (Heather Graham)

Dança da Morte versão 2.0: Larry Underwood (Jovan Adepo) e Rita Blakemoor (Heather Graham)

The Leftovers

Ave, como eu amo. A série de Damon Lindelof (Lost, Watchmen) é ma-ra-vi-lho-sa. Ela é baseada num livro de Tom Perrotta e parte da premissa que 2% de toda a população desapareceu – DO NADA! Foi um arrebatamento bíblico perto do fim do mundo? Foi uma transferência para uma realidade paralela? Existem teorias (it's complicated), porém o foco é na reação de quem ficou, muito mais do que em quem sumiu. Religião e fé, a fronteira entre sanidade e loucura, confiança e traição. Tudo isso permeia as três temporadas e de perto ninguém é normal. E como nada é coincidência (ou melhor, você decide o que é coincidência e o que não é): Lindelof ficou sabendo sobre o livro de Perrotta numa resenha para o New York Times assinada por… Stephen King.

Nora Durst (Carrie Coon) e Kevin Garvey (Justin Theroux) em The Leftovers

Nora Durst (Carrie Coon) e Kevin Garvey (Justin Theroux) em The Leftovers

Agora você já está pensando que o título desse post foi um clickbait, né? Não. Chegou a hora de falar de…

A Arte de Encarar o Medo

Para começo de conversa, já digo logo: trabalhei com teatro mas morro de preconceito. E não é algo sem fundamento: tem muita peça ruim por aí. É caro, é difícil. Outras formas de arte, como o cinema, são mais práticas. Você consegue ver o trailer. Você tem a referência dos atores. Tem horários mais diversos. Você vai até um complexo de salas e escolhe qual te dá vontade de ver na hora. A impressão é a de que a garantia de aproveitamento é maior.

Isso posto, às vezes, bem de vez em quando, consigo contornar o histrionismo de alguns atores, a fragilidade de muitos textos e certas montagens de gosto duvidoso e… até gosto de teatro.

Mas A Arte de Encarar o Medo me interessou por outra coisa: a iniciativa d’Os Satyros é experimental, uma alternativa para o teatro nos "novos tempos”. Existem coisas que não temos nela: a presença corpórea dos atores, por exemplo. A energia de uma sala com plateia e atores ali na sua frente, te mostrando uma história. Só que a montagem ganha outros elementos quando realizada na plataforma Zoom. E mais importante: ela foi concebida para uma plataforma como o Zoom. Usa recursos que não existem em uma sala de teatro, ou pelo menos que precisariam ser bem adaptados para chegarem no mesmo fim.

Logo de cara, você tem a possibilidade de contar com um elenco grande sem muita dificuldade. Basta que o ator tenha conexão com internet e câmera (de celular, de laptop, webcam, o que for), e que se familiarize com a tecnologia. Em A Arte de Encarar o Medo, existe uma atriz sueca (Ulrika Malmgren) que participa direto de Estocolmo. O ator Cesar Siqueira, por sua vez, não chegou a conhecer o resto do elenco pessoalmente!
O fator do “ao vivo” segue como a principal tônica. Você sabe que todas aquelas pessoas estão atuando e trabalhando naquele momento, com hora marcada, só que a noção de espaço é ampliada. Cada um está em um lugar. Existem momentos em que eles sobem escadas, batem em portas, saem de um cômodo para entrar no outro. Numa hora eles também usam o recurso de mudar o fundo da transmissão. Duas pessoas podem contracenar uma com a outra mesmo com uma distância de muitos mil quilômetros. Por aí vai.

Falando nem parece, mas o fato da peça trazer vários atores manipulando tecnologia para te contar uma história respeitando o distanciamento social traz uma emoção que pode ser diferente da do teatro tradicional, mas não deixa de ser crepitante. Também surge uma amplificação da intensidade dessa arte dramática. Fiquei me perguntando se algo da minha impressão mudaria se eu estivesse assistindo a algo previamente gravado e não apresentado ao vivo. E acho que sim. Existe um sabor no fato de eu fazer parte do grupo de pessoas que entrou naquele momento naquela sala virtual e assistiu ao que foi apresentado. Ninguém mais vai ver aquilo (a menos que a produção tenha gravado, para fins de documentação). É diferente das lives que ficam guardadas e podem ser acessadas posteriormente.
Esse "novo teatro” (que tem gente que não gosta de chamar de teatro, pois teatro seria outra coisa) se aproxima do Snapchat e dos stories de Instagram na sua efemeridade, e é efêmero de maneira ainda mais drástica!

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Com tantas questões a respeito da forma em si, você pode achar que não me ative tanto ao conteúdo. Está errado: a peça foi criada já durante a pandemia e é muito sensível em relação a ela. São 50 minutos de uma história que, sem ser linear com começo, meio e fim (adoro narrativas assim), apresenta um cenário em 2035 onde a humanidade não conseguiu vencer a doença e segue isolada, morando em cidades vazias, cada um trancado em sua casa. Esse futuro distópico que já não conta com emissora de TV e rádio estranhamente continua possuindo energia elétrica e internet, ninguém sabe como. E aí pessoas enlouquecem, criam novos códigos sociais, relembram o passado e, principalmente, sentem medo.

Tem uma entrevista com os próprios dramaturgos, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez (Rodolfo também é o diretor), no site d’Os Satyros. Recomendo a leitura.

E também recomendo a peça em si! São sessões de sexta, sábado e domingo. Não sei exatamente até quando a montagem vai estar em cartaz, então é bom garantir o ingresso para o próximo fim de semana. Ele custa R$ 20 mas quem quiser pode doar mais e quem não puder (porque está em dificuldades financeiras decorrentes da pandemia) consegue assistir de graça. Para ter um ingresso, acesse o site da Sympla.

Mesmo que você não se interesse pelo tema, acho interessante que as pessoas conheçam essas novas práticas. É um mundo de possibilidades que se abre. Dependendo da ideia e do desenvolvimento, assistiria a outras coisas nesse formato mesmo pós-pandemia.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
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June 22, 2020 /Jorge Wakabara
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